Divindades regentes da fertilidade
Ao longo dos tempos, inúmeras divindades - deuses e deusas - foram cultuadas como regentes da fertilidade e da abundância , da terra, dos animais, das plantas e dos seres humanos; porém todas as culturas antigas, independentemente da sua origem e época, divinizavam a Terra como o poder que representava o ciclo da vida, da morte e da eterna renovação. A Mãe Terra era a mãe geradora e sustentadora da vida, receptora e nutridora das sementes, que lhes fornecia a força necessária para se transformarem em colheitas cujas sementes eram guardadas à espera de um novo plantio. Os povos antigos usavam a mesma idéia para compreender o mistério da vida e da morte, o espírito entrava no corpo de uma mulher, nascia fisicamente do seu ventre e no final da sua vida o seu corpo voltava ao ventre escuro da terra e o seu espirito se deslocava para outra dimensão, à espera do renascimento. Os rituais para plantios e colheitas assim como os ritos fúnebres marcavam estes momentos e reverenciavam a Mãe como Criadora e Ceifadora. Existia um mito universal da Divindade Feminina relacionada à Natureza, aos ciclos lunares, à fertilidade da terra e seu culto remonta ao início da história humana, como pode ser comprovado pelas imagens de Vênus préhistóricas. A Grande Mãe foi reverenciada e personificada por várias manifestações e aspectos nas Deusas de todas as antigas culturas, Ela englobava tanto a Terra, quanto a Natureza, sendo consorte e contraparte do céu. A Terra, nosso planeta, era fertilizada pelo céu através do seu sêmen, a chuva, gerando continuamente seres de todos os reinos, que emergiam do seu ventre e povoavam o seu corpo. Como matéria, a terra não era personificada e nos mitos descrevia-se como foi retirada no começo dos tempos, por diversos seres ou animais, do fundo das águas primordiais, ou sendo o corpo de um monstro vivo ou morto; depois de modelada como globo terrestre era sustentada por um animal ou por divindades (colocadas nas quatro direções). Os movimentos das divindades ou as contorções do animal (como no caso do mito nórdico sobre a “Serpente do Mundo”) ocasionavam os terremotos e maremotos. O culto da terra e das deusas que representavam a fertilidade foi um dos primeiros que surgiu na terra; representações antigas da Deusa bem como inúmeras ossadas foram encontradas em grutas, onde as mulheres iam para dar à luz ou para morrer, pois a gruta era o próprio ventre da Mãe Terra. Os primeiros indícios de um culto à Deusa Mãe foi observado inicialmente na préhistória (Paleolítico e Neolítico), cultos organizados surgiram no sexto milênio a.C. no Oriente próximo, de onde se espalharam para o restante da Ásia e Europa, coincidindo com o advento da agricultura. Estatuetas e inscrições provenientes de diversascivilizações como suméria, acadiana, babilônica, grega, romana, egípcia e celta, comprovam a consolidação de um amplo panteão de Deusas associadas aos atributos de fertilidade (vegetal, animal, humana e telúrica). A arqueologia pré-histórica, como por exemplo as excavações feitas no sítio de Çatalhüyük (Anatolia), os achados de várias grutas europeias e diversos mitos pagãos registraram a ligação entre o culto à Deusa Mãe e a fertilidade da terra, simbolizada no uso de um pigmento natural vermelho, chamado ocre, associado ao sangue menstrual e ao poder de dar a vida. Na mitologia grega, a chamada Mãe de todos os deuses, a Deusa Réia (ou Cibele, entre os romanos), define este significado na sua própria etimologia: réia significa terra ou fluxo. O acadêmico Joseph Campbell afirma que o nome hebraico Adão era relacionado tanto a adamá (solo vermelho ou barro vermelho), quanto a adom (vermelho) e dam, (sangue)- portanto o primeiro ser humano foi criado a partir do barro vermelho. A Mãe Terra e suas manifestações como Deusas da terra receberam diversos nomes e apresentações ao longo dos milênios. Para os sumérios Ela era Ninhursag, para acadianos, Ishtar ou Inanna, os persas A cultuavam como Spandaramet e os hindus A reverenciavam como Prithivi. Na África, em Nigéria, ela era Ala, para os antigos peruanos era Pachamama e para os povos polinésios Papa, enquanto nos países nórdicos ela era conhecida como Erce, Jörd e Nerthus e nos bálticos Laume, Ma–Emma e Zeme. Na mitologia grega Gaia, a Mãe Ancestral, surgiu do caos, gerou seu consorte Urano, o céu, e juntos criaram montanhas, mares, Titãs, Ciclopes e todos os seres. Mesmo que tenha sido preterida pelo culto de Zeus (seu neto) e das outras divindades olímpicas, Gaia teve papel preponderante na criação, por ter sido ela que a iniciou, completando depois o processo juntamente com Urano.
Gaia era o Príncipio Criador Feminino, a mais antiga das divindades gregas, mesmo que depois seu culto tenha sido substituído por representações de Deusas com traços humanos. Assim como outras Deusas da terra, Gaia não era visualizada com formas humanas, mas como uma personificação da terra como matéria, as águas sendo seus fluidos, as montanhas, seus seios e ancas, as grutas, seu ventre, as rochas e pedras, seus ossos e a vegetação, seus cabelos.
Existia uma antiga relação entre a fertilidade da terra e o poder gerador e criador da Deusa, resultando da sua união com o céu. Por isso a maioria dos povos antigos reverenciavam a Terra como Mãe Criadora e Nutridora, cuja dádiva da fertilidade permanecia apesar dos ataques das intempéries e desastres naturais. No entanto, em outras culturas havia uma inversão das polaridades, como no exemplo do antigo Egito, onde Geb era o deus da terra, abraçado e envolto pelo corpo de deusa celeste Nut. Ela era representada como uma figura feminina de cor azulada, com estrelas cobrindo seu ventre na cor do céu noturno, seus cabelos caindo como chuva, tocando a terra nas quatro direções com seus dedos dos pés e das mãos, enquanto seus braços e pernas sustentavam a abóbada celeste, formando um arco sobre a terra. Nut era a Grande Deusa celeste, mãe do deus solar Ra, sendo pintada na tampa dos sarcófagos para que recebesse no seu corpo as múmias e cuidasse delas até a ressurreição. Geb representava a terra como elemento e também como a superfície terrestre, seu corpo se espalhando sobre a terra, apoiado nos cotovelos, mas com um joelho dobrado. Seu perfil simbolizava vales e montanhas, plantas, árvores e ervas brotavam do seu corpo, suas lágrimas enchendo os rios e mares, enquanto o falo ereto levantado para o céu fertilizava o ventre arqueado de Nut. Nesta imagem diferente de união do deus da terra com a Deusa celeste, o significado da inversão de atributos devia-se ao clima específico do Egito, onde pouco chovia, por isso a água fertilizadora vinha do rio Nilo e não do céu como sêmen. Nut apesar de ser uma Deusa celeste que personificava o firmamento, assumia os atributos da Mãe Terra como criadora e destruidora, ventre e túmulo, assim como outras Deusas dos mitos indoeuropeus. Nut gerava as estrelas e a Lua no entardecer e as engolia ao amanhecer, enquanto também engolia o Sol toda a noite e o paria na manhã seguinte. A união de Geb e Nut era um elemento essencial do mito de criação egípcio, a terra e o céu se abraçavam e, por algum tempo, a luz entre eles desaparecia quando Nut descia sobre Geb e a escuridão ocultava a sua união. De dia, o deus do ar Shu os separava e a luz solar iluminava de novo a terra. Para os povos nórdicos a fertilidade era representada por duas divindades: Nerthus a Deusa da terra, também conhecida como Erce, Erda, Jörd e Njordh, o seu consorte, deus do verão e das águas marinhas, regente das riquezas nelas contidas. Por ser o regente do verão, Njord era invocado pelos pescadores e marinheiros para acalmar o mar e propiciar uma boa pesca. Ele era considerado um deus rico e próspero, simbolizando a fertilidade e abundância dos meses de verão, enquanto Nerthus era a própria Mãe Terra, a regente da fertilidade e prosperidade. Na mitologia báltica Zeme e Zemyna são os nomes da Mãe Terra, mas a fertilidade é regida por Mate (mãe), que recebe nomes específicos de acordo com os reinos que ela rege: mar, rios, chuva, vento, florestas, campos, árvores, cereais, frutas, ervas. Nas lendas dos índios Zuni, a Terra era a Mãe e o céu o Pai, de cuja união nasceu o ser humano. Outras tribos – sem terem mitos definidos - referiam-se nas orações e encantamentos como “A nossa Mãe, a Terra”. Os índios Kato, da Califórnia, descreviam a Terra como um animal enorme com chifres, que perambulava nas águas primordiais até que parou na atual posição. Em diversos mitos dos índios norte-americanos, animais variados (aquáticos, alados ou terrestres) mergulhavam nas águas primordiais e traziam de volta pedacinhos de barro ou grãos de areia para criar a Terra.Todos fracassaram na sua missão, com exceção de um só, que é descrito em lendas diferentes c omo : castor , rato almiscarado, marta ou tartaruga. Na mitologia dos índios Winnebago - da região dos Grandes Lagos- , a divindade suprema era o Grande Espírito, que criou a Terra, os seres humanos, os animais e um número específico de espíritos regentes de alguma determinada área (vida, vitoria na guerra, fertilidade e outras bênçãos). Estes seres eram em número variável - 5 ou 8 - e defendiam o mundo criado contra gigantes e forças maléficas. Entre eles estavam o Sol, a Lebre e a Tartaruga, o Chifre Vermelho, os Gêmeos e o Trapaceiro. Após a sua morte, os seres humanos voltavam ao Criador e podiam escolher se queriam voltar para a terra e sob qual forma. Os alimentos emergiam seguidamente do corpo da Terra acompanhando as estações e em muitos mitos, os primeiros seres humanos foram modelados de barro, as cores das raças sendo oriundas dos diferentes tipos de argila. Mesmo personificando a vida como Deusa Criadora, a Terra também representava a morte e Ela exigia energia vital para gerar a vida, sacrifícios de sangue para se nutrir e sustentar. No mundo asteca Coatlicue representava a Mãe Terra no seu aspecto terrível e para os hindus, ela era a assustadora Kali. Estas deusas tiravam a vida, mas permitiam o desabrochar de novos seres e seus mitos eram metáforas dos poderes regeneradoras da natureza. As serpentes tinham também a habilidade de regeneração por isso Coatlicue usava uma saia de serpentes, que definiam de forma plástica este seu poder. As serpentes trocavam de pele e se renovavam, mostrando assim que, a morte, bem como o nascimento, eram etapas necessárias para a renovação telúrica e cósmica. Como as serpentes se enroscavam formando círculos, elas simbolizavam o eterno retorno dos ciclos da vida, o giro sendo feito pela deusa para que a natureza e os seres humanos se modificassem. As evidências da renovação cósmica e da natureza cíclica do universo eram visíveis de várias formas e em muitos lugares antigos, pois os povos antigos eram sintonizados com os movimentos do universo ao seu redor.Os antigos viam a terra florescer e definhar, eles seguiam as ondulações das marés e comemoravam as mudanças das estações, percebendo a mesma alternância cíclica nos movimentos dos corpos celestes. As fases e deusas lunares representavam atributos de fertilidade, junto com qualidades telúricas. Não importavam quais eram as forças que as Deusas da Terra controlavam ou que processos elas regiam, elas sempre personificavam as forças da criação (dos ciclos da vida) e da destruição (as manifestações desequilibradas dos elementos como incêndios, enchentes, erupções vulcânicas, tempestades e terremotos). Muitos povos antigos consideravam os espíritos das árvores como divindades criadoras associadas à vida e à fertilidade, que doavam suas bênçãos em forma de calor solar e chuva, propiciando assim o crescimento das colheitas. Havia uma extensa reverência às árvores no passado, os povos testemunhavam sua longevidade e imortalidade, pois elas se renovavam anualmente, descartando suas folhas e frutos durante o inverno, brotando na primavera e frutificando no verão. Outros mitos as consideravam manifestações da Grande Mãe, a árvore cósmica tendo nascida no oceano primordial e a árvore sendo a fonte de toda a vida sobre a terra. A antiga percepção da árvore como uma Deusa Mãe deu origem à representação simbólica da Árvore da Vida, que unia as esferas celestes e ctônicas, formando um caminho do mundo subterrâneo ao céu e que servia como um eixo, ao redor do qual girava o mundo inteiro. Esta árvore estruturava e sustentava o universo, como vemos na belíssima representação de Yggdrasil, a Árvore do Mundo da mitologia nórdica, que sustentava nove mundos e marcava o centro do mundo. Ela era nutrida pelas águas das três fontes que brotavam sob suas raízes e as suas folhas, gravadas com runas, se desenvolviam fertilizadas pelo orvalho. Os povos antigos simbolizavam a vitalidade e fertilidade da terra na poderosa imagem da Árvore da Vida, que confirmava e fortalecia o conceito da renovação cósmica, a estabilidade e sobrevivência dos mundos. As árvores eram cultuadas pela sua energia intrínseca, os antigos acreditavam que dentro delas existia um espírito que lhes conferia vida e assim elas agiam como seres humanos, se "movimentando" ( ao espalhar suas raizes ou sementes), segregando leite e sussurrando segredos quando tocadas pelo sopro do vento. Os povos que habitavam em áreas densamente arborizadas como América do Norte e a antiga Europa, reverenciavam as árvores como um todo – florestas, bosques ou pomares -, realizando seus rituais nos seus esconderijos e clareiras, lhes agradecendo as dádivas da chuva e os frutos das colheitas. Grupos diferentes de pessoas cultuavam árvores diferentes, dependendo das espécies mais comuns nas suas terras. Os celtas consideravam como sagrados o carvalho - associado ao deus do trovão -, que trazia a chuva; os nórdicos reverenciavam o teixo e o freixo como sendo a Árvore da Vida, enquanto na Oceania e na África a palmeira era sagrada, pois assim como uma Mãe, Ela dava leite. Os antigos egípcios viam Osíris como a árvore que formava a abóbada do céu, enquanto os hindus equiparavam seu deus criador, Brahma, a uma árvore especial chamada asvattha. Por simbolizarem a vitalidade do universo, o culto das árvores constituía uma forma de reverência à fertilidade da terra. No momento atual precisamos reconhecer que o poder de regeneração e a fertilidade da terra podem se esgotar, assim como a paciência da nossa Mãe Terra, se os seres humanos continuarem a agredi-la com desmatamentos, poluições dos seus veios aquáticos, explorando indiscriminadamente seus recursos e tesouros. A revolta e a doença do planeta poderá se manifestar com erupções vulcânicas, terremotos, incêndios, enchentes, extremos climáticos e outros desastres naturais e ecológicos (como têm acontecido seguidamente na nossa atualidade), prejudicando também a harmonia do campo energético, magnético e espiritual que a cerca.
Precisamos reaprender a ver os sinais, ouvir os lamentos da terra no gemido do vento, a sua voz no murmúrio dos rios e as suas mensagens no silêncio profundo das grutas; somente assim nos será possível seguir as leis naturais e trabalhar junto com a nossa Mãe. Podemos honrar sempre a nossa Mãe Terra - não apenas no Dia Internacional da Terra ou nas datas especificas das antigas Deusas regentes da fertilidade - dedicando-lhe comemorações, rituais de gratidão, pedidos de perdão, assumindo decisões e iniciativas que preservem a pureza da sua essência e permitam o continuo florescimento das suas dádivas, frutos e recursos, que garantam a sobrevivência de todos os Seus Filhos, de todos os planos da Criação.
Mirella Faur IN: JORNAL DEUSA VIVA
Ao longo dos tempos, inúmeras divindades - deuses e deusas - foram cultuadas como regentes da fertilidade e da abundância , da terra, dos animais, das plantas e dos seres humanos; porém todas as culturas antigas, independentemente da sua origem e época, divinizavam a Terra como o poder que representava o ciclo da vida, da morte e da eterna renovação. A Mãe Terra era a mãe geradora e sustentadora da vida, receptora e nutridora das sementes, que lhes fornecia a força necessária para se transformarem em colheitas cujas sementes eram guardadas à espera de um novo plantio. Os povos antigos usavam a mesma idéia para compreender o mistério da vida e da morte, o espírito entrava no corpo de uma mulher, nascia fisicamente do seu ventre e no final da sua vida o seu corpo voltava ao ventre escuro da terra e o seu espirito se deslocava para outra dimensão, à espera do renascimento. Os rituais para plantios e colheitas assim como os ritos fúnebres marcavam estes momentos e reverenciavam a Mãe como Criadora e Ceifadora. Existia um mito universal da Divindade Feminina relacionada à Natureza, aos ciclos lunares, à fertilidade da terra e seu culto remonta ao início da história humana, como pode ser comprovado pelas imagens de Vênus préhistóricas. A Grande Mãe foi reverenciada e personificada por várias manifestações e aspectos nas Deusas de todas as antigas culturas, Ela englobava tanto a Terra, quanto a Natureza, sendo consorte e contraparte do céu. A Terra, nosso planeta, era fertilizada pelo céu através do seu sêmen, a chuva, gerando continuamente seres de todos os reinos, que emergiam do seu ventre e povoavam o seu corpo. Como matéria, a terra não era personificada e nos mitos descrevia-se como foi retirada no começo dos tempos, por diversos seres ou animais, do fundo das águas primordiais, ou sendo o corpo de um monstro vivo ou morto; depois de modelada como globo terrestre era sustentada por um animal ou por divindades (colocadas nas quatro direções). Os movimentos das divindades ou as contorções do animal (como no caso do mito nórdico sobre a “Serpente do Mundo”) ocasionavam os terremotos e maremotos. O culto da terra e das deusas que representavam a fertilidade foi um dos primeiros que surgiu na terra; representações antigas da Deusa bem como inúmeras ossadas foram encontradas em grutas, onde as mulheres iam para dar à luz ou para morrer, pois a gruta era o próprio ventre da Mãe Terra. Os primeiros indícios de um culto à Deusa Mãe foi observado inicialmente na préhistória (Paleolítico e Neolítico), cultos organizados surgiram no sexto milênio a.C. no Oriente próximo, de onde se espalharam para o restante da Ásia e Europa, coincidindo com o advento da agricultura. Estatuetas e inscrições provenientes de diversascivilizações como suméria, acadiana, babilônica, grega, romana, egípcia e celta, comprovam a consolidação de um amplo panteão de Deusas associadas aos atributos de fertilidade (vegetal, animal, humana e telúrica). A arqueologia pré-histórica, como por exemplo as excavações feitas no sítio de Çatalhüyük (Anatolia), os achados de várias grutas europeias e diversos mitos pagãos registraram a ligação entre o culto à Deusa Mãe e a fertilidade da terra, simbolizada no uso de um pigmento natural vermelho, chamado ocre, associado ao sangue menstrual e ao poder de dar a vida. Na mitologia grega, a chamada Mãe de todos os deuses, a Deusa Réia (ou Cibele, entre os romanos), define este significado na sua própria etimologia: réia significa terra ou fluxo. O acadêmico Joseph Campbell afirma que o nome hebraico Adão era relacionado tanto a adamá (solo vermelho ou barro vermelho), quanto a adom (vermelho) e dam, (sangue)- portanto o primeiro ser humano foi criado a partir do barro vermelho. A Mãe Terra e suas manifestações como Deusas da terra receberam diversos nomes e apresentações ao longo dos milênios. Para os sumérios Ela era Ninhursag, para acadianos, Ishtar ou Inanna, os persas A cultuavam como Spandaramet e os hindus A reverenciavam como Prithivi. Na África, em Nigéria, ela era Ala, para os antigos peruanos era Pachamama e para os povos polinésios Papa, enquanto nos países nórdicos ela era conhecida como Erce, Jörd e Nerthus e nos bálticos Laume, Ma–Emma e Zeme. Na mitologia grega Gaia, a Mãe Ancestral, surgiu do caos, gerou seu consorte Urano, o céu, e juntos criaram montanhas, mares, Titãs, Ciclopes e todos os seres. Mesmo que tenha sido preterida pelo culto de Zeus (seu neto) e das outras divindades olímpicas, Gaia teve papel preponderante na criação, por ter sido ela que a iniciou, completando depois o processo juntamente com Urano.
Gaia era o Príncipio Criador Feminino, a mais antiga das divindades gregas, mesmo que depois seu culto tenha sido substituído por representações de Deusas com traços humanos. Assim como outras Deusas da terra, Gaia não era visualizada com formas humanas, mas como uma personificação da terra como matéria, as águas sendo seus fluidos, as montanhas, seus seios e ancas, as grutas, seu ventre, as rochas e pedras, seus ossos e a vegetação, seus cabelos.
Existia uma antiga relação entre a fertilidade da terra e o poder gerador e criador da Deusa, resultando da sua união com o céu. Por isso a maioria dos povos antigos reverenciavam a Terra como Mãe Criadora e Nutridora, cuja dádiva da fertilidade permanecia apesar dos ataques das intempéries e desastres naturais. No entanto, em outras culturas havia uma inversão das polaridades, como no exemplo do antigo Egito, onde Geb era o deus da terra, abraçado e envolto pelo corpo de deusa celeste Nut. Ela era representada como uma figura feminina de cor azulada, com estrelas cobrindo seu ventre na cor do céu noturno, seus cabelos caindo como chuva, tocando a terra nas quatro direções com seus dedos dos pés e das mãos, enquanto seus braços e pernas sustentavam a abóbada celeste, formando um arco sobre a terra. Nut era a Grande Deusa celeste, mãe do deus solar Ra, sendo pintada na tampa dos sarcófagos para que recebesse no seu corpo as múmias e cuidasse delas até a ressurreição. Geb representava a terra como elemento e também como a superfície terrestre, seu corpo se espalhando sobre a terra, apoiado nos cotovelos, mas com um joelho dobrado. Seu perfil simbolizava vales e montanhas, plantas, árvores e ervas brotavam do seu corpo, suas lágrimas enchendo os rios e mares, enquanto o falo ereto levantado para o céu fertilizava o ventre arqueado de Nut. Nesta imagem diferente de união do deus da terra com a Deusa celeste, o significado da inversão de atributos devia-se ao clima específico do Egito, onde pouco chovia, por isso a água fertilizadora vinha do rio Nilo e não do céu como sêmen. Nut apesar de ser uma Deusa celeste que personificava o firmamento, assumia os atributos da Mãe Terra como criadora e destruidora, ventre e túmulo, assim como outras Deusas dos mitos indoeuropeus. Nut gerava as estrelas e a Lua no entardecer e as engolia ao amanhecer, enquanto também engolia o Sol toda a noite e o paria na manhã seguinte. A união de Geb e Nut era um elemento essencial do mito de criação egípcio, a terra e o céu se abraçavam e, por algum tempo, a luz entre eles desaparecia quando Nut descia sobre Geb e a escuridão ocultava a sua união. De dia, o deus do ar Shu os separava e a luz solar iluminava de novo a terra. Para os povos nórdicos a fertilidade era representada por duas divindades: Nerthus a Deusa da terra, também conhecida como Erce, Erda, Jörd e Njordh, o seu consorte, deus do verão e das águas marinhas, regente das riquezas nelas contidas. Por ser o regente do verão, Njord era invocado pelos pescadores e marinheiros para acalmar o mar e propiciar uma boa pesca. Ele era considerado um deus rico e próspero, simbolizando a fertilidade e abundância dos meses de verão, enquanto Nerthus era a própria Mãe Terra, a regente da fertilidade e prosperidade. Na mitologia báltica Zeme e Zemyna são os nomes da Mãe Terra, mas a fertilidade é regida por Mate (mãe), que recebe nomes específicos de acordo com os reinos que ela rege: mar, rios, chuva, vento, florestas, campos, árvores, cereais, frutas, ervas. Nas lendas dos índios Zuni, a Terra era a Mãe e o céu o Pai, de cuja união nasceu o ser humano. Outras tribos – sem terem mitos definidos - referiam-se nas orações e encantamentos como “A nossa Mãe, a Terra”. Os índios Kato, da Califórnia, descreviam a Terra como um animal enorme com chifres, que perambulava nas águas primordiais até que parou na atual posição. Em diversos mitos dos índios norte-americanos, animais variados (aquáticos, alados ou terrestres) mergulhavam nas águas primordiais e traziam de volta pedacinhos de barro ou grãos de areia para criar a Terra.Todos fracassaram na sua missão, com exceção de um só, que é descrito em lendas diferentes c omo : castor , rato almiscarado, marta ou tartaruga. Na mitologia dos índios Winnebago - da região dos Grandes Lagos- , a divindade suprema era o Grande Espírito, que criou a Terra, os seres humanos, os animais e um número específico de espíritos regentes de alguma determinada área (vida, vitoria na guerra, fertilidade e outras bênçãos). Estes seres eram em número variável - 5 ou 8 - e defendiam o mundo criado contra gigantes e forças maléficas. Entre eles estavam o Sol, a Lebre e a Tartaruga, o Chifre Vermelho, os Gêmeos e o Trapaceiro. Após a sua morte, os seres humanos voltavam ao Criador e podiam escolher se queriam voltar para a terra e sob qual forma. Os alimentos emergiam seguidamente do corpo da Terra acompanhando as estações e em muitos mitos, os primeiros seres humanos foram modelados de barro, as cores das raças sendo oriundas dos diferentes tipos de argila. Mesmo personificando a vida como Deusa Criadora, a Terra também representava a morte e Ela exigia energia vital para gerar a vida, sacrifícios de sangue para se nutrir e sustentar. No mundo asteca Coatlicue representava a Mãe Terra no seu aspecto terrível e para os hindus, ela era a assustadora Kali. Estas deusas tiravam a vida, mas permitiam o desabrochar de novos seres e seus mitos eram metáforas dos poderes regeneradoras da natureza. As serpentes tinham também a habilidade de regeneração por isso Coatlicue usava uma saia de serpentes, que definiam de forma plástica este seu poder. As serpentes trocavam de pele e se renovavam, mostrando assim que, a morte, bem como o nascimento, eram etapas necessárias para a renovação telúrica e cósmica. Como as serpentes se enroscavam formando círculos, elas simbolizavam o eterno retorno dos ciclos da vida, o giro sendo feito pela deusa para que a natureza e os seres humanos se modificassem. As evidências da renovação cósmica e da natureza cíclica do universo eram visíveis de várias formas e em muitos lugares antigos, pois os povos antigos eram sintonizados com os movimentos do universo ao seu redor.Os antigos viam a terra florescer e definhar, eles seguiam as ondulações das marés e comemoravam as mudanças das estações, percebendo a mesma alternância cíclica nos movimentos dos corpos celestes. As fases e deusas lunares representavam atributos de fertilidade, junto com qualidades telúricas. Não importavam quais eram as forças que as Deusas da Terra controlavam ou que processos elas regiam, elas sempre personificavam as forças da criação (dos ciclos da vida) e da destruição (as manifestações desequilibradas dos elementos como incêndios, enchentes, erupções vulcânicas, tempestades e terremotos). Muitos povos antigos consideravam os espíritos das árvores como divindades criadoras associadas à vida e à fertilidade, que doavam suas bênçãos em forma de calor solar e chuva, propiciando assim o crescimento das colheitas. Havia uma extensa reverência às árvores no passado, os povos testemunhavam sua longevidade e imortalidade, pois elas se renovavam anualmente, descartando suas folhas e frutos durante o inverno, brotando na primavera e frutificando no verão. Outros mitos as consideravam manifestações da Grande Mãe, a árvore cósmica tendo nascida no oceano primordial e a árvore sendo a fonte de toda a vida sobre a terra. A antiga percepção da árvore como uma Deusa Mãe deu origem à representação simbólica da Árvore da Vida, que unia as esferas celestes e ctônicas, formando um caminho do mundo subterrâneo ao céu e que servia como um eixo, ao redor do qual girava o mundo inteiro. Esta árvore estruturava e sustentava o universo, como vemos na belíssima representação de Yggdrasil, a Árvore do Mundo da mitologia nórdica, que sustentava nove mundos e marcava o centro do mundo. Ela era nutrida pelas águas das três fontes que brotavam sob suas raízes e as suas folhas, gravadas com runas, se desenvolviam fertilizadas pelo orvalho. Os povos antigos simbolizavam a vitalidade e fertilidade da terra na poderosa imagem da Árvore da Vida, que confirmava e fortalecia o conceito da renovação cósmica, a estabilidade e sobrevivência dos mundos. As árvores eram cultuadas pela sua energia intrínseca, os antigos acreditavam que dentro delas existia um espírito que lhes conferia vida e assim elas agiam como seres humanos, se "movimentando" ( ao espalhar suas raizes ou sementes), segregando leite e sussurrando segredos quando tocadas pelo sopro do vento. Os povos que habitavam em áreas densamente arborizadas como América do Norte e a antiga Europa, reverenciavam as árvores como um todo – florestas, bosques ou pomares -, realizando seus rituais nos seus esconderijos e clareiras, lhes agradecendo as dádivas da chuva e os frutos das colheitas. Grupos diferentes de pessoas cultuavam árvores diferentes, dependendo das espécies mais comuns nas suas terras. Os celtas consideravam como sagrados o carvalho - associado ao deus do trovão -, que trazia a chuva; os nórdicos reverenciavam o teixo e o freixo como sendo a Árvore da Vida, enquanto na Oceania e na África a palmeira era sagrada, pois assim como uma Mãe, Ela dava leite. Os antigos egípcios viam Osíris como a árvore que formava a abóbada do céu, enquanto os hindus equiparavam seu deus criador, Brahma, a uma árvore especial chamada asvattha. Por simbolizarem a vitalidade do universo, o culto das árvores constituía uma forma de reverência à fertilidade da terra. No momento atual precisamos reconhecer que o poder de regeneração e a fertilidade da terra podem se esgotar, assim como a paciência da nossa Mãe Terra, se os seres humanos continuarem a agredi-la com desmatamentos, poluições dos seus veios aquáticos, explorando indiscriminadamente seus recursos e tesouros. A revolta e a doença do planeta poderá se manifestar com erupções vulcânicas, terremotos, incêndios, enchentes, extremos climáticos e outros desastres naturais e ecológicos (como têm acontecido seguidamente na nossa atualidade), prejudicando também a harmonia do campo energético, magnético e espiritual que a cerca.
Precisamos reaprender a ver os sinais, ouvir os lamentos da terra no gemido do vento, a sua voz no murmúrio dos rios e as suas mensagens no silêncio profundo das grutas; somente assim nos será possível seguir as leis naturais e trabalhar junto com a nossa Mãe. Podemos honrar sempre a nossa Mãe Terra - não apenas no Dia Internacional da Terra ou nas datas especificas das antigas Deusas regentes da fertilidade - dedicando-lhe comemorações, rituais de gratidão, pedidos de perdão, assumindo decisões e iniciativas que preservem a pureza da sua essência e permitam o continuo florescimento das suas dádivas, frutos e recursos, que garantam a sobrevivência de todos os Seus Filhos, de todos os planos da Criação.
Mirella Faur IN: JORNAL DEUSA VIVA
3 comentários:
Que belo post!
Conhecimento e Luz!
Salve as Grandes Deusas da Prosperidade!
...................................
Gaia Lil,
Venho te convidar para escrever um texto, um poema uma crônica, dar um conselho, opinar sobre fogo, instinto, luz! Venha participar dos Rosários de Fogo!
Basta me enviar um em-mail com seu texto e como e quando deseja participar: williamgaribaldi@gmail.com
Grato.
Um Beijo de Luz!
Salam Malayukun Admiro muito esse blog e presenteio com o selo Tylish blogger Award! Entre no meu blog para seguir as instruções de como compartilhar esse selo! Ficarei muito feliz que participe! )O( isis zahara
William obrigado pelo carinho e eu vou ver o que posso falar sobre a chama interna...vou contacta lo.
E a Isis obrigada pelo selo e peço que me perdoe se não puder publica lo aqui, mas muitos selos me foram inviados e não conseguia organiza los nem respondelos a tempo e é por isso que não coloco selos em meu blog. Peço que não me entenda mal. Abraços e muito carinho.
Gaia Lil
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