sábado, 3 de janeiro de 2009

Rosa leonor:entre a santa e a puta





A mulher está dividida ao meio. Pelo menos, segundo a ótica da nossa sociedade moderna, erguida sob valores machistas e maniqueístas. Já viramos o milênio mas, bem no fundo, nossa cultura freqüentemente ainda reduz papéis femininos apenas às polaridades de santas ou prostitutas.Quem nos fala a respeito é a escritora portuguesa Rosa Leonor, que estréa no Absoluta com contundência, mostrando que a ideologia dominante nunca vê as mulheres nos eixos centrais das sociedades enquanto mães, irmãs e amantes na qualidade vibracional de sacerdotisas da Deusa.Na juventude, Rosa Leonor foi simpatizante da causa comunista, o que lhe valeu ter de fugir para Paris. Revolucionária por natureza e autodidata, publicou seu primeiro livro de poemas, MULHER INCESTO, em 1996. Em 2003, publicou ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO, numa edição do Projecto Art for All (http://www.art-for-all.com/Artforall.swf).Em 2002, criou seu espaço na web, MULHERES & DEUSAS, que atualiza diariamente com textos de profunda identificação com o Feminino Essencial e que, só no primeiro ano, recebeu mais de 13.000 visitantes.

Em busca da Mulher Absoluta
“O feminismo pega fogo quando se nutre de sua espiritualidade inerente. Quando não o faz, é apenas mais uma forma de política, e a política nunca alimentou as nossas carências mais profundas.”Carol Lee Flinders, At The Root of This Longing
As nossas carências mais profundas… é disso justamente que se trata, mas não só das nossas carências mais profundas e, sim, principalmente da profundidade do nosso Ser e da nossa Alma. Trata-se da profundidade e da dimensão do nosso Ser ligado a essa espiritualidade inerente a esse feminino verdadeiro, o das profundezas.Não se trata pois e apenas da afirmação social ou psicológica da mulher que os múltiplos e variados conceitos dividem em estereótipos e que as religiões divulgaram acerca da natureza fragmentada da mulher. Não se trata da procura sistemática dos sistemas políticos para branquearem e destruírem a plenitude do seu poder interior, e essa espiritualidade inerente a todas as mulheres, e de que as feministas à partida não se deram conta. Porque não se trata de conseguir um lugar de chefia nem um salário igual que dará dignidade à mulher nem a restituirá a sua dimensão do sagrado, cuja noção de transcendência falta à política, como é óbvio, e as religiões só tratam de tabus e do dogma contra a mulher.Mas é o fogo interior do feminino, esse fogo que se nutre de uma essência feminina verdadeira e a sua ligação à Terra e à Deusa Mãe, da qual emerge o seu poder como mulher capaz, uma vez na posse da sua totalidade, amar integralmente e ser mãe, de dar à luz e iluminar os homens dando-lhe a conhecer o seu feminino também - o que as religiões patriarcais procuraram a todo o transe apagar da história da humanidade, tal como o fizeram denegrindo a imagem de Maria Madalena, como iniciadora e amante, transformando-a em pecadora, e elevando posteriormente a imagem da Virgem imaculada, dividindo assim a Mulher real na sua função erótica e maternal, como bem convinha aos padres do deserto e do seu deus misógino.
Dessacralização da mulher e do sexo - Na realidade, a política e os políticos, tal como as ideologias ou mesmo as revoluções, nunca foram além do simples remediar das diferenças sociais e econômicas das mulheres, mas jamais lhes deram ou restituíram o legítimo lugar que lhes cabe no Centro das sociedades como Mães, irmãs e amantes, como sibilas e sacerdotisas da Deusa. Pelo contrário, todas elas alimentaram esses estereótipos degradantes das duas (várias) mulheres e contribuíram para acentuar a divisão entre o erótico e o maternal, na divulgação da pornografia e da prostituição, acicatando as mulheres umas contra as outras, construindo e divulgando as figuras de esposa e prostituta como ainda hoje ostentam nos cabeçalhos dos seus jornais e noticiários como escândalos mundanos na risível queda de um “anjo”, como foi o caso do mayor de Nova Yorke… o homem "virtuoso" e moralista que engana a mulher “séria” e esposa legítima (a humilhada…) com a prostituta famosa…E é pela sua própria voz McInerney que diz…"A prostituta não é uma ameaça à estabilidade institucional e emotiva do matrimônio. Pelo contrário, historicamente sempre o reforçou"… que nós nos apercebemos como essa divisão histórica é ainda inquestionável e assente como regra das sociedades “civilizadas” e que continua a dividir as mulheres em duas espécies… Agora, o que não compreendo é que as próprias mulheres aceitem passivamente e contribuam também para essa divisão sem consciência da sua própria divisão interior e continuem a antagonizar umas com as outras, prejudicando o seu trabalho, como é o caso das eco-feministas, por exemplo...Mais à frente, no mesmo artigo, lemos: “As diversas igrejas sempre toleraram as prostitutas” - elas não só toleraram como as implementaram e contribuíram ao longo dos séculos para que a mulher continuasse dividida entre a esposa (católica) e a prostituta (não católica)…As feministas nunca se aperceberam da questão fulcral dessa divisão em si mesmas, e defendem até a profissionalização do sexo, o que é continuar a aceitar a sua divisão intrínseca e a dessacralização da mulher e do sexo, que é matriz do nexo… Só por isso, eu não sou feminista… mas defendo de alma e coração a Essência do Feminino como ponto de partida para uma verdadeira Consciência do SER MULHER. Em busca da Mulher Absoluta.

Rosa Leonor Pedro

Um comentário:

  1. Lendo seu texto é fácil perceber que a prostituta não é a mulher liberada, que se permite amar livremente e dispor de seu corpo como bem entender. A prostituta é mais uma criação do homem e sua sociedade patriarcal, pois ele cria esse objeto (a prostituta) para seu próprio prazer...e a mulher cai em mais esse engano. Quem criou essa divisão foi o homem e a mulher permite nela permanecer.

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Que o Poder Infinito da Deusa e da Mãe Natureza purifique seus caminhos.