"Limitar a beleza e o valor do corpo a qualquer coisa inferior a essa magnificência é forçar o corpo a viver sem seu espírito de direito, sem sua forma legítima, seu direito ao regozijo. Ser considerada feia ou inaceitável porque a nossa beleza está fora da moda atual fere profundamente a alegria natural que pertence à natureza selvagem."
(...)Subjacente a tudo isso está a mesma fome de experiência espiritual que os seres humanos sentiram desde o início dos tempos. Em alguns casos, porém, essa fome é exacerbada pois muitas pessoas perderam o contato com seus antepassados. É muito comum que elas não saibam os nomes dos que vieram antes dos seus avós. Perderam, em especial, as histórias das suas famílias. Em termos espirituais, essa situação provoca tristeza... e fome. Por isso, muitos estão tentando reciar algo de importante para o bem da alma.(...)
Não sabemos se ainda temos vinte, quarenta anos ou apenas um dia para pôr em prática o que quer que a vida nos oferece em sua agenda. Por isso, talvez não devêssemos lutar tanto pelos aplausos, porém mais pelo prazer e a graça da dança.
(...)Os turistas vêm com todo tipo de expectativa, desde as sagradas até as profanas. Vêm ver algo que nem todos conseguirão ver, um exemplo do mais selvagem dentre os selvagens, um espírito vivo, La Mariposa, a Mulher-borboleta.O último evento é a Dança da Borboleta. Todos aguardam com imenso prazer a tal dança de uma só pessoa. Ela é apresentada por uma mulher, e que mulher! Quando o sol começa a se pôr, aparece um velho resplandecente no seu traje de cor turquesa que deve pesar uns vinte quilos. Com os alto-falantes guinchando como um pintinho que detectou um falção, ele sussurra no microfone de cromo da década de 1930, 'E nossa próxima atração vai ser a Dança da Borboleta'. Ele se afasta arrastando no chão e bainha dos jeans.(...)
Para os turistas, uma borboleta é algo delicado. 'Ah, a frágil beleza", sonham eles. Por isso, ficam necessariamente abalados quando surge aos saltos Maria Lujan. E ela é grande, grande mesmo, como a Vênus de Willendorf, como a Mãe dos Dias, como a mulher heróica de Diego Rivera, que construiu a cidade do México com um simples voltear do seu pulso.E Maria Lujan é velha, muitíssimo velha, como uma mulher que voltou do pó; velha como um rio velho; velha como os pinheiros nos pontos mais altos das montanhas. Um dos seus ombros está nu. Sua manta vermelha e preta, um vestido-saco, pula de um lado para o outro com ela dentro. Seu corpo pesado e suas pernas muito finas fazem com que ela lembre uma aranha saltitante envolta numa pamonha.Ela salta num pé só, e depois no outro. Ela abana seu leque de penas por toda parte. Ela é A Borboleta que chegou para dar forças aos fracos. Ela é o que a maioria considera não ser forte; a velhice, a borboleta, o feminino.
Ela abana o leque para cima e para baixo, salpicando a terra e o povo da terra com o espírito polinizador da borboleta. Suas pulseiras de conchas chocalham como cascavéis; suas ligas provisas de sinos produzem o som da chuva. Sua silhueta com sua grande barriga e pernas pequenas dança de um lado do círculo para o outro. Seus pés deixam pequenos remoínhos de poeira.As tribos ficam reverentes, envolvidas. No entanto, alguns turistas olham uns para os outros, perguntando, aos sussurros, de aquilo é a Donzela Borboleta.Eles estão perplexos, alguns até mesmo decepcionados. Parecem não mais lembrar de que o mundo dos espíritos é um lugar em que os lobos são mulheres, os ursos são maridos e as velhas de dimensões avantajadas são borboletas.É, é apropriado que a Mulher Selvagem/Mulher-borboleta seja velha e corpulenta, pois ela traz o mundo dos trovões num seio, e o mundo subterrâneo no outro. Suas costas são a curva do planeta Terra com todos os seus frutos, alimentos e animais. Na sua nuca, ela traz o sol nascente e poente. Sua coxa esquerda guarda todos os pinheiros; sua coxa direita, todas as lobas do mundo. Em seu ventre estão todos os bebês que um dia ainda irão nascer.A Donzela Borboleta é a força feminina fertilizadora. Ao transportar o pólen de um lugar para outro, ela fecunda por cruzamento, da mesma forma que os arquétipos fesrtilizam o mundo concreto. Ela é o centro. Ela aproxima os opostos ao tirar um pouco daqui e levá-lo para lá. A transformação não é nem um pouco mais complicada que isso. É essa a sua lição. É assim que a borboleta faz. É assim que a alma atua.
Lindo demais! Obrigada pela gentilez em compartilhar conosco!
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