"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NÓS SOMOS AS ROSAS QUE ADORNAM A COROA DA DEUSA


"A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste materna,
antes que o parasita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.

A árvore dourada dá flores de jóia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.

...O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu
antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido."


in A VOZ DO SILÊNCIO...
M. Blavatsky

Publicada por Rosa Leonor
IN MULHERES & DEUSAS

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

MÃE NA TERRA, BATE O SINO, ALEGRAR, CANTAR...




Entrada do Sol no signo de Capricórnio, marcando o solstício de inverno no hemisfério norte, celebrado pelos povos celtas como o Sabbat Yule ou Alban Althan. Comemorava-se, nesta data, o renascimento do Sol do ventre escuro da Mãe Terra, simbolizando a renovação das esperanças, novas promessas de alegria e realizações, assegurando à humanidade que a Roda do Ano, em seu movimento perpétuo, novamente chegaria ao fim das vicissitudes do inverno e da escuridão. Desde os tempos mais remotos, a transição entre o ponto mais baixo (a noite mais longa do ano) e o início do retorno na trajetória do Sol em sua Roda Anual, era celebrada com vários rituais em todas as culturas antigas.
Para festejar o renascimento do Sol eram acesas fogueiras e tochas, ofertavam-se presentes para as divindades, reverenciavam-se as árvores sagradas (como o carvalho e o pinheiro), as plantas que representavam os poderes do Deus (como o visco) e da Deusa (como o azevinho), realizando-se também, vários rituais de fertilidade.
O mais importante símbolo do Yule era o fogo, que deveria queimar durante os doze dias das celebrações, representação da luz solar brilhando durante os doze meses. Preparava-se o tronco de Yule ou o “Yule Log”, decorado com folhagens, pinhas, nozes, maçãs, doces, galhos de visco e de azevinho. Esse tronco era guardado até o mesmo ritual do próximo ano, quando era queimado ritualisticamente e substituído.
Prepare você também um tronco de Natal, escolhendo uma tora ou um galho grosso, fazendo três furos para prender três velas, nas cores verde, vermelha e dourada.
Enfeite-o a seu gosto, mas mantenha sempre as velas acesas durante os doze dias das antigas celebrações, convidando assim os Espíritos da Luz a iluminarem a abençoarem sua casa e seus familiares.
Celebração da deusa eslava Koleda, também chamada de Kuntuja, na Rússia, comemorando a deusa Koliada, senhora do tempo, do Sol e da luz, personificando o próprio solstício de inverno. Ela simbolizava o Sol, cercada pelas forças da escuridão, precisando de ajuda da humanidade para vencê-las. Essa tarefa era executada pelas mulheres, que estimulavam, por meio de rituais, o poder procriador da Deusa. Com o passar do tempo, Koliada foi transformada em deus e, nesta data, celebrava-se seu nascimento. Koliada ou Kulada, permaneceu mas disfarçada na figura de São Nicolau, o velhinho bondoso que ajudava as mulheres no trabalhos de parto. Na Rússia, celebrava-se também Maslenitza, a deusa da fertilidade e da agricultura.
Comemoração de Tonan ou Tlakatellis, uma das manifestações da Grande Mãe asteca. Ainda hoje o povo Nahua reverencia-a, colocando guirlandas de calêndulas e folhas em suas estátuas ou nas de sua “substituta” a Virgem de Guadalupe.

O MÊS DE DEZEMBRO

Decem era o décimo mês do antigo calendário romano. Seu nome também surgiu como uma homenagem à deusa Décima, uma das Parcas – as Senhoras do Destino-, a regente do presente e tecelã do fio da vida, equivalente à deusa grega Clotho.
O nome anglo-saxão do mês era Aerra Geola, o irlandês, Mi Na Nollag e o nórdico, Wintermonath ou Heilagmonath. No calendário druídico, a letra Ogham é Luís e a árvore, a sorveira. O lema do mês é “assuma o controle de sua vida e não se deixe guiar pelos outros.”
Os povos nativos denominaram este mês de Lua Fria, Lua do Lobo, Lua das Longas Noites, Lua do Uivo dos Lobos, Lua do Carvalho, Lua do Inverno, Lua das Árvores que Estalam e Mês Sagrado.
A mais importante celebração deste mês é o solstício de inverno no hemisfério norte, festejado pelos povos celtas como o Sabbat Yule ou Alban Arthuan. Em várias tradições e lugares do mundo antigo, o solstício era lembrado juntamente com os mitos das deusas virgens dando à luz seus divinos filhos solares, como Osíris, Boal, Attis, Adonis, Hélio, Apolo, Dionísio, Mithras, Baldur, Frey e Jesus. Na tradição romana, esta data chamava-se Dies Natalies Soles Invictus ou o Dia do Nascimento do Sol Invicto e todos os deuses solares receberam títulos semelhantes, como a Luz do Mundo, o Sol da Justiça, o Salvador. As celebrações atuais do Natal são uma amálgama de várias tradições religiosas, antigas e modernas, pagãs, judaicas, zoroastrianas, mitraicas e cristãs.
Na antiga Babilônia, existiam doze dias entre o solstício e o Ano Novo. Era um tempo de dualidade, oscilando entre o caos e a ordem. Os romanos concretizaram essa ambigüidade no famoso festival Saturnália, as festas dedicadas ao deus do tempo Saturno e à sua consorte, a deusa da fertilidade Ops.
Durante oito dias, as regras sociais eram revertidas e patrões e empregados trocavam de funções e roupagens, ninguém trabalhava, todos festejavam. O último dia do festival chamava-se Juvenália, dedicado às crianças que recebiam agrados, presentes e talismãs de boa sorte.
As pedras sagradas do mês são a turquesa e o zircônio. As divindades regentes são todos os deuses e deusas solares, além das deusas Ix Chel, Ástrea, Ops, Astarte, Freyja, Sekhmet, as Nornes, Yemanjá e Arianhod.
Dezembro representa o fechamento de um ciclo, um período para refletir sobre o ano que passou. Na avaliação daquilo que passou e na expectativa de um novo ano, repete-se o momento mítico do caos para a ordem. A Roda do Ano para, entra-se em um novo limiar, no limite entre os tempos e os mundos, quando se torna possível refazer o mundo.
Reveja, portanto, todos os aspectos de sua vida no ano que passou: realizações profissionais, relacionamentos, saúde, caminho espiritual, expressão pessoal, projetos e sonhos. Medite sobre os sucessos e fracassos, criando uma nova imagem do futuro. Consulte algum oráculo, faça uma lista de desejos e projetos, assuma compromissos, prepare encantamentos, invoque as Deusas e entre no Ano Novo com fé, força, luz e esperança.


Mirela Faur - O Anuário da Grande Mãe.

FELIZ NATAL...OPS, QUERO DIZER YULE!

UMA RESPOSTA A TODOS


Decide não dar esta resposta a uma pessoa especifica como antes havia decidido fazer mas dar a todas as pessoas das quais gosto e aquelas as quais não gostam de mim ou do conteúdo do meu blog...Digo alguns mestres que se julgam donos da luz e maiores que própria Deusa Mãe.

CHEGUEI FINALMENTE AO PENSAMENTO MARAVILHOSO E SUBLIME
MINGUÉM MELHOR QUE EU MESMA PARA DETERMINAR AQUILO QUE DE FATO SOU.

Digo isto porque apesar dos conceitos esotéricos todos, ao que parece no fundo , no fundo ninguém consegue me aceitar sendo tal como sou, mulher e transexual e sempre me forçam uma masculinidade que não quero ao dizem o que sou ou deixo de ser ou que não perco o valar por ter nascido num corpo que respeito mais não consigo apreciar.

AGORA DECIDI ASSUMIR MINHAS PRÓPRIA SOBERANIA E APESAR DE ACEITAR CONSELHOS NÃO ACEITAREM MAIS QUE MINHAS VIDA SEJA DETERMINADA PELAS MÃOS INVISÍVEIS DA SOCIEDADE: FAMÍLIA, O GOVERNO E ATÉ MESMO ALGUMAS MULHERES QUE SERVEM A DEUSA.

Digo isto porque não quero ofender ninguém e tampouco brigar com aquelas que me deram tanto mas eu penso que o que sou não se deve ao fato de ser confusa e sim ao fato de eu ser muito decida. Eu poderia fazer como tantas outras transexuais fugir de casa me entregar a promiscuidade ou a encontros com homens desconhecidos para conseguir algum dinheiro para mudar o que quero, mas não deis do inicio eu soube que teria de usar meus próprios meios para conseguir o que quero e tive dignidade suficiente para não me menosprezar nem me sentir castigada pela vida e pela Deusa.
Quem lê o meu blog pensa que eu tenho apenas os anseios espirituais do Feminino e que outras coisas mais práticas como poder me comportar dentro do mundo da maneira que realmente sou ao invés de ter de fingir o tempo todo...Minguém tem o direito de me julgar, pois ninguém que não tenha passado por esta experiência sabe ou entende minha dor, ou sente na pele o que senti...
Mas eu tenho fé que o meu caminho vai mudar, porque sirvo uma Força que me guia a muito tempo, um chamado que ouvi deis da minha mais tenra infância embora na época eu não soubesse como nomeá La...
E até agora tem sido a Deusa a guia de meus caminhos e não nenhum deus pai da guerra...e nem os mestres que temem a mim e a Face da Mãe neles escondida trancafiada no mais fundo de sues corações que temem o poder das Mulheres e Deusas...

Neste ano que vamos adentrar ainda teremos de enfrentar muitas coisas e se engana quem pensa que será tudo fácil e encontraremos a Deusa nas margens do lago de Avalon...
Desta vez teremos que busca La no fundo da Terra, do vulcão da ventania, e ainda mais importante nas raízes de nós mesmos e no fundo de nossos corações.
Sei que para muitos eu tenho muito pouco a oferecer de exemplo, mas a minha oferenda mais profunda a Deusa e minha alma e meu coração e meus votos de continuar esta trabalho nos anos que estão por vir e além, e além da vida carnal e desta existência e da outra...

"Enquanto a vida criar vida, amamos e vivamos em Ti, ó Mãe Eterna...
Guarda a vida de tuas Filhas entre as mãos e sobre o Coração..."


Que Ela nos guarde até o fim desta era, até o fim do tempo, que Ela nos guarde para sempre em Seu Coração.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

PEQUENA EXPLICAÇÃO

Eu gostaria de agradecer o carinho de todos os meus leitores e pedir desculpas pela falta de publicações ao longo de Dezembro e talvez ao longo deste ano também. É que tive e tenho muitos problemas com meu computador e para completar a conta de conexão da internet não foi paga por muito tempo e finalmente foi cortada. Assim tenho publicado tudo o que preciso apenas via lan house e só hoje pude ver minha caixa de imails.
Tem havido também uma pequena falta de inspiração da minha parte assim como faltade material e tempo com os quais trabalhar.
Fora isso estou tendo uns problemas básicos para conseguir matricula numa nova escola e ao que parece vou ter de estudar de noite...
Enfim estou com muita coisa prática para resolver sem falar nas situações menos práticas.
Gostaria de dizer que desejo do fundo do meu coração que seja um bom ano este que esta por vir e que desejo a todos muitas felicidades ( e a superação de todos os seus problemas)
Queria também pedir desculpas a quem me enviou selos e ficou sem resposta, é como eu disse eu tenho estado sem tempo para organizar o blog e adiantar meu trabalhos online.

Abraços

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

AS ANTIGAS SOCIEDADES MATRÍSTICAS


NA ERA DO CÁLICE...

Os princípios do cultivo de alimentos, bem como da tecnologia de construção, recipientes e vestuário, já eram todos conhecidos pelos povos do neolítico cultuadores da Deusa, assim como os usos cada vez mais sofisticados de recursos naturais tais como madeira, fibras, couro e, mais tarde, metais na manufatura. Da mesma forma, nossas mais importantes tecnologias não materiais, tais como a lei, o governo e a religião, remontam ao que, lançando mão do termo de Gimbutas, Europa antiga, podemos denominar a sociedade antiga. O mesmo ocorre com os conceitos correlatos de oração, magistratura e sacerdócio. A dança, o teatro ritual e a literatura oral e folclórica, bem como a arte, a arquitetura e o planejamento de cidades, também são oriundos da sociedade pré-dominadora. O comércio, realizado por terra e mar, é outro legado dessa era antiga, assim como a administração, a educação e até mesmo a previsão do futuro, pois a primeira identificação do poder oracular ou profético se faz com as sacerdotisas da Deusa.

A religião sustenta e perpetua a organização social que reflete. Em diversos textos religiosos antigos que permaneceram até hoje, é a Deusa — e não uma das deidades masculinas então dominantes — que se identifica como aquela que proporcionou ao povo as "dádivas da civilização". Os mitos que atribuem nossas principais invenções físicas e espirituais a uma deidade feminina podem assim refletir o fato de realmente terem sido inventadas por mulheres. Tal hipótese é praticamente inconcebível sob o paradigma predominante, pois retrata a mulher como dependente e secundária em relação ao homem, não só no sentido intelectual mas, de acordo com a Bíblia, tão menos desenvolvida espiritualmente que a culpa de nossa queda em desgraça é toda dela.

Contudo, nas sociedades que conceptualizavam o poder supremo do universo como uma Deusa, reverenciada como sábia e justa fonte de todas as nossas dádivas materiais e espirituais, as mulheres se inclinariam a internalizar uma auto-imagem bem diferente. Com modelo tão poderoso, elas tenderiam a considerar seu direito a ter participação ativa e assumir a liderança no desenvolvimento e uso das tecnologias materiais e espirituais. Elas se inclinariam a considerar-se competentes, independentes e quase certamente criativas e inventivas. De fato, há crescentes evidências da participação e liderança das mulheres no desenvolvimento e administração das tecnologias materiais e não-materiais sobre as quais foi mais tarde sobreposta uma ordem dominadora.


IN O CÁLICE E A ESPADA- Riane Eisler

OS DOIS LADOS DA MOEDA


Hamanndah disse...

Querida amiga blogueira.
Como sempre seus posts sensacionais.
Quando leio num blog masculino que as mulheres só fazem sucesso porque algum homem,antes dela, ajudou,por exemplo,por mais que uma Engenheira seja competente, ela é incapaz de erguer um prédio, sem ajuda dos homens. Disse tambem que uma digitadora que seja otima digitadora não tem nenhum mérito,pois foi sempre um homem que inventou e constrói computadores

Enfim,quando um homem ou mulher machista escreve estas coisas nos seus blogs, o que devemos responder?

Hamanndah



Decidi dar uma resposta mais detalhada e completa.

Primeiro qualquer um que tenha dito isso, homem ou mulher mostra ser um grande idiota já que seria igualmente idiota dizer que os homens não tem diginidade alguma caso fosse uma mulher a ter criado todas essas coisas e ter sido um homem a desenvolve las. Uma vez que um hoem cria alguma coisa ele tem todo o merito (segundo o patriarcado) dos projetos desenvolvidos apartir dessa descoberta. Tal afirmação é tão absurda sob a otica do fato das novas descobertas e desenolvimentos irem além do projeto em si. Além disso como foi dito no caso a parte mais intelectual das invenções sitadas foi atribuida a mulher, o que é excelente pois evidencia que o lado mais mental aonde desenvolvemos as ideias é do foro feminino e a parte pratica e brutal e dada nos dois casos ao masculino...Eu não concordo em tal desigualdade mas daí já da pra ver qual a importãncia da mulher no desenvolvimento da ciência e dos conhecimentos tecnicos.
Acho que nesse caso a pessoa que escreveu isso que você disse deve ser algum idiota que não merece ser levado em consideração.

Abraços

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

EM UM MUNDO SEM A MÃE

Éramos todos órfãos

Reflexões de uma sacerdotisa sobre a Deusa, as mulheres e os homens

Existem dores que só as Mulheres sentem. Os homens podem crer que levam o peso do mundo em suas cabeças (e isso pode até ser real), porém as mulheres carregam as dores e lágrimas da humanidade nos seus corpos. Existem dores intensas que só uma mulher pode ter, são dores relacionais. Toda a pessoa humana que já existiu um dia esteve no corpo de uma mulher, e foi em algum momento alimentada por uma mulher. Esse é o tipo de memória atávica que não se apaga. Não importa o seu gênero, na sua primeira lembrança e no mais íntimo de você, está uma mulher. Escute-a e a deixe chorar.
Novembro, 2004.

Donzela, guardiã da pureza dos inícios.

Q
uando encontrei o caminho da Grande Mãe nessa existência, foi puro êxtase! Foi como descobrir que minha alma podia dançar e meu coração podia desabrochar flores. Fui uma pessoa espiritualizada desde a infância, mas nunca nada havia tocado tão profundamente meu coração, feito tanto sentido e me tornado tão feliz! O mundo pulsava em uma avalanche de sincronicidades, sonhos, amor, irmandade, visões, cura e resgate. Quero dizer que não há nada como esse encantamento, é um pouco como a paixão. Porém, eu sabia que era amor, antigo e profundo, e chegava para ficar.
Comecei a participar do círculo de mulheres da Mirella Faur (1) aos 21 anos. Nessa época, estudava Psicologia e estava perto de terminar o curso. Já conhecia o caminho da Grande Mãe, já havia sentido seu suporte e amor. Porém, o círculo foi meu primeiro contato com a irmandade e o verdadeiro deslanchar nessa dança espiral das tradições antigas. Meu coração estava preenchido e minha intuição totalmente receptiva. Faltava saciar meu conhecimento intelectual para poder pisar com segurança nesse novo terreno. Por isso decidi, na época, fazer minha monografia de conclusão de curso com o tema de religião e gênero. Era minha chance de investigar a fundo isso que minhas novas irmãs chamavam de Deusa. No fundo, eu estava cheia de medos e preconceitos, tantos que é melhor nem enveredar nessa estrada.

Anciã, guardiã dos mistérios do passado.

Estudei e estudei, li, cavei. À medida que escrevia com paixão, me tornava rouca, cada vez mais rouca, como se gritasse para multidões. Resgatava a voz daquelas mulheres que foram minhas mães e avós, aquelas mulheres que fui para além da minha identidade. Resgatava a voz daquelas mulheres que não puderam se expressar por séculos, que morreram em meio à dor, violência e solidão. Eu cavava e sentia que as informações floresciam no meu coração tendo brotado do próprio fundo escuro da Terra... O ventre-terra, que guarda os ossos das minhas velhas mães, das minhas outras irmãs, os ossos que são meus, são meus também. Ai, minhas antigas mães, ai, meus eus antigos, quanto há para ser reparado! Desejava pedir desculpas e colocá-las no colo, colocar a nós todas por tanta injustiça e traição patriarcal. O que havia acontecido com todos nós?
Resolvi cavar mais fundo, penetrando na densidade desse cemitério de ossos da Mãe Terra. Até que algo diferente aconteceu. Ouvi em minhas memórias, meu corpo, minhas palavras a canção mais antiga que havia experimentado até então. A Terra Mãe me encantava com canções de beleza e paz infinitas. Descobri que nessa mesma Terra - hoje devastada pelos valores de guerra, competição, apropriação e negação do outro -, houve povos de cultura simples que viviam em sociedades solidárias e em harmonia com todas as suas relações. Utopia? Acho que não.
Rianne Eisler, em seu livro “O Cálice e a Espada”, descreve essas sociedades em cujas casas e túmulos eram construídos com o mesmo tamanho como conhecedoras do poder do Cálice, o poder da doação. Em seu livro, ela também desconstrói o mito do homem-das-cavernas caçador e demonstra que as primeiras armas eram provenientes dos povos da estepe e foram forjadas bem mais tarde do que o alegado pelos antigos arqueólogos. Maturana (2) chama essas sociedades de matrísticas, por serem povos de mística feminina.
Muitos de nós já conhecemos a história das imagens de mulheres grávidas, de seios fartos e ligadas a imagens lunares que foram pintadas no período paleolítico e encontradas, principalmente, em cavernas da Anatólia (Turquia). A arqueologia antiga e patriarcal acreditava que essas imagens representavam as fantasias eróticas de homens dos povos antigos. Ou, como um conhecido pontuou de maneira mal educada: “elas eram a prova de que os xamãs eram punheteiros”. Porém, hoje nós sabemos melhor, reinterpretamos a história com mais fatos e observação cautelosa. Abrimos mão da visão de túnel limitada do preconceito. Uma das possibilidades, aquela que fala mais alto no meu coração – afinal toda a interpretação da história é também uma escolha – é de que essas imagens simbolizavam a mística de culto à vida, à Terra, à Lua e, associada a todas essas, à mulher. O que mais me intrigou na época, não foi descobrir o quão antigas eram as representações desse Divino Feminino. O que mais me intrigou foi perceber todas as implicações do emocionar cultural desses povos. Não havia matriarcado, pois as mulheres não estavam no comando. Havia algo além.
Eu já ouvira toda aquela história de que o “homem é o lobo do homem”, o ser humano é naturalmente cruel e perverso, a guerra e a competição são inevitáveis condições da natureza humana. Porém, com o novo conhecimento, todas essas idéias morreram junto com minhas últimas crenças patriarcais. Nós vivemos cronologicamente mais tempo de solidariedade praticamente global do que de guerra. Pensem. Isso é bombástico! Talvez você já tenha essa informação e não se surpreenda tanto. Porém, renove sua fé, reveja essa descoberta pela primeira vez. Encante-se novamente. Esse conhecimento é fantástico! Fico feliz até hoje pensando nisso.
O que aconteceu para mudar esse quadro é que é a peça obscura do quebra-cabeça. Existem algumas teorias, e é claro que tenho as minhas preferidas. Porém, não quero me prender a isso agora, a informação que já temos é suficiente para o que tenho a dizer nesse artigo.

Mãe, guardiã dos frutos do presente.

Com todas essas reflexões, o foco da minha angústia saiu das mulheres e voltou-se para toda a humanidade. Quem são os algozes, afinal? Somos todos filhos da mesma Mãe e todos fomos privados do seu conforto. Sua presença foi riscada da história, sua memória foi punida severamente quando carregadas por suas filhas secretas.
Mulheres espancadas, vendidas, exploradas, estupradas, violadas das formas mais monstruosas. Na China, no Brasil, no Islã, na Índia, na Europa, nos Estados Unidos, em todo o planeta. É tanto terror, mágoa e desamor que não posso evitar mudar o foco da pergunta. Ao invés de me perguntar como isso foi acontecer, começo a pensar: por que isso continua acontecendo?
O maior estrago do patriarcado foi a Separação. Homens contra mulheres e contra homens. Nosso Povo contra o Outro Povo. Eu que não sou você, e sou melhor que você, e portanto destinado a te destruir. Jamie Sams, em um de seus livros, já dizia que todas as mulheres são reflexos da Mãe Terra, e que maltratar uma mulher tem o poder de criar a escassez para todos os filhos da Terra. É isso, meus queridos. Aconteceu. Vivemos e sofremos a escassez. As mulheres sofrem vitimizadas pelos homens, e os homens vitimizados uns pelos outros. Pensem nisso, sintam isso. Saímos todos de Eras idílicas de conforto e solidariedade, do poder do cálice, da beleza e da irmandade. Todos nos dirigimos juntos para a Era em que a força bruta é mais poderosa que a emoção. Os homens endurecem, os homens vão para guerra, os homens matam outros homens, e matam mulheres e crianças. Os homens não podem amar. Eles não podem amar sua mãe ou sua mulher, pois eles não têm Mãe.
Ao longo dos últimos séculos, ficamos todos alheios aos mistérios e a beleza da feminilidade, da Lua e da Terra. Hoje, as mulheres resgatam esses mistérios e reconquistam com isso sua soberania e integridade. Porém, saibam, queridas, que a soberania é só o princípio do caminho que leva à Deusa. Nossa Mãe nos ensina o amor sem limites. Temos seios que produzem leite para mostrar que as mulheres são as guardiãs do amor infinito, pois nutrem toda a vida nova com o alimento do coração. À medida que resgatamos nossa integridade do nosso espaço sagrado, podemos penetrar nessas lições de amor. Somos a bandeira do novo mundo, somos as mães, somos a paz. Não vamos perpetuar a tradição do Nosso Povo e do Outro Povo. Vamos dançar juntos e oferecer aos filhos da Terra aquilo que todos nós perdemos: o direito à nossa maternidade espiritual. Quando os homens desconhecem os mistérios, eles o temem e o violentam. No entanto, se os deixamos participar da parte da qual eles também têm direito, nós substituímos o medo pela empatia, e a violência pelo saudoso abraço de reconhecimento. Somos todos órfãos da mesma Mãe, somos todos órfãos da Mãe que nós mesmos esquecemos. Ela ainda está aqui, Ela ainda nos espera. Despertemos em seu abraço de amor para criar uma nova Era.
Entrego essas palavras em Serviço e Gratidão para Ela.
Eu, Natália, falei. Ahá!

(1) Mirella não está mais em Brasília, mas em Águas da Prata com seu esposo igualmente estudioso das tradições espirituais, Cláudio Capparelli. O círculo de mulheres criado por ela hoje se chama Teia de Thea, continua os trabalhos na Unipaz, sob sua guiança e olhar amoroso.
(2) MATURANA, Humberto R. - Amar e Brincar: fundamentos esquecidos do humano. Ed. Palas Athena. 2004.

Natália Carvalho
Psicóloga, facilitadora de grupos para o resgate do Feminino, contadora de histórias do Feminino Ancestral.
Teia de Thea/UNIPAZ-DF:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7825720
nataliacarvalho@gmail.com
BRASÍLIA/DF

IN: http://www.absoluta-online.com.br/conteudo_yinsights_reflexoes_natalia.html