SABEDORIA FEMININA PARA PROMOVER A PAZ
Mirella Faur
Artigo publicado no livro “A Paz como Caminho” organizado por Dulce Magalhães e publicado como uma contribuição para a realização do Festival Mundial da Paz em 2006, Florianópolis, S.C.
Um mito comum a muitas culturas, religiões e tradições espirituais diz respeito à existência de uma Idade de Ouro, período que corresponde a uma das quatro idades da mitologia clássica e é definido como a “perfeição dos começos”, no qual a humanidade vivia em paz, harmonia e abundância.
Na bíblia judaico-cristã, menciona-se o jardim do Éden, onde o casal primevo vivia em perfeita harmonia consigo mesmo e com a Natureza, antes de ser expulso do Paraíso por um Deus punitivo e severo, que decretou o “pecado” da mulher como causa do sofrimento da humanidade e a castigou com sua inferiorização e subserviência dohomem.1) outro O texto clássico chinês Tao Teh Ching descreve outro período harmonioso da Terra, quando o princípio feminino – Yin – era o pólo complementar do masculino – Yang -, sem ser, todavia, por ele dominado. Honrava-se Tao, a Ordem Cósmica, a lei da harmonia primordial que tudo permeava e que estava refletida no todo e em todos. Quando nasciam, todos os seres e todas as coisas Dela emergiam, a ela retornando após a morte. Tao era infinita e imensurável, não era limitada nem pelo tempo, nem pelo espaço; ela criava tanto a forma, quanto sua ausência, o vazio. Era reverenciada como “O Coração Imortal, a Misteriosa Mãe Fértil, Criadora do Céu, da Terra, de tudo que existia, visível e invisível”, cuja essência era eterna e toda abrangente, imutável e se encontrava em movimento perpétuo. Enquanto Tao reinou, a humanidade viveu em paz e prosperidade, a Terra foi honrada e a mulher respeitada. (2 e 3)
O poeta grego Hesíodo mencionou uma “raça dourada”, que cuidava da terra em “paz e tranqüilidade”, até ser dominada por outra raça, que cultuava os deuses da guerra e invadia as pacíficas comunidades agrárias, instaurando a hierarquia e a dominação do poder masculino, a conquista da terra e a subjugação das mulheres – não mais respeitadas, mas aprisionadas como troféus dos conquistadores.
Outros poetas, como Virgílio, enalteceram o aspecto bucólico da tranqüila vida dos pastores e camponeses, considerando-a vestígio da Idade de Ouro, enquanto escritores e filósofos declararam a cobiça pelo ouro como a causa dos males e da violência da Idade de Ferro. Sá de Miranda escreveu que “do branco ouro e da prata faz duras prisões de ferro”, enquanto o padre Antônio Vieira, inspirado pelos filósofos gregos, resumiu esta realidade mítica com palavras simples: “enquanto no mundo não houve ouro, então foi a Idade de Ouro; depois que apareceu o ouro no mundo, então começou a Idade de Ferro”. (4)
Com o passar do tempo e a substituição da tradição clássica pelo movimento romântico, começou a desvalorização da herança greco-latina e de toda sua riqueza mítica, ignorando ou ironizando qualquer menção a uma possível Idade de Ouro. As referências aos períodos em que homens e mulheres viviam em paz e harmonia eram consideradas fantasias. Os manuais de história davam ênfase à evolução da humanidade pelas guerras e conquistas, o poder e as vitórias pertencendo sempre às hierarquias masculinas. Os dogmas religiosos reforçavam cada vez mais a supremacia paterna (divina e humana), afirmando ter sido ordenada divinamente. A Igreja Cristã não somente permitia como incentivava e abençoava as guerras santas, ordenando e “premiando” a destruição dos vestígios espirituais e culturais do passado, considerados “heresias pagãs nocivas à alma cristã”. Os livros científicos ou artísticos ignoravam os primórdios da civilização européia e a existência das sociedades igualitárias que cultuavam a Grande Mãe, criadora, nutridora e sustentadora da vida e que desfrutavam de longos períodos de paz, abundância e respeito pela vida.
É fácil se compreender, atualmente, o motivo dessas omissões e das inúmeras distorções das verdades arcaicas. A história – à medida que era escrita e ensinada – pertencia aos escritores, filósofos e estudiosos homens, com escassas ou deturpadas referências ao culto da Deusa, à existência das sociedades matrifocais – gino e geocêntricas – e à participação das mulheres na criação e manutenção das estruturas sociais, culturais e espirituais dessas sociedades. (5)
Assim como a história, a religião também ficou centrada no princípio masculino. Nos últimos quatro milênios, as principais religiões do mundo cultuaram somente o Criador. Apesar das diferenças entre conceitos, dogmas e práticas do judaísmo, islamismo e cristianismo, a Divindade suprema é sempre personificada por arquétipos masculinos e a estrutura social, enfaticamente patriarcal. As poucas figuras femininas não são consideradas forças primordiais e criadoras; apenas desempenham papéis ou funções secundárias. No entanto, a origem dessas religiões – que atualmente prevalecem no cenário mundial – é relativamente recente (2000 a.C.), como demonstrado pelo crescente surgimento de provas irrefutáveis dos antiqüíssimos cultos a uma Grande Mãe, a fonte criadora primordial, que era reverenciada no período paleolítico (50.000 a.C.) até o fim da Idade de Bronze (5 e 6).
A Grande Mãe foi a Suprema Divindade deste planeta por pelo menos 50 milênios, venerada por seu poder de gerar, criar, nutrir, proteger e sustentar todos os seres. Representando a totalidade da criação e a polaridade da vida/morte, início/fim, masculino/feminino e luz/sombra, sua essência é imanente e permanente em todo o universo. Seus múltiplos aspectos e manifestações representam e reproduzem o ciclo evolutivo da natureza, a própria dança espiral da vida, desde o nascimento, crescimento e florescimento até a decadência, morte e renascimento. Cultuada na forma de inúmeras representações e nomes, conforme a cultura ou a época, a Deusa era a própria Mãe Terra, venerada nos ciclos das estações, nos fenômenos da natureza, na beleza do céu, das estrelas, montanhas, águas, plantas e animais, a matriz primordial de todas as formas de vida.
Escritos antigos – sumérios e babilônios -, anteriores aos textos bíblicos, descrevem o paraíso como um “Jardim Mágico” onde a Árvore da Vida oferecia os frutos de ouro da imortalidade e todos os seres viviam juntos – e em paz. Essas descrições podem ser equiparadas ás memórias ancestrais das sociedades paleolíticas e neolíticas, com suas comunidades matricêntricas e pacíficas, que cultuavam a Deusa, louvavam a mulher por seu dom de gerar a vida e viviam em harmonia com a natureza. O Paraíso – em hebraico, pardes – simbolizava o “Jardim das Delícias” (ou Éden), onde corriam rios de leite e mel, uma clara alusão ao corpo nutridor e protetor da mãe – tanto no nível mítico, quanto no pessoal. O modelo psicológico do paraíso infantil é sua primeira experiência de amor, nutrição e proteção no colo materno. Depois do trauma do nascimento – quando se “cai”, do abrigo seguro do ventre, no mundo traumático dos estímulos e sensações -, a criança necessita da compensação pelo “paraíso perdido”, que apenas a mãe pode lhe dar. (1)
O desejo atávico de voltar para o útero – materno e divino – é evidente também nos antigos ritos funerários, como os do Egito, nos quais a tampa dos sarcófagos tinha a representação da Deusa Celeste Nut arqueada sobre o morto e recebendo aquele espírito em seu ventre. Os povos indígenas entregam até hoje seus mortos ao ventre da Mãe Terra, orando para que Ela lhes dê cura, renovação e renascimento, pois acreditam que os seres humanos emergiram das entranhas da Terra (6). Em inúmeros mitos e lendas, o útero primordial é representado pela montanha sagrada, gruta, lago, fonte, portal, Caldeirão ou Cálice – todos eles símbolos sagrados da Deusa.
Recentes descobertas arqueológicas, bem como inovadores trabalhos acadêmicos das últimas décadas do século passado, forneceram evidências surpreendentes de que, ao contrário dos conceitos tradicionais e das teorias ensinadas nas escolas, a evolução histórica, cultural e espiritual da humanidade seguiu um caminho pacífico, equilibrado social e ecologicamente, sem ter sido permeado por guerras ou pelo domínio de um gênero humano sobre outro. Por milênios, as tecnologias básicas que serviram de fundamento para inúmeras civilizações foram desenvolvidas em sociedades isentas de violência, hierarquia, supremacia, dominação ou competição, caracterizadas pela linhagem matrilinear, pelo culto à Grande Mãe, por uma organização social igualitária e uma economia de parceria. (7)
Nomes como Bárbara Walker, Elinor Gadon, Mary Daly, Max Dashú, Merlin Stone, Monica Sjöo, Joseph Campbell, Robert Graves, E. O. James, Jean Markale, James Mellart, Erich Neumann e Robert Patai, entre outros, lançaram luzes reveladoras sobre a nebulosidade que envolvia a pré-história e as origens do culto à Deusa. Porém, deve-se creditar principalmente a duas mulheres – Marija Gimbutas e Riane Eisler – o “desbravamento” das intrincadas distorções e omissões que ocultavam evidências históricas sobre as pacíficas e igualitárias sociedades matriciais.
O fantástico trabalho – de campo e acadêmico – de Marija Gimbutas, contido em seus 20 livros e mais de 200 artigos, documentou, com inúmeras ilustrações, dados e comparações interdisciplinares, a existência de uma era matrilinear, entre 6.500 e 3.500 a.C, na região por ela denominada de Europa Antiga. Oriundas do período paleolítico e neolítico, sociedades matrifocais agrícolas e sedentárias, igualitárias e pacíficas – cujo denominador comum era o culto à Grande Mãe – permaneceram naquela área até meados da Idade de Bronze. A Europa Antiga estendia-se da Rússia até Creta – em direção ao Sul-, Malta – seguindo para Oeste – e o Mar do Norte, e englobava agrupamentos culturais diferentes, mas com o mesmo tipo de organização social, tecnologia, economia, comércio e arte. Todas essas comunidades eram desprovidas de fortificações e armas, evidenciando, assim, seu caráter pacífico e não patriarcal. Com base em escavações feitas em mais de três mil sítios arqueológicos e nas trinta mil esculturas e objetos ritualísticos e domésticos encontrados, Marija Gimbutas criou um novo ramo científico, chamado “arqueomitologia”, que unia dados de dendrocronologia, datações com carbono radioativo, mitologia comparada, textos históricos, etnografia, folclore e estudos lingüísticos (8,9 e 10).
Assim, ela pôde comprovar que a cosmologia das sociedades matrifocais não era polarizada em princípios separados e opostos (masculino e feminino), pois estes coexistiam e se complementavam sem que um estivesse subordinado ao outro. A sociedade refletia a estrutura de um panteão governado pela Mãe (cósmica e telúrica) e por seu Filho/Consorte, cuja união se realizava pelo hieros gamos (casamento sagrado) e garantia a fertilidade da terra, dos humanos e dos animais. A Deusa era a divindade suprema e eterna, ao passo que os arquétipos masculinos, por serem ligados aos ciclos da vegetação, morriam e renasciam conforme as estações. A união entre o Deus e a Deusa era um acontecimento sagrado e perene, celebrado nas festividades de plantio e colheita. (11)
O simbolismo da Deusa era centrado nos mistérios da vida, da morte e do renascimento, tanto no nível mítico e humano, quanto na periodicidade da criação, qualidade da natureza e do universo, representada pelo “mito do eterno retorno”, de acordo com o escritor Mircea Elíade (10). A arte paleolítica representava a energia feminina por movimentos dinâmicos (ondas, espirais, círculos, serpentes, sementes, barcos, rodas solares), ao passo que no período neolítico apareceram as figuras antropomórficas e as estatuetas de mulheres com ventres e seios protuberantes, grávidas ou dando à luz. Foram encontradas imagens de Deusas Pássaros, Senhoras dos Animais ou Mães Divinas embalando seus filhos, ovos cósmicos, serpentes e borboletas, jóias, ferramentas, objetos rituais e caseiros. A arte centrada na figura multifacetada da Deusa reflete a estrutura social deste período em que as mulheres eram respeitadas e honradas como representantes terrestres da Deusa, a imagem religiosa central sendo da mulher que dava à luz ou amamentava seu filho. Não foram encontradas imagens de guerra ou dominação, nem armas ou cenas de guerra, o que comprova que a vida, a fertilidade e a arte eram os traços predominantes das sociedades matricêntricas (12 e 13).
Paralelamente ao apogeu de prosperidade, convivência pacífica e perfeição artística das culturas neolíticas européias, no quinto milênio a.C surgiu outra cultura no Sul da Rússia, que se expandiu posteriormente para o Leste. Provenientes das tribos indo-européias, estes povos – denominados de Kurgos por Marija Gimbutas – tinham um sistema social patrilinear e patriarcal, cultuavam deuses guerreiros, centravam-se na guerra e nas conquistas, eram exímios fabricantes de armas (flechas, espadas, punhais, escudos), possuíam características nômades e economia pastoril (criação de cavalos). Por meio de repetidas incursões e invasões no Sul e no Oeste, eles conquistaram – e, aos poucos, dominaram – os nativos e pacíficos povos europeus, impondo suas crenças, valores e sistemas (social e religioso).
Depois de alguns séculos, a Europa Antiga mudou sua estrutura social, passando da parceria igualitária para a androcracia, da linhagem matrilinear para o patriarcado, da orientação pacifista e do respeito pela vida, pela mulher e pela natureza ao culto da violência, à dominação pela força e à subjugação. Apenas em algumas regiões mais isoladas – como Creta, Malta e Sardenha – a cultura matrifocal e a civilização pacífica e de parceria persistiram até 1500 a.C. O último reduto do culto da Deusa e da reverência a seus valores foi Creta minóica, que aprimorou o antigo legado com expressão artística mais refinada e tecnologia avançada, únicas na civilização européia. Mas o enfoque principal da cultura cretense continuava sendo a glorificação da paz, harmonia, beleza e alegria de viver, bem como a participação igualitária e solidária de mulheres e homens na construção e preservação da sociedade e na celebração da vida (1,8,9 e 10).
A escritora Riane Eisler, em seu livro “O Cálice e a Espada” (1), denominou este tipo de sociedade igualitária e de parceria de gilania, palavra composta de gyne (o princípio feminino) e andros (o princípio masculino), unidos por objetivos e esforços comuns e equilibrados. Em Creta, assim como no período neolítico, as imagens de divindades femininas estavam presentes em todos os lugares, as mulheres exerciam funções importantes e os cultos eram centrados na reverência à Deusa, à Natureza, à beleza e à harmonia da vida.
Todavia, o “poder letal da espada” dos conquistadores indo-europeus pôs fim ao reino pacífico e harmonioso do “cálice”. Consagrou-se o poder de tirar a vida, não mais o dom de gerá-la ou nutri-la. Uma nova ordem social foi imposta, baseada na hierarquia e na autoridade masculinas, na subjugação e na dominação. O sexo da Fonte Criadora foi modificado, a Mãe tornou-se Pai, a Deusa foi transformada em consorte, filha ou amante dos deuses guerreiros, senhores dos raios, trovões e conquistas. Apesar da diferente origem das tribos invasoras, elas tinham em comum o sistema social, baseado na dominação, na tecnologia da destruição, na propriedade privada e no “culto do falo”, a subjugação das mulheres pelos homens. (14)
A queda de Creta marcou o fim da pacífica era matrifocal; em toda a Europa, a sociedade, dominada pelos homens, tornou-se hierárquica e belicosa, os cultos e a simbologia da Deusa foram relegados ao ostracismo e, paulatinamente, ao esquecimento. Os princípios masculino e feminino – anteriormente pólos complementares da mesma unidade – foram separados e colocados em lados opostos. Enalteceu-se o Pai, renegou-se a Mãe: em nome do Pai, foram cometidos crimes inimagináveis que vitimaram, por séculos, as mulheres declaradas “seres inferiores, sem alma e perpetuadoras do pecado original” (15). O nome de Deus foi utilizado para creditar e justificar o código patriarcal e a inferiorização da Terra e das mulheres. Culparam-se as mulheres para que seu poder (espiritual, ancestral) fosse roubado e, assim, fosse consolidada a supremacia patriarcal. Os antigos símbolos da Deusa – os rituais para a fertilização da terra e a capacidade geradora, curadora e profética da mulher – foram demonizados. Pela sistemática inferiorização e perseguição da mulher, o patriarcado procurava apagar e denegrir os valores e os cultos da Grande Mãe: a serpente, símbolo sagrado da Deusa que representava a renovação e a transmutação, foi demonizada; o simbolismo da árvore da vida foi distorcido; a importância da sexualidade e da relação igualitária homem-mulher foi renegada. A mulher foi declarada responsável pelos males do mundo, um ser maldito, inferior, destinada a sofrer e ser dominada pelo homem. Ao passo que, na era matriarcal, comer da Árvore da vida significava adquirir sabedoria, a Bíblia cristã considerou este ato pecado mortal e substituiu a Árvore pela cruz do sofrimento. O amor sagrado (divino e humano) foi substituído pelo matrimônio – muitas vezes imposto ou forçado-, fundamentado no domínio masculino, na preservação do patrimônio e na obediência feminina. (16)
Pela desconstrução e deturpação dos milenares conceitos matriarcais, pautados na paz, na prosperidade e na parceria igualitária, a era patriarcal de dominação e conquista – de outros homens, de mulheres e da própria natureza – foi legitimada. Os homens – como gênero – não foram os únicos responsáveis pela violência a eles atribuída, mas a maneira pela qual a identidade masculina foi criada e reforçada pelos conceitos e comportamentos de “heróis” e “super homens” (14) – fundamentados em seus “direitos divinos”, outorgados inicialmente pelos deuses guerreiros e depois pela interpretação tendenciosa dos preceitos bíblicos. Ao negar e anular a energia feminina (divina e humana), o patriarcado criou uma cultura destrutiva e exclusiva, centrada predominantemente na violência e na aniquilação, voltada para a morte e não para a vida. O atual desequilíbrio global não foi criado, nem está sendo mantido ou sustentado por mulheres: em todas as tradições femininas, a guerra e a violência eram inaceitáveis, por serem contra o dom da vida conferido pela Grande Mãe à humanidade, que se encontra oculto no ventre das mulheres (17).
Agora, que presenciamos o “poder letal da espada ampliado milhões de vezes pela energia atômica” (14), também vivenciamos o surgimento de uma nova consciência, pautada na valorização das antigas tradições e dos atributos do “cálice”. O caos da civilização atual decorre da hipertrofia e do desgaste da estrutura patriarcal e dos sistemas sociais, morais, culturais e espirituais, excessivamente polarizados nos valores assim ditos masculinos. A dicotomia entre matéria e espírito, razão e emoção, homem e mulher, levou à concepção do Universo como um sistema mecânico fragmentado, o meio ambiente visto como uma fonte inesgotável de recursos a serem explorados em função dos objetivos e interesses humanos, a prevalência das leis dos mais fortes.
A exploração da natureza anda de mãos dadas com a das mulheres: a Mãe Terra mostra, com suas manifestações cada vez mais intensas e avassaladoras, que foi levada aos limites de sua resistência e paciência.
É necessário transcender as teorias científicas, as pesquisas tecnológicas e o pragmatismo para reconhecer a Terra como a Mãe de todos, um sistema vivo e complexo que entrelaça e liga todas as formas de vida à atmosfera, aos oceanos e ao solo, como tão bem demonstrou o cientista Lovelock em sua teoria sobre Gaia.
O avanço tecnológico e cultural da civilização atual criou um complexo de superioridade que faz com que sejam desprezadas ou ignoradas as antigas culturas, suas cosmologias, cerimônias e valores. No entanto, esse pedestal de superioridade é falso e frágil, pois foi erguido à custa de atitudes e conceitos unilaterais que favorecem os valores do consciente e relegam ao inconsciente percepções, emoções, anseios e visões. A sociedade e a cultura patriarcais enfatizaram os valores e padrões ditos masculinos (competição, conquista, rivalidade, racionalismo, materialismo, dominação, violência) em detrimento ou rejeição dos valores e atributos ditos femininos (sensibilidade, receptividade, emotividade, compaixão, tolerância, proteção, nutrição, intuição). Como masculino e feminino não apenas definem o gênero, mas são características psicológicas comuns a ambos os sexos, em graus diferentes, como anima e animus, a supremacia dos valores, das atitudes e ações patriarcais está prejudicando a verdadeira expressão e identidade de homens e mulheres. As mulheres são mais atingidas pela dificuldade – criada e mantida pela dominação masculina secular – de reconhecer e expressar sua verdadeira identidade, suas crenças, percepções e necessidades. Os homens, ao perderem ou não encontrarem o contato com sua anima, se fecham em estruturas rígidas, deixando-se escravizar pelo trabalho e pelo consumismo, pelas compulsões ou pelas evasões. As relações entre os gêneros se tornaram muito superficiais e precárias, oscilando entre a rotina insípida das obrigações familiares e a luta aberta pelo poder e suas nefastas conseqüências (brigas, traições, separações, omissões). São poucos os casais que conseguem revalidar o antigo modelo de parceria igualitária e solidária, aceitando sua complexidade psicológica, mutuamente respeitando sua identidade, honrando em si o Deus e a Deusa e tornando-se reais companheiros (cum panis, que comem do mesmo pão) (14).
Estamos assistindo a uma mudança de paradigmas nas relações e nos conceitos relativos ao masculino e ao feminino. Mas, para que isso se consolide de fato, devem-se desconstruir os conceitos que destroem a harmonia da união complementar das polaridades masculina e feminina e procurar encontrar – ou relembrar – antigos e novos símbolos e práticas de fortalecimento e equilíbrio (16).
O surgimento progressivo de uma dimensão feminina de Divindade na atual consciência coletiva está favorecendo o “retorno da Deusa” e a revalorização da sacralidade feminina.
Um número cada vez maior de mulheres e homens está questionando e refutando os conceitos e dogmas ultrapassados, que atribuíam à mulher uma condição espiritual e social secundária por causa do “pecado original” e da desobediência de Eva. O “retorno da Deusa” não postula a substituição da figura masculina de Deus por uma mulher sentada no trono celeste, nem a volta para conceitos, valores e comportamentos pré-históricos. A principal diferença entre a visão patriarcal do Pai e a vivência cotidiana da Mãe é a condição transcendente e longínqua do Criador e a essência imanente e permanente da Criadora, presente em todas as manifestações da Natureza. A Deusa retoma assim a regência dos processos orgânicos, das mudanças cíclicas e de todas as formas e manifestações da Sua criação, atribuição intrínseca à sua essência e esquecida ou negada ao longo dos tempos.
A redenção da sacralidade feminina diz respeito tanto à mulher quanto ao homem. O dogmatismo espiritual patriarcal, que dominou e limitou a percepção do divino e a compreensão dos mistérios da vida e morte nos últimos quatro mil anos, fez com que se olhassem apenas o céu e o Pai como pilares de sustentação e redenção. A excessiva ênfase no masculino – manifesta no pensamento racional, analítico e científico – levou a humanidade a atitudes violentas e destruidoras que afetaram o equilíbrio global e planetário. Ao esperar respostas e soluções vindas “de cima”, esquece-se de olhar para “baixo e ao redor, o que distancia e aliena os valores, tradições e necessidades de nossa Mãe Terra, percebida, sentida e honrada a Teia Cósmica da qual todos fazemos parte e assumida a responsabilidade em zelar por sua harmonia e equilíbrio (15).
O reconhecimento do Princípio Feminino da criação deve ser uma busca de todos – homens e mulheres. No entanto, cabem às mulheres a missão e a responsabilidade maiores em razão de sua ancestral e profunda conexão com as energias e manifestações da Grande Mãe e da Terra. Ao reverenciar o corpo da Mãe Terra como seu próprio, as mulheres se sintonizarão com seus ritmos e ciclos e sentirão a agressão, a poluição e a devastação do planeta como uma injúria e uma violência pessoais. Assim, poderão se empenhar, com maior convicção e eficiência, no combate aos atos de violência e de destruição, sabendo que a sobrevivência das futuras gerações – seus descendentes – dependerá do restabelecimento do equilíbrio e da paz planetária.
Foram os movimentos feministas e o ativismo político do século passado que iniciaram a restauração da energia feminina na psique da humanidade. O princípio Yin foi fortalecido, mas sua exacerbação ativou também a complementaridade Yang na estrutura psicológica e no comportamento das próprias mulheres. A faceta Yang do princípio Yin se manifestou nos conflitos e nas dificuldades de relacionamento – entre si, com os homens e com a sociedade – e na adoção de padrões masculinos (competição, rivalidade, desconfiança, compulsão pelo trabalho, ambição exagerada, consumismo, hábitos, dependências). Simultaneamente, surgiu a necessidade de correção dos erros da “masculinização” do feminino por meio de iniciativas que reforçassem a essência do Yin, sem acentuar suas fragilidades e vulnerabilidades. Resgatando conhecimentos e tradições ancestrais, inúmeras mulheres começaram a se reunir em círculos e a celebrar seus “mistérios de sangue” e os festivais da Roda do Ano, em reuniões nos plenilúnios ou pela simples reverência às inúmeras faces e manifestações da Grande Mãe, refletidas nas formas da natureza, no movimento das águas, no rodopiar dos ventos ou nas chamas das fogueiras (18).
Enquanto as feministas e as ativistas políticas provocavam mudanças sociais, políticas e culturais – questionando e rejeitando as antigas definições sobre os papéis, as atuações e os direitos masculinos e femininos -, as mulheres empenhadas na prática e na divulgação das tradições espirituais e mágicas de suas ancestrais abriram as portas para a mudança de consciência. Ambas as correntes – política e espiritual – aumentaram a percepção, a compreensão e a evolução de todos os que estavam dispostos a retirar “as vendas” e abrir os olhos para novos pontos de vista, novas escolhas e opções de vida. Enquanto as ações políticas propunham diferentes abordagens para os problemas da sociedade e ofereciam novas direções e possibilidades de valorização das mulheres, a espiritualidade feminina trazia um novo enfoque para a compreensão e a vivência dos “mistérios”. Essa espiritualidade – a tradição da Deusa – está baseada nos princípios da imanência – cada ser humano é uma manifestação da energia vital da Mãe Terra, por isso todas as formas de vida e a diversidade da natureza são sagradas; da interdependência – todos os seres são conectados e interligados na grande teia cósmica, fato que exige de todos nós maior responsabilidade, compaixão e atuação para o bem do todo; do espírito comunitário – não apenas em relação aos humanos, mas a todos os seres vivos e todos os sistemas de energia – e do retorno aos círculos de cura, celebração, conselhos, apoio e transmutação (19).
Essas duas vertentes – do feminismo político e da espiritualidade feminina – fluíram de forma independente ao longo das últimas décadas do século passado, até encontrarem um “ponto de convergência” a partir do qual uniram seus esforços na construção de uma “nova antiga” tessitura de irmandade, solidariedade e atuação femininas. O ressurgimento das antigas tradições e práticas espirituais femininas – que constituem o assim chamado “retorno da Deusa” – tem direcionado a nutridora energia feminina ao equilíbrio e cura das nefastas conseqüências do excessivo e agressivo uso da energia masculina. Para a transformação, a cura e a pacificação planetária, é indispensável o balanceamento das polaridades feminino/masculino, Pai/Mãe, Céu/Terra. O “casamento sagrado” que era celebrado pelos nossos antepassados deverá ser relembrado e realizado em três níveis: dentro de nós – equilibrando as polaridades, anima e animus; na sociedade – criando condições para que círculos e grupos de homens e mulheres trabalhem em conjunto para criar harmonia e paz; e no nível sutil, espiritual e cósmico – atraindo e direcionando harmoniosamente as energias celestes e telúricas, do Pai e da Mãe, dos Deuses e das Deusas (20).
Uma grande contribuição para a transformação das consciências e para a união de mulheres em bases de confiança, solidariedade e irmandade foi trazida pela escritora Jean Shinoda Bolen (21). Ela se baseou na mundialmente aclamada “Teoria dos Campos Morfogenéticos”, do biólogo Rupert Sheldrake, que os define como campos que atuam de forma semelhante aos campos magnéticos e que possibilitam que influências pretéritas afetem acontecimentos presentes, na base da similaridade. Essa hipótese levou à “Teoria do Centésimo Macaco”, de que cada espécie possui um tipo de memória coletiva, alimentada e compartilhada por cada um de seus componentes simultaneamente. Bolen parte dessa mesma premissa, de que uma mudança no comportamento da sociedade irá ocorrer quando um número crítico de pessoas mudarem seus conceitos, atitudes, valores e objetivos. Para que a rígida estrutura patriarcal seja amenizada pela sabedoria e compaixão femininas – o que favoreceria, por sua vez, a pacificação planetária -, deverá haver um número cada vez maior de Círculos de Mulheres, até que se alcance a mudança almejada com o Milionésimo Círculo. O planeta necessita – para seu equilíbrio, cura e transformação – da energia feminina que se materializa nos círculos, sistemas perfeitos, pois são arquétipos naturais desprovidos de hierarquia e pautados em valores de parceria igualitária e solidária. Em círculos – de cura, apoio mútuo, trabalho, aprendizado, celebração ou oração -, as mulheres resgatam sua ancestralidade, força, criatividade, coragem, espontaneidade, capacidade de cura e sabedoria inatas. Elas se sentem à vontade para se expressar, rir, chorar, dançar, trabalhar, criar, ensinar, aprender e compartilhar a riqueza do legado ancestral. Os círculos podem ser temáticos ou espontâneos, programados (em função de uma agenda ou propósito) ou ocasionais, podem se reunir em locais especiais ou simplesmente nas casas das integrantes ou na natureza, e podem ser formados por mulheres de todas as idades, nível social ou cultural, das mais diferentes profissões, crenças ou religiões.
Uma vez criados, os círculos permitem o surgimento de novas propostas, modelos e funções, atuam como mandalas sutis que vão expandir o campo mórfico pelas energias a ele agregadas. Sua função é despertar os arquétipos femininos esquecidos, reprimidos ou adormecidos e alinhar mentes, corações, espíritos e ações para que sejam encontradas soluções que visem a profunda cura, regeneração e transmutação das feridas patriarcais na psique e alma femininas.
Cada círculo representa uma experiência diferente e desafiadora para o autoconhecimento, aprendizado e transformação individual. Seus efeitos não se restringem apenas ao nível pessoal, mas vão além e se refletem e agem nos relacionamentos e situações do mundo exterior. Quando alguém se conhece melhor se fortalece, cura, renova e cresce. A mulher que pertence a um círculo pode catalisar energias de transformação positiva para a estrutura familiar, social, profissional, política e espiritual da qual faz parte. Ao se reunirem em círculos, as mulheres modernas – assim como suas ancestrais, que pintavam linhas ondulatórias nas paredes das grutas onde se reuniam para celebrar seus “mistérios de sangue” e para buscar as orientações intuitivas e espirituais de cura e sobrevivência de suas comunidades – podem criar ondas concêntricas de atuação à distância que, ao se espalharem, irão provocar mudanças – sutis ou visíveis – nas áreas problemáticas ou difíceis de suas vidas, seus relacionamentos, no seu trabalho ou em sua realização espiritual.
Nos círculos, as mulheres se sentem protegidas e seguras e podem abrir seus corações e mentes. Com a exposição de suas dificuldades, elas podem clarear seus pensamentos, enxergar novas possibilidades, descobrir e fazer uso de seus recursos criativos – sutis e energéticos – para curar e transformar, não apenas a si mesmas, mas a seus entes queridos e todo um passado de dor, opressão, humilhação ou violência (racial, ancestral, familiar ou pessoal). Os círculos também oferecem apoio e orientação para a retificação dos comportamentos passivos, complacentes ou submissos das próprias mulheres, que favorecem a perpetuação do status quo patriarcal e hierárquicos (familiar, profissional, cultural, social e político).
A mulher atual, ao se confrontar e se libertar dos condicionamentos limitantes impostos pela educação e pela estrutura sócio-familiar, poderá melhor perceber sua programação negativa como “filha do Pai” e descartar os vestígios do “patriarcado interior”. Ao se reconectar com sua essência, a mulher iniciará a jornada de sua expansão espiritual e reencontrará o caminho que a leva de volta à sua verdadeira origem e fonte: a Mãe Divina, celeste, telúrica e ctônica.
O habitat do ser humano, a Mãe Terra, encontra-se em um ponto crítico e é vital que “as filhas da Grande Mãe” se empenhem no resgate, na prática e na divulgação dos valores, das tradições e dos ensinamentos da Sacralidade Feminina. O verdadeiro Graal – aquele que trará a cura para a violência, a devastação e a poluição do planeta, para o sofrimento da humanidade, e restabelecerá o equilíbrio e a paz – não é o cálice que contém o sangue do sofrimento, mas o coração da Grande Mãe, pleno de amor e compaixão, símbolo sagrado e ancestral da capacidade feminina de curar a “terra devastada” (21).
Uma nova era planetária deve ter como fundamento o poder do amor amparado pelo respeito à vida, direcionado pelos esforços pessoais, coletivos e globais para criar – de fato – as condições necessárias à sustentabilidade e à preservação da vida e ao estabelecimento e manutenção da paz.
Apaziguar a si mesmo, pacificar seus relacionamentos, vencer o separatismo, honrar a interdependência de todos os seres, evitar qualquer forma de violência, dominação pelo poder, competição ou discriminação são os desafios do homem contemporâneo, tanto no micro – do seu cotidiano individual – quanto no macro – do cenário global.
E compete às mulheres a tarefa de tecer uma nova padronagem para o bem-estar natural, social, econômico, político e espiritual do planeta, lançando mão da força poderosa do amor, que desperta e expande as mentes, toca e apazigua os corações. Ao se reconhecer e honrar a inter-relação de todas as formas de vida, o Amor – pessoal, transpessoal, universal – torna-se uma ferramenta para a reeducação e a mudança dos sistemas conscientes e inconscientes das crenças patriarcais. O poder expansivo e inclusivo do amor transcende o separatismo, transmuta medos e sombras, promove a gratidão pelas dádivas da Terra e fortalece a união de mentes e corações, de homens e de mulheres que cultivam novos valores e objetivos.
A nova realidade será o resultado da ativação e da expansão dos campos mórficos, da repetição de ações e de pensamentos positivos, construtivos e regeneradores por um número crítico de pessoas. Os círculos de homens e mulheres poderão criar uma nova egrégora de sinergia, entrando em comunhão entre si, com os outros, com a Mãe Terra, elaborando padrões inovadores de comportamento e interação.
Ao ser ativada a reação em cadeia da expansão da consciência individual, fundamentada na parceria entre gêneros e a interação dos planos energéticos – celestes, telúricos e ctônicos -, criar-se-á uma massa crítica suficiente para catalisar a transformação e a evolução da consciência planetária. Os problemas mundiais não serão resolvidos pela tecnologia ou pela ciência: somente uma elevação dos níveis de consciência da humanidade e o compromisso conjunto de homens e mulheres poderão conduzir à descoberta e ao uso de soluções pacíficas que visem e que se responsabilizem pelo bem de todos e do Todo.
Ao invés de apenas chorar as perdas e as dores, lamentar a destruição das florestas, a extinção das espécies, a violência e a degradação de mulheres e crianças, a negação da sacralidade da vida e da reverência ao Sagrado Feminino, os círculos e os grupos de mulheres devem transformar sua dor, sua ira e sua revolta, seu choro e seus lamentos, em ações firmes orientadas a propósitos comuns.
As mulheres percebem com maior acuidade o sofrimento do mundo, pois “a dor e as experiências de uma mulher refletem fragmentos da vida de outras mulheres” (15). A natureza feminina é mais permeável à vivência e à compreensão da dor, qualquer que seja sua natureza, o que torna as mulheres mais aptas a sentir e a expressar a compaixão. No entanto, não basta irmanar-se na dor; as mulheres contemporâneas devem descobrir e praticar um ensinamento budista, da Mudita, de “alegrar-se com o sucesso, as conquistas e a sorte dos outros”. Somente assim as mulheres, independentemente de filiação cultural, política, econômica ou espiritual, poderão mobilizar seus recursos inatos e agir como agentes vivos de transformação no mundo.
Ao se curarem, as mulheres também poderão curar os outros e melhor educar as futuras gerações e corrigir, assim, os padrões familiares e sociais corrompidos. Apenas honrando seus corpos, respeitando suas necessidades emocionais e fortalecendo suas mentes é que as mulheres irão recuperar sua força interior, desenvolver seus dons, realizar seus sonhos, compartilhar sua sabedoria e trabalhar em conjunto para curar e beneficiar a humanidade e a Mãe Terra.
Para que se possa criar e manter uma nova cultura – a “Cultura da Paz”- deve-se buscar a interação harmoniosa, igualitária e solidária do masculino/feminino, Pai/Mãe, Deus/Deusa, fé/razão, ciência/religião, tecnologia/ecologia. Somente assim poderá se criar uma ponte entre o velho e o novo, de forma a aproveitar o aprendizado do passado e evitar a repetição dos erros.
Um engajamento coletivo e global deverá traçar programas em longo prazo que beneficiem não apenas a geração atual, mas que levem em conta a sabedoria dos povos indígenas, que atribui a uma geração a responsabilidade pelas próximas sete gerações.
Ao relembrarem o legado da sabedoria ancestral, homens e mulheres poderão agir de forma responsável, consciente e solidária, a fim de restabelecer a paz e o respeito entre todos os seres e poderão, assim, recriar a harmonia e a igualdade originais, devolvendo o equilíbrio e a abundância à Terra.
Mirella Faur
Artigo publicado no livro “A Paz como Caminho” organizado por Dulce Magalhães e publicado como uma contribuição para a realização do Festival Mundial da Paz em 2006, Florianópolis, S.C.
Um mito comum a muitas culturas, religiões e tradições espirituais diz respeito à existência de uma Idade de Ouro, período que corresponde a uma das quatro idades da mitologia clássica e é definido como a “perfeição dos começos”, no qual a humanidade vivia em paz, harmonia e abundância.
Na bíblia judaico-cristã, menciona-se o jardim do Éden, onde o casal primevo vivia em perfeita harmonia consigo mesmo e com a Natureza, antes de ser expulso do Paraíso por um Deus punitivo e severo, que decretou o “pecado” da mulher como causa do sofrimento da humanidade e a castigou com sua inferiorização e subserviência dohomem.1) outro O texto clássico chinês Tao Teh Ching descreve outro período harmonioso da Terra, quando o princípio feminino – Yin – era o pólo complementar do masculino – Yang -, sem ser, todavia, por ele dominado. Honrava-se Tao, a Ordem Cósmica, a lei da harmonia primordial que tudo permeava e que estava refletida no todo e em todos. Quando nasciam, todos os seres e todas as coisas Dela emergiam, a ela retornando após a morte. Tao era infinita e imensurável, não era limitada nem pelo tempo, nem pelo espaço; ela criava tanto a forma, quanto sua ausência, o vazio. Era reverenciada como “O Coração Imortal, a Misteriosa Mãe Fértil, Criadora do Céu, da Terra, de tudo que existia, visível e invisível”, cuja essência era eterna e toda abrangente, imutável e se encontrava em movimento perpétuo. Enquanto Tao reinou, a humanidade viveu em paz e prosperidade, a Terra foi honrada e a mulher respeitada. (2 e 3)
O poeta grego Hesíodo mencionou uma “raça dourada”, que cuidava da terra em “paz e tranqüilidade”, até ser dominada por outra raça, que cultuava os deuses da guerra e invadia as pacíficas comunidades agrárias, instaurando a hierarquia e a dominação do poder masculino, a conquista da terra e a subjugação das mulheres – não mais respeitadas, mas aprisionadas como troféus dos conquistadores.
Outros poetas, como Virgílio, enalteceram o aspecto bucólico da tranqüila vida dos pastores e camponeses, considerando-a vestígio da Idade de Ouro, enquanto escritores e filósofos declararam a cobiça pelo ouro como a causa dos males e da violência da Idade de Ferro. Sá de Miranda escreveu que “do branco ouro e da prata faz duras prisões de ferro”, enquanto o padre Antônio Vieira, inspirado pelos filósofos gregos, resumiu esta realidade mítica com palavras simples: “enquanto no mundo não houve ouro, então foi a Idade de Ouro; depois que apareceu o ouro no mundo, então começou a Idade de Ferro”. (4)
Com o passar do tempo e a substituição da tradição clássica pelo movimento romântico, começou a desvalorização da herança greco-latina e de toda sua riqueza mítica, ignorando ou ironizando qualquer menção a uma possível Idade de Ouro. As referências aos períodos em que homens e mulheres viviam em paz e harmonia eram consideradas fantasias. Os manuais de história davam ênfase à evolução da humanidade pelas guerras e conquistas, o poder e as vitórias pertencendo sempre às hierarquias masculinas. Os dogmas religiosos reforçavam cada vez mais a supremacia paterna (divina e humana), afirmando ter sido ordenada divinamente. A Igreja Cristã não somente permitia como incentivava e abençoava as guerras santas, ordenando e “premiando” a destruição dos vestígios espirituais e culturais do passado, considerados “heresias pagãs nocivas à alma cristã”. Os livros científicos ou artísticos ignoravam os primórdios da civilização européia e a existência das sociedades igualitárias que cultuavam a Grande Mãe, criadora, nutridora e sustentadora da vida e que desfrutavam de longos períodos de paz, abundância e respeito pela vida.
É fácil se compreender, atualmente, o motivo dessas omissões e das inúmeras distorções das verdades arcaicas. A história – à medida que era escrita e ensinada – pertencia aos escritores, filósofos e estudiosos homens, com escassas ou deturpadas referências ao culto da Deusa, à existência das sociedades matrifocais – gino e geocêntricas – e à participação das mulheres na criação e manutenção das estruturas sociais, culturais e espirituais dessas sociedades. (5)
Assim como a história, a religião também ficou centrada no princípio masculino. Nos últimos quatro milênios, as principais religiões do mundo cultuaram somente o Criador. Apesar das diferenças entre conceitos, dogmas e práticas do judaísmo, islamismo e cristianismo, a Divindade suprema é sempre personificada por arquétipos masculinos e a estrutura social, enfaticamente patriarcal. As poucas figuras femininas não são consideradas forças primordiais e criadoras; apenas desempenham papéis ou funções secundárias. No entanto, a origem dessas religiões – que atualmente prevalecem no cenário mundial – é relativamente recente (2000 a.C.), como demonstrado pelo crescente surgimento de provas irrefutáveis dos antiqüíssimos cultos a uma Grande Mãe, a fonte criadora primordial, que era reverenciada no período paleolítico (50.000 a.C.) até o fim da Idade de Bronze (5 e 6).
A Grande Mãe foi a Suprema Divindade deste planeta por pelo menos 50 milênios, venerada por seu poder de gerar, criar, nutrir, proteger e sustentar todos os seres. Representando a totalidade da criação e a polaridade da vida/morte, início/fim, masculino/feminino e luz/sombra, sua essência é imanente e permanente em todo o universo. Seus múltiplos aspectos e manifestações representam e reproduzem o ciclo evolutivo da natureza, a própria dança espiral da vida, desde o nascimento, crescimento e florescimento até a decadência, morte e renascimento. Cultuada na forma de inúmeras representações e nomes, conforme a cultura ou a época, a Deusa era a própria Mãe Terra, venerada nos ciclos das estações, nos fenômenos da natureza, na beleza do céu, das estrelas, montanhas, águas, plantas e animais, a matriz primordial de todas as formas de vida.
Escritos antigos – sumérios e babilônios -, anteriores aos textos bíblicos, descrevem o paraíso como um “Jardim Mágico” onde a Árvore da Vida oferecia os frutos de ouro da imortalidade e todos os seres viviam juntos – e em paz. Essas descrições podem ser equiparadas ás memórias ancestrais das sociedades paleolíticas e neolíticas, com suas comunidades matricêntricas e pacíficas, que cultuavam a Deusa, louvavam a mulher por seu dom de gerar a vida e viviam em harmonia com a natureza. O Paraíso – em hebraico, pardes – simbolizava o “Jardim das Delícias” (ou Éden), onde corriam rios de leite e mel, uma clara alusão ao corpo nutridor e protetor da mãe – tanto no nível mítico, quanto no pessoal. O modelo psicológico do paraíso infantil é sua primeira experiência de amor, nutrição e proteção no colo materno. Depois do trauma do nascimento – quando se “cai”, do abrigo seguro do ventre, no mundo traumático dos estímulos e sensações -, a criança necessita da compensação pelo “paraíso perdido”, que apenas a mãe pode lhe dar. (1)
O desejo atávico de voltar para o útero – materno e divino – é evidente também nos antigos ritos funerários, como os do Egito, nos quais a tampa dos sarcófagos tinha a representação da Deusa Celeste Nut arqueada sobre o morto e recebendo aquele espírito em seu ventre. Os povos indígenas entregam até hoje seus mortos ao ventre da Mãe Terra, orando para que Ela lhes dê cura, renovação e renascimento, pois acreditam que os seres humanos emergiram das entranhas da Terra (6). Em inúmeros mitos e lendas, o útero primordial é representado pela montanha sagrada, gruta, lago, fonte, portal, Caldeirão ou Cálice – todos eles símbolos sagrados da Deusa.
Recentes descobertas arqueológicas, bem como inovadores trabalhos acadêmicos das últimas décadas do século passado, forneceram evidências surpreendentes de que, ao contrário dos conceitos tradicionais e das teorias ensinadas nas escolas, a evolução histórica, cultural e espiritual da humanidade seguiu um caminho pacífico, equilibrado social e ecologicamente, sem ter sido permeado por guerras ou pelo domínio de um gênero humano sobre outro. Por milênios, as tecnologias básicas que serviram de fundamento para inúmeras civilizações foram desenvolvidas em sociedades isentas de violência, hierarquia, supremacia, dominação ou competição, caracterizadas pela linhagem matrilinear, pelo culto à Grande Mãe, por uma organização social igualitária e uma economia de parceria. (7)
Nomes como Bárbara Walker, Elinor Gadon, Mary Daly, Max Dashú, Merlin Stone, Monica Sjöo, Joseph Campbell, Robert Graves, E. O. James, Jean Markale, James Mellart, Erich Neumann e Robert Patai, entre outros, lançaram luzes reveladoras sobre a nebulosidade que envolvia a pré-história e as origens do culto à Deusa. Porém, deve-se creditar principalmente a duas mulheres – Marija Gimbutas e Riane Eisler – o “desbravamento” das intrincadas distorções e omissões que ocultavam evidências históricas sobre as pacíficas e igualitárias sociedades matriciais.
O fantástico trabalho – de campo e acadêmico – de Marija Gimbutas, contido em seus 20 livros e mais de 200 artigos, documentou, com inúmeras ilustrações, dados e comparações interdisciplinares, a existência de uma era matrilinear, entre 6.500 e 3.500 a.C, na região por ela denominada de Europa Antiga. Oriundas do período paleolítico e neolítico, sociedades matrifocais agrícolas e sedentárias, igualitárias e pacíficas – cujo denominador comum era o culto à Grande Mãe – permaneceram naquela área até meados da Idade de Bronze. A Europa Antiga estendia-se da Rússia até Creta – em direção ao Sul-, Malta – seguindo para Oeste – e o Mar do Norte, e englobava agrupamentos culturais diferentes, mas com o mesmo tipo de organização social, tecnologia, economia, comércio e arte. Todas essas comunidades eram desprovidas de fortificações e armas, evidenciando, assim, seu caráter pacífico e não patriarcal. Com base em escavações feitas em mais de três mil sítios arqueológicos e nas trinta mil esculturas e objetos ritualísticos e domésticos encontrados, Marija Gimbutas criou um novo ramo científico, chamado “arqueomitologia”, que unia dados de dendrocronologia, datações com carbono radioativo, mitologia comparada, textos históricos, etnografia, folclore e estudos lingüísticos (8,9 e 10).
Assim, ela pôde comprovar que a cosmologia das sociedades matrifocais não era polarizada em princípios separados e opostos (masculino e feminino), pois estes coexistiam e se complementavam sem que um estivesse subordinado ao outro. A sociedade refletia a estrutura de um panteão governado pela Mãe (cósmica e telúrica) e por seu Filho/Consorte, cuja união se realizava pelo hieros gamos (casamento sagrado) e garantia a fertilidade da terra, dos humanos e dos animais. A Deusa era a divindade suprema e eterna, ao passo que os arquétipos masculinos, por serem ligados aos ciclos da vegetação, morriam e renasciam conforme as estações. A união entre o Deus e a Deusa era um acontecimento sagrado e perene, celebrado nas festividades de plantio e colheita. (11)
O simbolismo da Deusa era centrado nos mistérios da vida, da morte e do renascimento, tanto no nível mítico e humano, quanto na periodicidade da criação, qualidade da natureza e do universo, representada pelo “mito do eterno retorno”, de acordo com o escritor Mircea Elíade (10). A arte paleolítica representava a energia feminina por movimentos dinâmicos (ondas, espirais, círculos, serpentes, sementes, barcos, rodas solares), ao passo que no período neolítico apareceram as figuras antropomórficas e as estatuetas de mulheres com ventres e seios protuberantes, grávidas ou dando à luz. Foram encontradas imagens de Deusas Pássaros, Senhoras dos Animais ou Mães Divinas embalando seus filhos, ovos cósmicos, serpentes e borboletas, jóias, ferramentas, objetos rituais e caseiros. A arte centrada na figura multifacetada da Deusa reflete a estrutura social deste período em que as mulheres eram respeitadas e honradas como representantes terrestres da Deusa, a imagem religiosa central sendo da mulher que dava à luz ou amamentava seu filho. Não foram encontradas imagens de guerra ou dominação, nem armas ou cenas de guerra, o que comprova que a vida, a fertilidade e a arte eram os traços predominantes das sociedades matricêntricas (12 e 13).
Paralelamente ao apogeu de prosperidade, convivência pacífica e perfeição artística das culturas neolíticas européias, no quinto milênio a.C surgiu outra cultura no Sul da Rússia, que se expandiu posteriormente para o Leste. Provenientes das tribos indo-européias, estes povos – denominados de Kurgos por Marija Gimbutas – tinham um sistema social patrilinear e patriarcal, cultuavam deuses guerreiros, centravam-se na guerra e nas conquistas, eram exímios fabricantes de armas (flechas, espadas, punhais, escudos), possuíam características nômades e economia pastoril (criação de cavalos). Por meio de repetidas incursões e invasões no Sul e no Oeste, eles conquistaram – e, aos poucos, dominaram – os nativos e pacíficos povos europeus, impondo suas crenças, valores e sistemas (social e religioso).
Depois de alguns séculos, a Europa Antiga mudou sua estrutura social, passando da parceria igualitária para a androcracia, da linhagem matrilinear para o patriarcado, da orientação pacifista e do respeito pela vida, pela mulher e pela natureza ao culto da violência, à dominação pela força e à subjugação. Apenas em algumas regiões mais isoladas – como Creta, Malta e Sardenha – a cultura matrifocal e a civilização pacífica e de parceria persistiram até 1500 a.C. O último reduto do culto da Deusa e da reverência a seus valores foi Creta minóica, que aprimorou o antigo legado com expressão artística mais refinada e tecnologia avançada, únicas na civilização européia. Mas o enfoque principal da cultura cretense continuava sendo a glorificação da paz, harmonia, beleza e alegria de viver, bem como a participação igualitária e solidária de mulheres e homens na construção e preservação da sociedade e na celebração da vida (1,8,9 e 10).
A escritora Riane Eisler, em seu livro “O Cálice e a Espada” (1), denominou este tipo de sociedade igualitária e de parceria de gilania, palavra composta de gyne (o princípio feminino) e andros (o princípio masculino), unidos por objetivos e esforços comuns e equilibrados. Em Creta, assim como no período neolítico, as imagens de divindades femininas estavam presentes em todos os lugares, as mulheres exerciam funções importantes e os cultos eram centrados na reverência à Deusa, à Natureza, à beleza e à harmonia da vida.
Todavia, o “poder letal da espada” dos conquistadores indo-europeus pôs fim ao reino pacífico e harmonioso do “cálice”. Consagrou-se o poder de tirar a vida, não mais o dom de gerá-la ou nutri-la. Uma nova ordem social foi imposta, baseada na hierarquia e na autoridade masculinas, na subjugação e na dominação. O sexo da Fonte Criadora foi modificado, a Mãe tornou-se Pai, a Deusa foi transformada em consorte, filha ou amante dos deuses guerreiros, senhores dos raios, trovões e conquistas. Apesar da diferente origem das tribos invasoras, elas tinham em comum o sistema social, baseado na dominação, na tecnologia da destruição, na propriedade privada e no “culto do falo”, a subjugação das mulheres pelos homens. (14)
A queda de Creta marcou o fim da pacífica era matrifocal; em toda a Europa, a sociedade, dominada pelos homens, tornou-se hierárquica e belicosa, os cultos e a simbologia da Deusa foram relegados ao ostracismo e, paulatinamente, ao esquecimento. Os princípios masculino e feminino – anteriormente pólos complementares da mesma unidade – foram separados e colocados em lados opostos. Enalteceu-se o Pai, renegou-se a Mãe: em nome do Pai, foram cometidos crimes inimagináveis que vitimaram, por séculos, as mulheres declaradas “seres inferiores, sem alma e perpetuadoras do pecado original” (15). O nome de Deus foi utilizado para creditar e justificar o código patriarcal e a inferiorização da Terra e das mulheres. Culparam-se as mulheres para que seu poder (espiritual, ancestral) fosse roubado e, assim, fosse consolidada a supremacia patriarcal. Os antigos símbolos da Deusa – os rituais para a fertilização da terra e a capacidade geradora, curadora e profética da mulher – foram demonizados. Pela sistemática inferiorização e perseguição da mulher, o patriarcado procurava apagar e denegrir os valores e os cultos da Grande Mãe: a serpente, símbolo sagrado da Deusa que representava a renovação e a transmutação, foi demonizada; o simbolismo da árvore da vida foi distorcido; a importância da sexualidade e da relação igualitária homem-mulher foi renegada. A mulher foi declarada responsável pelos males do mundo, um ser maldito, inferior, destinada a sofrer e ser dominada pelo homem. Ao passo que, na era matriarcal, comer da Árvore da vida significava adquirir sabedoria, a Bíblia cristã considerou este ato pecado mortal e substituiu a Árvore pela cruz do sofrimento. O amor sagrado (divino e humano) foi substituído pelo matrimônio – muitas vezes imposto ou forçado-, fundamentado no domínio masculino, na preservação do patrimônio e na obediência feminina. (16)
Pela desconstrução e deturpação dos milenares conceitos matriarcais, pautados na paz, na prosperidade e na parceria igualitária, a era patriarcal de dominação e conquista – de outros homens, de mulheres e da própria natureza – foi legitimada. Os homens – como gênero – não foram os únicos responsáveis pela violência a eles atribuída, mas a maneira pela qual a identidade masculina foi criada e reforçada pelos conceitos e comportamentos de “heróis” e “super homens” (14) – fundamentados em seus “direitos divinos”, outorgados inicialmente pelos deuses guerreiros e depois pela interpretação tendenciosa dos preceitos bíblicos. Ao negar e anular a energia feminina (divina e humana), o patriarcado criou uma cultura destrutiva e exclusiva, centrada predominantemente na violência e na aniquilação, voltada para a morte e não para a vida. O atual desequilíbrio global não foi criado, nem está sendo mantido ou sustentado por mulheres: em todas as tradições femininas, a guerra e a violência eram inaceitáveis, por serem contra o dom da vida conferido pela Grande Mãe à humanidade, que se encontra oculto no ventre das mulheres (17).
Agora, que presenciamos o “poder letal da espada ampliado milhões de vezes pela energia atômica” (14), também vivenciamos o surgimento de uma nova consciência, pautada na valorização das antigas tradições e dos atributos do “cálice”. O caos da civilização atual decorre da hipertrofia e do desgaste da estrutura patriarcal e dos sistemas sociais, morais, culturais e espirituais, excessivamente polarizados nos valores assim ditos masculinos. A dicotomia entre matéria e espírito, razão e emoção, homem e mulher, levou à concepção do Universo como um sistema mecânico fragmentado, o meio ambiente visto como uma fonte inesgotável de recursos a serem explorados em função dos objetivos e interesses humanos, a prevalência das leis dos mais fortes.
A exploração da natureza anda de mãos dadas com a das mulheres: a Mãe Terra mostra, com suas manifestações cada vez mais intensas e avassaladoras, que foi levada aos limites de sua resistência e paciência.
É necessário transcender as teorias científicas, as pesquisas tecnológicas e o pragmatismo para reconhecer a Terra como a Mãe de todos, um sistema vivo e complexo que entrelaça e liga todas as formas de vida à atmosfera, aos oceanos e ao solo, como tão bem demonstrou o cientista Lovelock em sua teoria sobre Gaia.
O avanço tecnológico e cultural da civilização atual criou um complexo de superioridade que faz com que sejam desprezadas ou ignoradas as antigas culturas, suas cosmologias, cerimônias e valores. No entanto, esse pedestal de superioridade é falso e frágil, pois foi erguido à custa de atitudes e conceitos unilaterais que favorecem os valores do consciente e relegam ao inconsciente percepções, emoções, anseios e visões. A sociedade e a cultura patriarcais enfatizaram os valores e padrões ditos masculinos (competição, conquista, rivalidade, racionalismo, materialismo, dominação, violência) em detrimento ou rejeição dos valores e atributos ditos femininos (sensibilidade, receptividade, emotividade, compaixão, tolerância, proteção, nutrição, intuição). Como masculino e feminino não apenas definem o gênero, mas são características psicológicas comuns a ambos os sexos, em graus diferentes, como anima e animus, a supremacia dos valores, das atitudes e ações patriarcais está prejudicando a verdadeira expressão e identidade de homens e mulheres. As mulheres são mais atingidas pela dificuldade – criada e mantida pela dominação masculina secular – de reconhecer e expressar sua verdadeira identidade, suas crenças, percepções e necessidades. Os homens, ao perderem ou não encontrarem o contato com sua anima, se fecham em estruturas rígidas, deixando-se escravizar pelo trabalho e pelo consumismo, pelas compulsões ou pelas evasões. As relações entre os gêneros se tornaram muito superficiais e precárias, oscilando entre a rotina insípida das obrigações familiares e a luta aberta pelo poder e suas nefastas conseqüências (brigas, traições, separações, omissões). São poucos os casais que conseguem revalidar o antigo modelo de parceria igualitária e solidária, aceitando sua complexidade psicológica, mutuamente respeitando sua identidade, honrando em si o Deus e a Deusa e tornando-se reais companheiros (cum panis, que comem do mesmo pão) (14).
Estamos assistindo a uma mudança de paradigmas nas relações e nos conceitos relativos ao masculino e ao feminino. Mas, para que isso se consolide de fato, devem-se desconstruir os conceitos que destroem a harmonia da união complementar das polaridades masculina e feminina e procurar encontrar – ou relembrar – antigos e novos símbolos e práticas de fortalecimento e equilíbrio (16).
O surgimento progressivo de uma dimensão feminina de Divindade na atual consciência coletiva está favorecendo o “retorno da Deusa” e a revalorização da sacralidade feminina.
Um número cada vez maior de mulheres e homens está questionando e refutando os conceitos e dogmas ultrapassados, que atribuíam à mulher uma condição espiritual e social secundária por causa do “pecado original” e da desobediência de Eva. O “retorno da Deusa” não postula a substituição da figura masculina de Deus por uma mulher sentada no trono celeste, nem a volta para conceitos, valores e comportamentos pré-históricos. A principal diferença entre a visão patriarcal do Pai e a vivência cotidiana da Mãe é a condição transcendente e longínqua do Criador e a essência imanente e permanente da Criadora, presente em todas as manifestações da Natureza. A Deusa retoma assim a regência dos processos orgânicos, das mudanças cíclicas e de todas as formas e manifestações da Sua criação, atribuição intrínseca à sua essência e esquecida ou negada ao longo dos tempos.
A redenção da sacralidade feminina diz respeito tanto à mulher quanto ao homem. O dogmatismo espiritual patriarcal, que dominou e limitou a percepção do divino e a compreensão dos mistérios da vida e morte nos últimos quatro mil anos, fez com que se olhassem apenas o céu e o Pai como pilares de sustentação e redenção. A excessiva ênfase no masculino – manifesta no pensamento racional, analítico e científico – levou a humanidade a atitudes violentas e destruidoras que afetaram o equilíbrio global e planetário. Ao esperar respostas e soluções vindas “de cima”, esquece-se de olhar para “baixo e ao redor, o que distancia e aliena os valores, tradições e necessidades de nossa Mãe Terra, percebida, sentida e honrada a Teia Cósmica da qual todos fazemos parte e assumida a responsabilidade em zelar por sua harmonia e equilíbrio (15).
O reconhecimento do Princípio Feminino da criação deve ser uma busca de todos – homens e mulheres. No entanto, cabem às mulheres a missão e a responsabilidade maiores em razão de sua ancestral e profunda conexão com as energias e manifestações da Grande Mãe e da Terra. Ao reverenciar o corpo da Mãe Terra como seu próprio, as mulheres se sintonizarão com seus ritmos e ciclos e sentirão a agressão, a poluição e a devastação do planeta como uma injúria e uma violência pessoais. Assim, poderão se empenhar, com maior convicção e eficiência, no combate aos atos de violência e de destruição, sabendo que a sobrevivência das futuras gerações – seus descendentes – dependerá do restabelecimento do equilíbrio e da paz planetária.
Foram os movimentos feministas e o ativismo político do século passado que iniciaram a restauração da energia feminina na psique da humanidade. O princípio Yin foi fortalecido, mas sua exacerbação ativou também a complementaridade Yang na estrutura psicológica e no comportamento das próprias mulheres. A faceta Yang do princípio Yin se manifestou nos conflitos e nas dificuldades de relacionamento – entre si, com os homens e com a sociedade – e na adoção de padrões masculinos (competição, rivalidade, desconfiança, compulsão pelo trabalho, ambição exagerada, consumismo, hábitos, dependências). Simultaneamente, surgiu a necessidade de correção dos erros da “masculinização” do feminino por meio de iniciativas que reforçassem a essência do Yin, sem acentuar suas fragilidades e vulnerabilidades. Resgatando conhecimentos e tradições ancestrais, inúmeras mulheres começaram a se reunir em círculos e a celebrar seus “mistérios de sangue” e os festivais da Roda do Ano, em reuniões nos plenilúnios ou pela simples reverência às inúmeras faces e manifestações da Grande Mãe, refletidas nas formas da natureza, no movimento das águas, no rodopiar dos ventos ou nas chamas das fogueiras (18).
Enquanto as feministas e as ativistas políticas provocavam mudanças sociais, políticas e culturais – questionando e rejeitando as antigas definições sobre os papéis, as atuações e os direitos masculinos e femininos -, as mulheres empenhadas na prática e na divulgação das tradições espirituais e mágicas de suas ancestrais abriram as portas para a mudança de consciência. Ambas as correntes – política e espiritual – aumentaram a percepção, a compreensão e a evolução de todos os que estavam dispostos a retirar “as vendas” e abrir os olhos para novos pontos de vista, novas escolhas e opções de vida. Enquanto as ações políticas propunham diferentes abordagens para os problemas da sociedade e ofereciam novas direções e possibilidades de valorização das mulheres, a espiritualidade feminina trazia um novo enfoque para a compreensão e a vivência dos “mistérios”. Essa espiritualidade – a tradição da Deusa – está baseada nos princípios da imanência – cada ser humano é uma manifestação da energia vital da Mãe Terra, por isso todas as formas de vida e a diversidade da natureza são sagradas; da interdependência – todos os seres são conectados e interligados na grande teia cósmica, fato que exige de todos nós maior responsabilidade, compaixão e atuação para o bem do todo; do espírito comunitário – não apenas em relação aos humanos, mas a todos os seres vivos e todos os sistemas de energia – e do retorno aos círculos de cura, celebração, conselhos, apoio e transmutação (19).
Essas duas vertentes – do feminismo político e da espiritualidade feminina – fluíram de forma independente ao longo das últimas décadas do século passado, até encontrarem um “ponto de convergência” a partir do qual uniram seus esforços na construção de uma “nova antiga” tessitura de irmandade, solidariedade e atuação femininas. O ressurgimento das antigas tradições e práticas espirituais femininas – que constituem o assim chamado “retorno da Deusa” – tem direcionado a nutridora energia feminina ao equilíbrio e cura das nefastas conseqüências do excessivo e agressivo uso da energia masculina. Para a transformação, a cura e a pacificação planetária, é indispensável o balanceamento das polaridades feminino/masculino, Pai/Mãe, Céu/Terra. O “casamento sagrado” que era celebrado pelos nossos antepassados deverá ser relembrado e realizado em três níveis: dentro de nós – equilibrando as polaridades, anima e animus; na sociedade – criando condições para que círculos e grupos de homens e mulheres trabalhem em conjunto para criar harmonia e paz; e no nível sutil, espiritual e cósmico – atraindo e direcionando harmoniosamente as energias celestes e telúricas, do Pai e da Mãe, dos Deuses e das Deusas (20).
Uma grande contribuição para a transformação das consciências e para a união de mulheres em bases de confiança, solidariedade e irmandade foi trazida pela escritora Jean Shinoda Bolen (21). Ela se baseou na mundialmente aclamada “Teoria dos Campos Morfogenéticos”, do biólogo Rupert Sheldrake, que os define como campos que atuam de forma semelhante aos campos magnéticos e que possibilitam que influências pretéritas afetem acontecimentos presentes, na base da similaridade. Essa hipótese levou à “Teoria do Centésimo Macaco”, de que cada espécie possui um tipo de memória coletiva, alimentada e compartilhada por cada um de seus componentes simultaneamente. Bolen parte dessa mesma premissa, de que uma mudança no comportamento da sociedade irá ocorrer quando um número crítico de pessoas mudarem seus conceitos, atitudes, valores e objetivos. Para que a rígida estrutura patriarcal seja amenizada pela sabedoria e compaixão femininas – o que favoreceria, por sua vez, a pacificação planetária -, deverá haver um número cada vez maior de Círculos de Mulheres, até que se alcance a mudança almejada com o Milionésimo Círculo. O planeta necessita – para seu equilíbrio, cura e transformação – da energia feminina que se materializa nos círculos, sistemas perfeitos, pois são arquétipos naturais desprovidos de hierarquia e pautados em valores de parceria igualitária e solidária. Em círculos – de cura, apoio mútuo, trabalho, aprendizado, celebração ou oração -, as mulheres resgatam sua ancestralidade, força, criatividade, coragem, espontaneidade, capacidade de cura e sabedoria inatas. Elas se sentem à vontade para se expressar, rir, chorar, dançar, trabalhar, criar, ensinar, aprender e compartilhar a riqueza do legado ancestral. Os círculos podem ser temáticos ou espontâneos, programados (em função de uma agenda ou propósito) ou ocasionais, podem se reunir em locais especiais ou simplesmente nas casas das integrantes ou na natureza, e podem ser formados por mulheres de todas as idades, nível social ou cultural, das mais diferentes profissões, crenças ou religiões.
Uma vez criados, os círculos permitem o surgimento de novas propostas, modelos e funções, atuam como mandalas sutis que vão expandir o campo mórfico pelas energias a ele agregadas. Sua função é despertar os arquétipos femininos esquecidos, reprimidos ou adormecidos e alinhar mentes, corações, espíritos e ações para que sejam encontradas soluções que visem a profunda cura, regeneração e transmutação das feridas patriarcais na psique e alma femininas.
Cada círculo representa uma experiência diferente e desafiadora para o autoconhecimento, aprendizado e transformação individual. Seus efeitos não se restringem apenas ao nível pessoal, mas vão além e se refletem e agem nos relacionamentos e situações do mundo exterior. Quando alguém se conhece melhor se fortalece, cura, renova e cresce. A mulher que pertence a um círculo pode catalisar energias de transformação positiva para a estrutura familiar, social, profissional, política e espiritual da qual faz parte. Ao se reunirem em círculos, as mulheres modernas – assim como suas ancestrais, que pintavam linhas ondulatórias nas paredes das grutas onde se reuniam para celebrar seus “mistérios de sangue” e para buscar as orientações intuitivas e espirituais de cura e sobrevivência de suas comunidades – podem criar ondas concêntricas de atuação à distância que, ao se espalharem, irão provocar mudanças – sutis ou visíveis – nas áreas problemáticas ou difíceis de suas vidas, seus relacionamentos, no seu trabalho ou em sua realização espiritual.
Nos círculos, as mulheres se sentem protegidas e seguras e podem abrir seus corações e mentes. Com a exposição de suas dificuldades, elas podem clarear seus pensamentos, enxergar novas possibilidades, descobrir e fazer uso de seus recursos criativos – sutis e energéticos – para curar e transformar, não apenas a si mesmas, mas a seus entes queridos e todo um passado de dor, opressão, humilhação ou violência (racial, ancestral, familiar ou pessoal). Os círculos também oferecem apoio e orientação para a retificação dos comportamentos passivos, complacentes ou submissos das próprias mulheres, que favorecem a perpetuação do status quo patriarcal e hierárquicos (familiar, profissional, cultural, social e político).
A mulher atual, ao se confrontar e se libertar dos condicionamentos limitantes impostos pela educação e pela estrutura sócio-familiar, poderá melhor perceber sua programação negativa como “filha do Pai” e descartar os vestígios do “patriarcado interior”. Ao se reconectar com sua essência, a mulher iniciará a jornada de sua expansão espiritual e reencontrará o caminho que a leva de volta à sua verdadeira origem e fonte: a Mãe Divina, celeste, telúrica e ctônica.
O habitat do ser humano, a Mãe Terra, encontra-se em um ponto crítico e é vital que “as filhas da Grande Mãe” se empenhem no resgate, na prática e na divulgação dos valores, das tradições e dos ensinamentos da Sacralidade Feminina. O verdadeiro Graal – aquele que trará a cura para a violência, a devastação e a poluição do planeta, para o sofrimento da humanidade, e restabelecerá o equilíbrio e a paz – não é o cálice que contém o sangue do sofrimento, mas o coração da Grande Mãe, pleno de amor e compaixão, símbolo sagrado e ancestral da capacidade feminina de curar a “terra devastada” (21).
Uma nova era planetária deve ter como fundamento o poder do amor amparado pelo respeito à vida, direcionado pelos esforços pessoais, coletivos e globais para criar – de fato – as condições necessárias à sustentabilidade e à preservação da vida e ao estabelecimento e manutenção da paz.
Apaziguar a si mesmo, pacificar seus relacionamentos, vencer o separatismo, honrar a interdependência de todos os seres, evitar qualquer forma de violência, dominação pelo poder, competição ou discriminação são os desafios do homem contemporâneo, tanto no micro – do seu cotidiano individual – quanto no macro – do cenário global.
E compete às mulheres a tarefa de tecer uma nova padronagem para o bem-estar natural, social, econômico, político e espiritual do planeta, lançando mão da força poderosa do amor, que desperta e expande as mentes, toca e apazigua os corações. Ao se reconhecer e honrar a inter-relação de todas as formas de vida, o Amor – pessoal, transpessoal, universal – torna-se uma ferramenta para a reeducação e a mudança dos sistemas conscientes e inconscientes das crenças patriarcais. O poder expansivo e inclusivo do amor transcende o separatismo, transmuta medos e sombras, promove a gratidão pelas dádivas da Terra e fortalece a união de mentes e corações, de homens e de mulheres que cultivam novos valores e objetivos.
A nova realidade será o resultado da ativação e da expansão dos campos mórficos, da repetição de ações e de pensamentos positivos, construtivos e regeneradores por um número crítico de pessoas. Os círculos de homens e mulheres poderão criar uma nova egrégora de sinergia, entrando em comunhão entre si, com os outros, com a Mãe Terra, elaborando padrões inovadores de comportamento e interação.
Ao ser ativada a reação em cadeia da expansão da consciência individual, fundamentada na parceria entre gêneros e a interação dos planos energéticos – celestes, telúricos e ctônicos -, criar-se-á uma massa crítica suficiente para catalisar a transformação e a evolução da consciência planetária. Os problemas mundiais não serão resolvidos pela tecnologia ou pela ciência: somente uma elevação dos níveis de consciência da humanidade e o compromisso conjunto de homens e mulheres poderão conduzir à descoberta e ao uso de soluções pacíficas que visem e que se responsabilizem pelo bem de todos e do Todo.
Ao invés de apenas chorar as perdas e as dores, lamentar a destruição das florestas, a extinção das espécies, a violência e a degradação de mulheres e crianças, a negação da sacralidade da vida e da reverência ao Sagrado Feminino, os círculos e os grupos de mulheres devem transformar sua dor, sua ira e sua revolta, seu choro e seus lamentos, em ações firmes orientadas a propósitos comuns.
As mulheres percebem com maior acuidade o sofrimento do mundo, pois “a dor e as experiências de uma mulher refletem fragmentos da vida de outras mulheres” (15). A natureza feminina é mais permeável à vivência e à compreensão da dor, qualquer que seja sua natureza, o que torna as mulheres mais aptas a sentir e a expressar a compaixão. No entanto, não basta irmanar-se na dor; as mulheres contemporâneas devem descobrir e praticar um ensinamento budista, da Mudita, de “alegrar-se com o sucesso, as conquistas e a sorte dos outros”. Somente assim as mulheres, independentemente de filiação cultural, política, econômica ou espiritual, poderão mobilizar seus recursos inatos e agir como agentes vivos de transformação no mundo.
Ao se curarem, as mulheres também poderão curar os outros e melhor educar as futuras gerações e corrigir, assim, os padrões familiares e sociais corrompidos. Apenas honrando seus corpos, respeitando suas necessidades emocionais e fortalecendo suas mentes é que as mulheres irão recuperar sua força interior, desenvolver seus dons, realizar seus sonhos, compartilhar sua sabedoria e trabalhar em conjunto para curar e beneficiar a humanidade e a Mãe Terra.
Para que se possa criar e manter uma nova cultura – a “Cultura da Paz”- deve-se buscar a interação harmoniosa, igualitária e solidária do masculino/feminino, Pai/Mãe, Deus/Deusa, fé/razão, ciência/religião, tecnologia/ecologia. Somente assim poderá se criar uma ponte entre o velho e o novo, de forma a aproveitar o aprendizado do passado e evitar a repetição dos erros.
Um engajamento coletivo e global deverá traçar programas em longo prazo que beneficiem não apenas a geração atual, mas que levem em conta a sabedoria dos povos indígenas, que atribui a uma geração a responsabilidade pelas próximas sete gerações.
Ao relembrarem o legado da sabedoria ancestral, homens e mulheres poderão agir de forma responsável, consciente e solidária, a fim de restabelecer a paz e o respeito entre todos os seres e poderão, assim, recriar a harmonia e a igualdade originais, devolvendo o equilíbrio e a abundância à Terra.
Bibliografia:
1. Eisler,Rianne.O cálice e a espada.Rio de Janeiro,Imago.1998
2. Tzu, Lao.The Tao Te Ching.Tradução de Brian Walker.St.Martin´s Griffin.N.Y.1996
3 .Baring, Anne; Cashford, Jules.The Myth of the Goddess..Arkana, England,1993
4. A Grande Enciclopédia Delta Larousse R.J.Delta, 1971
5. Neumann, Erich. A Grande Mãe.S.P.Cultrix,1996
6.Markale, Jean.The Great Goddess. Inner Traditions, USA, 1999
7. Zweig, Connie. Mulher. Em Busca da Feminilidade Perdida. S.P.Gente, 1994
8. Gimbutas, Marija.The Goddesses and Gods of Old Europe.University of California Press 1996
9. Gimbutas, Marija.The Language of the Goddess.Harper, San Francisco, 1991
10. Gimbutas, Marija.The Living Goddess. University of California Press 1999
11. Teurstein, Geog. A sexualidade sagrada. S.P.Siciliano, 1994
12. Eliade, Mircea.O mito do eterno retorno.Edições 70 Lisboa, 1970
13. Campbell, Joseph. Mitologia na vida moderna. Rosa dos Tempos, R.J.2002
14. Nicholson, Shirley. O novo despertar da Deusa. Rocco, R.J.1993
15. Faur, Mirella.O Legado da Deusa.Ritos de passagem para mulheres.Rosa dos Tempos, R.J.2003
16. Muraro, Rose Marie; Boff, Leonardo. Feminino e Masculino. Sextante, R.J. 2002
17.Walker, Barbara.The Woman’s Encyclopedia of Myths and Secrets.Harper, San Francisco,1983
18. Faur, Mirella. O Anuário da Grande Mãe. Guia prático de rituais para celebrar a Deusa. Gaia, S.P.1999
19. Starhawk.A Dança cósmica das feiticeiras.Nova Era, R.J.1993
20. Starck, Márcia. A Astrologia da Mãe Terra. Pensamento, S.P.1999
21. Bolen Jean. O Milionésimo Círculo. Taygeta Trion, S.P.1999
1. Eisler,Rianne.O cálice e a espada.Rio de Janeiro,Imago.1998
2. Tzu, Lao.The Tao Te Ching.Tradução de Brian Walker.St.Martin´s Griffin.N.Y.1996
3 .Baring, Anne; Cashford, Jules.The Myth of the Goddess..Arkana, England,1993
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5. Neumann, Erich. A Grande Mãe.S.P.Cultrix,1996
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10. Gimbutas, Marija.The Living Goddess. University of California Press 1999
11. Teurstein, Geog. A sexualidade sagrada. S.P.Siciliano, 1994
12. Eliade, Mircea.O mito do eterno retorno.Edições 70 Lisboa, 1970
13. Campbell, Joseph. Mitologia na vida moderna. Rosa dos Tempos, R.J.2002
14. Nicholson, Shirley. O novo despertar da Deusa. Rocco, R.J.1993
15. Faur, Mirella.O Legado da Deusa.Ritos de passagem para mulheres.Rosa dos Tempos, R.J.2003
16. Muraro, Rose Marie; Boff, Leonardo. Feminino e Masculino. Sextante, R.J. 2002
17.Walker, Barbara.The Woman’s Encyclopedia of Myths and Secrets.Harper, San Francisco,1983
18. Faur, Mirella. O Anuário da Grande Mãe. Guia prático de rituais para celebrar a Deusa. Gaia, S.P.1999
19. Starhawk.A Dança cósmica das feiticeiras.Nova Era, R.J.1993
20. Starck, Márcia. A Astrologia da Mãe Terra. Pensamento, S.P.1999
21. Bolen Jean. O Milionésimo Círculo. Taygeta Trion, S.P.1999
http://sitioremanso.multiply.com/journal
Eu estou lendo o livro A flor da Vida de Drunvalo Melquisedek.
ResponderExcluirEsse post me lembrou esse livro
o livro afirma, mais ou menos, que quando os marcianos, isso mesmo, marcianos porque naquele tempo tinha vida em marte, vieram a Terra, começou a derrota do feminino, pois as mulhereS pasSaram a Ser dominadaS
Leiam o livro, gente