O PROBLEMA DA HUMANIDADE É JUSTAMENTE O CONTROLE A OPRESSÃO DA MULHER
Questões humanas e questões femininas
Ao analisarmos nosso passado, vimos que o paradigma predominante cegou os estudiosos de tal forma que, em figuras pré-históricas da Deusa-Mãe, eles conseguiram enxergar apenas Vênus gordas — obesos objetos sexuais para os homens. Contemplando nosso futuro com esse
mesmo tipo de mentalidade, os problemas que afligem nosso planeta também são considerados
sob uma ótica distorcida.
O problema tem início com a questão de que a informação reunida pela maioria dos
especialistas exclui de forma sistemática as mulheres. Assim, a maior parte dos políticos trabalha só com metade dos dados. Porém, mesmo com as informações diante de seus olhos, esses políticos não conseguirão ainda agir adequadamente caso se mantenha o atual sistema.
Por exemplo, em muitas nações muçulmanas economicamente subdesenvolvidas e
superpopulosas, elevadas taxas de natalidade não são consideradas problema. Líderes como o
aiatolá Khomeini e Zia-ul-Haq parecem não associar a terrível pobreza de seu povo ao fato de
nessas culturas as mulheres serem consideradas instrumentos de reprodução controlados pelo
homem. Da mesma forma, na Conferência Populacional de 1984, na Cidade do México —
realizada na cidade mais conhecida no mundo por sua superpopulação, em um país de onde
anualmente milhões de trabalhadores migrantes ilegais partem em direção ao norte a fim de
escapar da terrível pobreza causada pela superpopulação —, os representantes da administração do ex-presidente Reagan anunciaram impassíveis a inexistência de problema populacional.
A dedução feita pela imprensa mundial, e até pela maior parte dos estudos especializados, é
a de que exemplos como esses demonstram sobretudo uma falta de inteligência ou consciência por parte dos governos envolvidos. Mas tal impressão pode ser perigosamente equivocada. Na
verdade, eles refletem aguda consciência do que é necessário para a manutenção do sistema
androcrático em nível mundial.
Ironicamente, nesse período de enorme regressão androcrática, exemplo dramático de tais
políticas vem de uma nação que constituiu no passado exemplo de um tipo de luta muito
diferente na busca de ideais gilânicos de justiça, igualdade e progresso social. Os EUA — que
exercem influência exagerada sobre as políticas de nações superpopulosas e consomem uma
percentagem desproporcional dos recursos mundiais — regrediram recentemente a políticas que
aumentam, em vez de reduzir, as taxas de natalidade. A administração Reagan não só cortou de
forma radical os fundos para os programas de planejamento familiar no Terceiro Mundo; ao
mesmo tempo que a fome e a pobreza aumentavam nos EUA, essa administração também fez
pressões em prol de uma emenda constitucional que outra vez proibisse o aborto. E, numa
manobra calculada para negar às mulheres acesso igual e justo a opções de vida não reprodutoras, a administração Reagan opôs-se também firmemente à Emenda de Igualdade de Direitos proposta para a Constituição Americana, ignorando ou efetivamente revogando antigas leis destinadas a equiparar as oportunidades educacionais e trabalhistas das mulheres.16
Em outras regiões do mundo, com a notável exceção de nações como a China, Indonésia,
Tailândia e, mais recentemente, Quênia e Zimbabwe, o planejamento familiar raramente constitui prioridade básica. Ao contrário, na Romênia comunista, um dos países mais pobres do bloco
oriental, o presidente Nicolae Ceausescu declarou "dever patriótico" das mulheres ter quatro
filhos, exigindo que elas se submetessem a testes de gravidez mensais em seus locais de trabalho e fornecessem explicações médicas para a "ausência persistente de gravidez". E, em muitas das nações superpopulosas e mais pobres do mundo em desenvolvimento, as mulheres têm negado seu acesso ao controle da natalidade.
Embora em uma primeira e histórica Conferência Internacional sobre População, em
1984, a "melhoria da condição das mulheres em todo o mundo" tenha sido declarada objetivo
fundamental em si mesmo e devido a sua importância na redução da fertilidade,19 as políticas
capazes de criar as oportunidades e motivações para as mulheres limitarem os nascimentos são
prioridades bem secundárias praticamente em toda parte.20 Além disso, a situação continua a
mesma — apesar de a clara mensagem dos especialistas em demografia de todo o mundo ressaltar que, se o planejamento populacional tiver êxito, criando papéis satisfatórios e socialmente gratificantes para as mulheres, em vez de seus papéis de esposas e mães, isto ainda é mais importante do que a existência de instrução para o controle da natalidade. Claro que as alternativas são simples. Os meios tradicionais de refrear o crescimento populacional têm sido a doença, a fome e a guerra. Dar prioridade à liberdade de reprodução e à
igualdade feminina é a única forma alternativa de deter a explosão demográfica. Mas proporcionar a essas "questões femininas" prioridade máxima significaria o fim do atual sistema. Representaria a transformação de uma sociedade dominadora para uma sociedade de parceria. E, para a mentalidade androcrática — a mentalidade de nossos atuais líderes mundiais —, esta possibilidade inexiste.
Assim, estes homens encontram e armazenam informações que lhes dizem o que querem
ouvir. A Heritage Foundation, sustentada por interesses extremamente conservadores nos Estados Unidos, por sua vez patrocinou estudos realizados pelo conhecido futurólogo Herman Kahn, pelo economista Julian Simon e outros que argumentam não existir um problema demográfico global. Em essência, eles concluem que, a curto prazo, a fome disseminada ajudará a reduzir o excesso populacional, e a longo prazo, os homens que dirigem os impérios econômicos mundiais produzirão, através de competição agressiva e desenfreada, tanta riqueza que uma quantidade suficiente "pingará" e alimentará os muitos bilhões que estão por vir.
Esses sucessores modernos dos homens que em nossa pré-história dominaram a realidade
se utilizam do mesmo enfoque dado ao problema das "soluções" para a fome e a pobreza. Como
primeiro passo, a existência de fome e pobreza globais é negada ou minimizada. Se em seguida
for apresentada prova irrefutável — por exemplo, de que a cada minuto trinta crianças morrem
por causa da fome e da falta de vacinas baratas —, eles replicam que "esta situação desventurada" é temporária. A pobreza e a fome desaparecerão também aos poucos, quando liderar o "mercado livre".
Até mesmo aqueles aparentemente menos insensíveis ao sofrimento humano, os quais
estão de fato muito preocupados, com freqüência caem nas armadilhas convencionais que
obscurecem e distorcem a realidade. Eles continuam a falar de fome e pobreza em termos gerais —
quando as evidências mostram com nitidez que, de acordo com a ordem estabelecida pelo sistema de supremacia androcrática/dominadora, a pobreza e a fome de fato são basicamente "questões femininas".
De acordo com estatísticas do governo americano, as famílias dirigidas por mulheres são as
mais pobres dos EUA, com um índice de pobreza que é o triplo do de outras famílias, e dois em
cada três americanos pobres e idosos são mulheres. No mundo em desenvolvimento as realidades são ainda mais sombrias. Na África, campos de refugiados internos e externos, onde milhares estão famintos, os mais pobres dos pobres e os mais famintos dos famintos são as mulheres e seus
filhos. E, como documentam o relatório das Nações Unidas, Situação das Mulheres no Mundo—
1985 e muitos outros relatórios oficiais e não-oficiais, a situação na Ásia e América Latina é a
mesma.
Outra vez, a lógica diria que as políticas nacionais e internacionais deveriam conceder total
prioridade a programas que lidem com a pobreza e a fome de mulheres. Mas qual a reação a tais
realidades?
Nos Estados Unidos, a despeito do grande índice de desemprego feminino, os programas
de redução do desemprego aprovados nas décadas de 70 e 80 criaram apenas uma fração diminuta de trabalhos fora das ocupações dominadas pelo homem, como a construção e o conserto de estradas. Na África, apesar da fome e do fato de as mulheres serem responsáveis por 60 a 80% do cultivo de alimentos, o implemento agrícola técnico, os empréstimos, a concessão de terras e subsídios monetários são destinados quase que exclusivamente aos homens. Na Ásia e América Latina, além de as mulheres estarem condenadas a uma educação desigual e relegadas à especialização para as ocupações mais mal remuneradas, o desenvolvimento econômico e
programas de auxílio estrangeiro são, da mesma forma, destinados quase que exclusivamente aos homens.
O fundamento lógico do sistema androcrático é o de que os homens como "chefes da
casa", cuidam de mulheres e crianças. Mas esta lógica baseia-se em um modelo da realidade que, mais uma vez, ignora inúmeros dados, pois há informações mais do que suficientes mostrando que o motivo básico por que tantas mulheres e crianças em todo o mundo vivem em miséria abjeta reside no fato de, seja em famílias "intactas" ou "destruídas", os homens não proverem a
subsistência de suas esposas e filhos. O problema não reside apenas no fato de, em países industrializados como os Estados Unidos, mais da metade dos pais divorciados recusar-se a obedecer às determinações da lei e pagar pensão à esposa e aos filhos. Tampouco reside unicamente no fato de hoje, em muitas regiões da Ásia e África, os homens acorrerem às cidades, deixando as mulheres e os filhos para trás, defendendo-se como podem — e voltando esporadicamente para procriar outra criança.
A questão está em que nas sociedades de supremacia masculina a pobreza e a fome das
mulheres têm raízes bem mais profundas. Ela não se limita somente a famílias encabeçadas por
mulheres. Esse é um problema de organização familiar, na qual o "cabeça" masculino do casal
detém o poder sancionado socialmente de determinar de que forma os recursos ou o dinheiro
serão distribuídos e utilizados.
Por exemplo, em nossa história ocidental, seja entre os servos russos, os mineiros irlandeses
ou os operários americanos, muitos homens consideram uma afronta à sua masculinidade
"entregar" seus salários para que as esposas possam comprar alimentos para a família. Ao
contrário, como muitos homens ocidentais o fazem ainda hoje, eles bebem ou gastam o salário
com o jogo, espancam as esposas por "encherem o saco" se, ao fazerem uma objeção, estas
desafiam a autoridade masculina. Este padrão de comportamento é também freqüente em muitos países latino-americanos e em vastas regiões da África.
Além disso, em grande parte do mundo em desenvolvimento, as mulheres que preparam
— e freqüentemente também cultivam — o alimento para a família não comem enquanto os
homens não terminarem. Mais uma vez, há um fundamento lógico para tais padrões de
alimentação sexualmente discriminatórios. Com freqüência, em locais onde as mulheres trabalham duro do amanhecer ao anoitecer, argumenta-se que os homens necessitam de mais comida, ou que estas são "tradições étnicas" nas quais imigrantes ocidentais não devem se meter. Há também a lógica para tabus alimentares que proíbem as mulheres, particularmente as grávidas, de comer os mesmos alimentos de que precisam para manter a saúde. Em conseqüência, estudos da Organização Mundial de Saúde mostram que a anemia nutricional aflige quase metade de todas as mulheres do Terceiro Mundo em idade de procriar mais da metade das mulheres grávidas!
Contudo, tais padrões sexualmente discriminatórios na distribuição dos recursos não
afetam seriamente "apenas" as mulheres. Eles também apresentam terríveis implicações para os
homens — e para a evolução humana. É de conhecimento geral que as mães com desnutrição
costumam conceber filhos com maiores probabilidades de debilidade e doença. Isso obviamente
afeta tanto as crianças do sexo feminino quanto as do sexo masculino, as quais nascem com menos peso e freqüência também mentalmente deficientes, ou, na melhor das hipóteses, dotadas de inteligência inferior, o que não aconteceria se mães recebessem alimentação adequada.
Assim, como nosso mundo ignora sistematicamente essas questões humanas ainda
consideradas "femininas", milhões de seres humanos de ambos os sexos são privados de seu direito de nascimento: a oportunidade de levar vidas saudáveis, produtivas e gratificantes. E, como direitos das mulheres não são considerados direitos humanos, não só nossa evolução cultural mas também nossa evolução biológica são às necessariamente sustadas.
Também pareceria lógico tomar providências imediatas para mudar os padrões de
distribuição alimentar sexualmente discriminatórios. Mas, como na questão das políticas
populacionais e de desenvolvimento, há nas androcracias sistemas esmagadores de restrição.
O problema básico consiste em que, nas sociedades de supremacia masculina, há dois
obstáculos fundamentais na formulação e implementação das políticas capazes de lidar de forma
eficaz com nossos crescentes problemas globais. O primeiro obstáculo está no fato de que os
modelos de realidade necessários à dominação masculina exigem que todas as questões
importantes no que se refere a nada menos de metade da humanidade sejam ignoradas ou
vulgarizadas. Essa monumental exclusão de dados constitui omissão de tal magnitude que, em
qualquer outro contexto, os cientistas a condenariam como falha metodológica fatal. No entanto,
mesmo quando esse primeiro obstáculo é de alguma forma ultrapassado e os políticos recebem
informações completas e imparciais, permanece um segundo obstáculo, ainda mais fundamental,
qual seja, o de que a prioridade básica da política em um sistema de supremacia masculina deve
ser a preservação da dominação masculina.
Logo, as políticas que enfraqueceriam a dominação masculina — e a maioria das políticas
que oferecem qualquer esperança no futuro da humanidade — não podem ser implementadas.
Mesmo se forem formuladas, tais políticas precisam ser arquivadas, devem receber fundos
insuficientes ou então devem ser desvirtuadas a ponto de perder sua eficácia.
A solução totalitária (!?)
Quando seus líderes eleitos não conseguem resolver problemas econômicos, sociais e
políticos, as pessoas buscam outros capazes de fornecer respostas. Na mentalidade androcrática, que valoriza acima de tudo todas as supremacias, equiparando direito e poder, essas respostas costumam equivaler à violência e ao domínio dos homens fortes.
Assim, não surpreende que, junto com o esgotamento progressivo dos sistemas e/ou
holocausto nuclear, um freqüente cenário imaginado para o futuro seja o totalitarismo global. Esse tem sido o tema de muitas histórias de ficção científica, do profético 1984 de George Orwell a filmes como Rollerball e Fahrenheit . Esse tema tem sido também objeto de estudos
especializados sobre o futuro, tais como a previsão de Jacques Ellul sobre um mundo
desumanizado governado por tecnocratas desumanos. Até mesmo o cenário "otimista"
prefigurado por Herman Kahn, do Hudson Instituto, sobre um futuro de prosperidade
inacreditável, resultante da filosofia do "tudo continuará normalmente apesar dos contratempos"
pregada pelas megacorporações e pelos militares, clientes do instituto, é o de um mundo
governado pelo que Kahn denominou um novo "império agostiniano".
Já se sugeriu muitas vezes que o grande apelo psicológico de um futuro totalitário reside
em sua promessa de um "líder forte", o qual, como o "pai poderoso" da infância, "cuidará de
tudo", em troca de obediência fiel. Sem dúvida, a mente condicionada a se submeter à autoridade masculina inclinar-se-á a voltar-se para essa "proteção" em tempos de crise. Mas há outro motivo para o forte apelo — e grande perigo — do totalitarismo moderno.
A visão convencional do totalitarismo é a de ser uma aflição inteiramente moderna, um
horror típico de nossa era secular e científica. É verdade que a eficácia tecnológica dos campos de extermínio em massa alemães não encontrou precedentes. Mas, como demonstram a pré-história e a história, não são raras as tentativas de escravização de populações inteiras. Tampouco a supremacia pelo terror constitui marca própria de regimes totalitários modernos.
O que podemos perceber hoje em dia, através da recuperação de nosso passado perdido, é
que, em seus métodos de controle e sua estrutura básica, o totalitarismo moderno é a culminância lógica de uma evolução cultural baseada no modelo dominador de organização soe» Na eficiência desse controle por meio do terror está o avanço último desse tipo de sociedade. Em essência, constitui uma versão tecnologicamente adiantada das cidades-estados rigidamente androcráticas ( primeiro surgiram em nossa pré-história.
O Estado totalitário do século XX é o sucessor moderno da cidade-estado teocrática da Antiguidade onde, como escreve o historiador Lewis Mumford, massas de pessoas não passavam de engrenagens rigidamente controladas em gigantescas máquinas sociais. E as elites das hierarquias de estados fascistas e comunistas são em essência as sucessoras das antigas castas dominadoras de guerreiros/sacerdotes. Ambas afirmam ter uma ligação direta e exclusiva com a Palavra — seja com a Palavra de Deus, Marx, o Führer, Stalin ou Mao. Ambas reclamam também o direito exclusivo de interpretar essa Palavra através da lei e impô-la pela força ou ameaça de força.
Assim como nas teocracias androcráticas, onde não havia separação entre Igreja e Estado,
os homens que governavam sociedades fascistas e comunistas detinham o poder espiritual e
temporal. À semelhança das religiões androcráticas, nem o comunismo nem o fascismo toleravam qualquer desvio da "verdadeira" fé. Ao contrário de outras ideologias políticas modernas, embora assemelhando-se às religiões androcráticas, ambos oferecem uma visão de mundo ampla, englobando a maior parte, se não todos, os aspectos da vida política, social e familiar.
Extremistas de direita ainda citam a Bíblia como autoridade para famílias patriarcais. Na Alemanha nazista, o Führer proclamava não só as mulheres como também os homens "fracos" e "afeminados" como os judeus eram naturalmente inferiores a sua nova raça de super-homens". Na União Soviética, o modelo oficial para as relações familiares, reproduzido em um número infinito na literatura e na pintura, onde vemos mulheres servindo refeições a seus homens, é o mesmo da hausfrau idealizada na propaganda nazista. Nos estados totalitários comunistas e fascistas, assim como na Bíblia no Corão e outras escrituras tradicionais, a obediência e o conformismo são as virtudes supremas. E, em ambos, a violência não só é permitida, mas é também ordenada se for a serviço da ideologia oficialmente aprovada — seja através do terror de um sacerdócio medieval, com sua queima de livros e de pessoas, ou através das tecnologias mais eficientes de lavagem cerebral e tortura dos regimes totalitários modernos.
O líder carismático e envolvente, que incita com sucesso seus seguidores a "destruir o
inimigo", é outra característica integral do totalitarismo moderno e tradicional. Na Europa
medieval, por exemplo, o fervor e ganância religiosos androcráticos foram estimulados com
sucesso e pompa em grupos enormes de pessoas por homens como o Papa Urbano II e Bemard de Clairvaux, envolvendo a Europa e a Ásia Menor nos longos banhos de sangue seculares das
Cruzadas. Na Alemanha nazista, em investidas com a mesma dimensão e pompa, à luz de
tochas, os discursos ardentes de Hitier lançaram o mundo moderno na Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, atingindo milhões de lares através do meio hipnótico da televisão, um novo
tipo de demagogos carismáticos tem exortado os americanos ao confronto direto com
"humanistas, feministas e comunistas imorais e pagãos" — sobre os quais colocam a culpa de
todos os males do mundo. Tanto os regimes totalitários modernos quanto os tradicionais exigem o estudo constante das escrituras sagradas ou oficialmente sancionadas — seja a Bíblia ou o Corão, ou um Mein Kampf, ou as Citações do Presidente Mao. Estes fornecem todas as respostas: a "verdade" última. E, servindo ao mesmo propósito da rígida censura religiosa da pré-história androcrática e histórica, todos os meios de comunicação de massa sofrem severo controle nos modernos regimes totalitários.
Na verdade, embora em escala bem mais reduzida do que durante a imposição préhistórica
da androcracia, talvez a característica mais extraordinária das modernas sociedades
totalitárias seja (como em 1984, de George Orwell) o fato de uma de suas principais indústriasser a de fabricação de mitos. Na Alemanha nazista, Adolf Hitier, um homenzinho de cabelos escuros,
sem atrativos, foi mitologizado com sucesso como o Führer, o líder forte da "raça pura" formado pelos "super-homens" arianos louros, de olhos azuis e belos. Na Rússia, Deus-Pai e seu substituto, o tirânico paizinho ou czar, foram substituídos primeiro por Lenin, o Pai da Revolução, cujo corpo mumificado tomou-se objeto de veneração e culto, e em seguida por Stalin, que assassinou sangue-frio milhões de pessoas de seu próprio povo. Tanto nas mitologias comunistas quanto fascistas, podemos perceber exatamente os
mesmos processos em funcionamento, como eram usados durante a primeira tomada androcrática da realidade em posição inversa. Não só novos mitos, mas também novos símbolos foram criados. Por exemplo, a suástica e a foice com martelo, no século XX, tornaram-se quase tão poderosos quanto o símbolo de Cristo na cruz mobilizando os homens para as Cruzadas e guerras "santas". E no lugar das antigas cerimônias religiosas e rituais surgiram novas cerimônias e rituais: assembléias em massa, desfiles com tochas, marchas ritmadas, o trovejar e a fúria virtuosos das palavras do Líder, exortando os "iluminados" a prosseguirem na violenta difusão da "verdade".
A FÉ NA ESPADA
Sejam eles religiosos ou seculares, modernos ou antigos, ocidentais ou orientais, a semelhança básica dos líderes e supostos líderes totalitários reside em sua fé no poder letal da Espada enquanto instrumento de nossa libertação. Um futuro dominador, portanto, cedo ou tarde, quase com certeza representará também um futuro de guerra nuclear global — e o fim de todos os problemas e aspirações da humanidade.
IN, O Cálice e a Espada de Riane Eisler
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