"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"
segunda-feira, 23 de julho de 2012
A BRUXA SOLITÁRIA
VIAGEM PARA O INTERIOR DE UMA BRUXA
Era manhã de Samhain, estava voltando do meu espaço de meditação no lago da Casa Telucama, quando avisaram que uma jovem me aguardava no portão, fui ao seu encontro. Era uma bela jovem de longos cabelos ruivos, olhar sereno e ao mesmo tempo muito triste.
Deixei-lhe à vontade e a convidei para entrar. Ela tinha ouvido a minha entrevista na Rádio nas primeiras horas da manhã, o que lhe deu incentivo e força para me procurar. Vontade essa que já fazia parte da sua alma há muito tempo e que naquele dia finalmente se concretizava.
Sentamos no jardim embaixo das árvores, ela trazia nas mãos uma velha pasta de coro.
Começamos a conversar sobre Bruxaria. Falamos do princípio de tudo, dos caminhos percorridos pelos Bruxos ao longo dos tempos. Da Inquisição e da Bruxaria moderna.
Ela sempre colocava apartes bem a propósito de quem tem um bom conhecimento do caminho da antiga religião.
Começamos então a falar da autoconsciência da Bruxa, que embora essa seja inata ao homem, na (o) Bruxa (o) especificamente , tem um longo e cansativo caminho evolutivo a percorrer. Do processo gradual de maturação e de crescimento para o desenvolver das habilidades mágicas.
Passamos então a fazer uma avaliação critica do movimento crescente da Bruxaria hoje no Brasil.
Desde o primeiro sinal da Bruxaria que vislumbramos no fim do túnel na nossa alma e no coração, das primeiras tentativas, muitas vezes erráticas e vacilantes. Da sensação de se descobrir a si mesma, da emersão no fundo da alma para encontrar a Deusa, Senhora da Vida e da Morte. A tomada de consciência de ser livre e autônoma para percorrer o caminho do desenvolvimento do SER. A plena manifestação da individualidade completa no sentido de resgatar de si mesma sua essência de mulher, o seu poder do feminino. A segurança de expandir-se, elevar-se até o seu mais sagrado Eu, e nele encontrar a sua Deusa Interna com toda manifestação da sabedoria universal que é um caminho árduo e conflituoso.
Esgotamos todos os caminhos discursivos do senso de individualidade e do coletivo. Buscamos entender o lento e fatigante caminho da Bruxa solitária. Em contrapartida , destrançamos a complexidade da convivência em um Clan.
Percebemos que com o desenvolvimento gradual da sensibilidade emotiva da Bruxa, da capacidade de perceber sentimentos e estados de ânimos, de desenvolver a habilidade de ler naturalmente os sinais, em fim as mil facetas da natureza, as impulsionam para uma mutabilidade de energias, as quais direcionam seu humor, seus desejos, suas tristezas, suas alegrias, em suma, sua forma de Ser. O que naturalmente influencia na sua forma de se relacionar. Os questionamentos passam a ser uma forma típica do seu comportamento.
A Bruxa solitária com o passar do tempo, o seu Eu torna-se poliédrico, de humor variável, esquivo, pois age de acordo com seu estado de ânimo no momento, é o processo da sua polaridade emotiva que se desenvolve vibrando como uma unidade isolada. Ao encontrar apoio de um outro Bruxo, seja a distância, seja convivendo, estabelece um elo com o qual pode se identificar.
Felizmente hoje, com a Internet e com as mais variadas formas de comunicação, este elo tem se tornado corriqueiro mesmo para os Bruxos solitários. Parece até natural sermos verdadeiras "ilhas vivas", que espelham por todos os lados a si próprias. É o gérmen embrionário da Deusa em nós. " NÓS SOMOS AQUELES QUE SOMOS". Somos essência imanente da Mãe antiga.
A Bruxa é como uma semente, que oculta latente em si toda a força, beleza, estatura que deverá alcançar quando liberta dos invólucros que a aprisionam: preconceitos, egoísmo, medos, sentimentos negativos e falta de conhecimento do sistema da Deusa.
E tendo percorrido seus caminhos a serviço da grande Mãe, absorvido seus ensinamentos através da simplicidade da natureza, emerge até a plenitude da maturação, transformando-se em frutos que darão sementes, que proliferarão a Deusa em outras almas e corações.
A Bruxa é portanto, o sinal da divindade potencial, por isso é imperioso que se discipline um longo processo evolutivo para crescer até a sua plena expressão.
Finalmente nos demos conta do tempo que se passara e nem percebemos. Eu precisava despedir-me, pois em algumas horas os Bruxos da Casa Telucama começariam a chegar para a celebração . Curiosa lhe perguntei pela maleta preta, estilo médico antiga e bem envelhecida. Ela calada abriu a maleta, e mostrou-me o que continha: vários frascos de porções antigos e uma velha caderneta. Serena e folheando a desgastada caderneta falou:
Era da minha avó. Ela era uma velha parteira... Nesta caderneta estão registrados a maioria dos partos que fez durante oitenta anos... Nos despedimos!
Acabara de conhecer uma Bruxa solitária...
Graça Azevedo/ Senhora Telucama
Suma Sacerdotisa do Templo Casa Telucama
IN; TEMPLO CASA TELUCAMA
domingo, 22 de julho de 2012
AH, ESSES ADOLESCENTES...
Criança da Promessa
Eu sou o filho da Donzela, Mãe, Anciã
A criança da promessa que construirá um novo amanhã
Eu sou o filho da Donzela, Mãe, Anciã
A criança da promessa que construirá um novo amanhã
Sou o fruto da Terra, que se move com o Sopro da Vida, que no Fogo se renova e vai fluindo nas ondas da Água Divina
Sou o fruto da Terra, que se move com o Sopro da Vida, que no Fogo se renova e vai fluindo nas ondas da Água Divina
Eu sou sua filha, oh mãe antiga,
Eu sou seu filho, oh mãe do mundo.
A FORÇA INTERNA
TRÊS CABELOS DE OURO
CARMEM CORRÊA
A renovação do fogo criativo
Imaginemos, portanto, agora que temos tudo reunido, que não temos a menor dúvida quanto ao nosso propósito, que não estamos nos afogando numa fantasia escapista, que estamos integradas e que nossa vida criativa prospera. Precisamos de mais uma qualidade. Precisamos saber o que fazer, não se perdermos nosso foco de atenção, mas quando o perdermos; ou seja, quando estivermos temporariamente desgastadas. O quê? Depois de todo esse esforço, ainda poderíamos perder nosso rumo? Poderíamos, sim, mas ele fica perdido apenas por um tempo limitado, pois é a ordem natural das coisas. Felizmente, os camponeses da Europa Oriental já resolveram tudo isso para nós. Eles têm um conto de fadas maravilhoso intitulado "Os três cabelos de ouro".
Esta é uma história que os contadores vêm transmitindo às pessoas há centenas, talvez milhares, de anos, pois ela representa um arquétipo. É essa a natureza dos arquétipos... eles deixam uma comprovação, eles se entretecem nas histórias, nos sonhos e nas idéias dos mortais. Ali eles se tornam um tema universal, um conjunto de instruções, residindo não se sabe onde, mas atravessando o tempo e o espaço para iluminar cada nova geração.
É uma história que trata da recuperação do rumo perdido. O rumo é composto de sentir, ouvir e seguir a orientação da voz da alma. Muitas mulheres conseguem ter uma perfeita noção de rumo mas, quando perdem contato com ela, ficam dispersas como um colchão de penas aberto que se espalhou por todo o campo.
É importante ter um repositório para tudo o que sentimos e ouvimos da natureza selvagem. Para algumas mulheres, é o seu diário, onde elas deixam registrada cada pena que passa voando; para outras, é sua arte criadora: elas dançam a natureza selvagem, elas a pintam, elas a transformam num enredo. Você se lembra da Baba Yaga? Ela tem um grande caldeirão. Ela viaja pelos céus num caldeirão que na realidade é um pilão com sua mão. Em outras palavras, ela tem um repositório no qual guarda as coisas. Ela tem um modo de pensar, um meio de se locomover de um local para outro que é contido. É, os repositórios são a solução para o problema de toda perda de energia, isso e mais alguma coisa. Vejamos...
Os três cabelos de ouro
Uma vez, numa noite escuríssima e trevosa, o tipo de noite em que a terra fica negra, as árvores parecem mãos retorcidas e o céu é de um azul-escuro de meia-noite, um velho vinha cambaleando pela floresta, meio às cegas devido aos galhos das árvores. Os ramos arranhavam seu rosto, e ele trazia um pequeno lampião numa das mãos. A vela dentro do lampião tinha uma chama cada vez mais baixa. O homem tinha os cabelos amarelos e compridos, dentes amarelos e rachados e unhas amarelas e recurvas. Ele andava todo dobrado, e suas costas eram arredondadas como um saco de farinha. Sua pele era tão vincada que caía em folhos do seu queixo, das axilas e dos quadris.
Ele se apoiava numa árvore e se forçava a avançar; depois se agarrava numa outra para avançar mais um pouco. E assim, remando desse jeito e respirando com dificuldade ele ia atravessando a floresta.
Cada osso nos seus pés ardia como fogo. As corujas nas árvores piavam acompanhando o gemido das suas articulações à medida que ele seguia pelas trevas. Muito ao longe, tremeluzia uma luzinha, um chalé, um fogo, um lar, um local de descanso; e ele se esforçava na direção daquela luz. No exato instante em que chegou à porta, ele estava tão cansado, tão exausto, que a pequena chama no seu lampião se apagou e o velho caiu porta adentro desmaiado.
Dentro da casa, uma velha estava sentada diante de uma bela fogueira e ela se apressou a chegar até ele, segurou-o nos braços e o levou mais para perto do fogo. Ela o abraçou como uma mãe abraça o filho. Ela se sentou na cadeira de balanço e o embalou. E ali ficaram os dois, o pobre e frágil velhinho, apenas um saco de ossos, e a velha forte que o embalava.
— Pronto, pronto. Calma, calma. Pronto, pronto. Ela o embalou a noite inteira e, quando ainda não havia amanhecido mas estava quase chegando a hora, ele estava extremamente renovado. Ele era agora um belo rapaz, de cabelos dourados e membros longos e fortes. Mas ela continuava a embalá-lo.
— Pronto, pronto. Calma, calma. Pronto, pronto. E quando a manhã foi se aproximando cada vez mais, o rapaz foi se transformando numa linda criancinha com cabelos dourados trançados como palha de milho.
No momento exato do raiar do dia, a velha arrancou bem rápido três fios da linda cabeça da criança e os jogou nos ladrilhos. Eles fizeram um barulhinho.
Tiiiiiing! Tiiiiiiing! Tiiiiiiiiing!
E a criancinha nos seus braços desceu do seu colo e saiu correndo para a porta. Voltando o rosto por um instante para a velha, o menino deu um sorriso deslumbrante, virou-se e saiu voando para o céu para se tornar o brilhante sol da manhã.
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Tudo à noite é diferente. Por isso, para entender essa história precisamos mergulhar numa consciência noturna, um estado no qual percebemos com maior rapidez cada estalido ou ruído. É à noite que ficamos mais próximos de nós mesmos, mais próximos de idéias e sentimentos essenciais que não são tão registrados durante o dia.
A noite é o mundo de Mãe Nyx, a mulher que criou o mundo. Ela é a Velha Mãe dos Dias, uma das megeras da vida e da morte. Quando é noite num conto de fadas, sabemos que estamos no inconsciente. São João da Cruz chamou-a de "noite escura da alma''. Nessa história, ela é um período em que um homem muito velho vai enfraquecendo cada vez mais. É uma hora na qual estamos nas últimas, em algum sentido importante.
Perder o rumo significa perder a energia. A tentativa absolutamente equivocada quando perdemos o rumo é a de correr para arrumar tudo de novo. Correr não é o que devemos fazer. Como vemos na História, sentar e balançar é o que devemos fazer. A paciência, a paz e o balanço renovam as idéias. Só o ato de entreter uma idéia e a paciência para embalá-la são o que algumas mulheres poderiam chamar de grande prazer. A Mulher Selvagem o considera uma necessidade.
Isso é algo que os lobos conhecem inteiramente. Quando um intruso aparece, os lobos podem rosnar, latir ou até mesmo mordê-lo, mas eles também podem, a uma boa distância, recuar para o interior do grupo, sentando-se todos juntos como uma família faria. As costelas se enchem e se esvaziam, sobem e descem. Eles estão tomando rumo, estão se reposicionando, voltando ao centro de si mesmos e resolvendo o que é importante e o que fazer em seguida. Estão decidindo que “não vão fazer nada agora mesmo, que só vão ficar ali sentados, respirando, embalando-se juntos”.
Ora, muitas vezes quando as idéias não estão funcionando bem, ou quando nós não as estamos trabalhando bem, perdemos nosso rumo. Isso faz parte de um ciclo natural e ocorre porque a idéia ficou ultrapassada, ou porque nós perdemos a capacidade de vê-la por um ângulo novo. Nós mesmas ficamos velhas e desconjuntadas como o velho em "Três cabelos de ouro". Embora haja muitas teorias sobre "bloqueios" criativos, a verdade é que bloqueios brandos vêm e voltam como as condições atmosféricas e como as estações do ano — com as exceções dos bloqueios psicológicos de que falamos anteriormente, como não mergulhar na própria verdade, como o medo da rejeição, o medo de dizer o que se sabe, a preocupação com a própria competência, a poluição da correnteza básica, entre outros.
Essa história é tão admirável por delinear todo o ciclo de uma idéia, a ínfima luz que lhe é concedida, que é obviamente a própria idéia, o fato de ela se cansar e praticamente se extinguir, tudo como parte do seu ciclo natural. Nos contos de fadas, quando acontece algo de mau, isso significa que algo novo precisa ser tentado, uma nova energia precisa ser aplicada, uma força mágica, de cura e ajuda precisa ser consultada.
Aqui mais uma vez vemos a velha La Que Sabé, a mulher, de dois milhões de anos. Ela é "aquela que sabe". Ser mantido diante do seu fogo é algo revigorante, reparador. É para esse fogo e para os braços dela que o velho se arrasta, pois sem eles ele morreria.
O velho está cansado de passar tempo demais dedicado ao trabalho que lhe demos. Vocês alguma vez viram uma mulher trabalhar como se o diabo estivesse agarrado no seu dedão do pé, só para de repente entrar em colapso e não dar mais um passo sequer? Você alguma vez viu uma mulher totalmente dedicada a alguma questão social que um belo dia virou as costas e mandou tudo para o inferno? É que seu animus está esgotado. Ele precisa ser embalado por La Que Sabé. A mulher cujas idéias ou energias feneceram, murcharam ou cessaram completamente precisa saber o caminho até a velha curandera e precisa levar o animus exausto até lá para que ele se recupere.
No final, porém, a mulher precisa descansar agora, ser embalada, recuperar seu rumo. Ela precisa rejuvenescer, recuperar sua energia. Ela acha que não pode fazer isso, mas pode sim, pois o círculo de mulheres, sejam elas mães, alunas, artistas ou ativistas, sempre se dispõe a suprir a falta das que saem de licença. A mulher criativa precisa de descanso agora para voltar ao seu trabalho intenso mais tarde. Ela precisa ir visitar a velha na floresta, a revitalizadora, a Mulher Selvagem numa das suas muitas apresentações. A Mulher Selvagem já espera que o animus fique exausto com certa regularidade. Ela não se espanta quando ele lhe cai porta adentro. Ela está pronta. Ela não virá correndo até nós em pânico. Ela simplesmente nos apanha e nos segura até que recuperemos nossas forças.
Levar a cabo longas empreitadas, tais como diplomar-se, concluir um original, completar uma obra, cuidar de uma pessoa enferma, todas essas atividades apresentam momentos em que a energia que um dia foi jovem fica velha e cai prostrada sem conseguir ir adiante. Para as mulheres, é melhor que elas tenham conhecimento disso desde o início porque as mulheres costumam ser surpreendidas pela fadiga. É então que elas uivam, resmungam, sussurram, queixando-se do fracasso, da incompetência e coisas semelhantes. Não, não. Essa perda de energia é o que é. Ela faz parte da natureza.
A suposição da força eterna no masculino é equivocada. Trata-se de uma introjeção cultural que precisa ser desviada da psique. Esse engano faz com que tanto as energias masculinas no cenário interior quanto os homens de verdade na cultura se decepcionem. Todos por natureza precisam de uma trégua para recuperar as forças. O modus operandi da natureza da vida-morte-vida é cíclico e se aplica a todo mundo e a todas as coisas.
Na história, três fios de cabelo são jogados ao chão, como no ditado, "Jogue um pouco de ouro no chão". Esse ditado provém de desprender las palabras, que na tradição dos contadores de histórias, dos cuentistas, significa jogar fora algumas das palavras da história para torná-la mais forte.
O cabelo simboliza o pensamento, aquilo que emana da cabeça. Jogar cabelo no chão ou fora torna o menino de certo modo mais leve, faz com que ele brilhe ainda mais. Da mesma maneira, sua idéia ou iniciativa desgastada pode brilhar ainda mais se você tirar um pouco dela para jogar fora. É a mesma idéia de um escultor removendo mais mármore a fim de revelar mais a forma oculta. Um meio poderoso de renovar ou reforçar nossa intenção ou nossa ação que ficou extenuada consiste em jogar algumas idéias fora e concentrar nossa atenção.
Arranque três fios de cabelo da sua iniciativa, jogando-os os ao chão. Eles se transformarão num alarme de despertador. Jogá-los ao chão gera um ruído psíquico, um repique, uma ressonância no espírito da mulher que faz com que a atividade retome. O som da queda de algumas das nossas muitas idéias se transforma numa espécie de proclamação de uma nova era ou de uma nova oportunidade.
Na realidade, a velha La Que Sabé está podando ligeiramente o lado masculino. Sabemos que o corte dos galhos secos ajuda a árvore a crescer com mais força. Sabemos também que a eliminação das flores de certas plantas faz com que elas fiquem mais vigorosas, mais exuberantes. Para a mulher selvagem, o ciclo de desenvolvimento e redução do animus é natural. Trata-se de um processo arcaico, antiqüíssimo. Desde tempos imemoráveis, é assim que as mulheres abordam o mundo das idéias e suas manifestações objetivas. É assim que as mulheres agem. A velha no conto de fadas dos três cabelos de ouro nos ensina, na verdade volta a nos ensinar, como é que se faz.
Portanto, qual é o objetivo desse resgate e dessa concentração, desse chamado ao falcão para que volte, dessa corrida com os lobos? É procurar a jugular, chegar direto ao miolo e aos ossos de tudo que existe na sua vida, porque é ali que está o seu prazer, é ali que está a sua alegria, é ali que está o Éden da mulher, aquele local onde há tempo e liberdade de ser, de perambular, de se maravilhar, de escrever, cantar e criar sem medo. Quando os lobos pressentem prazer ou perigo, a princípio eles ficam totalmente imóveis. Ficam parados como estátuas, em total concentração para poderem ver, ouvir, perceber o que exatamente está ali, perceber o que está ali na sua forma mais essencial.
É isso o que a Mulher Selvagem nos oferece: a capacidade de ver o que está diante de nós com a concentração de atenção, com a imobilidade para ver, ouvir, sentir com o tato, com o olfato, com o gosto. A concentração é o uso de todos os nossos sentidos, incluindo-se a intuição. É desse mundo que as mulheres vêm resgatar suas próprias vozes, seus próprios valores, sua imaginação, sua clarividência, suas histórias e suas antigas recordações. São esses os resultados do trabalho da concentração e da criação. Se você perdeu o rumo para se concentrar, sente-se e fique imóvel. Segure a idéia e a embale. Mantenha uma parte dela, jogue outra parte fora, e ela se renovará. Não é preciso fazer mais nada.
Clarissa Pinkola Estés - Mulheres que Correm com os lobos
IN: LOBAS QUE CORREMClarissa Pinkola Estés - Mulheres que Correm com os lobos
CARMEM CORRÊA
AS VOZES DAS ÁGUAS
Em muitas das primeiras histórias da criação conhecidas nos mais diferentes pontos do mundo, encontramos a Deusa-Mãe como fonte de toda a existência. Nas Américas, ela é a Senhora da Saia de Serpentes – de interesse também porque, assim como na Europa, no Oriente Médio e na Ásia, a serpente é uma das suas manifestações mais básicas. Na antiga Mesopotâmia este mesmo conceito do universo é encontrado na idéia da "montanha do mundo" como o corpo da Deusa-Mãe do universo, idéia esta que sobreviveu através de períodos históricos. E como Nammu, a Deusa suméria que concebeu o céu e a terra, seu nome é expresso em um texto cuneiforme de cerca de 2000 a.C. (hoje no Louvre) por um ideograma simbolizando o mar.
A associação do princípio feminino às águas também primordiais é um tema onipresente. Por exemplo, na cerâmica decorada da antiga Europa, o simbolismo da água – muitas vezes em associação ao ovo primordial — é um motivo freqüente. Aqui a Grande Deusa, de quando em vez na forma de Deusa-pássaro ou serpente, governa a força proporcionadora de vida da água. Tanto na Europa quanto em Anatólia, motivos de chuva e fornecimento de leite se misturam, e recipientes e vasos de rituais são equipamento comum em seus santuários. Sua imagem associa-se também aos recipientes para água, os quais às vezes se apresentam em sua forma antropomórfica.
Como a deusa egípcia Nut, ela é a unidade harmoniosa das águas celestes primordiais. Posteriormente, como a deusa Ariadne (a Mui Sagrada Deusa), de Creta, e a deusa grega Afrodite, ela surge do mar.14 De fato, esta imagem ainda é tão poderosa na Europa cristã que chegou a inspirar a famosa Vênus de Botticelli erguendo-se do mar.
IN: O CÁLICE E A ESPADA - A Nossa História, o Nosso Futuro
RIANE EISLER
SENHORA DAS PLANTAS E DAS ÁRVORES
O Sagrado Salgueiro Chorão
Salix Alba |
Não há desmerecimento às outras árvores quando me refiro ao salgueiro como sagrado pois se trata realmente de uma das árvores sagradas mais conhecidas e em diversas culturas.
O salgueiro chorão não tem origem na Europa e sim no Leste Asiático. Então podemos dizer que o culto à esta espécie atravessou a Ásia passando por todo o oriente, chegando ao extremo oeste da Europa até os limites das Ilhas Britânicas. É muito provável que estivesse entre as principais árvores que ornamentavam os jardins da babilônia e na grécia era consagrado à grandes deusas como Hera e Hécate. Normalmente dedicado à deusas noturnas ou lunares por sua forte ligação com o feminino.
Como já foi postado aqui no blog, a palavra "Witch" (bruxa) deriva de "Willow" (salgueiro). A árvore, desde a idade média, está associada às bruxas e as bruxas, por sua vez, ao feminino. É compreensível, portanto, que a árvore esteja ligada a ambos.
Certa vez, numa palestra sobre Ogham, a palestrante definiu muito bem como é observar um salgueiro: "Ele é acolhedor, é maternal e parece que te espera para um abraço".
Talvez os antigos também o vissem desta forma, como um ser maternal e acolhedor. Mais uma vez a figura da mulher se apresenta nesta simbologia.
Eu, particularmente, não gosto da expressão "chorão", pois parece dar à árvore uma fragilidade que não é real. De todas as árvores "choronas", afinal existem diversas espécies com este aspécto, somente o salgueiro leva "chorão" como codinome.
O salgueiro é uma árvore muito resistente, ela resiste muito bem ao fogo e a madeira de salgueiro é uma das piores para a lenha e nunca a utilizavam para este fim.
De um simples galho de salgueiro, sem grandes cuidados, uma nova árvore brota e seu crescimento é relativamente rápido. Ele é bastante tolerante às secas e chuvas em excesso.
Na realidade, o excesso de água é muito benéfico ao salgueiro, é uma das árvores prediletas para cultivo à beira de lagos e rios pois seu tronco não apodrece. Além de ornamentarem às margens, seus ramos tendem a alcançar à água como se realmente pretendessem toca-la.
Os antigos já conheciam as propriedades medicinais do salgueiro, seu poder anti-inflamatório e analgésico. Tal conhecimento ultrapassou os séculos e hoje um dos mais eficazes e utilizados medicamentos, a "aspirina", se deve aos antigos que já utilizavam a casca do salgueiro no combate à diversas enfermidades.O ácido acetilsalicílico é resultado do principio ativo da casca da árvore, a salicina, e seu nome deriva de "Salix", nome científico do Salgueiro.
Não há dúvidas que esta é realmente uma árvore sagrada.
A Velha Sabugueiro
Sim, o título está correto, pois não devíamos chama-lo de "o sabugueiro", mas como não é considerado uma árvore e sim um arbusto e, na lingua portuguesa, diferente do inglês, os gêneros são bem definidos, não podemos considera-lo como "a sabugueiro". Todavia, há séculos e em diversas culturas, está relacionado ao feminino e ligado às bruxas.
O sabugueiro está no folclore da maioria dos países europeus, com lendas e superstições que foram transmitidas de geração em geração desde os tempos pré-cristãos. Sempre ligado ao feminino, às fadas e às deusas. Dizem, inclusive, que é esta grande ligação com o feminino que faz com que o sabugueiro seja considerado a "árvore das bruxas". Alguns pagãos o chamavam de "Mother Elder" (Mãe Anciã) ou "Ellhorn the Wisewoman" (Ellhorn, a velha Sábia).
"A Lenda da Velha Sabugueiro"
Reza a lenda que, um rei partiu da Dinamarca rumo à Bretanha com o intúito de conquista-la. Pisou em solo inglês companhado de muitos homens e, depois de marcharem por muitos dias, atravessaram uma faixa de campo em direção à uma aldeia conhecida como "Long Compton".
Já bem próximos ao vilarejo, em uma trilha íngreme, uma velha mulher apareceu a eles e lhes disse:
"Sete largos passos darás,
Se puder ver Long Compton,
Rei da Inglaterra serás! "
Se puder ver Long Compton,
Rei da Inglaterra serás! "
O rei, com bom pressentimento, sentiu que as palavras da velha feiticeira fossem uma profecia a seu favor. Deu, então, sete largos passos adiante mas sua visão foi bloqueada por uma colina e ele nada pode ver.
A velha sorrindo então conjurou:
"Como Long Compton não podes ver,
Rei da Inglaterra não poderás ser.
Levanta-te e, como rocha, fique parado,
Para a Inglaterra não haverá rei.
Tu e teus homens em pedras serão transformados.
E eu, sabugueiro me tornarei ".
Rei da Inglaterra não poderás ser.
Levanta-te e, como rocha, fique parado,
Para a Inglaterra não haverá rei.
Tu e teus homens em pedras serão transformados.
E eu, sabugueiro me tornarei ".
Um forte vento então soprou e o o rei, juntamente com seu exército, se transformaram em um círculo de pedras. A velha, então, transformou-se em sabugueiro e juntou-se às outras árvores do local.
E até hoje existe este místico círculo de pedras que fica localizado entre os condados de Warwickshire e Oxfordshire, denominado "The Rollright Stone".
Postado por Hugo Ilex IN: VALE DO MAGO
sexta-feira, 20 de julho de 2012
FLUI O MUNDO AVERNAL
Flui, flui me pelo corpo a essência da cobra virginal
O outono antigo do vento invernal
Muda se o tempo em mim o rumo
Vai e vem com fluidez ao litoral
Não existe em mim posição mais literal
Ao leste e a oeste sempre sem tempo e sem caminho
Errante por entre morros e mundos
Passáros e gaivotas me rodeiam
Mulheres ao longe dançam em roda
Vento mudo, vento surdo, fogo e fluxo temporal
Águas e morros desmoronam em mim
De mim vários e duplos gritos se desdobram
E eu grito o mantra da Grande Mãe
RAM-IO, RAM-IO, RAM-IO
Sinto a natureza que em mim se desdobra
Flui para dentro da Terra como cobra
E o primeiro grito repercute por entre o tempo
Está perdido e já não era sem tempo.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
UMA ROCHA NUM LEITO DE UM RIO
Um rio que é uma eterna mudança de palavras, fluxos e pensamentos. carne a carne a única resposta para as perguntas solares e objetivas é a minha introspecção. Infelizmente ou felizmente apenas conheço e me crio nesta modalidade, é até ai que meus poderes (poder significa algo que passamos fazer) vão. Sempre acabo fugindo das definições que me eram impostas, e eu não sei até onde isso é mérito ou demérito.
Eu sempre inicio com um "eu não sei" Não conseguiria te dizer como me sinto mesmo que quizesse. As palavras vagam dentro de mim, são como visões, milhares de letras e palavras vagando em luminosidade, as palavras afundam dentro de mim. Poderia te dizer que é tempo mas qual o tempo que me refiro? A corrente sub-reptica das emoções. Será que não é apenas outra forma de egoismo dizer isso? E onde está o ego e o que ele faz? Será que isso que eu sentia pulsar no peito tão maldita e ternamente era ego e não vida? Existe aqui em mim um vilão? Será que o mal e o uso me envenenaram, turvaram minhas antigas águas e por isso não penso mais com a solidez da rocha? A rocha, eu também sou a rocha, antiga e inabalável fincada da Mãe, fincada nela.
Sabemos que a rocha jamais será a terra abaixo, jamais o poderá ser, pois como se entre Terra e a rocha existem átomos que as fazem ligadas... que as dividem também. Eu me perco e eu sei como a palavra é perniciosa, como a palavra procura uma vitima, para que ela se defina de maneira clara e solar ante o mundo. Eu vivo dessa indefinição profunda, nela vivo o meu habitis, meu habitat natural. Não sei se a indefinição pode ser uma falta de coragem...Mas quem sabe também não seja um excesso dela.
Eu sempre inicio com um "eu não sei" Não conseguiria te dizer como me sinto mesmo que quizesse. As palavras vagam dentro de mim, são como visões, milhares de letras e palavras vagando em luminosidade, as palavras afundam dentro de mim. Poderia te dizer que é tempo mas qual o tempo que me refiro? A corrente sub-reptica das emoções. Será que não é apenas outra forma de egoismo dizer isso? E onde está o ego e o que ele faz? Será que isso que eu sentia pulsar no peito tão maldita e ternamente era ego e não vida? Existe aqui em mim um vilão? Será que o mal e o uso me envenenaram, turvaram minhas antigas águas e por isso não penso mais com a solidez da rocha? A rocha, eu também sou a rocha, antiga e inabalável fincada da Mãe, fincada nela.
Sabemos que a rocha jamais será a terra abaixo, jamais o poderá ser, pois como se entre Terra e a rocha existem átomos que as fazem ligadas... que as dividem também. Eu me perco e eu sei como a palavra é perniciosa, como a palavra procura uma vitima, para que ela se defina de maneira clara e solar ante o mundo. Eu vivo dessa indefinição profunda, nela vivo o meu habitis, meu habitat natural. Não sei se a indefinição pode ser uma falta de coragem...Mas quem sabe também não seja um excesso dela.
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