"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O MISTÉRIO DA MÃE DIVINA




A Escuridão precede a Luz e é a sua Mãe.”

Inscrição no altar da catedral de Salermo

Em inúmeras catedrais da Europa, principalmente no centro e no sul da França, encontram-se esculturas de uma figura misteriosa, conhecida sob o nome de Madona Negra. Essas representações da Madona são bem diferentes de outras imagens cristãs e sua origem ou finalidade permanecem desconhecidas, sem definição ou explicação. Elas possuem um magnetismo diferente e, na tradição da Deusa, são consideradas arquétipos ancestrais da face escura da Grande Mãe, os atributos de poder, fertilidade, mistério e sabedoria da Mãe Terra.

A explicação oficial dada pelos representantes da igreja é que a cor escura das estatuetas é atribuída ao enegrecimento pela fumaça secular das velas, à deterioração da tinta utilizada ou à qualidade da madeira. Mesmo que isso seja verdade para algumas poucas imagens (principalmente as que foram pintadas de branco ou dourado pelos monges cristãos), sua origem aponta para antigas representações das deusas do mundo antigo como Lilith, Cibele, Ísis ou Kali.

Muitas das estatuetas foram encontradas nos lugares sagrados das deusas antigas, onde posteriormente foram erguidas as igrejas cristãs dedicadas à Maria ou a algumas santas católicas. Foi comprovada, também, a conexão entre essas estatuetas e o culto gnóstico dos séculos XI e XII com os “troféus” trazidos pelas cruzadas do Oriente Médio (estatuetas saqueadas dos templos das deusas acima mencionadas) e com a influência moura durante seu domínio na Espanha.

Na França, já foram localizadas mais de 300 Vierges Noires, das quais sobreviveram intactas cerca de 150, as demais tendo sido pintadas de branco pelos monges, destruídas por fanáticos, roubadas ou adquiridas por colecionadores. As mais famosas Madonas Negras são as da Catedral de Chartres (França), de Mont Serrat (Espanha) e Czestochova (Polônia). Das estatuetas pós-renascentistas, podemos mencionar Nossa Senhora de Guadalupe (México) e Nossa Senhora Aparecida (Brasil).


A Madona Negra e Ísis

A mais freqüente correspondência da Madona Negra é como Ísis, a Grande Mãe egípcia, em sua representação materna, segurando ou amamentando seu filho Hórus. O culto de Ísis se difundiu do Egito para os países do Mediterrâneo, tendo se mantido durante toda a duração do Império Romano. Nos últimos séculos desse Império, outras estatuetas de deusas escuras, como Cibele e Diana de Éfeso, também foram reverenciadas juntamente com Ísis. Apesar da cristianização, esse culto continuou até a Idade Média e, pela proximidade com a África e o Oriente, muitas Madonas Negras ainda existem nos países limítrofes.

Durante a Idade Média, muitas outras estatuetas das Virgens Negras foram confeccionadas para repor as que haviam sido roubadas ou destruídas, porém seguindo-se sempre os antigos modelos, com o mesmo respeito por seu mistério.

Como várias dessas estatuetas foram encontradas escondidas em grutas, embaixo de árvores ou nas ruínas dos antigos templos, é fácil ver sua ligação com as deusas pagãs (Cibele, Ártemis e Hécate), cujo culto era feito nos bosques, nas grutas ou nos santuários da antiguidade.


A Madona Negra e Sophia

Como mediadora entre o céu e a Terra, a Madona Negra representava Sophia (ou Hockmah), a Grande Mãe dos gnósticos, a contraparte feminina do criador e fonte de seu poder, cujo símbolo era a pomba, metamorfoseada pelo cristianismo em Espírito Santo de forma a complementar a Trindade, substituindo-se, assim, a figura e o poder da Mãe. Mesmo com a perseguição, proibição e extinção do culto gnóstico (considerado herege e perigoso pelos patriarcas cristãos), Sophia continuou a ser venerada como a Mãe Divina pelos ocultistas e a Igreja foi obrigada a criar uma santa com seu nome, reduzindo a Deusa à condição de mortal.


A Madona e a Mãe Terra


Os altares em que as Madonas Negras são reverenciadas se localizam próximos a fontes, grutas, montanhas ou se encontram escondidos nas criptas ou subterrâneos de igrejas católicas, comprovando a preservação de sua antiga simbologia, o aspecto telúrico de suas representações e sua íntima conexão com a energia da Mãe Terra.

O cristianismo transformou e adaptou os antigos cultos da Mãe Terra na veneração a Maria. Todavia, há uma diferença conceitual básica: a Mãe Terra tem atributos de fertilidade, sensualidade, expressão instintiva e expansão. Ausentes da figura de Maria, esses atributos estão presentes na figura de Maria Madalena, considerada pela igreja cristã a “pecadora e prostituta arrependida”, omitindo-se totalmente sua ativa e proeminente participação nos primórdios do cristianismo e sua verdadeira condição de companheira – de fato – de Jesus.


A Madona Negra e Maria Madalena


De acordo com o folclore e as lendas francesas, Maria Madalena chegou ao pequeno porto de Saintes Maries de la Mer, 13 anos após a crucificação, acompanhando Maria, mãe de Jesus, e Maria, mãe de João Batista. Conta-se que ela viveu mais de 30 anos em reclusão na gruta de St. Baume, no sul da França, assistindo e curando doentes, conforme consta dos arquivos do mosteiro ali localizado. No sudoeste da França, há a maior concentração de estátuas de Madonas Negras, cuja inspiração teria sido Maria Madalena, supostamente mãe do filho de Jesus, uma grande iniciada essênia e representante dos atributos “escuros” da Grande Mãe (enquanto Maria, a mãe de Jesus, refletia a face luminosa). Anualmente, a pequena cidade de Saintes Maries de la Mer torna-se o centro de uma gigantesca celebração, feita por milhares de ciganos, vindos em peregrinação e reverência de todos os cantos da Europa. O centro da homenagem é Sara Kali, uma santa de origem obscura (misto de deusa hindu com personagem bíblico ou a possível filha de Jesus, Sara), cuja estátua de cor negra se encontra em uma cripta. Presentes, guirlandas de flores, votos e pedidos são amontoados ao seu redor; os doentes e seus familiares fazem fila para tocar a estátua milagrosa. A procissão depois leva a estátua até o mar, com orações e cânticos, e lá ela é imersa na água para que sejam renovadas suas qualidades de cura, fertilidade e abundância (como nos antigos rituais de lavagem das estátuas de Hera, Cibele e Ísis).


Os poderes mágicos das Madonas Negras


A maioria das estátuas se encontra sobre centros de poder ou linhas de força telúrica (as assim chamadas ley lines ou “veias do dragão”) e seus poderes mágicos são de cura, proteção e fertilidade.

Há inúmeros relatos de milagres presenciados pelos peregrinos; as pilhas de votos e agradecimentos dos que visitam permanentemente as estátuas são provas vivas e comoventes dos milagres da cura pela fé. Fé no poder eterno da Mãe Divina, da Mãe Terra, cuja magia e poder foi captado e preservado pelo mistério das estatuetas das Madonas Negras.

Mirella Faur

IN: http://sitioremanso.multiply.com/journal/item/27


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NANÃ BURUKU, MATRIARCA AFRICANA E SUMA-SACERDOTISA


NANÃ, A DEUSA DA VIDA E DA MORTE
Nanã é um orixá feminino de origem daomeana, adotada da África que representa o dogbê (vida) e a doku (morte). Ela acolhe em seu ventre os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (renascimento). Essa dualidade é representada por Nanã que personifica os pântanos. É neles que a mistura da água (vida) e da terra (morte), formando a lama, existe um portal entre as dimensões dos vivos e dos mortos. O pântano ou a lama, foi o local escolhido por Nanã para ser sua residência. Entretanto, para haver barro ou lama, tem que haver chuva, Nanã passou também a reger a chuva.

Nanã é conhecida por vários nomes, dependendo da região e do dialeto, mas em Dahomey (hoje Benin) na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, ela é conhecida como Nanã Buruku . Ela está fortemente ligada ao elemento terra e é chamada de "Senhora dos Pântanos", assinalando-a como uma Grande Mãe que é responsável pelo sopro da vida e conseqüentemente a morte.

Nanã sempre conduz os seres humanos com muita seriedade, justiça e determinação. Seus cânticos são súplicas para que a morte seja mantida afastada e que a vida seja preservada.

Sendo a personificação da "lama" ou da "chuva", Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura (período neolítico).

MITOLOGIA

Nanã de origem daomeana, foi incorporada há séculos pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida.

Nesse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.

Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o conceito de maternidade como função principal.

É neste contexto, que Nanã apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omulu (ou Obaluaê, orixá da varíola) e Oxumarê (orixá do arco-íris).

E teria tido uma filha, Ewá, nascida de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o mito.

NANÃ NO BRASIL


Aqui no Brasil, os escravos africanos introduziram com muito êxito suas divindades, como a Deusa Nanã, Oya, entre outras, nas religiões como o candomblé, a umbanda e o batuque. Essas religiões incluem a possessão por parte dos deuses. Quando Nanã se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba!

SEUS INICIADOS
Seus sacerdotes e sacerdotisas são experientes à prática da medicina através das ervas, pois Nanã é detentora do conhecimento do uso terapêutico delas (ervas). Mas a Deusa explica ainda, que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças podem ter origem espiritual e portanto, requer tratamento nesse sentido. Mas, qualquer que seja a origem da doença, se a pessoa enferma recorrer à Nanã, obterá o remédio curador.

Muitas mulheres recorrem à essa Deusa quando não conseguem engravidar e Nanã ensina prontamente a mistura de ervas que deve tomar, assim como os "ebós" e oferendas que devem ser feitos. Caso sejam atendidas, é costume na África, em homenagem à Deusa, acrescentar ao nome da criança a palavra "nanã". Todos seus sacerdotes e sacerdotisas também usam na frente do nome esse prefixo.
O culto de iniciação dos "filhos" de Nanã requer uma série de cuidados especiais, tanto aqui no Brasil como na África. Durante um período é necessário abster-se de sexo, bebidas alcoólicas, qualquer tipo de droga ou vício, pelo menos por 2 meses antes. Nesse período são realizados vários "ebós" na casa do santo.

Na África as mulheres menstruadas são impedidas de entrar em seu templo ou fazer comida de santo. Nanã fala que a bogami (menstruação) é um sangue impuro e diz para as mulheres não cozinharem para seus maridos quando estiverem menstruadas. Aqui vemos claramente traços de um período muito arcaico (neolítico) em que o sangue da menstruação ainda era considerado impuro.
NANÃ E HÉCATE
Nanã é também uma Deusa da Lua Escura que muito se assemelha a Hécate nas funções de regente dos processos misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da vida e da entrada nos caminhos árduos da transformação. A nível psíquico, essas passagens não podem ser eliminadas do curso normal da vida.

Nanã, assim como Hécate é a Deusa Terra primordial que dá nascimento às sementes e acolhe em seu seio os mortos. Tanto pode dar vida como a morte, seqüências da mesma realidade. É ainda, Dona da sabedoria e da justiça, que vem da natureza e a sua lei é implacável.

Nanã o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro, que é feito com palitos de dendezeiro e nasceu junto com ela, na sua placenta. O sincretismo de Nanã com Sant'Ana, avó maternal de Jesus, e padroeira dos professores, reforça a impressão de que ela é muito antiga e que sua chegada ao Brasil foi anterior à dos Yorubas.

A Deusa tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nana.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nana é o "grão", pois ela possui o domínio da agricultura e todo "grão" tem que morrer para germinar.

MITOLOGIA
LENDA 1 (Mitologia Fon)

Na mitologia Fon, Nanã Buruku (ou Buluku) que deu nascimento ao gêmeos: Lisa e Mawu. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Mawu-Lisa criaram todo o Universo e os Voduns juntos. Eles eclipsaram várias vezes e tiveram no total sete casais de gêmeos (sempre um masculino e o outro feminino).

Mawu e Lisa chamaram seu filhos e os enviaram à Terra como os primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma atribuição. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.

Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio ao mundo e aos seres viventes.

Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão. Já Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam cumpridas.

Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado na rica, complexa e elevada Mitologia Fon. Sua entrada no em nosso país ocorreu em meados do século XVII.

Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).

Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.

NANÃ BURUKU
Nanã Buruku está associada com as Onze Energias cósmicas e é íntima delas compreendidas ma religião da Umbanda. É denominada como a "Avó de todos os Orixás". Nada acontece sem que ela tenha conhecimento, sempre presente, desde a criação incessante do universo até o desenrolar contínuo da atividade existencial de todos os seres e elementos que compõem o organismo vivo do nosso planeta. Soma-se com outras Energias para, juntas, comporem a forma mais sutil e perspicaz orixá: Oxumaré que personifica a curva do arco-íris.

Na Umbanda, Nanã é configurada pelos fiéis e "filhos de cabeça" como sendo fisicamente uma senhora sempre curvada pelo peso das eras e cujo rosto nunca é visto, porque está sempre encoberto. Sua imagem está projetada na figura de um devoto que canta e dança em seu louvor, mimeticamente, como se embalasse uma criança. Outras vezes com as mãos juntas como se socasse um pilão. Sua postura em muito se parece com o orixá Omolu com o qual parte e reparte suas próprias vibrações preferenciais e idiossincrásicas.

É conhecida também por: Bukuú (Togo), Naná Buluku (Benin, ex-Daomé), Borokô (candomblés de caboclo), Tobossi (fantiashanti), Kerê-Kerê (Angola e Congo) e mais as variantes Naná, Nanã, Nanã Buruquê, Buruku, Ananburuquê, Anaburuku, Naná Buku, Naná Brukung e, na língua yoruba como Nanã Buruiku.

LENDA 2

Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.


Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.


Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o Homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.


Mas tem um dia que o homem tem que morrer.
O
seu corpo tem que voltar a terra, voltar a natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Essa lenda descreve a natureza de Nanã como a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
LENDA 3

Essa terceira lenda conta que Nanã foi conquistar o reino de Oxalá e acabou sendo conquistada por ele. Entretanto, o deus amava muito sua esposa, Iemanjá, e jamais se envolveria com Nanã. Essa então, o embriagou e o seduziu, engravidando. Desse ato adúltero nasceu Obaluiaê, uma criança muito feia e deformada que foi abandonada no mar. Iemanjá o encontrou meio morto e todo mordido pelos peixes e o cuidou até que ficasse curado. Para esconder as cicatrizes que permaneceram em seu corpo, ele foi coberto de palha. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.

Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas.

Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.

Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a Deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando desgraças aconteçam aos homens.

Essa lena nos aconselha a nunca negar auxílio, qualquer que seja, às pessoas que nos procuram. Além disso, nos diz para termos esperança, pois "não há mal que sempre dure.." e sempre há um recomeço, mesmo após um grande e penoso sofrimento.
LENDA 4

"Nanã era esposa de Ogum e ocupava o cargo de juíza no Daomé. Só julgava os homens, sendo muito respeitada pelas mulheres que eram consideradas Deusas.
Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma reclamação sobre seu marido, ela amarrava a pessoa numa arvore e pediu aos eguns para assustá-la.

Certa noite, Iansã reclamou de Ogum e ele foi amarrado no jardim. A noite, conseguiu escapulir e foi falar com ifá. A situação não podia continuar e, assim, ficou acertado que oxalá tiraria os poderes de Nanã. Ele se aproximou e ofereceu a ela suco de igbin, um tipo de caramujo. Ao beber o preparado, Nanã adormeceu. Oxalá então vestiu-se de mulher e, imitando o jeito de Nanã, pediu aos Eguns que fossem embora de seu jardim para sempre.
Quando Nanã acordou e percebeu o que Oxalá tinha feito, obrigou-o a tomar o mesmo preparado de igbin e seduziu o orixá. Oxalá saiu correndo e contou para Ogum o que havia acontecido. Indignado, este cortou relações com Nanã. E é por isso que nas oferendas a Nanã não é usado nenhum objeto de metal.


Uma outra lenda registra que, numa reunião, os orixás aclamaram ogum como o mais importante deles e que Nanã, não se conformando em ser derrotada por ele, assumiu que não mais usaria os utensílios de metal criados pelo orixá guerreiro (escudos e lanças de guerra, facas e setas para caça e pesca). Por isso, que ela não aceita oferendas em que apresentem objetos de metal."

(Lenda retirada do portal
http://www.orixas.com.br/)

Essa lenda, vem de encontro à tese de alguns historiadores que afirmam que a Deusa Nanã é anterior a Idade do Ferro.

DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM
(Segundo Pierre Verger)

"Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.

Um dia eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu:

-"Ah! É um importante mensageiro!"

Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Eles dizem:

-"É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"

Nanã Buruku contesta, então:

-"Não digam isso. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"

Os demais orixás respondem:

-"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".

Nanã concluiu que não renderá homenagem a Ogum.

-"Porque não haverá um outro Imalé mais importante?"

Ogum diz:

-"Ah!Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."

Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos discutem por muito tempo.

Ogum perguntando:

-"Você pretende que seja dispensável?"

Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.

Ogum diz então:

"Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas".

Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.

Ogum questiona:

-"Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos".

Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã".

(Lenda retirada do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)

DEUSA DA VIDA, DA MORTE E DO RENASCIMENTO

Nanã é uma Deusa que se inseri no período Neolítico ou até antes dele, onde não existe distinção alguma entre a Deusa que atrai a vida e a que atrai a morte, mas ambas se experimentam como uma unidade, através da Grande Mãe que engloba a totalidade da vida e da morte. A Deusa transforma a experiência da morte em como o renascimento à outra dimensão.

O período Neolítico foi uma fase de descobrimentos e o resultado disso foi uma nova relação com o universo. Foi nesse tempo que a humanidade compreendeu e passou a participar dos misteriosos processos de crescimento. Com a compreensão que certas sementes podiam ser convertidas em trigo e depois transformados em pão, e que certos animais vivendo perto das casas, poderia prover-lhes de leite, carne, surgiu um novo espírito que cooperação consciente entre os seres humanos e seu mundo. A vida do cosmos se converteu em uma história que incluía o homem como um de seus personagens.

Os povos deste período não puderam de realizar uma analogia de suas vidas com as das sementes que, plantadas na terra, incubavam e voltavam a emergir como grão verde ou dourado. Os rituais que evocavam o nascimento, que chorava a morte e que celebravam o renascimento da raiz mostra o quanto era vital essa analogia para a imaginação humana, pois situava a regeneração como o núcleo da vida.
A fonte secreta da vida estava agora escondida nas profundezas da Terra (Útero da Deusa). Os seres humanos agora nascem dela, se alimentam dela e são acolhidos por ela.

As inumeráveis formas de cerâmica neolítica revelam o alcance imaginativo dos povos, que refletiam sobre o mistério do nascimento associando-o ao mais amplo mistério do nascimento de toda a vida mediante o "Corpo" da Deusa. As imagens da Deusa a mostram como o portal ou umbral através da qual penetra vida ou abandona esse mundo.

Toda a Grande Mãe, segundo Carl Jung, personifica o nosso inconsciente, portanto, um aspecto gerador, protetor e positivo, apesar do seu lado devorador e negativo. Todo o tipo de medo, como o medo da morte, do desconhecido, do novo, está ligado ao medo do inconsciente. O inconsciente, como a Grande Mãe, é a fonte primordial da criação, mas se o fascínio dela for forte demais, ela é o poder oculto que, em certas ocasiões, impede o livre desenvolvimento da comunicação normal. Mas, se encararmos essa realidade básica, podemos desistir de sermos tão agradáveis aos imperativos ideais do mundo patriarcal e atingirmos uma base sólida, de onde tudo isso parece irrelevante.

A DIFUSÃO DA DEUSA NEGRA
Dos tempos pré-históricos, em torno de trinta mil anos antes da era cristã, provém a Vênus negra de Lespugue, entalhada numa presa de mamute, agora preservada no Musée de l"Homme, em Paris. Por ser anterior a uma época em que não existia conhecimento algum de agricultura, ela é mais do que Terra, ela é a própria Vida.

Em Tindari, na costa do Mediterrâneo no leste da Sicília, uma estátua negra da Nossa Senhora possui a inscrição: "nigra sum sed formoso", ou seja, "Sou negra, porém formosa",do Cântico de Salomão 1,5. A Virgem Negra também é encontrada na França, na Espanha, na Suíça e na Polônia
Não poderia portanto ser essa Nossa Senhora negra a mais antiga das imagens da Deusa?
Há historiadores que postulam que da figura da Deusa Negra procedem todas as demais.Apesar de que a humanidade surgiu no noroeste da África, é possível que os temas dominantes que se repetem nos mitos e nos rituais de todo o mundo só se desenvolveram quando os povoadores já haviam trasladado à outras regiões.
Historiadores negros do século XX, como John G. Jackson, afirmam que os povos africanos da costa foram consumados marinheiros e exploradores que levaram à Ásia, Europa, América e Oceania a cultura matriarcal da Deusa. Portanto, as virgens negras presentes na Europa, que são interpretadas como representantes da "lua escura" ou ainda, uma "escura faceta" psicológica da Deusa, não são mais do que vestígios da época em a Deusa era realmente negra.

É inegável a vastíssima contribuição da cultura africana na cultura, na religião e nos costumes aqui do Brasil. Nada mais fácil sentir esse contribuição no que tange as religiões que hoje são afro-brasileiras. Deusas como Iemanjá, Iansã, Oxum, Nanã entre muitas outras também importantes, são muito populares em nosso meio, mas sempre é bom acrescentarmos um pouco mais de conhecimento sobre elas.
Sem nos atermos em questionamentos religiosos, essas Deusas Mães, estão presentes e ativas em nossas vidas, para não nos deixar esquecer que o melhor dos caminhos é o do coração e o da fé. Todas elas simbolizam a força maior, a fagulha divina dentro de nós, a energia que flui nos próprios processos da vida e do viver. Esse conceito da Deusa como processo de vida conduz a outro aspecto da espiritualidade feminina contemporânea, observado entre muitos grupos e indivíduos. Trata-se do sentido da conexão direta com a vida. Muitos são os que pensam que não estamos no topo da natureza, e sim, "somos" a natureza. Esse senso de Unidade, aflora constantemente em conversas e escritos. Isso nos ajuda a compreender que aquilo que poderíamos considerar simplesmente como compaixão ou apoio ou simpatia é o resultado do sentir, intuitivo, dessa ligação direta com a unidade. Essa sensação de Unidade com toda a vida leva muitas mulheres, de forma bastante natural, a uma compreensão direta do motivo pelo qual o sexismo, o racismo e outros "ismos" que criam uma sensação de separação, de "nós e os outros", realmente não fazem sentido.


OUTROS DADOS
Dia: sábado;

Data: 26 de julho
Sincretismo: Nossa Senhora Santana

Cor: branco com traços azuis ou roxos;

Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Mugunzá; Ebô

Símbolo: Ìbírí (feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna).

Saudação: Salubá Nanã! ! ("Dona do pote da Terra!")
Comando da falange de Nanã: Cabocla Janaína

Representação no ponto riscado: uma cruz
Amalá: caruru sem azeite e bem temperado

Planeta regente: Lua (no quarto crescente) e Mercúrio
Ervas para banho e defumação: agapanto lilás, avenca, cipreste, manacá, quaresma, alfavaca, mariazinha, mãe-boa, sempre-viva roxa, erva de passarinho, cajá, mutamba, dama da noite, entre outras.

Flores: as que tenham preferencialmente a tonalidade lilás ou roxa.

Frutos: melão, melancia, abacaxi, banana da terra, graviola, pêssego, , jaca, maçã, entre outras.

Bebidas: Água da chuva, suco das frutas acima mencionadas, bebida feita com ervas e folhas do próprio orixá e champanha.

Local preferido: Nas nuvens ou na junção das águas da chuva com o solo barrento e pantanoso.

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO

IN: -http://www.rosanevolpatto.trd.br/deusanana.htm

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O CULTO AS MADONAS NEGRAS

A TERRA-MÃE

O CULTO A DEUSA JAMAIS PODE SER TOTALMENTE DESTRUÍDO...

A cor negra se deve à Cultos muito antigos, talvez até mesmo pré-históricos, relacionados com a terra, ao Útero, Mãe Terra, Deusa Mãe, que também era conhecida no paganismo como a Deusa de fertilidade, fecundidade, tais como os cultos célticos e mesmo os cultos anteriores, muito mais antigos, como os Cultos de Cibele, Deméter e da Deusa egípcia Ísis, esta última é, muitas vezes, representada em estátuas com um bebê, Hórus, em braços, afirmando categoricamente que as Virgens Negras são símbolos do Matriarcado.

AS VIRGENS NEGRAS.

As Virgens Negras são registros valiosos de uma época em que a Terra era reverenciada como Mãe e todas as criaturas eram Seus filhos. Diferentes das Virgens Brancas - que personificam dogmas e virtudes cristãos de obediência e resignação-, as Negras têm em comum as qualidades telúricas e sua localização em sítios arqueológicos que comprovaram a existência de deusas pré-cristãs.Tradições religiosas antigas – como a gnóstica, hebraica e cristã –contém elementos da mitologia e iconografia das deusas asiáticas, sumérias, egípcias e européias, guardando a sua associação com luz e sabedoria, mas desprovidas da unidade primordial entre céu e Terra. Inúmeras das imagens e estátuas destas deusas são negras, cor que evoca o mistério impenetrável da Fonte Criadora. Ísis e Shekina são cobertas por mantos ou véus pretos, Cibele era venerada como um bloco de pedra preta, Deméter e Athena tinham versões escuras e a belíssima e tocante estátua de Ártemis de Éfeso, a Mãe dos mil seios, era negra.

Nos primórdios do cristianismo o princípio feminino era representado por Virgens Negras e Brancas e por uma multidão de santas, todas brancas, com exceção de Sara, a Egípcia, padroeira dos ciganos. À medida da expansão e do fortalecimento da religião cristã, as estátuas de mármore e bronze das deusas pré-cristãs foram destruídas, seu culto perseguido e proibido. Porém, em lugares remotos dos países cristianizados, fieis dos antigos cultos preservaram seus ídolos domésticos e pequenas estátuas, escondendo-os nas grutas e fendas da terra, em criptas dos templos antigos, perto de fontes e rios e no oco das árvores. Alguns foram encontrados na proximidade dos centros religiosos dos cátaros e templários e nos lugares onde foi preservado o culto da Mãe Divina e de Maria Madalena. Em todos estes locais “apareceram” posteriormente e de maneira milagrosa imagens das Virgens Negras, encontradas por pessoas humildes, animais ou crianças. Muitas delas foram perdidas ou destruídas por fanáticos e guerras, enquanto sua verdadeira origem e significado estavam sendo esquecidas. No entanto, sua lembrança influenciou gerações posteriores de escultores e artistas religiosos que reproduziram suas imagens, surgindo assim representações mais recentes, com características e trajes cristãos, mas preservando a cor negra. No século VII e VIII chegaram na Europa estátuas originais das deusas antigas trazidas do Oriente Médio pelos Cruzados. Na Idade Média os altares dedicados à Virgem Negra na Europa eram os mais procurados e venerados. Os antigos locais sagrados e templos das deusas pré-cristãs foram adaptados à nova religião e dedicados à Maria, para quem foram “transferidos” atributos e poderes da Deusa, pois não tinha sido possível extinguir da alma popular a veneração milenar de uma Mãe Divina. A partir do século X o culto das Mães negras se intensificou de tal forma que ultrapassou o do Pai e Seu Filho. Reis, guerreiros, camponeses, mulheres, doentes e peregrinos se ajoelhavam juntos perante as imagens das Virgens milagrosas nas inúmeras igrejas e grutas a Elas dedicadas nos países europeus, orando, fazendo seus pedidos e deixando votos e contribuições. Milagres e aparições aconteciam com freqüência, principalmente curas de mulheres, enfermos e crianças. A Virgem Negra tornou-se motivo predominante na literatura mística e alquímica dos séculos XII e XIII e o impulso para a construção de inúmeras catedrais, igrejas e permanentes romarias.

As tentativas da igreja cristã para explicar a cor negra das estátuas eram equivocadas e sem fundamento, alegando escurecimento pela fumaça das velas ou reações químicas dos pigmentos das tintas. Era necessário ocultar e distorcer o verdadeiro significado da cor preta, atributo milenar da terra, do inconsciente, da fase escura da Lua, do poder misterioso e sagrado da mulher, da sabedoria ancestral que aceitava a morte seguida pelo renascimento, assim com o dia segue à noite. O culto da Virgem Negra representava a perpetuação do princípio feminino em uma cultura e religião patriarcal e misógina e por isso devia ser abolido ou desacreditado. Apesar da oposição dos teólogos cristãos, da perseguição pela Inquisição, da destruição de inúmeras imagens pelos protestantes, revoluções, guerras e reformas políticas, do “disfarce” tingindo as estátuas de branco, o fenômeno complexo e multifacetado das Virgens Negras persistiu ao longo dos séculos. As fogueiras da Inquisição foram seguidas pela frieza da Era da Razão e do materialismo científico, que antagonizava tudo o que era relacionado ao princípio feminino. Porém, no século XIX e XX aparições marianas reanimaram o culto da Virgem Negra e a necessidade de conciliar religião e sexualidade trouxe de novo os valores telúricos e femininos à consciência coletiva. Algumas das Virgens Negras se tornaram símbolos religiosos e mesmo padroeiras nacionais, como a Virgem de Guadalupe, a Madona Negra de Czestochova (Polônia) e a nossa Senhora de Aparecida. Atualmente intensificou-se o movimento internacional ao redor de imagens de Madonas e Deusas Negras na esperança de criar uma ponte de ligação entre grupos étnicos, movimentos ecológicos e feministas, teologia da libertação e teorias filosóficas e políticas.No aeroporto de San Francisco, Califórnia, existe uma escultura de Beniamo Bufano reproduzindo uma Madona Negra com seios nus, semelhante à deusa Astarte, enquanto outra na Califórnia evoca Ísis. Em 1991 na Polônia houve um “encontro” de Madonas Negras, que reuniu em exposição a hindu Kali com a Virgem de Guadalupe e a Madona de Czestochova. A intensa e extensa veneração da Madona Negra na Itália tem um equivalente no Brasil no culto das deusas afro-brasileiras e nas oferendas anuais nas praias para Iemanjá, a Negra Mãe das águas, enquanto na França, em Saintes Marie dela Mer procissões, missas e oferendas no mar reverenciam a negra Sara Kali.

Apesar da diversidade de aparências, origens e antiguidade, as Virgens Negras evocam as memórias ancestrais do culto da Grande Mãe, fonte de vida e regente de todas as suas fases, do nascimento à morte e regeneração. Elas são a continuação - sob uma nova denominação e na nova religião - da reverência ancestral ao sagrado poder feminino. Autênticas ou réplicas modernas das antigas estátuas, as Virgens Negras evocam a sua origem ctônica, aquática e vegetal e as memórias ancestrais da Mãe Terra, pois a sua antiguidade supera a das religiões e civilizações. Elas têm um intenso poder de cura e transformação, pois as Virgens Negras possuem o antigo axé das deusas telúricas, Senhoras da vida, morte e regeneração. A sua aparição nos sonhos, visões e terapias das mulheres contemporâneas representa uma mensagem do feminino sagrado e transcendente, um incentivo para transpormos as pontes que nos afastam e separam e o aviso urgente e premente de reconhecermos o poder sagrado da Terra e da mulher, da diversidade de todas as formas de vida e da necessária inclusão em uma harmoniosa e abrangente parceria. Nossa sobrevivência como Filhos da Terra depende da nossa capacidade de resgatar, honrar e cuidar da Sua luz, que brilha oculta na escuridão da nossa inércia, indiferença, esquecimento ou ganância.

Mirella Faur IN:
http://sitioremanso.multiply.com/journal/item/70

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A DEUSA NEGRA

A MADONA NEGRA E SUAS MIL FACES



Carminha Levy
Quem é a Madona Negra ? Qual a sua primeira face ?È a Mãe Terra, o Princípio Feminino, nossa Mãe Primordial, símbolo de Sabedoria e Integração dos Opostos. Como perpetuação das poderosas Deusas da antigüidade, ela volta com as características sagradas de Maria. Metaforicamente Virgem, mas não no sentido do Patriarcado, porque não pertence a nenhum homem e sim a todos os homens. Doadora de vida, dela provêm os homens como frutos da Terra e a Ela todos retornam, à Deusa Mãe - Mãe Terra.As mais antigas manifestações do culto à Mãe Terra datam da pré-história. Uma delas é uma pequena estatueta na qual era representada com seu filho divino, ambos com cabeça de cobra. Sua ligação com os animais torna-se evidente: ora em baixo-relevo, cravados na rocha, ora em outras pequenas estatuas, Ela aparece cercada de leões, pássaros, serpentes, leopardos, touros, peixes - eis outras das suas faces!
Era a Senhora dos Animais que chega até nós nas viagens xamânicas, o Universo da Pré-história, no qual o ser humano sonhava o grande Sonho, grandes dimensões expressavam o poder da gestação - o Ovo Cósmico, círculos concêntricos, mulheres avantajadas com protuberantes seios, nádegas e barriga, traziam este poder. Nádegas para parir, barriga para gerar e os seios para nutrir. É a Mãe Creatrix, outra de Suas mil faces.Mais próxima dos tempos conhecidos, a Mãe Terra revela outras diferentes faces. Na Suméria, aparece como a muito popular Inanna, de dupla personalidade: de manhã é uma valorosa "Senhora das Batalhas", Deusa dos Heróis; à noite torna-se a Deusa da fertilidade, dos prazeres e do amor. As "prostitutas Sagradas" são suas Sacerdotisas, e todas as mulheres da Suméria tinham como obrigação para com a Deusa Inanna se oferecerem sexualmente no templo para os estrangeiros pelo menos uma vez por ano. Os opostos que se encontram, se harmonizam, e que é o grande poder da Madona Negra, aqui se revelam ! O Sagrado e o profano.Na Babilônia, Ela é Isthar. Entre os hebreus, é Astarte. Na Frigia, Ela é Cibele (a Diana dos 9 fogos), indicativo de fertilidade. No Egito, Ela é Isis e ainda aparece na face de Nerth a mais velha e sábia das Deusas. Ela é o céu noturno que se arqueia sobre a Terra, formando com suas mãos e pés as portas da Vida e da Morte. Da Grécia, nós temos acesso ao mais rico acervo sobre a Mãe Terra. Da cultura Cretense, Mar Egeu, chega até nós suas sacerdotisas vestidas de peles com os seios à mostra e com serpentes e conchas ao seu redor. Ela, a Mãe Terra, é a Mãe Animal que, como cabra, porca ou vaca, alimenta o pequenino Zeus. No centro deste poderosíssimo culto à fertilidade, vamos encontrar o touro, o duplo machado, o Minotauro e o Labirinto. A Deusa de Creta - Deméter - é a Senhora do Mundo Inferior, das profundezas da Terra e da Morte. Seu ventre terreno é o ventre também da fertilidade de onde a vida emana. Harmonizar estes Opostos é a principal Força da Madona Negra, ela que é o Negro da Luz. Como doadora de vida, Ela é o útero eterno que, na tradição Yorubá, é a representação da totalidade, o conteúdo e o continente criados. Arquétipo vivo, Ela é o Orixá Oxum, é a representação deste poder da Madona Negra no Candomblé. Senhora de todas as águas, que é o sangue da Terra, é representada também como um peixe mítico ou pássaro. Salve OXUM !
Como Mãe Terra, a Madona Negra era cultuada no mundo pagão com as faces das Deusas do Olimpo, mas, com o início da Era Cristã, este culto passou a ser clandestino. Seus ecos que chegam até nós são os mistérios de Eleuses, no qual se cultuava Deméter e Perséfone.As 3 grandes Deusas do leste: Ísis, Cibele e Diana de Éfesos, que eram representadas como negras, se estabeleceram no Ocidente antes da dominação romana.Em Paris, já em 679, Dagoberto II estabelecia o culto àquela "[...] que hoje recebe o nome de Nossa Senhora da Luz", que é a nossa "Isis Eterna". Talvez este seja o marco da transformação da Mãe Terra pagã para a Virgem cristã. As Cruzadas, porém, foram as grandes divulgadoras da Madona Negra. Estatuetas negras encontradas em fontes, grutas, galhos de árvores, das quais emanava um profundo sentimento do Sagrado, eram trazidas por eles que as cristianizavam, colocando o manto e a coroa de Nossa Senhora. Elas traziam uma força incontrolável de liberdade e seu culto era possuidor de um espírito de sabedoria própria, que não se submetia a nenhuma organização ou lei nacionalista. É a volta da divindade feminina que levanta o entusiasmo popular, trazendo-a a um primeiro plano da consciência coletiva. A Humanidade experiencia as mais recentes faces da Madona Negra e Branca, com as aparições marianas da Virgem de Lourdes e La Salete no século XIX, e Fátima no século XX. Paralelamente, um fenômeno sociológico assombrou o mundo - a revolução sexual feminina, que emancipou as mulheres por meio da igualdade de direitos e deveres. A Madona Negra está a favor, politicamente, do povo e de sua dignidade. Sua face mais importante hoje é a da justiça social. Ela é a consoladora dos Aflitos e dos Excluídos e aparece misteriosamente onde há sofrimento e opressão.Em todo o mundo, encontram-se as faces da Madona Negra com essas características. Mas, para nós, a sua mais importante face é a de Padroeira do Brasil - Nossa Senhora Aparecida! Descoberta em 1717 no rio Paraíba em São Paulo. É uma pequena e esplendorosa figurinha negra que se apóia numa lua crescente.Conta a lenda que essa pequenina estátua tornou-se extremamente pesada, impedindo que o pescador a levasse daquele lugar, onde foi feita inicialmente uma pequena guarita para ela. Nesse lugar hoje existe uma cidade-santuário, que acolhe peregrinos de todo o Brasil e do exterior. Milagrosa, poderosa, misericordiosa, ela traz conforto e alento para todos. É a patrona dos ricos e pobres, das prostitutas, homossexuais, travestis, motoqueiros, carroceiros e seus cavalos, desempregados, artistas, e até dos políticos!