domingo, 11 de dezembro de 2011
BENDITA SEJA A DEUSA, ELA ESTÁ NO MEIO DE NÓS
Tudo bem que é meio período mas vale, qualquer um centavo que cair no meu bolso serve...Daqui a pouco eu vou acertar os tramites com um dos funcionarios da biblioteca pública...Estou me ardendo de felicidade...Provavelmente não chegarei a ganhar muita coisa e eu nem tenho ceteza se vai dar pra trabalhar aqui mesmo mas só a proposta me deixa nas nuvens...Rezem por mim.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
TOLAMENTE, MENTE
Eu sinto a ferida
Que a chibata da vida me dá
sinto sua ferida de amor ardendo em minha alma
Eu vejo e sinto as pessoas e suas vidas
sinto a vida que percorre o corpo com seus sentidos
Mas é impossível recuperar, reconstruir o sentimento conquistado
Me delego a relata-lo, mesmo que de maneira tola
O sentimento pulsa e se retrai
Assim como a vida do molusco
Que pousa na concha e se retrai
Ao sentir os pulsos do mar
Mulher-Amor, vida pulsante e latente
Força que vai me percorrendo e me tomando toda
Sou a rebatada por ti o Mãe num extase e paixão eterna
E na noite mais sombria somos uma só
A Vida que percorre o corpo e a vida do mundo não estão separadas
Vivemos e somos um mesmo ente
E este é um sentimento que não mente
Uma vida que domina meu corpo, minha alma
E Minha Mente,
E quem mente ao amor?
Ao corpo calido que quente suspira no seu anseio
Hoje busco os braços da minha Mãe
No mais afetuoso devaneio
Não, não são sonhos que costroem a vida
E sim a Mãe-Vida que constroi os sonhos
Não é o sonho sonhado, uma coisa real
Como pode não ser real
Mais um devaneio do Vir a Ser
Vida é real, eu acredito
Eu acredito.
domingo, 16 de outubro de 2011
DE QUANDO EM VEZ ME DÁ CANSAÇO...
Não há em mim nenhuma palavra importante a ser dita no momento
Não há em mim nenhuma palavra de sabedoria ou conforto para que possa te ajudar
Não há em mim nenhuma palavra cósmica mensagem de cristo ou de qualquer mestre que seja ou especial que possa dizer
Tudo que sou é a uma sacerdotisa da Terra
E mesmo isso não sou eu totalmente
Eu sou mais
Eu sou a minha alma e o meu momento
Eu sou a minha própria busca e a minha própria verdade
Agora se vois sois corajosos
Buscai dentro de seu coração
E lá encontrara a sua
Eu sou minha alma
Eu Sou Eu.
E sou todas as coisas
Da Terra e do Mar
Sou uma filha da Deusa
E isso é tudo que hoje tenho para dizer
domingo, 14 de março de 2010
(republicado)
Cansa me tua falsa poesia que impede teu coração de beber verdadeiramente da fonte das palavras, cansa me teu narcisismo prosaico à maneira que se distancia de um real aprofundamento no ser ou tuas teorias sincréticas à respeito da Vida e da Morte.
Hoje e só hoje queria que tu (eu) falasse de uma maneira prática sem ser no entanto falsa como é de comum que se chega as massas.
Cansei de tua sabedoria esporádica meu eu, aonde teus conhecimentos se perdem por entre abjures e livros sem nada iluminar do meu verdadeiro caminho.
Isto porque somos mulheres parecidas e quase iguais eu tu , tu e eu.
Não falo isto para te magoar Tanto que o titulo dessa carta poderia ser "A quem interessar" e qualquer um que lesse automaticamente teria de me perdoar por se destinar a todos e não apenas um ser.
Mas porque te amo te poupo destas palavras e dos meus cansaços e me finjo de alegre face a minha amada.
Tua palavra cansa, deixa me divagar e sentir.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
FORÇAS
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
MÉMORIAS DE UMA MULHER IMPOSSÍVEL
Um dia
quando eu tinha quinze anos
vi uma plantinha no meio da estrada
não era nem uma flor e era negra
Os carros passavam por cima dela
E os caminhões
Eu quis arrancá-la com todo o carinho
para que ela vivesse
Cheguei a me deitar na estrada
Quase morri atropelada
mas não consegui arrancar a plantinha
E os carros continuavam passando
E ela ali. Viva
Hoje sei que foi ela
a coisa mais deslumbrantemente bela
que já vi
Ela era a própria vida
porque havia atravessado o impossível
(1999)
Mémorias de Uma Mulher Impossível - Rose Marie Muraro
Editora Rosa dos Tempos
BRUXA = A MULHER SÁBIA
Não se sabe a exata origem das Bruxas, constam relatos de que elas existam desde os primórdios da humanidade. Há duas teorias para a existência de tais seres:
1) As práticas de bruxaria envolvem rituais simbólicos desde os tempos neolíticos. A primeira demonstração da arte de devoção foi encontrada em cavernas do período neolítico, onde havia ilustrações dos rituais de adoração às deusas da fertilidade dos povos primitivos.
Dessa forma, as experiências visionárias, rituais de caça e cerimônias de cura sempre estiveram presentes nos símbolos e metáforas de cada cultura. Na Grã-Bretanha as sacerdotisas druidas estavam divididas em três classes. As que viviam em conventos num regime de celibato eram as da classe mais alta. As outras duas classes, que eram das sacerdotisas, podiam se casar e viver nos templos ou com os maridos e família. Com a era do cristianismo, foram denominadas “Bruxas” e perseguidas por muito tempo.
2) Durante a Idade Média toda e qualquer mulher que conseguia poder, passavam gradativamente a ser considerada bruxa. Bruxa em sânscrito significa “mulher sábia”. As bruxas eram denominadas sábias, até a Igreja lhes atribuir o significado secundário de mulheres dominadas por instintos inferiores.
Sem mito algum, as bruxas eram apenas mulheres que conheciam e entendiam do emprego de ervas medicinais para cura de enfermidades, e colocavam em prática seus conhecimentos nos vilarejos onde habitavam.
Com a chegada do Cristianismo, começando a imperar a era patriarcal, as mulheres foram colocadas em segundo plano e tidas como objetos de pecado utilizados pelo diabo.
Muitas mulheres não aceitaram essa identificação e rebelaram-se. Essas, dotadas de poder espiritual, começaram a obter novamente o prestígio que haviam perdido o que passou a incomodar o poder religioso. Assim acusar uma mulher de bruxaria ficou fácil, bastava uma mulher casada perder a hora de acordar, que o marido a acusava de estar sonhando com o demônio.
Perseguição às bruxas
Durante o século X e XII as bruxas ressurgiram, nesse período realizaram vários processos contra elas, promovidos pelo poder civil. No entanto, tal questão veio assumir um aspecto dramático a partir do século XIV, momento em que a Igreja Católica implantou os tribunais da Inquisição com o intuito de reprimir, tanto a disseminação das seitas heréticas como a prática de magia e outros comportamentos considerados pecaminosos. Nesse período, o fenômeno se caracterizou como manifestação coletiva, de profunda repercussão no direito penal, na vida religiosa, na literatura e nas artes. Dessa forma, para que a repressão fosse eficaz, os tribunais de Inquisição se proliferaram, e os processos aumentaram rapidamente.
Segundo os teóricos do assunto, a epidemia de bruxas ocorreu nos séculos XVI e XVII, no norte da França, no sul e oeste da Alemanha e em especial na Inglaterra e na Escócia, a perseguição às bruxas foi metódica e violenta. Os colonizadores ingleses levaram esse procedimento para a América do Norte, onde, em 1692, ocorreu o famoso processo contra as bruxas de Salém, em Massachusetts. Normalmente, acusavam-se as bruxas velhas, e com menor freqüência as jovens.
A maioria das acusações se referia a malefícios contra a vida, a propriedade e a saúde. Também constavam denúncias de pactos com o diabo. Segundo as denúncias, as bruxas montadas em vassouras voavam pelos ares e se reuniam em lugares inabitados para celebrar a satanás e entregar-se a orgias. O iluminismo do fim do século XVII e do século XVIII, que era caracterizado pelo espírito científico e pelo racionalismo, contribuiu para o fim desse processo e para que não mais se admitisse perseguição judiciária em casos de superstições populares.
outras informações:
Idade Média - O inicio da perseguição as bruxas.
Idade Moderna - O apogeu da perseguição as bruxas
Por Eliene Percília
Equipe Brasil Escola IN: http://www.brasilescola.com/historia/bruxas.htm
PEQUENA ORAÇÃO
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
EXPERIÊNCIA INTRÍSECA
“A destruição do tecido social é antes de tudo a destruição da relação mãe-filha, sendo esse o sustendo de toda a urdidura humana, e compreender isso é compreender que essa má relação mãe-filha é a interiorização básica, e mais profundamente arraigada dentro do sistema…”
Casilda Rodrigañez Bustos
Creio na Sabedoria da Mulher e da Deusa como uma experiência intrínseca na mulher madura.
E isso não se compra em pacotes, workshops, nem em livros...Não, não são as leituras, não são os rituais, não são os nossos meros desejos que a fazem ser real nas nossas vidas, mas a nossa consciência alargada, integrada, e a abrangência da alma e do espírito, noutro plano, um plano mais elevado ou triplico (corpo alma e espírito), que nos fazem entender o aparentemente contraditório da natureza humana e da mulher...Mas só aí nos libertamos das nossas contradições e opostos sempre em conflito. Isso não quer dizer que se não viva a alegria e dor a decepção e a esperança ou a mágoa e o prazer...mas já não é o mesmo nem é derradeiro ou exclusivo...A alegria e dor serão sempre espectros da experiência humana, mas a consciência pode colocar-nos acima desse conflito...e é aí que entra a alma...A Visão imparcial da Deusa…
Não julgo ninguém, nenhuma mulher, mas não podemos andar sempre a esgatanharmo-nos por simples discordâncias...Principalmente vejo que não sabemos respeitar as nossas diferenças...seja de idade, seja de posição...Não vemos as três deusas em dinâmica nas nossas vidas e as suas respectivas posições que se complementam...Não vemos que cada cada uma reflecte um aspecto do conhecimento da Deusa em si e em nós...As três fases da vida da Mulher…e vejo que não há ainda respeito pela mulher mais velha sem que a mais nova não venha dizer que não há hierarquias...entre mulheres. É como na família, a avó a mãe e a filha...é só isso...mas hoje queremos que seja tudo igual e democrático...E atiramos as nossas experiências á cara umas das outras como se só a nossa fosse válida e verdadeira. Não abrimos espaço para a diferença. Estamos eivadas do vício da sociedade patriarcal que nos dividiu e nem damos por isso…tornamo-nos revolucionárias e não evolucionárias…
Pessoalmente sinto-me ferida na minha idoneidade, mas notem, não é por ninguém em especial, nenhuma de vocês em particular...de forma alguma...é pelos pressupostos, pelas misturas, pela confusão que geramos entre nós mas nenhuma é a culpada nem causadora de nada...é assim que as coisas ainda são...estamos impregnadas dos valores do Sistema, de valores que ainda nos aprisionam…
Vamos acabar com a CULPA E COM O ERRO…
Vamos trabalhar em nós e ouvindo as outras…aprender a escutar…não apenas a argumentar…a fazer valer os nossos direitos e igualdades…
O problema maior para mim e por onde devemos começar a trabalhar é na nossa relação com a nossa Mãe…ou com a nossa filha…Porque é aí que o sistema nos destruiu na nossa união básica e ancestral...e porque enquanto não resolvermos a nossa relação com a mãe ou a filha...inflaccionamos tudo com essa guerra que trazemos dentro de nós e revoltamo-nos contra todas as que não se situam no nosso ângulo de visão. Eu não nego nada nem nenhum ângulo, apenas só devo falar do meu como complemento...não estou contra as mais novas...nem contra as mais velhas – todas temos o nosso campo de experiência muito válido, não podem é atirá-lo à cara das outras como sendo o único…e digo isto por MIM...para mim!
Por mim sim, apenas gostava que nos respeitássemos mais dentro das nossas características...como uma mãe uma filha ou uma irmã...
Sejamos nós ou representemo-no a nós como a filha, a mãe ou a velha…
sábado, 24 de setembro de 2011
OUVE-ME
Ouve me pois já bate a nona hora e neste insano horario sinto todos os meus pelos se arrepiarem, a um arrepio em mim.
Ouve pois por um momento andando na casa vazia, neste templo desolado, a noite senti que havia um mal me consumindo em fúria por dentro. Uma força, uma sensualidade e uma angustia assolam o meu peito, sinto me como uma mulher em chamas.
Ouve pois não posso ser pois o ser não existe e é apenas uma ilusão. Somos apenas reflexos da alma e da mémoria do mundo.
Ouve me pois, Cassandra, eu bem não te dizia quer ser e sentir são coisas diferentes se bem que não em separado.
Pois me ouve e deixa me contar minha mitologia insana.
Não Cassandra não foi a Roma que viestes. Viestes a Hera, a Grande Mãe que me interdita, pedir conselho. Pois agora me ouve e fuja deste santuário pois os traidores da Deusa já o estão a invadir e eles vem de toda parte.
Ouve me e busque-a na floresta e em seu intimo como faziam nossos antepassados.
Não construa templos de pedra pois a Deusa os derrubara do alto do seu trono sagrado.
Vai e passa essa mensagem as outras:
O Templo da Deusa deve ser vosso coração.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
NÃO, NÃO MEU CARO LEITOR...EU JAMAIS ABANDONAREI O CULTO DA RAINHA DOS CÉUS
Perante isto, o profeta escreveu uma carta aos maridos para que eles impusessem a disciplina religiosa às mulheres. Mas eles, reunidos em assembleia, responderam ao profeta: “Quanto à mensagem que nos mandaste, sobre as ordens de Yaveh (no que toca aos bolos à Rainha dos Céus), nós nem te queremos ouvir. Pelo contrário: continuaremos a fazer como os nossos pais fizeram. No tempo deles havia pão com fartura, eram felizes e sem nenhuma desgraça. Desde que deixámos de oferecer bolos à Rainha dos Céus, começámos a faltar de tudo e morremos pela espada e pela fome.”*
*citando Franz Cumont, “Las Religiones Orientales y el Paganismo Romano”, Madrid, Akal Universitária, 1987
in “Cinco Mil Anos de Cultura a Oeste”, Moisés Espírito Santo, Assírio & Alvim, 2004
O CORAÇÃO DE LILITH
(Coração de Lilith)
Ela veio das sombras do mundo ideal
O anjo negro do lado negro do amor
Atravessando o mar de lágrimas
Um milhão de anos
Venha com ela e dance na luz da lua
E você estará perdido desse mundo para sempre
Ponha sua mão na mão dela
Venha e voe agora com os anjos
Eleve-se novamente agora como a fênix
Seu o amor que vive para sempre
No coração que nunca morre, nunca morre
Coração de Lilith!
Venha e afogue-se no lago da sua paixão
Venha e morra assim você pode renascer
Ouça a canção da sereia
Ouça o chamado do anel da morte
Ela é uma bruxa, uma sereia e uma vampira
Ela veio das estrelas distantes
Para capturar seu coração
Para quebrar seu coração
Venha agora e voe com os anjos
Eleve-se novamente agora como a fênix
Seu o amor que vive para sempre
No coração que nunca morre, nunca morre
Coração de Lilith!
Venha e beije, beije os lábios de Lilith
Venha e beije e você não mais irá
Sentir o fogo
Do desejo
Venha agora e voe com os anjos
Eleve-se novamente agora como a fênix
Seu o amor que vive para sempre
No coração que nunca morre, nunca morre
Coração de Lilith!
Venha agora e voe com os anjos
Eleve-se novamente agora como a fênix
Seu o amor que vive para sempre
No coração que nunca morre, nunca morre
Coração de Lilith!
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
O LEGADO DO DIVINO FEMININO
Evidências arqueológicas e históricas revelam e comprovam que a mulher foi o centro de vida humana e espiritual durante milênios. Em todas as culturas antigas do mundo inteiro encontram-se representações da Deusa como a Criadora Divina. A mulher – como Sua representante na Terra – era reverenciada pela sua habilidade de gerar do seu sangue menstrual uma nova vida, criando o alimento do recém-nascido do seu próprio corpo, bem como pela sua criatividade, que resultou de inúmeras invenções e descobertas. A sintonia do ciclo com as fases da lua simbolizava a sua estreita conexão com a Deusa lunar, enquanto a sua facilidade em perceber os sinais cósmicos, em se comunicar com as forças da natureza ou com os espíritos ancestrais lhe conferia papel essencial nos cultos e nas práticas espirituais.
A representação do Criador por uma figura masculina é um fenômeno recente na história da humanidade, pois durante pelo menos 35.000 anos Deus foi representado como sendo mulher. Para compreendermos melhor esta ousada afirmação (o que para muitos parece uma blasfêmia ou heresia), precisamos voltar no tempo e no espaço, aos primórdios da humanidade, antes do Verbo, quanto existia somente a Mãe.
(...) Após os períodos paleolítico, que durou mais de 30.000 anos, e neolítico, cuja duração foi em torno de 10.000 anos, ocorreu a grande mudança que substituiu as sociedades de parceria por sistemas sociais de dominação, violência e autoritarismo hierárquico e patriarcal.
(...) As civilizações e as culturas milenares da Deusa foram mutiladas, seus templos e estatuetas destruídos e os mitos e lendas modificados e deturpados. Tornou-se necessário estabelecer uma nova hierarquia divina para justificar a inferiorizarão e subordinação das mulheres. A Deusa foi relegada cada vez mais à condição de esposa, amante, mãe ou filha dos novos deuses masculinos, senhores da guerra, dos raios e dos relâmpagos. Não só a Deusa não era mais a Mãe Suprema, como também foi transformada em padroeira da guerra. A Grande Mãe foi dicotomizada na Mãe Boa que dava a vida e a alegria e na Mãe Terrível que trazia destruição e morte, diversificada em várias deusas guerreiras. Estas deusas não defendiam as mulheres, nem as inspiravam para afirmarem sua independência. Elas apoiavam e fortaleciam os guerreiros, sendo poe eles invocadas antes dos combates. Athena, Durga, Morrigan, as Amazonas e outras deusas guerreiras da Europa, Ásia, África, América são criações mitológicas recentes, distorcendo suas antigas funções. As deusas guerreiras não representam aspectos imanentes da Grande Mãe, mas arquétipos da violência dos deuses masculinos e do modelo recente do guerreiro.
Até mesmo a sabedoria representada pela face Anciã da Grande Mãe passou a ser atributo do Deus Pai, como foi descrito na versão patriarcal do nascimento de Athena, não mais do ventre da sua mãe Metis, a deusa pré-helenica da sabedoria, mas da cabeça do seu pai Zeus, Senhor absoluto do Olímpo grego. Em outros mitos, a deusa passou a ser assassinada pelo seu filho que assume o seu poder ou humilhada pelo estrupo, aceitando a submissão.
(...)
(...) Por volta do ano 200 a.C. todas as imagens ligadas ao Divino Feminino tinham desaparecido, a grande biblioteca de Alexandria foi queimada pelos cristãos, e filósofas como Hipácia, torturadas pelos monges cristãos, que alegavam que as fêmeas não podiam ensinar aos homens, por contrariarem as leis de Deus. Tudo o que levasse o rótulo de feminino era considerado inferior, perigoso e precisando ser dominado, controlado ou eliminado. Negava-se até mesmo a existência da alma na mulher, considerada a origem de todos os males, causadora da expulsão do Paraíso e do sofrimento da humanidade...
(...)
O retorno da Deusa
A mudança da condição da mulher pela sua emancipação intelectual, social e política permitiu o reconhecimento e a aceitação e reintegração dos valores ditos femininos em todas as áreas da vida humana. Este processo está favorecendo a manifestação do Sagrado Feminino, como uma fonte de renovação para os indivíduos e a sociedade.
A redenção do feminino diz respeito tanto à mulher quanto ao homem. A excessiva ênfase no masculino manifestada por meio do pensamente racional, analítico e científico levou a humanidade a atitudes antiecológicas. Uma nova consciência ecológica surgirá tão somente quando acrescentarmos uma compreensão intuitiva e uma conexão espiritual com a Natureza. Lembrando o antigo mito e a moderna teoria de Gaia, poderemos realmente sentir, ver e reverenciar Terra como um organismo vivo, unindo os elementos, as forças da Natureza, os seres de todos os reinos e os homens rumo ao Divino.
Para que os valores femininos possam ser plenamente vividos são necessárias profundas mudanças em todas as áreas (social, políticas, educativa, familiar, cultural, econômica e espiritual). Pelo fato de as mulheres terem sido “alimentadas” apenas por imagens masculinas do Divino ao longo dos últimos 3.000 anos, é imprescindível o reconhecimento, a aceitação, a divulgação e a integração do Sagrado Feminino, buscando nos antigos mitos, lendas e tradições da Deusa as manifestações e o respaldo do eterno princípio divino feminino.
Encontrando sua Deusa Interior, as mulheres encontram a si mesmas, reconhecendo e aprendendo como usar seu poder sagrado e a sua sabedoria ancestral. O arquétipo da Grande Mãe nas suas múltiplas manifestações está no nosso inconsciente – individual e coletivo. Ao encontrá-lo, começaremos a lembrar nosso próprio inicio, o contato inicial e a presença amorosa e protetora da nossa mãe carnal, acessando assim a Mãe Divina. Por intermédio de sonhos, rituais, meditações e visualizações poderemos explorar nossos registros inconscientes, expandindo nossa consciência e vivendo melhor o nosso mito pessoal.
O reconhecimento do sagrado Feminino não é apenas um problema particular ou uma busca individual de algumas mulheres, ma sim de toda a humanidade. Trata-se da integração de todo o ser humano aos valores inerentes à natureza humana, unindo os princípios masculino e feminino, emoção e razão, Eros e Logos, amor e poder, para vencer a grande ilusão da separação e o dogma ultrapassado da dualidade.
Para que haja realmente uma nova era planetária, com uma nova mentalidade e consciência, é preciso usar a força feminina do amor para abrir mentes e corações. O amor à vida, ao próprio Eu, aos outros, aos animais e plantas, a todas as formas de vida, à Terra, à Grande Mãe.
Emerge da sabedoria e compaixão do Sagrado Feminino essa visão do amor todo abrangente e poderoso, que reformula os antigos sistemas de crenças, conceitos, ideologias, comportamentos, em busca de um novo mundo, sem hierarquia, competição ou dualidade, mas em amorosa e verdadeira parceria, realizando assim o casamento sagrado do Céu e da Terra, da Deusa e do Deus, da mulher e do homem.
· Mirella Faur (O Legado da Deusa, p.19,25,26,27,30,32,33)
ENCONTRADO in:
http://www.livros.cpecs.org/index_arquivos/Page312.htm
A SACERDOTISA MEDÉIA
The Magical Knowledge of Medea
Maria Regina Candido
Abstract
The Medea is one the most remarkable and important imaginative works in all western literature. Medea is presented, initially as victim, but she is able to strike and pursue her revenge on a heroic homeric way.
Resumo
Medéia é um dos mais marcantes trabalhos de valor imaginativo da literatura ocidental. Medéia é apresentada, inicialmente, como vítima, mas, ela é capaz de lutar e perseguir a sua vingança como um herói homérico.
Palavras-chave: Medéia - Magia - Mito - Grécia - Tragédia - Mulher grega
Key words: Medea - Magic - Myth - Greek - Tragedy - Greek woman
De acordo com Jean-Pierre Vernant mito se apresenta como um relato vindo de épocas passadas e nesse sentido, o relato mítico não resulta da invenção individual e nem da fantasia criadora, mas da transmissão e da memória de uma sociedade (VERNANT, 2000: 12). Logo, para compreendermos o significado do mito de Medéia, temos a necessidade de interagir com a sociedade que o produziu.
A tragédia Medéia, apresentada no teatro de Dionisos em 431 a C., nos remete às práticas da magia, aos sentimentos femininos e à condição social da mulher grega no período clássico. Este tema integra o que se convencionou denominar de História de Gênero tornando possível demonstrar que a história das mulheres podia ter suas próprias heroínas que atuaram mesmo em condição de subordinação à figura masculina. Elas souberam manipular o poder ao qual estavam submetidas atuando por lances, empregando táticas e subvertendo a ordem.
Para apreendermos o lugar social da mulher na sociedade grega do período clássico devemos inseri-la em seu contexto social de produção (HILL, 1995: 21). Isto porque existe uma heterogeneidade de informação quando se busca referências sobre as mulheres na antigüidade, os dados variam dos poemas à prosa, do período arcaico ao clássico e de região. Embora haja uma diversidade de informação é possível estabelecer alguma generalização diante das inúmeras atribuições a elas destinadas como a procriação entre outras. Atribuições e responsabilidades assumidas em relação ao passados, presente e ao futuro de uma comunidade. Consideramos a possibilidade da construção da história das mulheres na atualidade e para atingir este fim, devemos compreender a sua atuação junto as sociedades do passado como a comunidade políade dos atenienses, buscando subsídios que nos possibilitem repensar a condição social da mulher no nosso tempo-presente.
Retornando a abordagem do mito: compreendemos a narrativa mítica da sacerdotisa de Hécate como um registro de memória que nos traz fragmentos do passado dos gregos. A memorização de um mito se faz em forma de poesia como na epopéia homérica que atuou primeiro como poesia oral, composta e cantada diante de um público que a reproduziu por gerações, através da participação ativa dos aedos - poetas cantadores, inspirados pela divindade denominada de Mnemosýne. Somente mais tarde é que a escrita alcança o mito resultando no estabelecimento de uma vertente oficial definida pelo texto escrito. Entretanto, devemos ressaltar que a narrativa mítica diferencia-se do texto poético pelo fato de comportar variantes, versões distintas, ou seja, permite ao narrador acrescentar e modificar a narrativa de acordo com o público ao qual se destinava (VERNANT, 2000: 13).
O poeta, ao compor a sua dramaturgia, deixou vestígios de acontecimentos do passado dos quais foi testemunha. Para nós, o passado tornou-se um país estrangeiro no qual tudo é feito de modo diferente. Entretanto, o registro de memória do poeta, em forma de poesia, nos permite estabelecer uma aproximação com a cultura dos helenos. Reconhecemos que as informações sobre as mulheres foram compostas pelos homens, os quais tiveram uma atitude de não nomeá-las, tornando-as uma realidade silenciosa. O poeta Eurípides, no entanto, as coloca em primeiro plano, embora no desempenho de atividades que os homens definiram e determinaram que elas atuassem, ou seja, o espaço fechado do gineceu no exercício dos cuidados domésticos. Acreditamos que os vestígios de memória registrados pela tragédia Medéia nos possibilitam repensar a atuação da mulher subvertendo a ordem estabelecida.
Eurípides expõe a protagonista trágica como uma mulher abandonada pelo marido que desejava contrair novas núpcias com a jovem princesa de Corinto como nos indica a citação: "pois, encontra-se órfã sem cidade, ultrajada pelo marido, sem mãe e nem irmão para abrigá-la do infortuno" (Eurípides, Medéia, v. 255). A situação nefasta de Medéia a coloca como esposa abandonada, mãe de duas crianças em situação de exílio e mulher estrangeira. O drama de Medéia, exposto logo no início da tragédia, visava despertar a comoção nos espectadores do teatro de Atenas, pois a infidelidade e a traição masculina não eram temas incomuns na sociedade grega, assim como não deixou de ser nos dias atuais. No caso da sacerdotisa de Hécate, o agravante estava no fato dela estar na condição de mulher estrangeira, longe de seus familiares, a ela estava sendo exigido que cedesse a sua posição de esposa para uma mulher mais jovem e de status social em melhores condições.
A tragédia Medéia tem por princípio o agon, principal requisito da vida do ateniense que se manifesta nas assembléias e tribunais. Nesta dramaturgia, o agon envolvia questões relacionadas à escolha e a ação humana que provinha da ética e obrigava o espectador a fazer uma escolha: a justiça ou a vingança. O poeta nos apresenta a reação dramática de uma mulher, inconformada com o abandono do marido que não considerou todo um passado comum de aventuras. Medéia praticou vários crimes e transgressões em nome do amor que sentia por Jasão.
No prólogo tomamos ciência da trajetória de Medéia que veio da remota região de Colquida para o exílio em Corinto. Naquela região, considerada bárbara, ela conheceu Jasão e, movida por uma avassaladora paixão, traiu seu pai ao ajudar o herói Jasão a conquistar o Velocino de Ouro através da arte da magia e encantamentos. O ardil, usado por Medéia foi descoberto, obrigando-a a fugir em companhia de seu amado. Seu pai, o rei Aeetes, empreende uma perseguição ao casal pelos mares, porém, ao fugir, Medéia havia trazido o seu irmão Absyrto, que foi morto em meio à viagem. Ela o executou e esquartejou o seu corpo, jogando os pedaços ao mar para atrasar a perseguição de seu pai. A fuga teve êxito, porque o rei interrompeu a perseguição para recolher os pedaços do corpo do filho, vendo diante de seus olhos o crime de Medéia que pôs fim a sua descendência.
O poeta nos expõe uma mulher, cujo comportamento integra o espaço do desvio ao padrão estabelecido e esperado pelo homem grego. Ao evidenciar este crime, o poeta traz à memória dos atenienses o fato de que a protagonista havia estado envolvida em outros crimes de morte. No episódio ocorrido na região de Iolco, Medéia ardilosamente havia providenciado a morte o rei da pior maneira que um ser humano poderia morrer (Eurípides, Medéia, v. 485): através das mãos de suas próprias filhas. Estas foram persuadidas a acreditar que esquartejando o corpo de seu pai, o rei Pélias, em meio a ervas e encantamentos, conseguiriam a proeza de rejuvenescer o velho rei; o resultado foi a destruição de todo o palácio (Eurípides, Medéia, v. 485).
Por este crime, o casal foi perseguido pelo filho do rei morto. O atendimento ao pedido de asilo em Corinto foi aceito na condição de Medéia fazer uso de seus conhecimentos mágicos para cessar a seca, a fome e a infertilidade que assolava a região.
Nos interrogamos sobre o objetivo da mensagem do poeta ao nos expor uma mulher estrangeira, atuante, detentora de saberes mágicos e considerada mulher de feroz caráter, de hedionda natureza e espírito implacável (Eurípides, Medéia. v. 100). Medéia representa a mulher envolvida em circunstâncias hostis, saiu da casa de seus pais muito jovem para acompanhar o seu marido. Acreditamos que houve uma empatia entre o personagem Medéia e o público feminino, pois casar jovem era uma situação familiar com as quais as mulheres de Atenas, presentes no teatro, se identificavam. Ao assistir uma dramaturgia, o ouvinte se identificava emocionalmente com o drama vivenciado pela protagonista, a ponto de perder o julgamento racional em prol da satisfação e de interesses emotivos, gerando uma tensão entre a simpatia e o julgamento justo.
No momento em que a protagonista discursa para o coro que representa as mulheres de Corinto, ela expõe uma tradição na qual todas se reconheceriam, pois desde muito jovem eram destinadas à subordinação à autoridade masculina. O responsável pela família providenciava o seu casamento para o qual era preciso um dote com o objetivo de comprar um marido e cabia à jovem aceitá-lo como senhor com total controle sobre a sua pessoa.
O acordo de casamento acontecia entre os homens e as jovens não tinham a oportunidade de escolher o marido, o que levou Medéia a afirmar que de todos os que têm vida, a mulher, seria o ser mais infeliz pela obrigação de aceitar um homem a quem não podiam repudiar, visto que a mulher divorciada não era bem vista nesta sociedade (Eurípides, Medéia, v. 235). Quando chegavam na nova residência não sabiam o que as aguardava, por não terem sido bem instruídas pelos familiares, tinham por obrigação adivinhar qual a melhor maneira de convívio com o esposo. A jovem tendo a sorte de conseguir um bom esposo teria uma vida invejável, caso contrário, viveria sob o jugo da violência para a qual a morte tornar-se-ia o bem mais suave (Eurípides, Medéia, 235-240); em caso de gravidez, por exemplo, a protagonista afirmava preferir lutar com escudo três vezes a parir uma só vez (Eurípides, Medéia, v. 250).
O lamento de Medéia tornou-se público através do uso da palavra, da retórica que era um instrumento fundamental para a construção do drama visando expor o cotidiano da mulher ateniense. Diante da sua falta de opção e liberdade, as mulheres, por serem retiradas muito jovens da casa paterna e serem confinadas no interior do oikos, atuariam como mulher e esposa devendo, por obrigação, cuidar dos escravos, do marido, dos filhos e exercer com eficácia as atividades domésticas (Eurípides, Medéia v. 245).
O padrão definido como ideal para o comportamento feminino foi construído pelo homem grego que esperava que ela seguisse o modelo mélissa, a saber: ser submissa, silenciosa e passiva, atributos contrários ao comportamento masculino definido como dominante, ativo, agressivo e agente de decisão.
No entanto, o comportamento de Medéia trazia à memória dos atenienses o mito de Pandora, de quem, afirmaria Hesíodo, descender toda a funesta geração de mulheres (Hesíodo, Teogonia, v. 585) e que Eurípides complementava ao afirmar serem as mulheres habilíssimas artesãs de todo os males (Eurípides, Medéia, v. 409). Essas palavras marcavam o inconformismo da protagonista com a sua atual situação, Ela expressava o seu desagrado ameaçando os seus inimigos, a saber: três de meus inimigos matarei: o pai, a jovem e meu marido (Eurípides, Medéia v. 375), e, ao mesmo tempo, alertava que ninguém a considere fraca, sem força, sossegada diante do infortúnio, mas de outro modo perigosa contra os seus inimigos (Eurípides, Medéia v. 410). A partir destas palavras, a protagonista de Eurípides, decidiu pela ação de vingança, atitude reconhecida nos heróis trágicos em sua busca desesperada por recuperar a honra ultrajada como o guerreiro Ajax de Sófocles.
Ajax e Medéia apresentam atitudes semelhantes: não suportam a idéia de serem vítimas de injustiças e de traição. Ambos não toleram a etimasmene - falta de respeito (Eurípides, Medéia, v. 1355) de seus inimigos que riem de suas atuais condições de fracasso; no caso de Medéia, por estar só - mone (Eurípides, Medéia v. 513) e abandonada - eremos (Eurípides, Medéia v. 255). Medéia decidiu agir com violência por não querer causar riso deixando impunes os seus inimigos (Eurípides, Medéia v. 1050). A sacerdotisa de Hécate deixava transparecer que a mais grave atitude diante de uma vítima de desprezo e fracasso era o riso - gelos (Eurípides, Medéia v. 383), e somente a vingança cruel através da morte poderia reverter esta situação tornando-a vitoriosa diante dos inimigos (Eurípides, Medéia, v. 395).
A semelhança entre Ajax e Medéia não é mera coincidência, pois o poeta coloca na personagem atitudes masculinas, mesmo sendo inapropriado para uma mulher agir com inteligência e coragem. O uso da palavra e sua atitude decisiva remetem às ações de heróis que atuavam de forma individual para solucionar uma situação imediata, como nos indicam os termos como ergasteon (Eurípides, Medéia v. 791) definido como algo que deve ser feito; a palavra tolmeteon (Eurípides, Medéia v. 1051) nos remete a algo ousado a ser realizado. O verbo kteno significa a decisão de, em tempo breve, matar, extinguir, exterminar. Com reações próprias de seres passionais, Medéia exibia o seu temperamento movido por forte emoção - thymos, sentimento que marcava toda a trajetória da narrativa, considerada fora da razão, da justiça coletiva, da justa medida; uma ação identificada em povos que viviam fora da cultura. Jasão reforçava este pensamento ao reafirmar que a grande dádiva que ele, cidadão grego, havia ofertado à Medéia foi tê-la tirado de terras bárbaras trazendo-a para residir na cultura helênica que conhecia a justiça, a ordem e as leis (Eurípides, Medéia, v. 535).
Medéia muda de atitude visando atingir seu objetivo. Ela passa a agir de acordo com o modelo estabelecido pelos homens, ou seja, submissa, obediente, deixando transparecer que aceitava o destino determinado por Jasão e Creonte. Ela prometia acatar a ordem do rei que havia determinado a sua saída de Corinto (Eurípides, Medéia, v. 927). Para reafirmar o seu arrependimento e compromisso, Medéia envia, através de seus filhos, o presente de núpcias (envenenado) para a noiva de Jasão, e desta maneira ela mata a princesa e o rei.
O discurso dissimulado tem por princípio a arte da persuasão, da força da palavra que convence e permitindo a realização de sua vingança. Como mulher, ela não tinha a capacidade do uso da força física precisando, portanto, buscar meios alternativos para fazer valer a sua vontade e vencer o inimigo. A única solução foi usar o conhecimento do qual provinha sua habilidade e o saber que dominava: a arte da magia no uso de filtros e venenos, cujo conhecimento fazia parte de sua tradição familiar por ser sobrinha de Circe, sacerdotisa de Hécate e neta de Hélios.
Sua ascendência lhe forneceu força, coragem e magia, atributos essenciais para sacrificar e enterrar os filhos no santuário de Hera Akraia. De acordo com os mitógrafos anteriores ao final do V século, os filhos de Medéia teriam sido mortos pela população de Corinto para vingar a morte de seus soberanos. Entretanto, o poeta Eurípides estabeleceu uma nova vertente mítica mostrando que as crianças haveriam sido executadas como sacrifício aos deuses pela própria sacerdotisa de Hécate. Talvez uma forma cruel e eficaz de vingança contra o abandono do marido e uma maneira de expor o quanto ela era terrível com os seus inimigos, pois, matando os filhos ela extinguia a descendência de Jasão que reconhecia: sem filhos você me destruiu (Eurípides, Medéia, v. 1325).
O poeta coloca Medéia fugindo em direção à Atenas, lugar em que a sacerdotisa utilizaria os seus saberes mágicos a serviço do rei Egeu, ao afirmar: cessarei o teu ser sem filhos e te farei semear filhos, tais drogas conheço (Eurípides, Medéia, v. 715). Esta informação nos remete à proposta de Eurípides de usar o palco trágico como o espaço das denúncias relativas às transformações, que aconteciam na sociedade ateniense no final do V século.
Analisando a personagem Medéia, algumas questões nos chamam a atenção: a protagonista não representa a mulher grega devido a sua atitude considerada bárbara, como nos informa as palavras de Jasão ao afirmar que nenhuma mulher grega ousaria matar os próprios filhos (Eurípides, Medéia, v. 1340). Então que tipo de mulher ela representaria?
Medéia usa a palavra para convencer, apela para a morte visando remover obstáculos, usa da astúcia, da faca e do veneno que, no conjunto, não formam poderes sobrenaturais. As práticas mágicas de Medéia nos indicam o domínio e o conhecimento de ervas, infusões e raízes que não denotam possuir poderes mágicos. Este domínio e saber poderiam ser encontrados em algumas mulheres que circulavam em Atenas, sendo comum entre as mulheres atenienses e estrangeiras que necessitavam do uso de plantas e ervas para fins terapêuticos.
Medéia representava a mulher estrangeira que detinha esta habilidade e o conhecimento de sua função e eficácia. A documentação textual nos indica várias mulheres míticas que detinham o conhecimento e o domínio de ervas e filtros para encantamentos como Helena e Circe. Este saber, que se estendeu por tradição às mulheres, consistia na habilidade em manejar o cozimento das ervas, folhas e raízes para fazer infusões e filtros, que, devido ao seu poder de cura, passaram a ser considerados mágicos. Acreditamos que a ausência de conhecimento específico do funcionamento da natureza feminina fomentou a necessidade do domínio do uso das ervas pelas mulheres, com o objetivo de atender aos seus problemas de saúde.
O conhecimento das ervas atendia tanto às mulheres casadas quanto às prostitutas e hetairas que necessitavam saber que o efeito de folhas da família das mentas era muito útil para os problemas menstruais; as dores de varizes eram amenizadas com fricção de folhas de hera; a cebola selvagem e o alho triturados com óleo e vinho, tornavam-se eficazes para conter sangramento e secreção vaginal; a erva artemísia atuava sobre o ovário e plantas como a belladona podiam ser usadas como calmante, mas que em porções concentradas tornavam-se abortivas; já as ervas da família do ópium eram eficazes como analgésicos para as mulheres em trabalho de parto.
Temos por suposição que Eurípides expõe na habilidade de Medéia, que esta habilidade era um saber prejudicial à comunidade masculina. O seu desagravo seria a extensão do temor dos homens de Atenas pela participação ativa das mulheres junto ao uso das ervas e ungüentos considerados mágicos. A preocupação do poeta com o uso das raízes pode estar direcionada às ervas específicas que visavam despertar o interesse sexual. Um episódio desta natureza pode ser observado na citação da Ilíada (XIV, 198) quando uma mulher solicita à deusa Afrodite que a encante com o desejo e o feitiço do amor para que ela possa usar deste ardil com o seu amado. Acreditamos que esta mulher tenha sido aconselhada a usar as folhas de orquídias trituradas com vinho, um eficaz medicamento contra a impotência masculina - o termo orchis significa testículo em grego - e, no caso das porções/kukeon e filtros mágicos, ao serem ingeridos pelo ser amado, podiam ter como resultado a sua morte.
As ervas consideradas mágicas usadas pelas mulheres em forma de banhos e ungüentos, permaneciam em seu corpo em meio a fragrâncias aromáticas, mas havia a possibilidade de causar problemas na virilidade masculina, quando se tratava de ungüentos contraceptivos que podiam fomentar a impotência masculina. Havia plantas, ervas e raízes que também eram conhecidas por suas virtudes apotropaicas e usadas como amuleto contra a má sorte e roubos. Umas faziam prosperar os negócios outras eram eficazes para arruinar a saúde e as atividades do inimigo.
Concluímos que o poeta utiliza o espaço do teatro de Atenas, através da personagem Medéia, para fazer uma denúncia, alertando para a emergência de antigos saberes integrando novas práticas sociais como o uso do conhecimento mágico das ervas e filtros para atender desejos individuais. O uso das práticas mágicas das ervas e raízes tanto podia atender às necessidades de medicamentos para curar as doenças femininas, quanto ser usado como veneno para efetuar uma vingança. Medéia com a sua sophia expõe a ambigüidade de um saber que poderia ajudar um amigo com os seus benefícios, mas poderia ser fatal e destruir os inimigos. Como nos afirma Medéia, temido será sempre quem possui este saber, pois aquele que provocou este ódio não celebrará facilmente a bela vitória.
Documentos
EURÍPIDES. Medeía. Trad. Jaa Torrano, ed. bilíngüe. São Paulo: Hucitec, 1991.
HESIODE. Teogonie. Paris: Belles Lettres, 1954.
HOMERO. Iliade, Odissée. Paris: Les Belles Lettres, 1974.
Bibliografia
BERNAND, A. Sociers Grecs. Paris: Fayard, 1991.
COULET, C. Communiquer en Grece Ancienne. Paris: Belles Lettres,1996.
DETIENNE, M. Os Mestres da Verdade. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
FINLEY, M. I. O Mundo de Ulisses. Lisboa: Presença,1988.
GRMEK, M. Diseases in the Ancient Greek World. London: John Hopkins, 1991.
HAVELOCK, E. A Revolução da Escrita na Grécia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.
HILL, Bridget. "Para onde vai a História da Mulher?" In: Varia História, Belo Horizonte: FAFICH, 1995, n.º 14, p. 9-21.
MARAZZI, M. La Sociedad Micenica. Madrid: Akal, 1982.
VERNANT, J. P. O Universo os deuses os homens. São Paulo: Cia das Letras, 2000
IN: http://www.revistamirabilia.com/Numeros/Num1/medeia.html
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
O ENCONTRO COM A MÃE
"Ela, a Grande Deusa, não pode ser morta, pois é imortal; pode decidir retirar se por algum tempo, mas Ela é e será para sempre"
(O Incêndio de Tróia - Marion Zimmer Bradley )
"O encontro com a Mãe Divina é uma etapa essencial para a nossa consciência, totalmente incompreensível para o intelecto. Porque a Grande Mãe é o Todo. Ela é o próprio Corpo da criação, Ela sustem o universo, a sua Essência está em todo lado. E a sua Essência é Amor puro. Ela é a Matriz última, da qual somos todos filhos.
(…)
Ela levanta para nós o véu da Ilusão, e convida-nos a vê-La em tudo. Ela reina sobre todas as manifestações do elemento água, quer sejam físicas ou mais subtis.”
( Marie Elia - Rencontres Avec la Splendeur)
MÃE DE TODAS AS MULHERES
A GRANDE DEUSA, A ÚNICA DEUSA...
A Deusa dos primórdios que as religiões do mundo dividiram em centenas de deusas e "aparições" em toda a Terra. E que os católicos transformaram num dogma..
MAS QUEM DIZ DEUSA DIZ TAMBÉM MULHER....SIM, AS MULHERES SÃO DEUSAS...MAS A GRANDE DEUSA É SÓ UMA...
"Quem diz religião da Mulher diz também sacerdotisa e maga, ou seja, intermediária cósmica. O mistério da mulher não se limita ao seu sexo: ele impregna todo o seu ser, inclusive (e talvez principalmente) o seu psiquismo. A mulher é intuitiva, porque sensitiva e unida aos ritmos cósmicos que capta. Ela conhece os segredos da vida e da saúde, das plantas e das flores.
(...)
Ela compreende as profundezas da alma humana: em seu inconsciente e por meio dele, relaciona-se directamente com as grandes correntes psíquicas que que nos levam e trazem. Ela seduz e aterroriza ao mesmo tempo. Todo o homem traz em si um "retrato falado" da mulher absoluta e, se viesse a conhecê-la na realidade, não mais poderia dela se separar: seria fulminado. Aliás o homem busca-a durante toda a sua vida. São raríssimos aqueles que a encontram, e quase poderíamos dizer: felizmente! É esse sonho, esse ideal inacessível que ele projecta, por exemplo nas estrelas"
(...)
In Tantra - O Culto da Feminilidade de André Van Lysebeth
Publicada por Rosa Leonor IN: MULHERES & DEUSAS
RETIRADO DIRETO DO CORAÇÃO DA DEUSA
TEMPLO DA DEUSA DA ATUALIDADE
Entrevista realizada a Kathy Jones, sacerdotisa de Avalon, organizadora da Conferência anual da Deusa, pela BBC Somerset Sound's:
Kathy, sendo uma especialista como tu és, podes explicar-nos o que é exactamente a Deusa?
A Deusa é a face feminina do divino. Ela é a fonte de tudo o que é, Ela é a terra e o planeta, Ela é o céu e o paraíso.
Há quanto tempo existe esta ideia da Deusa?
Há cerca de 4 ou 5 000 anos, a Deusa era cultuada nas Ilhas Britânicas, na Europa e em muitos outros lugares do mundo.
Onde quer que encontremos vestígios neolíticos (círculos de pedras, pedras ou terras sagradas) todas eram especialmente dedicadas a uma antiga deusa em particular. Portanto a Deusa era conhecida por esse mundo fora há muito, muito tempo.
Foi só quando as culturas patriarcais se instalaram no mundo, removendo as manifestações do Seu culto, que nós deixámos de estar em contacto com a Sua essência.
Como se relaciona a Deusa em particular com Glastonbury?
O modo como encontramos a Deusa em Glastonbury é através da própria paisagem, da forma dos montes e dos vales. Glastonbury é uma cidade situada num pequeno grupo de colinas, composto pelo Tor, pela colina do Cálice (Chalice Hill) e pelas Wearyall Hill, Windmill Hill e Stone Down. Estas Colinas erguem-se na planície que rodeia Glastonbury, e quando olhamos para a sua forma, podemos ver as diferentes linhas dos seus contornos. Uma das formas observáveis é a de uma gigantesca mulher deitada de costas sobre a terra. É a Deusa Mãe deste lugar.
Apenas a encontramos aqui, em Glastonbury, ou será que Ela está também noutros sítios?
A Deusa está em todo o lado. Podemos ver belas paisagens em qualquer lugar, mas alguns sítios são particularmente belos. Glastonbury é um dos lugares onde A podemos ver de modo mais óbvio, porque Ela está aqui, na própria paisagem. Este sempre foi um lugar de peregrinação, pessoas de todas as confissões religiosas vêm até cá. Portanto, apesar da Deusa estar aqui na própria paisagem, as pessoas vêm, não aparentemente por isso, mas porque isto é um centro espiritual.
Existe algo de muito forte na energia deste lugar que atrai as pessoas.
Acha que aquilo que sente quando está em Glastonbury é devido à presença da Deusa?
Penso que sim. Porque Ela é uma presença muito poderosa. Outras pessoas dirão que vêm cá por outras razões.
Quando vim pela primeira vez, há cerca de 30 anos, ninguém falava na Deusa.
Todas as histórias sobre Glastonbury eram sobre personagens masculinos. Era uma tradição muito masculina. A consciência da Deusa apenas despertou nos últimos 20 anos.
O que terá provocado este ressurgimento da Deusa?
A meu ver, esse despertar veio da própria Deusa. Ela pede-nos para A relembrarmos. Muitas pessoas, particularmente mulheres, são chamadas a Glastonbury, para A relembrarem, para virem aqui e tornarem-se sacerdotisas de novo. Em termos práticos, as coisas começaram a acontecer. Uma escultora chamada Philippa Bowers começou a criar esculturas da Deusa. Na Glastonbury Assembly Rooms, tivemos uma exposição de quadros representando a Deusa. Há umas largas centenas de anos que tal não acontecia.
Também eu própria, e outras pessoas, escrevemos livros e peças de teatro sobre a Deusa. Houve uma série de factores que se juntaram em simultâneo.
Será que as mulheres têm mais conexão com a Deusa do que os homens?
Mulheres, homens, crianças, todos são iguais perante a Deusa – Ela não discrimina. De certo modo, é mais fácil para as mulheres conectarem-se com a Deusa porque nos identificamos na nossa forma e nos nossos corpos. Experienciamos os Seus ciclos na nossa vida. Mas para os homens é igualmente poderoso. Eu faço formação de sacerdotisas de Avalon, que é um curso aberto igualmente aos homens, e eles têm a sua própria relação com a Deusa – não existem diferenças perante Ela.
A Kathy foi uma das fundadoras do Templo da Deusa em Glastonbury. Como é que isso aconteceu e qual a sua finalidade?
Em Glastonbury, cada Verão, nós temos a Conferência da Deusa. Todo o tipo de pessoas vêm aqui nesse momento – artistas, poetas, actores, etc. Depois de alguns anos (completaram-se agora 11), pensámos que gostaríamos de poder celebrar a Deusa de forma contínua durante todo o ano e não apenas uma vez. Viajei muito e em quase todos os lugares onde estive há templos da Deusa, mas estão todos em ruinas. Então pensei em como gostaria de ir a um templo vivo da Deusa. Começámos por alugar um espaço, decorávamo-lo durante três ou quarto dias como um templo da Deusa, realizávamos cerimónias e depois desmontávamo-lo.
Foi assim durante uns 18 meses até que surgiu um espaço disponível na Glastonbury Experience, que é exactamente na rua principal, e pudemos finalmente ter um verdadeiro Templo da Deusa.
Em 2002, fizemos o nosso registo como um local de culto, como um templo da Deusa, o primeiro a ser formalmente reconhecido como templo da primitiva Deusa britânica, desde há cerca de 1 500 anos.
Dezembro de 2008
Nota: No seguimento da entrevista (disponível em audio aqui), Kathy Jones fala da importância da obra de Marion Zimmer Bradley, AS BRUMAS DE AVALON, que apresenta uma perspectiva feminina das antigas lendas e narrativas, e que teve um enorme impacto por todo o lado.
Embora ela não refira Jean Shinoda Bolen, creio que também esta psicóloga junguiana, particularmente com a obra TRAVESSIA PARA AVALON, teve um papel importantíssimo no ressurgimento do culto da Deusa e no recrudescimento do interesse por Glastonbury e outros lugares sagrados britânicos.
Uma outra obra de grande importância no despertar do interesse por este lugar, mas que não me parece que tenha chegado até nós, foi O SOL E A SERPENTE (THE SUN AND THE SERPENT), de Paul Broadhurst e Hamish Miller. Dan Brown, com O CÓDIGO DA VINCI, também deu uma boa ajuda.
Imagens: Google
IN: A DEUSA NO CORAÇÃO DA MULHER
RAINHA DA NOITE, SENHORA DA MAGIA
O dia 13 de agosto era uma data importante no antigo calendário greco-romano, dedicada às celebrações das deusas Hécate e Diana, quando Lhes eram pedidas bênçãos de proteção para evitar as tempestades do verão europeu que prejudicassem as colheitas. Na tradição cristã comemora-se no dia 15 de agosto a Ascensão da Virgem Maria, festa sobreposta sobre as antigas festividades pagãs para apagar sua lembrança, mas com a mesma finalidade: pedir e receber proteção. Com o passar do tempo perdeu-se o seu real significado e origem e preservou-se apenas o medo incutido pela igreja cristã em relação ao nome e atuação de Hécate. Essa poderosa Deusa com múltiplos atributos foi considerada um ser maléfico, regente das sombras e fantasmas, que trazia tempestades, pesadelos, morte e destruição, exigindo dos seus adoradores sacrifícios lúgubres e ritos macabros. Para desmistificar as distorções patriarcais e cristãs e contribuir para a revelação das verdades milenares, segue um resumo dos aspectos, atributos e poderes da Deusa Hécate.
Hécate Trivia ou Triformis era uma das mais antigas deusas da Grécia pré-helênica, cultuada originariamente na Trácia como representação arcaica da Deusa Tríplice, associada com a noite, lua negra, magia, profecias, cura e os mistérios da morte, renovação e nascimento. "Senhora das encruzilhadas" - dos caminhos e da vida - e do mundo subterrâneo, Hécate é um arquétipo primordial do inconsciente pessoal e coletivo, que nos permite o acesso às camadas profundas da memória ancestral. É representada no plano humano pela xamã que se movimenta entre os mundos, pela vidente que olha para passado, presente e futuro e pela curadora que transpõe as pontes entre os reinos visíveis e invisíveis, em busca de segredos, soluções, visões e comunicações espirituais para a cura e regeneração dos seus semelhantes.
Filha dos Titãs estelares Astéria e Perseu, Hécate usa a tiara de estrelas que ilumina os escuros caminhos da noite, bem como a vastidão da escuridão interior. Neta de Nyx, deusa ancestral da noite, Hécate também é uma “Rainha da Noite” e tem o domínio do céu, da Terra e do mundo subterrâneo. “Senhora da magia” confere o conhecimento dos encantamentos, palavras de poder, poções, rituais e adivinhações àqueles que A cultuam, enquanto no aspecto de Antea, a “Guardiã dos sonhos e das visões”, tanto pode enviar visões proféticas, quanto alucinações e pesadelos se as brechas individuais permitirem.
Como Prytania, a “Rainha dos mortos”, Hécate é a condutora das almas e sua guardiã durante a passagem entre os mundos, mas Ela também rege os poderes de regeneração, sendo invocada no desencarne e nos nascimentos como Protyraia, para garantir proteção e segurança no parto, vida longa, saúde e boa sorte. Hécate Kourotrophos cuida das crianças durante a vida intra-uterina e no seu nascimento, assim como fazia sua antecessora egípcia, a parteira divina Heqet.
Possuidora de uma aura fosforescente que brilha na escuridão do mundo subterrâneo, Hécate Phosphoros é a guardiã do inconsciente e guia das almas na transição, enquanto as duas tochas de Hécate Propolos, apontadas para o céu e a terra, iluminam a busca da transformação espiritual e o renascimento, orientado por Soteira, a Salvadora. Como deusa lunar Hécate rege a face escura da Lua, Ártemis sendo associada com a lua nova e Selene com a lua cheia.
No ciclo das estações e das fases da vida feminina Hécate forma uma tríade divina juntamente com: Kore/Perséfone/Proserpina/Hebe - que presidem a primavera, fertilidade e juventude -, Deméter/Ceres/Hera – regentes da maturidade, gestação, parto e colheita - e o Seu aspecto Chtonia, deusa anciã, detentora de sabedoria, padroeira do inverno, da velhice e das profundezas da terra. Hécate Trivia e Trioditis, protetoras dos viajantes e guardiãs das encruzilhadas de três caminhos, recebiam dos Seus adeptos pedidos de proteção e oferendas chamadas “ceias de Hécate”.
Propylaia era reverenciada como guardiã das casas, portas, famílias e bens pelas mulheres, que oravam na frente do altar antes de sair de casa pedindo Sua benção. As imagens antigas colocadas nas encruzilhadas ou na porta das casas representavam Hécate Triformis ou Tricephalus como pilar ou estátua com três cabeças e seis braços que seguravam suas insígnias: tocha (ilumina o caminho), chave (abre os mistérios), corda (conduz as almas e reproduz o cordão umbilical do nascimento), foice (corta ilusões e medos).
Devido à Sua natureza multiforme e misteriosa e à ligação com os poderes femininos “escuros”, as interpretações patriarcais distorceram o simbolismo antigo desta deusa protetora das mulheres e enfatizaram Seus poderes destrutivos ligados à magia negra (com sacrifícios de animais pretos nas noites de lua negra) e aos ritos funerários. Na Idade Média, o cristianismo distorceu mais ainda seus atributos, transformando Hécate na “Rainha das bruxas”, responsável por atos de maldade, missas negras, desgraças, tempestades, mortes de animais, perda das colheitas e atos satânicos. Essas invenções tendenciosas levaram à perseguição, tortura e morte pela Inquisição de milhares de “protegidas de Hécate”, as curandeiras, parteiras e videntes, mulheres “suspeitas” de serem Suas seguidoras e animais a Ela associados (cachorros e gatos pretos, corujas).
No intuito de abolir qualquer resquício do Seu poder, Hécate foi caricaturizada pela tradição patriarcal como uma bruxa perigosa e hostil, à espreita nas encruzilhadas nas noites escuras, buscando e caçando almas perdidas e viajantes com sua matilha de cães pretos, levando-os para o escuro reino das sombras vampirizantes e castigando os homens com pesadelos e perda da virilidade. As imagens horrendas e chocantes são projeções dos medos inconscientes masculinos perante os poderes “escuros” da Deusa, padroeira da independência feminina, defensora contra as violências e opressões das mulheres e regente dos seus rituais de proteção, transformação e afirmação.
No atual renascimento das antigas tradições da Deusa compete aos círculos sagrados femininos resgatar as verdades milenares, descartando e desmascarando imagens e falsas lendas que apenas encobrem o medo patriarcal perante a força mágica e o poder ancestral feminino. Em função das nossas próprias memórias de repressão e dos medos impregnados no inconsciente coletivo, o contato com a Deusa Escura pode ser atemorizador por acessar a programação negativa que associa escuridão com mal, perigo, morte. Para resgatar as qualidades regeneradoras, fortalecedoras e curadoras de Hécate precisamos reconhecer que as imagens destorcidas não são reais, nem verdadeiras, que nos foram incutidas pela proibição de mergulhar no nosso inconsciente, descobrir e usar nosso verdadeiro poder.
A conexão com Hécate representa para nós um valioso meio para acessar a intuição e o conhecimento inato, desvendar e curar nossos processos psíquicos, aceitar a passagem inexorável do tempo e transmutar nossos medos perante o envelhecimento e a morte. Hécate nos ensina que o caminho que leva à visão sagrada e que inspira a renovação passa pela escuridão, o desapego e transmutação. Ela detém a chave que abre a porta dos mistérios e do lado oculto da psique; Sua tocha ilumina tanto as riquezas, quanto os terrores do inconsciente, que precisam ser reconhecidos e transmutados. Ela nos conduz pela escuridão e nos revela o caminho da renovação.
Porém, para receber Seus dons visionários, criativos ou proféticos precisamos mergulhar nas profundezas do nosso mundo interior, encarar o reflexo da Deusa Escura dentro de nós, honrando Seu poder e Lhe entregando a guarda do nosso inconsciente. Ao reconhecermos e integrarmos Sua presença em nós, Ela irá nos guiar nos processos psicológicos e espirituais e no eterno ciclo de morte e renovação. Porém, devemos sacrificar ou deixar morrer o velho, encarar e superar medos e limitações; somente assim poderemos flutuar sobre as escuras e revoltas águas dos nossos conflitos e lembranças dolorosas e emergir para o novo.
(creio que já publiquei este texto em outra ocasião por isso vou classifica-lo como REPUBLICADO)
Mirella Faur
IN: TEIA DE THEA
CELEBRAÇÃO DE ATARGATIS - A ANTIGA MÃE SEREIA
15 DE AGOSTO
Celebração de Atargatis, a deusa síria do céu, do mar, da chuva e da vegetação, também cultuada pelos romanos como Dea Syria. Deusa poderosa com atributos muito complexos, Atargatis podia ter várias representações. Como Deusa celeste, ela surgia cercada de águias, viajando sobre as nuvens. Como regente do mar, poderia ser uma Deusa serpente ou peixe. Podia ainda ser a essência fertilizadora da chuva, com a água vindo das nuvens e das estrelas. Ainda podia aparecer como a própria Deusa da terra e da vegetação, cuidando da sobrevivência de todas as espécies.
Um mito antigo descreve a descida de Atargatis do céu como um ovo, do qual surgiu uma linda deusa sereia. Por ser considerada a Mãe dos Peixes, os sírios recusavam-se a comer peixes ou pombos, considerados seus animais sagrados.
Festa celta do Pão Fresco, reverenciando a Deusa Mãe. Em fogueiras feitas com madeira de árvores sagradas (carvalho, bétula, freixo, espinheira e sorveira), assava-se o pão feito com o trigo recém-colhido. As pessoas agradeciam a colheita com cânticos, orações e oferendas para as divindades da Terra.
Trung Thu, celebração vietnamita da Lua. As famílias se reúnem, as ruas são decoradas com lanternas coloridas e as crianças, usando máscaras variadas, seguem em procissão pelas ruas. Os dançarinos realizam a dança dos unicórnios e todos comem doces em forma de lua ou de peixe. Os adultos homenageiam os familiares falecidos queimando incenso e notas falsas de dinheiro para enviar boa sorte pela fumaça.
Na Polônia, festa de Nossa Senhora de Czestochowa, a Virgem Negra, cujo mosteiro era um antigo local de culto à Matka Boska Zielna, a Deusa das Ervas.
A Igreja Católica aproveitou a egrégora formada nesta data pelas antigas celebrações dos dias doze, treze e quatorze e criou a comemoração da morte e assunção de Maria, o aspecto “cristão” da Grande Mãe.
Informações extraídas do livro O Anuário da Grande Mãe - Mirella Faur
IN: http://www.teiadethea.org/
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
É SÓ PENSAR UM POUCO...
O QUE FAZ SENTIDO E O QUE NÃO FAZ SENTIDO
Parece lógico não fossem elas consideradas subservientes em sociedades que conceptualizavam os poderes que governam o universo em forma de fêmea — e que qualidades "femininas" tais como cuidado, compaixão e não-violência fossem altamente valorizadas nestas sociedades. O que não faz sentido é concluir que as sociedades em que os homens não dominavam as mulheres eram sociedades em que as mulheres dominavam os homens.
AS VÊNUS PALEOLÍTICAS
Em suma, em vez de materiais fortuitos e desconexos, os vestígios paleolíticos de estatuetas femininas, o ocre vermelho em câmaras mortuárias e as conchas cauris em formato de vagina parecem constituir antigas manifestações do que mais tarde se desenvolveria em uma complexa religião centrada no culto a uma Deusa-Mãe como fonte e regeneradora de todas as formas de vida. Este culto à Deusa, como observaram James e outros estudiosos, sobreviveu a períodos históricos, "na figura múltipla da Magna Mater dos Bálcãs e do mundo greco-romano". Percebemos com nitidez esta continuidade religiosa em deidades tão conhecidas quanto Ísis, Nut e Maat, no Egito; Ishtar, Astarte e Lilith, no Crescente Fértil; Deméter, Core e Hera, na Grécia; e Atárgatis, Ceres e Cibele, em Roma. Mesmo depois, em nossa própria herança judaico-cristã,ainda podemos identificá-la na Rainha dos Céus, cujos arvoredos são queimados na Bíblia, na Shekhina da tradição cabalística hebraica e na Virgem Maria Católica, a Sagrada Mãe de Deus.
(REPUBLICADO) enxertos de O Cálice e a Espada - Riane Eisler
FILHOS DA TERRA, GUARDIÕES DA MÃE
Temos hoje tem uma responsabilidade extra no cuidado e defesa do Planeta, seus habitantes, fauna e a flora. Como Filhas da Deusa, amamos a mãe terra e devemos praticar os princípios da Ecologia profunda, que nos dia que não possuímos a terra, mas sim partilhamos dela com todas as outras formas de vida!
Sustentabilidade é a nossa capacidade de viver garantindo que as próximas gerações tenham os mesmos recursos que nós temos hoje.
Sustentabilidade é durabilidade!
Não vou falar na destruição que nosso estilo de vida está causando a todos os sistemas vivos da Terra, pois diariamente somos inundados de notícias sobre esse assunto.
A consciência individual é a mudança que tem que acontecer dentro de cada um de nós!
é uma mudança de postura e atitude que vai fazer a diferença e nosso exemplo pode definir o futuro das novas gerações. O sistema econômico que vivemos com esta supervalorização do TER e do consumo já é insustentável . O “ser sustentável” transforma-se numa legião de formiguinhas que juntas podem mudar o mundo e a forma como a humanidade afeta negativamente a vida em nosso mundo. Medidas simples como economizar e reciclar papel,Reciclar latas e embalagens; Reformar e recilcar roupas, fazer troca com amigos, não consumir sacolas plásticas e comprar mais produtos a granel, consumir localmente, economizar água e energia elétrica através de um uso mais racional desses recursos; garantir que as empresas que fornecem bens e serviços para você tenham também a mesma preocupação e recusando-se a consumir produtos de origem ilícita ou que tenham sido obtidos (extraídos ou fabricados) através de meios prejudiciais a natureza.
Agindo desta forma, você acabará por criar “uma onda” que se propagará ao seu redor e provocará novas mudanças em outras pessoas que, por sua vez, gerarão ondas em torno de si em uma pirâmide do bem que se espalhará por toda a sociedade.
LIXO:
Deixar o mínimo de resquício de nossa passagem por este lindo planeta é o mínimo que podemos fazer pelas futuras gerações. Cuide do seu lixo, qualquer lixo gerado por você é de sua responsabilidade .Recicle,Renove,Reutilize,Restaure. O lixo orgânico é maravilhoso adubo para seu jardim, faça um buraco de compostagem no seu jardim e nele coloque os restos de comida e cubra com terra, folhas secas.
O resto do lixo separe e entregue nas coletas de reciclagem. Faça a sua parte.
CONSUMO CONSCIENTE:
O ato de comprar hoje tem que ser visto além da perspectiva da propaganda, que nos vende tudo o que não precisamos prometendo felicidade.Temos que questionar o que realmente precisamos.E comprar menos , cada vez menos, porque no fundo precisamos de pouca coisa material para sermos felizes.Podemos trocar, renovar, reformar.E quando a gente for comprar usar isto como um ato consciente e valorizar os produtos : Orgânicos, recicláveis, sem agro-tóxicos, naturais, locais, empresas com programas de conscientização ambiental, não poluentes, econômicos .Fazer a força do consumidor mudar os produtos e as empresas.
CULTURA DE PAZ:
Precisamos trazer para nossos empregos, relacionamentos uma nova forma de nos comunicarmos, uma cultura de comunicação não-violenta, respeitosa, amorosa ,de Paz.
Vários grupos no mundo todo estão sendo treinados para esta nova forma de comportamento, onde vamos trocar o “poder SOBRE o outro” pelo “poder COM o outro”.Esta é uma nova consciência que muda tudo.
BIOARQUTETURA:
Porque não fazer casas autônomas, que cuidam do seu esgoto, captam água da chuva, produzem energia solar, construídas com materiais alternativos como: adobe,bambu, pau a pique, madeira etc...
FIB:
Felicidade Interna Bruta foi a forma que o rei do Butão achou de medir o que ele considera o propósito de sua contribuição para seu país, a felicidade de seu povo.
Lá eles medem; o bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem estar psicológico.
Que estas idéias nos sirvam de inspiração para a nossa atuação no planeta.
IN: FILHAS DA DEUSA
O RESGATE DE LILITH
“ Na tradição cabalística, Lilith seria o nome da mulher criada antes de Eva, ao mesmo tempo que Adão, não de uma costela do homem, mas ela também diretamente da terra. Somos todos os dois iguais, dizia a Adão, já que viemos da terra. A esse respeito discutiram os dois e Lillith, encolerizada, pronunciou o nome de Deus e fugiu para iniciar uma carreira demoníaca. Segundo outra tradição, Lillith seria uma primeira Eva: Caim e Abel brigaram pela posse dessa Eva, criada independentemente de Adão e, portanto, sem parentesco com Eles. Alguns vêem aqui traços da androginia do primeiro homem e do incesto dos primeiros casais. Lillith, torna-se assim inimiga de Eva, a instigadora dos amores ilegítimos, a perturbadora do leito conjugal. Seu domicílio será fixado nas profundezas do Mar Morto, e objurações tendem a mantê-la ali, para impedir que perturbe a vida dos homens e das mulheres sobre a terra. (…)*
É DESTAPAR A PONTA DO VÉU DE ÍSIS…
É preciso que a mulher descubra o seu verdadeiro rosto…
Não adianta honrar a Deusa sem honrar a mulher em nós…
De nada serve cultuar a Deusa sem sabermos o que significa a sua caminhada interior nem a descida ao mais profundo dos abismos. De nada serve imitarmos os seus rituais sem termos descoberto o segredo que nos foi ocultado durante milénios e vivê-lo na nossa pele!
De nada serve cultuar a Deusa sem integrar as duas faces da mulher…sem que saibamos primeiro quem somos em essência – e a nossa essência não é só o sangue e dar à luz e sermos amantes…
É muito mais do que isso e sem que nos liguemos á Natureza primordial do nosso ser, sem termos olhado esse outro lado oculto de nós, a mulher reprimida, a mulher negada, a mulher raivosa, a mulher frustrada, a adúltera, a frígida ou a mulher infeliz, a mais desgraçada das mulheres, não encontraremos a Deusa em nós.
Para encontrarmos a Deusa temos de fazer essa descida aos subterrâneos mais secretos do nosso ser onde está a Rainha da Noite à nossa espera…Aquela que chora dia e noite e não faz mais do que esperar que a vamos resgatar…
Porque É Ela que nos inicia e coroa…
O caminho da mulher é antes do mais encontrar-se com o seu lado oculto, o seu lado escuro, aquele que lhe reflecte a sua “outra metade” – que ela espera em vão toda a vida no amor do homem porque parte mutilada de si ao encontro desesperado com o homem ou com deus…
“O modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão baseia-se no de um fragmento do ‘primeiro ego’: Adão. Vários textos históricos (2), no entanto, citam uma variante, a criação de Lilith, a primeira mulher, feita em igualdade de condições com o primeiro homem e expulsa do Paraíso por tentar fazer valer essa identidade.”*
Sem que a mulher faça esse caminho de retorno ao seu ser verdadeiro para reunir as duas mulheres separadas pelo catolicismo, a Lilith e a Eva, ela nunca compreenderá a sua natureza profunda nem a sua face de amante livre e selvagem. Sem esse seu outro lado, ela nunca poderá servir a Deusa, mas sim e ainda o patriarcado que a dividiu com esse propósito em duas metades antagónicas. Porque é essa mulher fragmentada e que vive em pedaços que se busca desesperadamente em tudo à procura de si mesma – e não é por acaso que ela se mutila e vende o corpo na procura de uma valorização através de uma aparência ideal que lhe dizem ser magra e sempre jovem…e ter muito dinheiro!
Se a mulher não tiver essa consciência de si, a partir de dentro e não vinda de fora, sendo ela como for na sua aparência ou idade, se ela não tiver essa aceitação do seu lado negro, ela não poderá entrar na sua plenitude de mulher sábia, amante e mãe, pois não conhece nem tem acesso a essa integralidade do seu ser autêntico. Não terá acesso ao seu dom de vidente, de curadora e iniciadora do amor e do homem, nunca poderá realizar-se na dimensão do seu ser total.
“Não se sabe com certeza de que forma a lenda de Lilith, esta primeira companheira de Adão, foi banida da versão Bíblica da Igreja. Mas indo às Escrituras hebraicas poderemos encontrá-la como uma mulher feita de pó negro e excrementos, portanto, condenada a ser inferior ao homem. No fundo, Lilith já fora criada como um demónio, tendo gerado, juntamente com Adão, outros seres iguais a ela, que se vingam na humanidade . Essa natureza satânica é, por assim dizer, uma advertência do que a cultura rabínica e patriarcal nos faz com relação àquela que perturbou a noite toda o sono de Adão: Lilith, feita de sangue (menstruação) e saliva (desejo), uma expressão da fatalidade. Neste ponto, Lilith é mais fiel ao protótipo da mulher do que a submissa Eva, embora ambas tenham sido veículo do pecado. Só que a recusa ao desejo, ao sonho erótico que subtraiu a porção divina de Adão chega, com Lilith, a extremos surpreendentes após a separação deste casal.”*
Porque nós somos essa Rainha!
Muitas mulheres partem para uma “espiritualidade” à procura da sua “outra metade” num Mestre ou em Deus, como procuram no amor do homem, mas se elas não se encontrarem primeiro com elas mesmas e continuarem a fugir da sua Sombra (Lilith) que consideram “pecaminosa”, culpada ou inferior, de acordo com o que o sistema religioso, económico e cultural lhes inculcou desde a mais tenra infância, ela vai padecer sempre dos mesmos sintomas de carência e mal-estar e sentir-se rejeitada.
“Encarnando o feminino negativo, Lilith transfigura-se, posteriormente, em inúmeras deusas lunares ( Ihstar, Astarte, Isis, Cibele, Hécate), arquétipos das forças incontroláveis do submundo A Lua Negra. Até ser personificada pela bruxa, na Idade Média, contra a qual o homem moveu uma das mais sangrentas perseguições de toda a sua história.”
As Evas que não compreendem a sua outra face, que não integram Aquela que afinal lhes deu a comer do fruto da Árvore do conhecimento e viu que era bom, (mas os padres disseram que era mau…) continuarão a fugir de si mesmas, a trair as outras mulheres, a repudiar as mães e as filhas, a matar os filhos para servir o homem – ou no mínimo a deixar que os homens matem os seus filhos na Guerra ou os violem em casa e na igreja – porque essas mulheres foram e são o alicerce de uma igreja que sempre as condenou e viveu à custa do seu sangue e do seu sofrimento. Serão inimigas da outra mulher que afinal é só a sua outra face…
Elas seguem os mestres mais variados e as religiões que sempre as condenaram com inferiores e culpadas da “queda” do homem, porque, desconhecendo a sua origem e história, desconhecendo uma parte integrante de si mesmas, não integraram nem compreendem a verdadeira natureza do seu feminino, o feminino sagrado que vivido como profano, condenado ao pecado pelas tradições patriarcais negam a sua essência ao negarem a Natureza Mãe os seus ciclos lunares, a sua natureza selvagem porque as tradições judaica ou cristã as ataram de pés e mãos e as excluem da sociedade tanto como desprezam a Terra Mãe e a Deusa.
“Enquanto mulher for desdenhada ou abandonada por causa de outra, Lillith representará os ódios contra a família o ódio aos casais e aos filhos; evoca a imagem trágica das Lamias na mitologia grega, assim não pode integrar-se nos quadros da existência humana, das relações interpessoais e comunitárias, foi assim lançada novamente ao abismo. “
Também as feministas cometeram o erro de julgar o Sagrado como culpado da degradação da mulher ao associarem O Sagrado à Igreja católica, e às religiões em geral, quando justamente nos rituais das religiões deixa de haver a evocação e a experiencia do Sagrado, para haver apenas “o profano”, o ritual morto – pois só a mulher permite entrar nos Mistérios do verdadeiro Sagrado.
Os Mistérios da Deusa Mãe e da Terra, os Mistérios Eleusianos foram fonte de conhecimento e iniciação na Grécia durante mais de 3 mil anos e foi o cristianismo que apagou da face da Terra o culto da Deusa e da Natureza Mãe assim como varreu dos lugares sagrados as legítimas detentoras dos ofícios sagrados e imitou os seus ritos e as vestimentas das sacerdotisas…
E assim, depois de vários séculos, o usurpador da iniciação feminina e da Deusa é “o padre que oficia nos seus trajes de cerimónia, todos de origem feminina, e o travesti, castrado ou não, obedecem a um mesmo desejo. Destapar uma ponta do véu, descobrir o famoso véu de Ísis.”*
*Jean Markale (historiador francês)
Rosa Leonor Pedro
(* as citações em itálico são de vários escritores cujos nomes baralhei e agora não sei dizer o que corresponde a quem…do que peço desculpa aos mesmos; mas o meu imperativo é a divulgação da consciência do feminino e por isso o seu contributo pode passar anónimo, penso?)
REPUBLICADO IN: MULHERES & DEUSAS