“Criadora de todas as coisas, Protetora de todas as criaturas,
Grande Mãe, que trouxe a vida pela Lei do amor e do caos criou a
harmonia, ouça a minha prece, faça-me compreender o meu destino,
perdoe as minhas falhas e sustente-me nas provações!”
“Senhora e Deusa, Rainha das cidades, Luz do mundo e do céu
Mãe com ventre abundante, Fonte de luz cujo poder é eterno
Senhora do céu e da Terra, Criadora e Protetora,
Que recebe nossas súplicas
Ouve nossas preces e rege nossos destinos;
Do Seu lado direito fica a justiça, do esquerdo a bondade
Do Seu Ser emana vida e bem estar, no Seu olhar brilha a
compaixão,
Peço que olhe para mim e aceite minhas preces
Pois é Seu o Poder, a Magnificência, a Sabedoria, a Força
Que guiam e sustentam as mulheres que chamam o Seu sagrado
nome”.
Preces gravadas em tabletes de argila encontradas em escavações.
Amplamente cultuada e conhecida sob vários nomes em diferentes países, Ishtar era uma das manifestações da Grande Mãe do Oriente, a Magna Dea. Existem várias suposições sobre a origem de Ishtar, cujo mais antigo templo encontrava-se próximo às ruínas da antiga cultura neolítica de Çatal Hüyuk em Anatólia, datado de 5000 anos a.C. Por ser seu mito, simbolismo, histórias, costumes e rituais semelhantes aos da Deusa suméria Inanna, acredita-se que o culto de Ishtar seja a continuação do culto sumério. Porém, independentemente da sua origem –Anatolia, Suméria, Levante – Ishtar tornou-se uma Deusa muito popular, reverenciada pelos semitas da Mesopotâmia central, onde floresceu a cidade de Babilônia, repleta de ricos e belos templos, dos quais se sobressaia o da deusa Ishtar. O berço da civilização da Mesopotâmia foi a planície de Sumer, habitada desde o quarto milênio pelos sumérios, inventores da escrita cuneiforme e possuidores de uma opulenta e próspera civilização, que despertou a cobiça dos acadianos, tribos semitas do deserto de Síria, que a conquistaram. Apesar de serem dominados, os sumérios conseguiram manter e impor sua cultura e religião aos semitas. Ishtar possuía características ambíguas, ao mesmo tempo personificava a força criadora e também a destruição da vida, sendo representada pelos ciclos da vegetação e as fases lunares. Como Deusa do amor e da fertilidade, Ela propiciava a reprodução e abundância vegetal, animal e humana; como Deusa da guerra e da morte personificava a Natureza que dá e tira a vida, que se vingava da ignorância e destruição humanas nas épocas de inundações e tempestades e derrubava as montanhas e os inimigos. Inúmeros eram Seus títulos (similares aos de Inanna) e nas escrituras da Babilônia era chamada de: Luz do mundo, Condutora das hostes celestes, A que abre o ventre, Juíza imparcial, Doadora da Força, A que dá as leis, Senhora da Vitória, Mãe que perdoa, A que brilha, Mãe Divina, Estrela matutina (seu aspecto guerreiro) e vespertina (sua face sedutora), Criadora de Tudo, Senhora do Céu e da Terra, Protetora da Humanidade, Regente da sabedoria celeste, Guardiã da lei e da ordem, Rainha das terras, Pastora dos campos, Senhora do tempo e dos ciclos, Possuidora das tábuas dos registros das vidas, Fonte das profecias, Deusa do combate e da vitória. Muitos destes títulos, bem como várias preces babilônicas direcionadas para Ishtar, foram usadas para o Deus do Velho Testamento, as frases das invocações e as metáforas da Deusa copiadas pelos rabinos e as preces adaptadas para Maria, junto com algumas das Suas imagens (a Lua crescente) e histórias (o filho que morre e ressuscita). Fontes antigas revelam que Ishtar era a mesma Grande Deusa cultuada no Oriente próximo como Déa Síria, Atar, Astarte, Ashtoreth, Anath, Asherah, Mari e difamada na Bíblia como a Grande Prostituta Vermelha da Babilônia, padroeira das prostitutas. Na realidade, as sacerdotisas dos Seus templos eram honradas como rainhas na Ásia menor e admiradas pela sua sabedoria e conhecimento, que lhe conferiam poderes de cura através dos rituais de amor. Como personificações de Qadeshet - a Rainha celeste da Palestina – de Inanna e de Ishtar, as prostitutas serviam nos templos como emissárias destas deusas para conduzir os homens para se conectar com Ela ou curar seus males e aflições. Era um costume antigo que cada mulher da Babilônia servisse como sacerdotisa do amor uma vez na vida, costume continuado na Grécia helênica, nos templos da Afrodite e em Roma, no templo de Vênus e Juno Sospita. As sacerdotisas chamadas Ishtaritu ou Qadishtu atuavam como veículos da Deusa, proporcionando aos homens uma experiência extática, que lhes abria os canais para receberem a energia divina em um ato de amor e partilhando com eles o dom de Ishtar- a sexualidade sagrada - enquanto lhes ensinavam esta invocação:
“Reverenciai Ishtar, a suprema Deusa, Rainha das mulheres. O Seu corpo é vestido de amor e prazer, Sua essência é de ardor, encanto e voluptuosa alegria, Seus lábios são doces como mel, Sua boca dá a vida. Sua proximidade proporciona plenitude e a felicidade atinge o auge quando Ela se faz presente, pois Ela é gloriosa, poderosa, exaltada, esplêndida e respeitada por todos os deuses, que A reverenciam e perante Ela se inclinam chamando-A de Rainha.”
As cortesãs ou prostitutas sagradas eram consideraras “virgens” (hierodulas ou vestais) não no sentido físico, mas por permanecerem solteiras, assim como também eram as deusas Ishtar, Anath, Asherah, Mari, que eram cultuadas como Kadesha, a “Grande Virgem” ou Hierodula Celeste. O casamento sagrado ou hieros gamos era a encenação da fertilidade da vida humana, animal, vegetal, em que homens e mulheres participavam em ritos de sexo sagrado do processo de vida e regeneração, rituais que eram abençoados pela Deusa e realizados nos Seus templos. Devido à importância dos ritos sexuais nas culturas pagãs, o cristianismo difamou seu simbolismo sagrado e o equiparou com pecado, promiscuidade e imoralidade.
O mito de Ishtar descreve Sua chegada na Terra vindo do planeta Vênus, acompanhada pelas Ishtaritu, Suas mulheres sagradas, que depois foram viver nas margens dos rios Tigre e Eufrates. Nas terras semitas as magens de Ishtar a representavam de diversas maneiras: como soberana coroada com chifres ou com uma tiara encimada por um cone (a representação da montanha sagrada), segurando uma espada, um cetro envolto por serpentes ou os chifres de um touro, como guerreira com asas ou flechas saindo dos seus ombros, armada com arco e flecha, pisando sobre um leão ou carregada numa carruagem puxada por sete leões, acompanhada por dragões, sentada no trono ou voando nas asas de um grande pássaro, segurando seus seios, elevando o ramo sagrado, cercada por suas sacerdotisas, que formavam uma estrela de oito pontas ao seu redor. Ao longo dos rios Tigres e Eufrates os povos semitas reverenciaram durante milênios a Criadora da vida com inúmeros hinos que louvavam Sua força, poder e sabedoria. As preces a Ela direcionadas foram gravadas sobre tabletes de pedra, com caracteres cuneiformes escritas nas várias línguas semitas: akkadiana, canaãense, hebraica, aramaica e árabe, originárias deLíbano, Israel e Síria (o antigo Levante) e o atual Iraque (a antiga Mesopotâmia), entre os quais se estendia o deserto sírio. A reverência à Deusa conhecida como Astart, Ashtoreth, Atargatis, Asherah, Anath, Shapash começou no Levante, enquanto o culto de Mami, Aruru e Ishtar era da Mesopotâmia. As imagens e a natureza de Ishtar foram influenciadas pelas crenças religiosas de Anatólia eintegradas com o culto da suméria Inanna, substituindoo depois em Erech, no Golfo Persa. Junto com as fontes de Suméria, Anatólia e Egito, as evidências do culto da Deusa entre os povos semitas constituem um dos mais antigos registros escritos, culto que antecedeu os períodos bíblicos e foi adotado depois pelos hebreus, muçulmanos e cristãos. Os babilônios preservaram a mitologia, linguagem, literatura e as práticas religiosas dos sumérios, traduzindo todo o acervo para a sua língua akkadiana e transmitindo a cultura suméria para Anatólia, Assíria, Canaã durante pelo menos dois milênios, após a conquista da Suméria pelos povos de Assíria.
Nos templos de Assur, Arbela, Kalah e Nineveh as sacerdotisas de Inanna e Ishtar serviam com oráculos, respondendo questões de vida, morte, doenças e diversos tipos de problemas maiores ou menores. Os nomes destas sacerdotisas oraculares ficaram gravados nos antigos registros dos templos, mantendo assim viva a memória das mulheres que serviam aos seus povos transmitindo mensagens da Deusa. Nas noites de lua cheia- Shapatu - assim como nas de lua nova eram feitas oferendas de comidas e bebidas nos altares de Ishtar, em que tinha yonis de lápis lazuli e estrelas ou rosáceas de ouro de oito pontas, oito sendo o número do ano sagrado quando era reconciliado o tempo lunar e solar, a lua cheia coincidindo com o dia mais longo ou mais curto. O zodíaco era chamado de “Cinto de Ishtar (ou Inanna)” e nas imagens a Deusa aparecia cercada por um círculo de estrelas, sendo às vezes identificada com Sirius, a estrela mais brilhante e associada com as constelações de Virgem e Escorpião. De todos os mitos de Ishtar um dos mais relevantes é a sua descida para o mundo dos mortos em busca do seu amado Tammuz, ferido mortalmente por um javali. Tammuz tinha recebido o cajado de pastor da Deusa, sendo escolhido como parceiro para o rito de hieros gamos, o casamento sagrado celebrado durante o festival de Akitu. Assim como Inanna, Ishtar passa por sete portais, em que é despida das suas insígnias reais, jóias e vestes (cada objeto representando um dos seus sete atributos: beleza, amor, saúde, fertilidade, poder, magia e domínio sobre as estações do ano) aparecendo nua na frente de Alatu, a Senhora do submundo e lá permanecendo durante três dias de escuridão, frio e letargia. Enquanto a Deusa está presa no mundo subterrâneo, a vida fenece sobre a terra, a vegetação seca e os rios se esvaem. Depois deste teste de desapego, Ishtar recupera seu poder e sua glória como rainha do céu e da Terra e traz de volta seu amado Tammuz, a vida renascendo sobre a terra, os campos se cobrindo de vegetação e os rios correndo alegremente. A morte de Tammuz era comemorada com o nascer de Sirius junto do Sol, no final das colheitas, quando os raios solares queimavam o deus verde da vegetação e sua morte era chorada pelas mulheres em luto solidário com a dor de Ishtar, enquanto tocavam flautas, címbalos e tambores. Este mito é semelhante ao de outras deusas como Inanna e o seu consorte Damuzzi, Ísis e Osíris, Anat e Baal, Afrodite e Adônis. As deusas do Oriente próximo tinham além dos atributos de fertilidade e de amor, o dever de proteção do seu povo como deusas guerreiras, guardiãs das leis e da liderança. Os Seus consortes chamados de “Filhos fieis” ou “Senhores verdes, pastores do povo” eram associados à vegetação, às colheitas e a fecundidades dos rebanhos de gado, cabras e ovelhas. A dança dos sete véus é associada ao mito de Ishtar, tendo sido um dos mais belos e misteriosos ritos antigos realizados em homenagem aos mortos. A sacerdotisa oferecia a dança para a Deusa, que nela existia e que lhe dava a beleza, o poder de sedução e a força. Durante a dança ela retirava todos os adereços do seu corpo, além dos sete véus, para simbolizar sua entrada no mundo dos mortos sem apego aos bens materiais, em analogia a Ishtar. Com o passar do tempo os sete portais passaram a simbolizar os sete planetas antigos (representados na dança como as qualidades e defeitos que influenciam o temperamento das pessoas), as sete cores do arco-íris e os sete chacras. A dança passou a ser realizada não mais por sacerdotisas mas por bailarinas, que se limitavam a retirar os véus, o véu representando o que ocultamos dos outros e de nós mesmas, a retirada e o cair de cada véu simbolizando a queda das vendas, a abertura da visão, a descoberta da verdade, o fortalecimento interior e o despertar da consciência rumo à evolução espiritual. Cada cor do véu corresponde a um planeta e um chacra, cuja correspondência tradicional é descrita a seguir. O véu amarelo representa o Sol, elimina o orgulho e a vaidade excessiva, trazendo a alegria, esperança e confiança. O véu laranja representa Júpiter, que dissolve o impulso dominador e dá vazão ao sentimento de proteção e ajuda ao próximo. O vermelho representa Marte, significando a vitória do amor cósmico, o domínio da agressividade e a paixão. Lilás representa Saturno, mostrando a dissolução do excesso de rigor e seriedade, a conquista da consciência plena e o desenvolvimento da percepção sutil. Azul representa Vênus, revelando que a dificuldade de expressão foi superada, em prol do bom relacionamento com os entes queridos. Verde representa Mercúrio, mostrando a divisão e a indecisão sendo vencidas pelo equilíbrio entre os opostos.
E, por fim, o branco representa a Lua; a queda deste último véu mostra a imaginação transformada em pensamento criativo e pureza interior. O caráter de Ishtar sintetiza a complexidade da natureza venusiana, sendo a personificação do principio feminino. Em suas formas variadas e mutantes, Ishtar desempenha as múltiplas possibilidades da essência feminina, a beleza da dança, o encanto da sensualidade, o poder hipnótico e de sedução, a capacidade de desapego e transformação, a revelação dos mistérios, o uso da magia e o alcance da sabedoria.
Mirella Faur
IN: http://sitioremanso.multiply.com/journal/item/90
Grande Mãe, que trouxe a vida pela Lei do amor e do caos criou a
harmonia, ouça a minha prece, faça-me compreender o meu destino,
perdoe as minhas falhas e sustente-me nas provações!”
“Senhora e Deusa, Rainha das cidades, Luz do mundo e do céu
Mãe com ventre abundante, Fonte de luz cujo poder é eterno
Senhora do céu e da Terra, Criadora e Protetora,
Que recebe nossas súplicas
Ouve nossas preces e rege nossos destinos;
Do Seu lado direito fica a justiça, do esquerdo a bondade
Do Seu Ser emana vida e bem estar, no Seu olhar brilha a
compaixão,
Peço que olhe para mim e aceite minhas preces
Pois é Seu o Poder, a Magnificência, a Sabedoria, a Força
Que guiam e sustentam as mulheres que chamam o Seu sagrado
nome”.
Preces gravadas em tabletes de argila encontradas em escavações.
Amplamente cultuada e conhecida sob vários nomes em diferentes países, Ishtar era uma das manifestações da Grande Mãe do Oriente, a Magna Dea. Existem várias suposições sobre a origem de Ishtar, cujo mais antigo templo encontrava-se próximo às ruínas da antiga cultura neolítica de Çatal Hüyuk em Anatólia, datado de 5000 anos a.C. Por ser seu mito, simbolismo, histórias, costumes e rituais semelhantes aos da Deusa suméria Inanna, acredita-se que o culto de Ishtar seja a continuação do culto sumério. Porém, independentemente da sua origem –Anatolia, Suméria, Levante – Ishtar tornou-se uma Deusa muito popular, reverenciada pelos semitas da Mesopotâmia central, onde floresceu a cidade de Babilônia, repleta de ricos e belos templos, dos quais se sobressaia o da deusa Ishtar. O berço da civilização da Mesopotâmia foi a planície de Sumer, habitada desde o quarto milênio pelos sumérios, inventores da escrita cuneiforme e possuidores de uma opulenta e próspera civilização, que despertou a cobiça dos acadianos, tribos semitas do deserto de Síria, que a conquistaram. Apesar de serem dominados, os sumérios conseguiram manter e impor sua cultura e religião aos semitas. Ishtar possuía características ambíguas, ao mesmo tempo personificava a força criadora e também a destruição da vida, sendo representada pelos ciclos da vegetação e as fases lunares. Como Deusa do amor e da fertilidade, Ela propiciava a reprodução e abundância vegetal, animal e humana; como Deusa da guerra e da morte personificava a Natureza que dá e tira a vida, que se vingava da ignorância e destruição humanas nas épocas de inundações e tempestades e derrubava as montanhas e os inimigos. Inúmeros eram Seus títulos (similares aos de Inanna) e nas escrituras da Babilônia era chamada de: Luz do mundo, Condutora das hostes celestes, A que abre o ventre, Juíza imparcial, Doadora da Força, A que dá as leis, Senhora da Vitória, Mãe que perdoa, A que brilha, Mãe Divina, Estrela matutina (seu aspecto guerreiro) e vespertina (sua face sedutora), Criadora de Tudo, Senhora do Céu e da Terra, Protetora da Humanidade, Regente da sabedoria celeste, Guardiã da lei e da ordem, Rainha das terras, Pastora dos campos, Senhora do tempo e dos ciclos, Possuidora das tábuas dos registros das vidas, Fonte das profecias, Deusa do combate e da vitória. Muitos destes títulos, bem como várias preces babilônicas direcionadas para Ishtar, foram usadas para o Deus do Velho Testamento, as frases das invocações e as metáforas da Deusa copiadas pelos rabinos e as preces adaptadas para Maria, junto com algumas das Suas imagens (a Lua crescente) e histórias (o filho que morre e ressuscita). Fontes antigas revelam que Ishtar era a mesma Grande Deusa cultuada no Oriente próximo como Déa Síria, Atar, Astarte, Ashtoreth, Anath, Asherah, Mari e difamada na Bíblia como a Grande Prostituta Vermelha da Babilônia, padroeira das prostitutas. Na realidade, as sacerdotisas dos Seus templos eram honradas como rainhas na Ásia menor e admiradas pela sua sabedoria e conhecimento, que lhe conferiam poderes de cura através dos rituais de amor. Como personificações de Qadeshet - a Rainha celeste da Palestina – de Inanna e de Ishtar, as prostitutas serviam nos templos como emissárias destas deusas para conduzir os homens para se conectar com Ela ou curar seus males e aflições. Era um costume antigo que cada mulher da Babilônia servisse como sacerdotisa do amor uma vez na vida, costume continuado na Grécia helênica, nos templos da Afrodite e em Roma, no templo de Vênus e Juno Sospita. As sacerdotisas chamadas Ishtaritu ou Qadishtu atuavam como veículos da Deusa, proporcionando aos homens uma experiência extática, que lhes abria os canais para receberem a energia divina em um ato de amor e partilhando com eles o dom de Ishtar- a sexualidade sagrada - enquanto lhes ensinavam esta invocação:
“Reverenciai Ishtar, a suprema Deusa, Rainha das mulheres. O Seu corpo é vestido de amor e prazer, Sua essência é de ardor, encanto e voluptuosa alegria, Seus lábios são doces como mel, Sua boca dá a vida. Sua proximidade proporciona plenitude e a felicidade atinge o auge quando Ela se faz presente, pois Ela é gloriosa, poderosa, exaltada, esplêndida e respeitada por todos os deuses, que A reverenciam e perante Ela se inclinam chamando-A de Rainha.”
As cortesãs ou prostitutas sagradas eram consideraras “virgens” (hierodulas ou vestais) não no sentido físico, mas por permanecerem solteiras, assim como também eram as deusas Ishtar, Anath, Asherah, Mari, que eram cultuadas como Kadesha, a “Grande Virgem” ou Hierodula Celeste. O casamento sagrado ou hieros gamos era a encenação da fertilidade da vida humana, animal, vegetal, em que homens e mulheres participavam em ritos de sexo sagrado do processo de vida e regeneração, rituais que eram abençoados pela Deusa e realizados nos Seus templos. Devido à importância dos ritos sexuais nas culturas pagãs, o cristianismo difamou seu simbolismo sagrado e o equiparou com pecado, promiscuidade e imoralidade.
O mito de Ishtar descreve Sua chegada na Terra vindo do planeta Vênus, acompanhada pelas Ishtaritu, Suas mulheres sagradas, que depois foram viver nas margens dos rios Tigre e Eufrates. Nas terras semitas as magens de Ishtar a representavam de diversas maneiras: como soberana coroada com chifres ou com uma tiara encimada por um cone (a representação da montanha sagrada), segurando uma espada, um cetro envolto por serpentes ou os chifres de um touro, como guerreira com asas ou flechas saindo dos seus ombros, armada com arco e flecha, pisando sobre um leão ou carregada numa carruagem puxada por sete leões, acompanhada por dragões, sentada no trono ou voando nas asas de um grande pássaro, segurando seus seios, elevando o ramo sagrado, cercada por suas sacerdotisas, que formavam uma estrela de oito pontas ao seu redor. Ao longo dos rios Tigres e Eufrates os povos semitas reverenciaram durante milênios a Criadora da vida com inúmeros hinos que louvavam Sua força, poder e sabedoria. As preces a Ela direcionadas foram gravadas sobre tabletes de pedra, com caracteres cuneiformes escritas nas várias línguas semitas: akkadiana, canaãense, hebraica, aramaica e árabe, originárias deLíbano, Israel e Síria (o antigo Levante) e o atual Iraque (a antiga Mesopotâmia), entre os quais se estendia o deserto sírio. A reverência à Deusa conhecida como Astart, Ashtoreth, Atargatis, Asherah, Anath, Shapash começou no Levante, enquanto o culto de Mami, Aruru e Ishtar era da Mesopotâmia. As imagens e a natureza de Ishtar foram influenciadas pelas crenças religiosas de Anatólia eintegradas com o culto da suméria Inanna, substituindoo depois em Erech, no Golfo Persa. Junto com as fontes de Suméria, Anatólia e Egito, as evidências do culto da Deusa entre os povos semitas constituem um dos mais antigos registros escritos, culto que antecedeu os períodos bíblicos e foi adotado depois pelos hebreus, muçulmanos e cristãos. Os babilônios preservaram a mitologia, linguagem, literatura e as práticas religiosas dos sumérios, traduzindo todo o acervo para a sua língua akkadiana e transmitindo a cultura suméria para Anatólia, Assíria, Canaã durante pelo menos dois milênios, após a conquista da Suméria pelos povos de Assíria.
Nos templos de Assur, Arbela, Kalah e Nineveh as sacerdotisas de Inanna e Ishtar serviam com oráculos, respondendo questões de vida, morte, doenças e diversos tipos de problemas maiores ou menores. Os nomes destas sacerdotisas oraculares ficaram gravados nos antigos registros dos templos, mantendo assim viva a memória das mulheres que serviam aos seus povos transmitindo mensagens da Deusa. Nas noites de lua cheia- Shapatu - assim como nas de lua nova eram feitas oferendas de comidas e bebidas nos altares de Ishtar, em que tinha yonis de lápis lazuli e estrelas ou rosáceas de ouro de oito pontas, oito sendo o número do ano sagrado quando era reconciliado o tempo lunar e solar, a lua cheia coincidindo com o dia mais longo ou mais curto. O zodíaco era chamado de “Cinto de Ishtar (ou Inanna)” e nas imagens a Deusa aparecia cercada por um círculo de estrelas, sendo às vezes identificada com Sirius, a estrela mais brilhante e associada com as constelações de Virgem e Escorpião. De todos os mitos de Ishtar um dos mais relevantes é a sua descida para o mundo dos mortos em busca do seu amado Tammuz, ferido mortalmente por um javali. Tammuz tinha recebido o cajado de pastor da Deusa, sendo escolhido como parceiro para o rito de hieros gamos, o casamento sagrado celebrado durante o festival de Akitu. Assim como Inanna, Ishtar passa por sete portais, em que é despida das suas insígnias reais, jóias e vestes (cada objeto representando um dos seus sete atributos: beleza, amor, saúde, fertilidade, poder, magia e domínio sobre as estações do ano) aparecendo nua na frente de Alatu, a Senhora do submundo e lá permanecendo durante três dias de escuridão, frio e letargia. Enquanto a Deusa está presa no mundo subterrâneo, a vida fenece sobre a terra, a vegetação seca e os rios se esvaem. Depois deste teste de desapego, Ishtar recupera seu poder e sua glória como rainha do céu e da Terra e traz de volta seu amado Tammuz, a vida renascendo sobre a terra, os campos se cobrindo de vegetação e os rios correndo alegremente. A morte de Tammuz era comemorada com o nascer de Sirius junto do Sol, no final das colheitas, quando os raios solares queimavam o deus verde da vegetação e sua morte era chorada pelas mulheres em luto solidário com a dor de Ishtar, enquanto tocavam flautas, címbalos e tambores. Este mito é semelhante ao de outras deusas como Inanna e o seu consorte Damuzzi, Ísis e Osíris, Anat e Baal, Afrodite e Adônis. As deusas do Oriente próximo tinham além dos atributos de fertilidade e de amor, o dever de proteção do seu povo como deusas guerreiras, guardiãs das leis e da liderança. Os Seus consortes chamados de “Filhos fieis” ou “Senhores verdes, pastores do povo” eram associados à vegetação, às colheitas e a fecundidades dos rebanhos de gado, cabras e ovelhas. A dança dos sete véus é associada ao mito de Ishtar, tendo sido um dos mais belos e misteriosos ritos antigos realizados em homenagem aos mortos. A sacerdotisa oferecia a dança para a Deusa, que nela existia e que lhe dava a beleza, o poder de sedução e a força. Durante a dança ela retirava todos os adereços do seu corpo, além dos sete véus, para simbolizar sua entrada no mundo dos mortos sem apego aos bens materiais, em analogia a Ishtar. Com o passar do tempo os sete portais passaram a simbolizar os sete planetas antigos (representados na dança como as qualidades e defeitos que influenciam o temperamento das pessoas), as sete cores do arco-íris e os sete chacras. A dança passou a ser realizada não mais por sacerdotisas mas por bailarinas, que se limitavam a retirar os véus, o véu representando o que ocultamos dos outros e de nós mesmas, a retirada e o cair de cada véu simbolizando a queda das vendas, a abertura da visão, a descoberta da verdade, o fortalecimento interior e o despertar da consciência rumo à evolução espiritual. Cada cor do véu corresponde a um planeta e um chacra, cuja correspondência tradicional é descrita a seguir. O véu amarelo representa o Sol, elimina o orgulho e a vaidade excessiva, trazendo a alegria, esperança e confiança. O véu laranja representa Júpiter, que dissolve o impulso dominador e dá vazão ao sentimento de proteção e ajuda ao próximo. O vermelho representa Marte, significando a vitória do amor cósmico, o domínio da agressividade e a paixão. Lilás representa Saturno, mostrando a dissolução do excesso de rigor e seriedade, a conquista da consciência plena e o desenvolvimento da percepção sutil. Azul representa Vênus, revelando que a dificuldade de expressão foi superada, em prol do bom relacionamento com os entes queridos. Verde representa Mercúrio, mostrando a divisão e a indecisão sendo vencidas pelo equilíbrio entre os opostos.
E, por fim, o branco representa a Lua; a queda deste último véu mostra a imaginação transformada em pensamento criativo e pureza interior. O caráter de Ishtar sintetiza a complexidade da natureza venusiana, sendo a personificação do principio feminino. Em suas formas variadas e mutantes, Ishtar desempenha as múltiplas possibilidades da essência feminina, a beleza da dança, o encanto da sensualidade, o poder hipnótico e de sedução, a capacidade de desapego e transformação, a revelação dos mistérios, o uso da magia e o alcance da sabedoria.
Mirella Faur
IN: http://sitioremanso.multiply.com/journal/item/90
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Muito interessante o texto, parabéns. =)
ResponderExcluirNão sou nenhum devoto, mas essas religiões antigas trazem conhecimentos e filosofias bastantes pertinentes. O cristianismo infelizmente suprimiu muitas dessas coisas.
Apenas uma pequena crítica: o layout do blog está dificultando bastante a leitura. Tive que parar várias vezes ao longo do texto para descansar os olhos.
De fato apesar do fundo escuro o layout de meu blog é cheio de cores vibrantes e alegres...Tudo tem seu contrapeso não?
ResponderExcluirAbraços