terça-feira, 31 de agosto de 2010

SANTA SARA-LA-KALI

Santa Santa, minha protetora,
Cubra-me com seu manto celestial.
Afaste as negatividades que porventura estejam querendo me atingir.
Santa Sara, protetora dos ciganos, sempre que estivermos nas estradas do mundo,proteja-nos e ilumine nossas caminhadas.
Santa Sara, pela força das águas, pela força da Mãe-Natureza, esteja sempre ao nosso lado com seus mistérios.
Nós, filhos dos ventos, das estrelas, da Lua Cheia e do Pai-Sol, pedimos a Sua proteção contra os inimigos.
Santa Sara, ilumine nossas vidas com seu poder celestial, para que tenhamos um presente e um futuro tão brilhantes, como são os brilhos dos cristais.
Santa Sara, ajude os necessitados; dê luz para os que vivem na escuridão, saúde para os que estão enfermos, arrependimento para os culpados e paz para os intranquilos.
Santa Sara, que seu raio de paz, de saúde e de amor possa entrar em cada lar, neste momento.
Santa Sara, dê esperança de dias melhores para essa humanidade tão sofrida.Santa Sara milagrosa, protetora do povo cigano, abençoe a todos nós, que somos filhos do mesmo Deus.

(Por Ana da Cigana Natasha)


Antoine Locadour, 74 anos, historiador, I.C.P.,França

É fácil identificar Sarah como mais uma das muitas virgens negras que podem ser encontradas no mundo. Sara-la-Kali, diz a tradição, vinha de uma nobre linhagem, e conhecia os segredos do mundo. Seria, no meu entender, mais uma das muitas manifestações do que chamam a Grande Mãe, a Deusa da Criação. E não me surpreende que cada vez mais pessoas se interessem pelas tradições pagãs. Por quê? Porque o Deus Pai é sempre associado com o rigor e a disciplina do culto. A Deusa Mãe, pelo contrário, mostra a importância do amor acima de todas as proibições e tabus que conhecemos.
O fenômeno não é novidade: sempre que a religião endurece suas normas, um grupo significativo de pessoas tende a ir em busca de mais liberdade no contato espiritual. Isso aconteceu durante a Idade Média, quando a Igreja Católica limitava-se a criar impostos e construir conventos cheios de luxo; como reação, assistimos ao surgimento de um fenômeno chamado “feitiçaria”, que, apesar de reprimido por causa de seu caráter revolucionário, deixou raízes e tradições que conseguiram sobreviver todos estes séculos. Nas tradições pagãs, o culto da natureza é mais importante que a reverência aos livros sagrados; a Deusa está em tudo, e tudo faz parte da Deusa. O mundo é apenas uma expressão de sua bondade. Existem muitos sistemas filosóficos — como o taoísmo ou o budismo — que eliminam a idéia da distinção entre o criador e a criatura. As pessoas não tentam mais decifrar o mistério da vida, e sim fazer parte dele; também no taoísmo e no budismo, mesmo sem a figura feminina, o princípio central afirma que “tudo é uma coisa só”. No culto da Grande Mãe, o que chamamos de “pecado”, geralmente uma transgressão de códigos morais arbitrários, deixa de existir; sexo e costumes são mais livres, porque fazem parte da natureza, e não podem ser considerados como frutos do mal.
O novo paganismo mostra que o homem é capaz de viver sem uma religião instituída, e ao mesmo tempo continuar na busca espiritual para justificar sua existência. Se Deus é Mãe, então tudo que é necessário é juntar-se e adorá-la através de ritos que procuram satisfazer sua alma feminina — como a dança, o fogo, a água, o ar, a terra, os cantos, a música, as flores, a beleza. A tendência vem crescendo de maneira gigantesca nos últimos anos. Talvez estejamos diante de um momento muito importante na história do mundo, quando finalmente o Espírito se integra com a Matéria, os dois se unificam, e se transformam. Ao mesmo tempo, estimo que haverá uma reação muito violenta das instituições religiosas organizadas, que começam a perder fiéis. O fundamentalismo deve crescer, e instalar-se em todos os cantos.
Como historiador, me contento em coletar dados e analisar esta confrontação entre a liberdade de adorar e a obrigação de obedecer. Entre o Deus que controla o mundo e a Deusa que é parte do mundo. Entre as pessoas que se unem em grupos em que a celebração é feita de modo espontâneo, e aquelas que vão se fechando em círculos onde aprendem o que deve e o que não deve ser feito.
Gostaria de estar otimista, de achar que finalmente o ser humano encontrou seu caminho para o mundo espiritual.Mas os sinais não são tão positivos assim: uma nova perseguição conservadora, como já aconteceu muitas vezes no passado, pode sufocar novamente o culto da Mãe.

( in A Bruxa de Portobello - Paulo Coelho [republicado])

Haviam outras imagens ainda mais belas do google que eu poderia botar, mas nelas havia um defeito: Santa Sara Kali não era mais Kali, negra da cor da Terra, Virgem-Rainha mas sem coroa falsa usada pelas santas católicas, memoria deturpada do culto da Mãe Rainha da Terra.Prefiro Ela assim negra,cigana quase Durga de tão linda, uma santa pagã filha da Terra Mãe.As partes marcadas em cinza também estão de acordo com o que penso a respeito de como o sistema patriarcal lidará com o poder emergente da Deusa nas mulheres e homens. Podemos esperar muita intimidação, desrespeito, deboche, repressão ...Há ainda um longo caminho a ser feito pelos Filhos da Grande Mãe e as sacerdotisas-curandeiras da Grande Deusa teram de fazer.


PS: embora não trabalhe com magia cigana, sei que a minha cigana é a Sulamita...Fica também como homenagem a ela.

2 comentários:

  1. Adorei o post. O texto é de uma reflexão profundamente bem vinda!

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  2. Obrigada pelo comentário e pelo carinho Martha,
    Abraços e que a Mãe lhe abençoe

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Que o Poder Infinito da Deusa e da Mãe Natureza purifique seus caminhos.