"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


domingo, 27 de março de 2011

SER UMA SACERDOTISA

Deusa,
Eu sou sua sacerdotisa
Abre meus olhos para ver sua luz nos que me cercam
Presentei me com a coragem de transbordar com o seu amor.
Empreste a minha voz o poder de Seu Verbo Criador.
Grande Amada, que eu possa sentir Seu toque em tudo o que Você traga para mim.

Ver o sagrado e o divino em todas as coisas e, especialmente, em todas as pessoas Ajudar os outros a encontrar o sagrado em si
Meditar o divino
Adorando o divino em todas as coisas
Ser divino
Ser o amigo do divino
Ser a voz do divino
Expressando o divino de forma que as outras pessoas possam entender
Viver de acordo com seus próprios códigos morais
Permitir que os outros vivam da maneira que gostam
Curar para que possamos curar a Terra.

Ishara,
Catherine Ann de Garis
IN: http://webspace.webring.com/people/ac/cathdeg/

Como acontece muitas vezes nestes travalhos na internet, a sacerdotisa dos Estados Unidos encontra-se sem paradeiro e buscar qualquer coisa a seu respeito é inútil...Mas a mensagem da Deusa se perpetua e eu sei e acredito que o melhor deve ter acorrido a ela.

ANTIGAS MEMÓRIAS DAS MULHERES...


...Lembro-me quando com respeito e gravidade pisávamos descalças a terra e nos inclinávamos reverentes diante da Deusa Mãe...sonho com cerimonias solenes, danças cantos e rituais de água e fogo ...

Rosa Leonor

Jamais te esquecerei, nem esquecerei a profundidade de como cantavamos hinos de glória a Deusa Terra no interior do santuário das estrelas no anoitecer, como uniamos nossas mãos ao luar e ao nascer do sol, enquanto sentia-mos em nosso interior a suavidade de amor da Deusa transbordando em graça e milagre através de nós sobre a Terra, sobre nossas muitas irmãs... Gaia Lil

sábado, 26 de março de 2011

ADENTRAR NA SENDA DA GRANDE MÃE


TEUS OLHOS PERSEGUEM ME,
TUA VIDA PERSEGUE ME. SOMOS UMA.


Por que bate a Porta do Saber, por que bate a Portal da Grande Mãe?

- Porque eu amo e desejo a Sabedoria. Porque meu corpo e minha vida são cíclica transformação...

Quem é você?

- Eu não tenho nome. Sou todas as Mulheres.

-Pois que entre, e que contigo entrem todas que desejarem acompanha-la.



Que mesmo na hora da dor possamos prosseguir
Que mesmo na meditação contemplativa, na reflexão de nossos medos possamos sentir a força da Deusa sobre a nossa alma.
Que mesmo no abandono da mãe terrena possamos sentir o calor da Mãe Eterna
Que mesmo na desolação que antecede a tempestade, no medo e na incompreenção, mesmo na ingratidão nossa, e na ingratidão para conosco possamos sentir nos dignas desta Obra, que realizamos todo dia e vai muito além do ritual.
E que no momento do ritual, desvende mos um pouco do véu da Deusa para que vejamos a nós mesmas, Naquela Que é Mãe da Vida.
Que mesmo sob a hora da morte possamos encontrar a alivio nas nossas oraçãos a Mãe.
E mesmo diante da injustiça que se acorrenta as grades de nossa sociedade machista e patriarcal consigamos encontrar dignidade em nós mesmas e assim reverenciar o que há do toque da Mãe en nosso interior,
Que mesmo na dúvida terrível e sob a mancha da ira encontremos as vozes de nossas mulheres ancestrais, pois nós somos elas e elas são parte de nós.
Nós que somos todas as mulheres
Nós que abençoa mos toda a Terra com nossa alegria e esperança
Nós que mesmo nos nossos momentos de destruição
Agimos guiadas pela sabedoria da Grande Mãe
Nós que caminhamos por labirintos interiores
Possamos manter a orça Naquela que é e sempre será novamente
A Mãe dos Deuses, a Senhora da Humanidade.
Que Assim seja.
Em revência a Deusa.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O FEMININO PRIMORDIAL

GÓRGONAS COMO ARQUÉTIPOS

As Górgonas são tidas históricamente como arquétipos da "Mãe Repugnante", ou "Mãe Terrível". Entretanto elas simbolizam bem mais do que só isso, representam: a sabedoria feminina soberana; os mistérios femininos; todas as forças da Grande Deusa primordial; os ciclos do tempo presente e futuro; os ciclos da natureza como vida, morte e renascimento. Elas são criatividade e destruição universais em transformação eterna. Elas são guardiãs dos umbrais e mediatrizes entre os reinos do Céu, da Terra e do Mundo Inferior. Elas fazem a conexão do Céu com a Terra; destróem para construir, alcançando assim o equilíbrio. Elas purificam e curam. Elas são a última verdade da realidade e da integridade.
São as Górgonas com sua terrível aparência, que nos alertam contra a imersão prematura nas sombrias profundezas do nosso mundo inferior psíquico, o nosso domínio inconsciente. Se penetrarmos nesse reino sem a preparação adequada, podemos ficar petrificados, ter a vontade paralizada e perder a capacidade de compreender as forças e os tenebrosos poderes do nosso inconsciente. Seríamos reduzidos a uma completa inatividade da alma.
As Gógonas surgem das profundezas das cavernas do mundo subterrâneo para nos desafiar com um grande enigma. As Desafiantes deste Lado Obscuro fazem parte da Grande Deusa e estão vinculadas a Deusa Anciã, que juntamente com a Deusa Virgem e a Deusa Mãe, participam do arquétipo da Deusa Tríplice. A Deusa Anciã e as Górgonas expressam energias iniciáticas, curadoras e libertadoras da sabedoria feminina. Nos relatos mitológicos elas tornam-se demoníacas em virtude das religiões patriarcais que purgaram da consciência da mulher qualquer tipo de poder mágico e transformador. A decapitação mitológica da Medusa simboliza o silêncio da sabedoria e da expressão feminina. É um ato que freia seu crecimento, limita seu potencial, movimento e contribuições culturais. A sabedoria feminina é um dos aspectos mais reprimido nas mulheres, produto de uma larga prédica contra o xamanismo das sacerdotisas, bruxas, curadoras e profetizas. Nós mulheres ainda guardamos na memória a perseguição e queima das bruxas européias e ainda hoje, qualquer coisa que esteja associada ao poder das bruxas é percebido com muito temor e como algo perigoso e obscuro pelo homem. Entretanto, as energias da Deusa Anciã nos dota de força, sabedoria e dignidade. As anciãs sábias das culturas matriarcais aborígenes não foram mulheres submissas porque haviam encontrado o seu verdadeiro "Eu" através das iniciações, ritos de passagem e consciência madura.

As histórias míticas das Górgonas propocionam um ponto de partida para se detectar as qualidades e energias internas em cada mulher. Qualidades das bruxas, xamãs, profetizas e sacerdotisas que se desenvolveram em distintas culturas, oferecem hoje, as demais mulheres e até para homens que se interessem sobre o assunto, experiências de conhecimento e transformação. Tal qual nossas ancestrais, nós, mulheres de novos tempos, necessitamos estar conscientemente vinculadas com a energia de nosso lado obscuro para descobrirmos o seu tesouro oculto, com o qual poderemos transformar tanto nossa vida pessoal como comunitária.

Pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto (republicado)

Por algum motivo a Página Reino das Deusas da terapeuta e sacerdotisa Rosane prossegue fora do ar e ao que parece não voltará.
Se alguém souber o imail ou ela mesma poder informa-lo nos coméntarios ficaria muito agradecida.

REFLETIR E SENTIR NOSSO CORPO


"Supreendo-me muitas vezes com a profundidade das reflexões das mulheres quando estão no interior do curso A Tenda Vermelha. No processo de auto-descoberta e libertação a troca entre mulheres é essencial. Somente na intimidade do círculo feminino é possível encontrar-se "normais", perdoar nossas "imperfeições" e enxergar-nos em perspectiva positiva e histórica. Esta comunhão coletiva feminina tem o resultado de impulsionar a individualidade de cada mulher, doar-lhe auto-confiança e ânimo para construir um amanhã melhor.
Agradeço Rosa por essas reflexões sinceras."

(Adriana Tanese Nogueira )

"Queridas,

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que o texto de Paula Sibila é realmente interessante. Pensar na Barbie como uma arma de guerra ou melhor em seu corpo como uma arma de guerra é realmente fantástico, pois nos possibilita enxergar o quanto um ideal de corpo nos é transferido e contemporaneamente muito observado. O que mais me chamou a atenção é pensar que um dos idealizadores da boneca trabalhava para o Pentagono pensando mesmo em arsenal bélico. Que terrível.

Da leitura do texto sobre a Barbie e pensando sobre a importância da boneca, de sua beleza e de seu corpo magro para as meninas, pude entender o que Alexandre Lowen quer dizer quando fala em "couraças". A objetificação do corpo é tamanha que o corpo se torna uma couraça, o estereótipo de beleza a ser perseguido é de fato tão tirânico que nos impede de sermos felizes com o corpo que possuimos, caso ele não seja condizente com o corpo perfeito. O corpo se torna tão ideal, tão modelado, tão um objetivo a ser alcanlçado, que tudo passa a ocorrer na cabeça, o corpo e as emoções que possui não são escutados. Daí me parece surgir a dicotomia corpo e mente, explicitada no Corpo Traído.

Em sociedades de alta tecnologia e conhecimento cientifico, nos deixamos absorver cada vez mais pelo que está em nosso intelecto, em nossa razão e não mais escutamos o próprio corpo. Como eu disse em minha apresentação, fiz curso de formação em Teatro do Oprimido, e ao ler os textos me lembrei de Augusto Boal dizendo que os sentidos foram mecanizados, que ouvimos, mas não escutamos, que olhamos, mas não enxergamos. Tudo é tão rápido hoje em dia que não temos o tempo para a meditação, para o diálogo com o nosso corpo.

Por isso, gostei muito do exercicio de visualização de nosso corpo, de nosso sexo, de nosso interior feminino proporcionado por Isabella. Eu nunca tinha vivido algo parecido. Fiquei muito feliz com as imagens, pois nunca tinha parado para me olhar de modo detido, me descobri com o exercicio e com as fotografias. O outro texto de Lowen, Sentindo a vida no corpo, me fez pensar sobre o quanto o corpo reage ao nosso meio ambiente e como muitas vezes pensamos não ser nada, não dando importância, como o ranger os dentes ou dores nas costas. Logo tomamos um remédio e não investigamos o que significa aquela dor. Sentimos muito medo de sentir dor, mas é preciso, como diz o autor, que alegria e raiva caminham juntos e que não podemos ignorar os sentimentos que nos trazem dor.

Quando morei na Argentina fiz um trabalho com bioenergetica e na época não pude comprehended o por quê do trabalho com raiz, mas lendo o texto sobre o Lowen entendi o por quê da raiz, pois com ela nos reconectamos com a terra e não permanecemos presos ao mental, o que mais acontece em sociedades modernas e globalizadas como as nossas.

Enfim, dos textos pude sim compreender o quanto os nossos corpos são construídos socialmente, como estão emudecidos, como permanecemos a nivel mental em nosso cotidiano e quanto uma tradição patriarcal contribui para que tenhamos "vergonha" de nossos corpos femininos. Vejo o quanto as mulheres lutam para contarem com corpos desejaveis socialmente, como não reconhecemos o nosso intimo e nos subordinamos a esse desconhecimento profundo.

Por isso, me sinto distante de Ártemis, distante da liberdade por ela anunciada. Por isso também talvez eu me sinta tão distante de Afrodite, de minha sensualidade e de meu corpo. Ao que tudo indica estou muito Atenas, muito racional. Quero muito redirecionar minha relação comigo enquanto mulher e acredito que o curso me possibilitará esse cambio.

Um beijo a todas,
Rosinha"

Rosa é doutora em Ciências Sociais e vive em Campinas (SP).

Encontrado em (Ler mais sobre arquétipos femininos em) : EMPODERANDO AS MULHERES

FERIDA DE HÁRPIA

E Eu sinto a ferida de amor arder, sua dor é leve em Meu corpo e alma,
Ferida de amor causada pela própria acaricia de meu corpo
Ferida causada pela garra de Hárpia que minha mão esconde com o véu da noite
Eu Senhora dos Céus, Sereia primordial carrego essa ferida de amor
Ferida de amor que me arde e dardajeia e Eu canto cântigos tristes do mar
Marinha e voadora Sou anteriora ao que chamais de sereia
Sou o beijo da noite e os demônios temem o meu andar
Os deuses curvam se ante a Mim e me chamam de Rainha
Eu Sou minha própria Filha
Sou minha Filha e sua ferida de amor
Dor, dor que me é prazer e amor
Dor calma cheia de vida
Criação, perpétua mutação
Ciclo de amor.
Ciclo de dor.
Ciclo de vida.

CELEBRAÇÃO DA ANTIGA DEUSA AL LAT


Celebração de Al-Lat, Elath ou Alilat, a Deusa árabe representando a criação e a Terra.
Antigamente, Al Lat era reverenciada em Meca sob a forma de um grande bloco de granito. Mulheres nuas dançavam ao redor da pedra, invocando a “Senhora” e pedindo-lhe proteção e abundância. Os juramentos eram feitos em seu nome pois, como a Terra, ela era eterna e indestrutível. Recitava-se esta afirmação: “Eu juro pelo sal, pelo fogo e por Al-Lat, que é a maior de todos”.
Al-Lat é uma Deusa muito antiga, fazendo parte de uma tríade de Deusas do Deserto que incluem Al Uzza e Menat. Al-Lat representava a Terra, a frutificação e a procriação humana e animal. Al Uzza era a Deusa Virgem da estrela matutina e Menat era a força do destino, Anciã Senhora do tempo e da morte. O culto a Al-Lat foi abolido por Maomé, que transformou a Deusa no deus Allah.
Festa de Anna Perenna, a Deusa romana com duas cabeças, regente do tempo e da reprodução vegetal, animal e humana. Suas celebrações incluíam danças, libações e rituais de fertilidade para atrair a abundância da Terra.

Informações extraídas do livro "O Anuário da Grande Mãe" - Mirella Faur
Encontrado IN: TEIA DE THEA

quarta-feira, 9 de março de 2011


No filme Comer, Rezar, Amar a amiga da personagem Liz fala de um caixinha aonde guarda as coisas de bebê até poder realizar o sonho de ser mãe. Liz também tem uma caixa igual etc.
E eu tenho a minha,
Nela guardo coisas que sonho um dia poder usar: um brinco de pino que achei lindo, um batom vermelho vinho, um esmalte marrom escuro, sombras violeta, outros brincos e colares de pedra baratinhos de camelo, um linda imitação de jade e um outro brinco que acho lindo de pena de pavão...Um dia eu também vou usar tudo que está nesta caixinha. As vezes imagino as pessoas tendo boas reações quando eu me assumir mas na maioria das vezes imagino e sei que a reação pode ser horrível...Paciência, não estou na terra para agradar ninguém. Nós seres humanos temos que começar a entender que o nosso objetivo na vida não e fazer bonito para ser aplaudido pelo outro, nem para lhe agradar (e isso valhe mesmo para as pessoas que amamos) mas sim para realizar nossos sonhos.
Assim que eu tiver coragem de usar as coisas da minha caixa bato uma foto e mostro pro cês.

Beijinhos,
Gaia Lil

UM CAMINHO DE AUTO-DESCOBRIMENTO


Minha busca é sempre extrair mais e mais de mim mesma, extrair o que a de mais profundo em mim na minha Fonte Interna. Eu persigo um sentido, um sentimento o qual não sei nomear e que as vezes me pulsa. Minha profunda devoção a Deusa também se deve a isso: sou muito recôndida para religiões dogmáticas, sou como uma água que percorre profunda o leito da terra. Minha alma quer sempre mais, quer sempre criar mais e enquanto crio vou destruindo as coisas e as pessoas a minha volto. Minha salvação (palavra que eu odeio pelo seu sentido religioso) é que quando me sinto entregue a Mãe, eu entro em um estado de graça, de plenitude, eu entro em contato comigo mesma e com meu ritmo. A busca espiritual para mim tem sido e é conseguir isso; compreender aquilo que me corre no intimo e por isso não busco uma iluminação; a Deusa já está em mim, eu já sou plena e sagrada. O que eu quero é não apenas compreender isso psicologicamente mas também sentir profundamente essa plenitude. Foi por isso que o caminho do Sagrado Feminino me interessou: ele é autentico e sem máscaras. Foi por isso que encontrei a Deusa em meu ser: Ela é dúbia e una simultâneamente, Ela não finge ser apenas bondosa para depois nos castigar pelos nossos pecados, Ela é o próprio instinto que simultâneamente é salvação e milagre. A salvação é na Terra e para a Terra e não para um céu fictício do qual todos interiormente duvidam. E mesmo a reencarnação no culto da Grande Mãe tem sua lógica. Se nossas almas pertencem a Terra Mãe, que é uma das múltiplas formas que a Deusa Una adota para comandar o cosmos, é natural que na hora da morte os seres humanos retornem a Seu ventre. A Deusa enquanto divindade suprema é totalmente diversa dos deuses patriarcais pois para Ela tanto mulher quanto homem são iguais, tanto a vida como a morte tem seu valor, a sexualidade deve sim ser guiada pelos instintos de forma sadia e natural sem forçarmos anseios que não nos pertencem para seguir modelos sociais estipulados para estruturar uma sociedade machista na qual os homens governam um mundo nutrido pelas mulheres, no qual a mulher deixe de ser símbolo do milagre da Deusa na terra para se tornar uma mera reprodutora, um buraco no qual o homem se alivia, um mundo que no sumo de sua crueldade divide a mulher em dois arquétipos; uma mulher espiritualizada com sua sexualidade anulada ou negada (camuflada ou subvertida) e outra mulher que serve de alívio para os instintos sexuais reprimidos de toda uma sociedade masculina seja ela formada por trabalhadores ou empresários, pobres ou ricos. E assim as duas mulheres que em origem era uma lutam pelos favores do Homem e pelos seus privilégios sejam os da puta (liberdade sexual, ainda que induzida) ou os da santa (estabilidade social ainda que tenha de se sujeitar) e é desse modo que vemos as mulheres lutarem entre si, até a morte se for preciso num mundo (sociedade) criado por homens e para homens. Cansei de observar tamanha hipocrisia e até agora a espiritualidade feminina tem sido o meu refugio contra o abandono da sociedade patrista. E não podemos parar por ai e sim prosseguir nos engajando sim no eco-feminismo e nas causas sociais alicerçadas pelo culto da Deusa, pelo novo modo de amor a Deusa Terra e a mulher, cuidando da Terra, de sua bio diversidade, do seu meio ambiente. Buscar no fundo da própria alma um motivo digno para se viver.

MULHER HABITIS

"Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro."

Clarice Lispector



"Habitis, cala me porque não sei quem sou. Habitis, força de quem habita, habita em meu corpo grandiosa profundidade"

Nas matas e na madrugada perto dos lagos e dos moinhos de milho, atenta e até no amanhacer, murmuro e canto eu mulher sem face, mulher com rosto de górgona. Tanto intenso amor oferta e perdido nas matas escuras porque o que a górgona fala é profundo demais para o mundo
Ela (eu) fala de caminhos profundos que percorrem a alma e o ser, pulsos de luz e escuridão, das diferentes essências que perfazem as emoções, dos medos da sombra, dos pulsos terríves do instito e do amor que brota delicado e em dor.
O que ela fala é como um terror para as pessoas, que correm, que gritam, que a temem e que riem se dela como os animais que guinchão na escuridão.
Ela não foi feita para este mundo, ela sabe que tudo que vive por aqui é um grande engano, ela busca nas grutas da Terra Mãe, o pulso primordial da vida, o local aonde tendo feita sua toca possa descançar mesmo sabendo se terrível, bela e terrível como a essência do amanhecer no inverno.
Ela (eu) percorre as montanhase os lagos azuis de aurora, promessa e milagre, sentindo a liberdade da vida correndo lhe o sangue pulsando lhe o ser, amada e libertamente. Amada por si mesma, pois ela é a floresta e o clamor da floresta a ama. Ela (eu) diz grita com a voz bela e cavernosa como as grandes grutas da Mãe: Eu falo de mim, falo de mim , falo de mim
E enquanto bate as mãos sob os seios sente as ondas de força, de sua propria força pulsarem sobre a Terra.

Ela mergulha nas águas antigas dos oceanos e lá solitária canta os antigos hinos das feiticeiras do mar.
Ela caminha por sobre as águas livre e liberta pois é mais antiga que esse mundo, reinado pelo falso profeta...
Ela caminha por sobre a madrugada, sua foice é a lua, sua espada é o sol, e ninguém na terra ousa se aproximar dela que é milagre vivo e a bênção da Mãe-Vida.
Caminha eterna e docemente para lá do sol...
E Eu sou mas antiga do eu.

Gaia Lil

"Eu sou mais forte do que eu"
C.L

terça-feira, 8 de março de 2011

O SANTUÁRIO INTERIOR



A DEUSA É A CHAMA VELADA NO CORAÇÃO DA SACERDOTISA

Envolta nas águas profundas
Envolta nas nevoas da escuridão e nos clamores de luz
Brilha em meu coração, oculta das trevas da mente
E dos temores do patriarcado

Oculta do mal que se esconde por detrás da religiões iluministas
E dos fetichismos machistas...
Oculta e entre as águas
Sobre elas paira a chama, a flamula da vida
Docemente obscura
Docemente a atenta
Chama que me arde em formas de mulher e me desperta prazer
Chama de meu santuário oculto
Arde meus lábios, secos no sabor da pimenta
Pimenta de sua dançã pagã
Origem da origem
Ardem me os olhos quando vejo a Ti,
Mulher Oculta de Fogo
Dançando no santuário de minha alma
As Águas da Grande Mãe se agitam enquanto vêem,
Ela dançar
Dança minha alma, embalada em tua Fúria
Dança me e corroa me toda
A vida flui e reflui
Dança me
Ama me queima me a pele,
Vem ó, Oculta,
Vem em ira, ó Irrevelada,
Vem Doadora de Vida
Lançar tuas bênçãos de fogo sob meu coração
Vem lançar seu amor sob mim.

REIJEITAR A MÃE: REJEITAR A NUTRIÇÃO DO CORPO E DA ALMA


Entrevista com a analista junguiana Marion Woodman.

Anorexia, bulimia e vício
O corpo não mente.

Marta Graham, dançarina e coreógrafa
Tarrytown: Por que estamos assistindo hoje a esse estonteante aumento do número de distúrbios alimentares?

Woodman: Anorexia e bulimia soam mais comuns porque as mulheres estão mais distantes que nunca de seu corpo. Esta distância instiga uma ira íntima profunda, que vai se acumulando de geração em geração.


Não obstante, acredito que doenças como anorexia, longe de serem malignas, são meio de cura em escala mais larga contanto que compreendamos sua mensagem.
O alimento representa a nutrição providenciada pela Mãe, e quando a rejeitamos, como a anorexia, estamos rejeitando a própria vida. Hoje as mulheres estão sendo forçadas a lidar com seu próprio desejo de morte, que é precisamente o que devemos fazer em escala mundial. A
verdade é que estamos nos encaminhando para a aniquilação porque nossa cultura não respeita a terra nem a criatividade feminina.

As jovens mulheres anoréxicas são, de fato, mais felizes que as obesas, porque se colocando diante de seu desejo de morrer. As obesas podem ficar brincando com as advertências do corpo geralmente até o advento da menopausa. Então, tornam-se prisioneiras de um corpo que é uma couraça e paralisam-se no desespero de uma vida não vivida.

T: De que modo a rejeição de nosso corpo está relacionada com a rejeição do feminino?

W: A matéria é feminina. Nesse nível, o corpo dos homens é a corporificaçao do feminino da mesma maneira que o é para as mulheres. O extraordinário é que a matéria está se tornando consciente. Para as mulheres, existe uma constatação angustiante: “Odeio este corpo!” Para os homens ele vem à tona no grito: “Dói!”

A matéria está forçando muitas pessoas a tomar consciência de sua natureza sagrada. De modo que somos acossados pelo flagelo dessas doenças como mensagens dos deuses.

T: O que podemos aprender com os distúrbios alimentares?

W: A anorexia e a bulimia dizem-nos que nossa alma está morrendo a míngua. E também que nosso corpo se tornou por demais cerebral. Essas pessoas estão seccionadas ao nível do pescoço. As vidas que tiveram foram performances. Não há ego no centro do corpo, não há um “eu” que sinta e perceba o que se passa dentro. Com isso, queixam-se de que não vivem a vida.

As pessoas viciadas em comida – ou mesmo com álcool e drogas – estão aterrorizadas diante do corpo e da realidade. Sua vida pode ser uma máscara que usam para lidar com o mundo externo. Em vez de agir movidas por seus próprios valores afetivos, sua primeira reação é: “Como é que, nesta situação, consigo agradar?”

Também são viciadas em controle e perfeccionismo. Tentam ser supereficientes todos os dias, mas depois vão para casa e o inferno desaba com toda a sua força em orgias gastronômicas, festas, bebedeiras ou outros rituais demoníacos. Esse vício do perfeccionismo é um grande problema em nossa cultura.

T: Como é que esse vício se disfarça para aparecer?

W: Se você pensa que tem de ser o filho ou filha perfeita, vai empenhar-se incansavelmente para atingir tal objetivo. Na verdade, esse é um desejo de morte, não de vida. Significa tornar a vida uma estrutura inerte e perfeita.

A vontade pode conseguir manter essas pessoas em movimento por muito tempo, se elas conseguirem correr rápido o bastante e seu corpo for forte o bastante. Mas, finalmente, o corpo entra em colapso de tanta fadiga, pois o princípio do poder mata a vida.

T: Quando é que as pessoas a procuram pedindo ajuda?

W: Em geral, não antes de entrarem em desespero e finalmente terem de dar ouvidos à sua doença. Nesse ponto, o corpo leva uma vida aparentemente independente. Quando o corpo adoece, essas pessoas sentem-se vitimadas por seus sintomas.

A verdade é que estão famintas e sedentas por uma vida interior. Na realidade, distúrbios alimentares costumam ter muito pouco a ver com o número de calorias ingeridas. Muitas mulheres gordas, por exemplo, comem menos do que as magras. O problema pode ser que a energia bloqueada vira gordura. Em terapia, nós tentamos descobrir por que.

T: O que bloqueia a vida, em geral?

W: Um medo e uma ira profundos e inconscientes, que remontam ao primeiro ano de vida. Como as mães não puderam se amar enquanto seres femininos completos, não puderam amar-nos enquanto seres femininos. Nosso medo, portanto, é arquetípico, monstruoso.

Temos uma poderosa sensação de algo interno que está expurgado, abandonado. Trata-se de nosso próprio eu, de nossa própria alma.

T: Então nosso corpo é como uma criança abandonada?

W: Exatamente. Esse abandono pode remontar até a um período anterior ao nascimento, chegando àquela fase da vida em que vivemos dentro do útero. è comum verificar-se que as crianças cujas mães tentaram abortá-las são traumatizadas pelo medo de virem a ser aniquilada.

Esse aborto, no entanto, também pode ser figurativo. Um pai ou mãe pode “amar” o filho, mas dentro de determinadas condições.

A mãe que fica tentando moldar seu filho para que se torne uma obra de arte não é capaz de aceitar o lado instintivo da criança – seus aspectos orgânicos, vomitar, urinar – porque não consegue aceitar o seu próprio corpo. Dessa maneira, a criança é separada de seu corpo.

T: De que maneira as pessoas lidam com a rejeição?

W: A comida simboliza a Mãe. A pessoa bulímica quer a Mãe de maneira tão desesperada que simplesmente soca tudo garganta abaixo. Mas no instante em que as coisas estão em seu estômago, ela não consegue assimilá-las, de modo que vomita. A anorexia recusa e rejeita a Mãe até ser consumida por sua falta de nutrição interior.

O corpo é como uma metáfora elaborada. Podemos ser capazes de saborear, mas não de engolir, como a anoréxica, ou de engolir e não assimilar, como a bulímica ou a obesa.


T: Como é que você age, a partir de então?

W: è preciso chegar ao significado do estar à míngua – entendendo do que a alma sente fome – e então poder alimentá-la.

Uma pessoa viciada tenta preencher um terrível vazio interior. Trata-se, porém, de um vazio espiritual, não físico. Os sonhos nos dão imagens que podem alimentar a alma. Realmente acho provável que o corpo se manifeste em cada sonho, se você entendê-lo tanto física quanto psicologicamente. Se uma pessoa sonha que uma parte de sua casa esta em chamas, isso pode significar que houve um curto-circuito energético, em algum ponto. Existe um excesso de energia em uma parte da psique, e insuficiência energética em outra. Ao se considerar essa imagem onírica, pode-se entender que a energia este sendo contida e bloqueada, e que não está disponível a consciência. Disso decorre a depressão.

O sonho pode lhe dizer com exatidão qual o problema e até mesmo onde se localiza no corpo, meses antes de um médico diagnosticá-lo. Em geral, a imagem não vem como uma figura corporal, mas como um símbolo – carro, casa, arvore.

Freqüentemente, a alma se manifesta como uma planta ou árvore quebrada ou, de alguma maneira, em perigo.

T: Como é que você trabalha com os sonhos?

W: Primeiro, identificamos uma imagem onírica positiva e depois enviamo-la ao corpo, por meio da imaginação. Por exemplo, uma mulher sonha com uma linda flor. Peço que ela imagine essa flor dentro de seu corpo – em alguma parte que ela sinta ser “escura”, normalmente o útero ou o aparelho reprodutor. Quando ela o faz, esta gerando energia nessa área.

No inicio é possível que isso a deixe enjoada. Se ela nunca tomou consciência dessa região de seu corpo, pode tratar-se de um aporte muito grande de energia. Talvez ela se sinta nauseada ou tonta. Contudo, esse transtorno desaparece assim que ela reconhece que seu corpo a está conduzindo através de uma profunda iniciação. Está a levá-la até seu próprio trilho individual na vida.

T: Esta é uma forma inteiramente nova de trabalhar?

W: Inteiramente, não. Os sábios orientais conheciam a relação dos símbolos com o corpo. Pode-se percebê-lo em sua descrição dos chakras. Mas, em nossa cultura, existe uma deficiência de imaginação. Confundimos alimento espiritual ou anímico com alimento concreto, material. Em decorrência disso, a alma fica à míngua e o corpo é abandonado.

Também não nos abastecemos com imagens que sejam saudáveis. As imagens de guerra e violência que vemos na televisão soam, de fato, destrutivas para a alma. Mas, o que é ainda mais fundamental, a alma não esta sendo alimentada porque as pessoas não podem receber.

T: De modo que perdemos a sensação de comunhão entre o corpo e a alma?

W: Sim. Para mim, o trabalho corporal é um trabalho com a alma, e a imaginação é a chave que conecta os dois. Para ter o poder de cura, a imagem deve ser levada para dentro do corpo, pela respiração. Depois, ela pode conectar-se com a força vital, e as coisas podem mudar, tanto física como psicologicamente. Pode aparecer um homem para fazer terapia, dizendo: “Não consigo chorar”. Não obstante, se eu lhe pedir que inspire um símbolo de seu sofrimento, as lágrimas começaram a rolar. Uma mulher pode dizer: “Não consigo expressar minha raiva” mas, se eu lhe pedir que coloque essa raiva numa imagem e que a inspire, então, em poucas sessões, ela poderá estar vivenciando acessos incontroláveis de raiva. Por isso é importante que esse trabalho seja feito junto com alguém. Pode ser aterrorizante fazê-lo por conta própria.

A maioria das pessoas mantém-se respirando tão superficialmente quanto possível porque a erupção de sentimentos é intensa demais quando inspiramos profundamente. A respiração é muito importante porque se trata de uma maneira de receber, o que é justamente o princípio feminino encarnado.

T: Nosso medo da rejeição está relacionado com a nossa respiração?

W: Sim. Por exemplo, se uma pessoa tem um intenso complexo de mãe negativa, isso geralmente se manifesta numa garganta contraída, em nariz entupido, num problema de sinusite, asma e todas as espécies de dificuldades.

Às vezes, no trabalho corporal, o muco começa a vazar – escoando em fios pelos olhos, nariz e boca – quando o complexo esta começando a se soltar! Freqüentemente, isso sinaliza o final de uma asma e de outras doenças correlatas.

Essas pessoas costumam não conseguir abrir-lhe o peito se você se oferece para abraça-las. Elas formam um arco com o tronco. Mas, quando comecam a confiar, seu corpo começa a se soltar e elas tornam-se capazes de um abraço completo.

Não obstante, assim que você soluciona estes problemas, geralmente defronta-se com outros. Toda a área vaginal está relacionada com a garganta e a respiração. Sendo assim, se você descarrega alguma coisa em cima, também aciona a energia na outra extremidade. É quando você começa a lidar com um problema de teor sexual.

T: Você poderia nos dizer como é?

W: As mulheres podem perceber que estão tendo problemas vaginais quando estão num relacionamento incestuoso. O corpo pode dizer: “Tire-o daqui! Quero um homem adulto para parceiro. Não quero brincar de menininha com meu filho-pai”. O corpo reconhece a verdade do relacionamento antes que a psique o faça. Ele a forçará a mover-se rumo a um novo nível se você lhe der ouvidos.

T: O que isso nos informa a respeito de honrar a sexualidade de uma mulher?

W: A sexualidade ficará aleijada se a mãe não aprender a amar o corpo de sua filhinha. Quando esta crescer, pode querer que o homem seja mãe. Ann Landers perguntou a suas leitoras se elas preferiam fazer amor ou ser abraçadas. Setenta por cento das que responderam disseram que queriam ser aconchegadas por seus maridos. Mas quando o homem precisa ser tanto mãe quanto amante, ele fica emasculado.

Enquanto isso, os homens tampouco são mais maduros. Uma plena sexualidade é muito rara em nossa cultura. A maioria de nós é composta por garotinhos e garotinhas que circulam a esmo pelas relações, tentando se retirar de vínculos incestuosos com mamãe e papai. Por que? Porque não temos nenhum contato real com o feminino.

T: Que sinais dessa privação você localiza?

W: A necessidade do reconhecimento feminino de corpo irrompe em sonhos lésbicos. Quando o corpo feminino não foi amado por uma mulher – a mãe – a psique tenta preencher essa lacuna. Geralmente tais sonhos envolvem a analista que esta servindo como figura materna.

Assim que o corpo sentir confiança no amor da mãe – em sonhos ou em experiências de vida – pode abdicar de suas defesas inconscientes. Então, pode se encaminhar para um novo nível de sexualidade, quer em relacionamentos homossexuais, quer heterossexuais.

T: Estaria nosso corpo tentando ensinar-nos a viver como mulheres?

W: Certamente que sim. Considere a síndrome pré-menstrual, por exemplo. Muitas mulheres percebem que seu corpo fica inchado de água. Se considerarem esse processo pelo prisma simbólico, verá que o corpo está se enchendo com conteúdos inconscientes. Antigamente, as mulheres recolhiam-se às cabanas de menstruação, voltavam sua atenção para seu interior, permaneciam em contato com o inconsciente, davam ouvidos ao corpo e depois voltavam, levando esses ensinamentos para a tribo. Em nossa cultura, no entanto, não existe um tempo dedicado a esse período, não se lhe dedica o menor respeito.

É como uma lua nova. Quando menstruamos, houve uma morte. Uma criança não nasceráa. Mas existe a possibilidade de uma nova vida espiritual e evidenciam-se indícios de nossa capacidade de alimentá-la. Se não dedicarmos algum tempo a tais mistérios, sentimos uma tensão terrível. O corpo incha e diz:
“Mergulhe em minhas águas de cura e eu lhe indicarei os símbolos que lhe possibilitarão ingressar em um novo dia, em um novo ciclo”.

T: Por que não fomos mais sensíveis ao corpo feminino e suas advertências?

W: Um dos problemas é o tabu contra a morte, em nossa cultura ocidental. As pessoas simplesmente não querem que as coisas morram. Sentem receio de abandonar o que é antigo e acolher o novo. O feminino que é genuíno sabe que a vida é cíclica, que a lagarta deve morre para que a borboleta apareça. Todos devemos vivenciar esse estágio de crisálida, periodicamente.

As mulheres são detentoras de um imenso potencial de oferecer ao mundo um modo inteiramente novo do compreender o padrão cíclico da vida. Mas se continuam insistindo em percorrer a linha reta da perfeição e das performances, o corpo vai lhes dar uma rasteira, é uma questão de tempo. E o corpo só permanecerá ultrajado enquanto não der início a sua vingança.

T: O que acontece quando não usamos completamente o corpo?

W: Somos desconectados da alma, do propósito de nossa vida. A vida é uma questão de encarnação – a alma é uma entidade com que temos de viver em nosso corpo humano.
O problema é que um excesso de pessoas em nossa cultura tenta saltar essa parte e ir direto para o plano do espírito.
A superespiritualização é um perigo real, mas normalmente o corpo começa a gritar
. As pessoas podem desenvolver sintomas ou vícios. Então começam a baixar à terra, novamente.

Os homens anoréxicos com quem estou trabalhando estão em muito piores condições que as mulheres porque são espíritos altamente desencarnados, que mal tocam o chão. São pessoas magníficas, mas não querem estar encarnadas. Fico o tempo todo tentando trazê-las de volta para seu corpo, e para o lado feminino pelo qual podem aceitar a vida.

Temos de encarnar a agonia e o êxtase de sermos humanos – algo em que não somos tão eficientes nesta cultura. Muitas pessoas não querem ser humanas, preferem viver a base de idealizações e da perfeição. Não querem assumir a responsabilidade pelas próprias vidas porque é muito mais fácil embarcar na viagem do espírito e tentar viver na prática um sonho arquetípico.

Psicologicamente, chamamos esse processo de inflação e seu único desfecho é cair de cara no chão – ou recuperar o contato com a terra – por meio da depressão ou de enfermidades.

T: Terá nossa cultura exacerbadamente masculina sido seduzida pelas idéias, deixando o corpo muito para trás?

W: Sim. Mas não estou em guerra com o patriarcado. Acho que o mundo precisou atravessar um estágio patriarcal. Foi preciso que existissem determinadas interdições de comportamento, e elas nos foram necessárias nos primeiros estágios da civilização, tal como crianças que precisam de regras.
Para mim o patriarcado é o principio do poder, não é a genuína masculinidade. É o Pai Mandão no nível arquetípico. E Jeová, a Lei Pai. A Lei Pai sustenta a Sociedade Mãe, as Convenções Mães, a Igreja Mãe, a Seguridade Social Mãe. No entanto, esses dois arquétipos deixam-nos com uma visão de nossa própria humanidade que é muito incompleta e imatura.

T: De que maneira poderemos crescer e amadurecer?


W: Para mim, o mundo está atravessando uma iniciação à puberdade. As pessoas não estão mais dispostas a viver sob o jugo de interdições impostas. Estamos chegando a algo inteiramente novo: uma nova feminilidade em equilíbrio com uma nova masculinidade. A Deusa esta vindo à luz. Ela está chegando através da Terra e de nosso corpo físico, mas temos de criar uma relação com ela por meio de nossa consciência individual. De outra forma, poderíamos ser tragados de volta ao matriarcado inconsciente.

T: Qual é o feminino positivo em cuja direção estamos nos encaminhando?

W: O amor é a essência da consciência feminina – nos homens e nas mulheres. É o reconhecimento e a aceitação do individuo total, é o amor por ele, sendo como é. O feminino é amorosidade em cujo bojo cabem todos os conflitos, todos os processos físicos e psicológicos. Estes não devem ser rejeitados, mas amorosamente acolhidos. O único meio de crescer sofrendo é entrando em conflito. Conforme a vida se desloca de uma fase para a seguinte, você tem de sofrer a morte de uma para que haja o nascimento de outra.

T: Fale mais desse rito de passagem.

W:
A alma feminina é o que nos alicerça; ela nos ama e aceita em nossa totalidade. Nosso desafio, hoje, é encarnar isso.

Já de algum tempo para cá, tenho trabalhado com sonhos – centenas deles, sonhados por pessoas de ambos os sexos – de grandes mulheres escuras. Aparecem como dançarinas, ciganas magníficas, cozinheiras portuguesas ou pessoas que conheceram nas Bahamas. Essas grandes e maravilhosas mulheres negras são um símbolo redentor. São uma imagem salvadora porque entraram em contato com o corpo, e também tem amor por ele. São uma reminiscência da Madona Negra, a virgem negra ctonica que era adorada na Idade Media e que, em muitos paises europeus contemporâneos, continua sendo cultuada.

T: As pessoas conseguiriam experimentar a totalidade se adotassem uma nova atitude para com o corpo e a forca vital que nele se encontra?

W: Em parte. Recebemos a vida através dos orifícios de nosso corpo: os olhos, ouvidos, nariz, poros da pele, sexualidade. Se realmente conseguirmos ver, ouvir e sentir, estaremos continuamente crescendo.

Por outro lado, a doença pode ser um indício de emoções bloqueadas. Jung dizia que o câncer é a doença do desespero, e a artrite, a raiva silenciada. Problemas da pele podem indicar conflitos bem próximos da consciência. Se o problema é profundamente interno e está muito distante da consciência, pode se manifestar em distúrbios intestinais. De modo que, veja, se não estamos conscientes do que sentimos, o corpo exagerara esse sentimento.

T: A ironia é que nossa cultura deu uma grande atenção à aptidão física sem, porém, conquistar nada em termos de consciência do corpo.

W: Duvido que toda essa ênfase em máquinas de condicionamento físico e corrida etc., levam a pessoa a ter uma maior consciência de seu corpo. Correr, por exemplo, efetivamente introduz muito oxigênio no corpo e, como muitos outros vícios, desencadeia uma sensação de euforia. Penso que algumas pessoas podem correr e estar em íntimo contato com seu corpo, enquanto outras estão só correndo de alguma coisa. A pessoa que se exercita numa máquina pode entrar num processo de comunicação intuitiva ou simplesmente forjar uma couraça. Algumas pessoas podem fazer exercícios e estarão só estendendo os braços para cima. Outras expandem-se a partir do plexo solar, na expiração, e com isso seu corpo inteiro torna-se mais vivo. Ha os que dançam de forma mecânica e técnica; outros, ao dançar, estão rezando. Depende de se o foco da consciência está dentro ou fora do corpo, ou só na cabeça.

T: O que acontece quando finalmente se ouve o corpo?

W: Ele se torna eloqüente. É como transformar um violino caipira num Stradivarius. Ele se torna capaz de sintonizar muito mais alto. Ao se tornar mais sensível, protesta contra todas as maneiras de envenenamento psicológico e físico que queiram entrar. Pode passar a pedir alimentos diferentes.
Quando as pessoas ouvem seu corpo, também desenvolvem uma aguda sensibilidade para com a natureza. Já atendi homens e mulheres que entraram chorando em meu consultório por causa de uma arvore que tinha sido cortada, ou de uma ave ferida. Assim que você entra em contato com a dor de seu próprio corpo e a devastação que ele sofre, torna-se mais consciente dos estragos sofridos pela natureza. E também reconhece a agonia dos outros que não estão vivendo no corpo deles. Você pode enxergar o corpo deles retorcendo-se, girando, tentando enviar mensagens.

T: Quanto tempo dura esse processo?

W: Recomendo para as pessoas com quem trabalho que dediquem uma hora por dia ao corpo e que realmente o escutem. Se você não vale uma hora por dia, não há nada que o corpo possa lhe dizer e nada que eu realmente possa fazer.

T: Quando é iniciado esse dialogo com o corpo, existem níveis diferentes de comunicação?

W: Sim. Dou-lhe um exemplo. Na menopausa, as mulheres podem receber prescrições de pílulas que mantém seu rito de passagem em suspenso. Se, no entanto, elas ouvirem seu corpo, este encontrará uma maneira de realizar uma transformação genuína, tanto psíquica como física. As pílulas funcionam por algum tempo, mas depois o corpo encontra uma forma de entregar sua mensagem.
O corpo continuará emitindo mensagens provenientes de suas diferentes camadas, conforme você vai alcançando diferentes níveis de conscientização. Vi pessoas obesas que perderam 50 quilos. Mas se elas não tiverem lidado completamente com seus conflitos internos, o corpo pode apresentar-se coberto de eczemas. Ainda não estará ajustada a interface entre a necessidade íntima e a atitude externa.

Sinais de advertência devem ser ouvidos e obedecidos. Em vez de ser ignorado, deixado à mingua, entupido, ou embebedado, o corpo deve receber uma verdadeira atenção.
Quando o corpo está inteiramente aberto, podemos confiar em nossos próprios sentimentos e atos; eles nos ancoram em nosso domicílio interior. O corpo protege-nos e nos guia – seus sintomas são os sinais que nos religam à nossa própria alma perdida.

Reproduzido de The Tarrytown Letter, n. 54 (dez. 1985/jan. 1986) A entrevista foi realizada por Sally Van Wagenen Keil. In: A Feminilidade Consciente. Entrevistas com Marion Woodman. São Paulo, Paulus, 2003, pp. 15-29.

Encontrado em:
EMPODERANDO AS MULHERES

O LABIRNTO INTERNO


"O CORPO FEMININO É O LABIRINTO ONDE O HOMEM SE PERDE"
“A PASSAGEM DO CULTO DA TERRA AO CULTO CELESTE DESLOCOU A MULHER PARA A ESFERA INFERIOR”.


"É correcta a identificação mitológica entre a mulher e a natureza. O contributo masculino para a procriação é fugaz e momentâneo. A concepção resume-se a um ponto diminuto no tempo, apenas mais um dos nossos fálicos pico de acção, após o qual o macho, tornado inútil, se afasta. A mulher grávida é demonicamente (diamon), diabolicamente completa. Como entidade ontológica, ela não precisa de nada nem de ninguém. Eu defendo que a mulher grávida, que vive durante nove meses absorta na sua própria criação, representa o modelo de todo o solipsismo, e que a atribuição do narcisismo às mulheres é outro mito verdadeiro. A aliança masculina e o patriarcado foram os recursos a que o homem teve de deitar a mão a fim de lidar com o que sentia ser o terrível poder da mulher. O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde. É um jardim murado, o hortus conclusus do pensamento medieval, no qual a natureza exerce a demónica feitiçaria. A mulher é o construtor primordial, o verdadeiro Primeiro Motor. Converte um jacto de matéria expelida na teia expansível de um ser sensível, que flutua unido ao serpentino cordão umbilical, essa trela com que ela prende o homem."*

"Os ciclos da natureza são os ciclos da mulher. A feminidade biológica é uma sequência de retornos circulares, que começa e acaba no mesmo ponto. A centralidade da mulher confere-lhe uma identidade estável. Ela não tem que tornar-se, basta-lhe ser. A sua centralidade é um grande obstáculo para o homem, cuja busca de identidade é bloqueada pela mulher. Ele tem que se transformar num ser independente, isto é, libertar-se da mulher. Se o não fizer acabará simplesmente por cair em direcção a ela. A união com a mãe é o canto da sereia que assombra constantemente a nossa imaginação. Onde existiu inicialmente felicidade agora existe uma luta. As recordações da vida anterior à traumática separação do nascimento podem estar na origem das fantasias arcádicas acerca de uma idade de ouro perdida. A ideia ocidental da história como movimento propulsor em direcção ao futuro, um desígnio progressivo ou providencial que atinge o seu apogeu na revelação de um Segundo Advento, é uma formulação masculina. Não creio que alguma mulher pudesse ter concebido tal ideia, já que a mesma é uma estratégia de evasão em relação à própria natureza cíclica da mulher, na qual o homem teme ser aprisionado. A história evolutiva ou apocalíptica é uma espécie de lista de desejos masculinos que desemboca num final feliz, num fálico cume"*

*Personas Sexuais de Camille Paglia

Encontrado em (Ler mais em): MULHERES E DEUSAS - ROSA LEONOR

O TEMOR À VIDA

Tu que temes a Mim que caminho pelos locais profundos
Tu que temes a Mim, que sou a Senhora das Habitações Interiores
Tu que temes a Mim que sou a Mãe, a que Gera a Vida
Tu que temes Meu corpo que é a Terra
E o lança em maldição cristã por temor a intensidade do amor e da vida
Saiba que Eu e tu somos profundamente uma Só
E só na hora do Seu aceitar, do seu destemor interno em relação à Vida
Compreenderas a Mãe que gerou todos os Deuses e profetas
Só quando to te postares de ante de mim
Conhecerá a salvação que não eterna
Mas ciclica nos ritmos da Vida na Terra
Vida prazer e amor
Corpo e Mulher
Só diante de Mim
Tu descobrirá o que é ser Mulher.
Não me tema pois jamais forço as minhas Filhas a se ajoelharem se não quiserem
Porque Eu Sou a Mãe da Vida e antes dela, Sou o Principio Fecundo
Sou antes do caminho
E sou a Origem da Verdade.

terça-feira, 1 de março de 2011

A MÃE FÉRTIL DA TERRA

Divindades regentes da fertilidade

Ao longo dos tempos, inúmeras divindades - deuses e deusas - foram cultuadas como regentes da fertilidade e da abundância , da terra, dos animais, das plantas e dos seres humanos; porém todas as culturas antigas, independentemente da sua origem e época, divinizavam a Terra como o poder que representava o ciclo da vida, da morte e da eterna renovação. A Mãe Terra era a mãe geradora e sustentadora da vida, receptora e nutridora das sementes, que lhes fornecia a força necessária para se transformarem em colheitas cujas sementes eram guardadas à espera de um novo plantio. Os povos antigos usavam a mesma idéia para compreender o mistério da vida e da morte, o espírito entrava no corpo de uma mulher, nascia fisicamente do seu ventre e no final da sua vida o seu corpo voltava ao ventre escuro da terra e o seu espirito se deslocava para outra dimensão, à espera do renascimento. Os rituais para plantios e colheitas assim como os ritos fúnebres marcavam estes momentos e reverenciavam a Mãe como Criadora e Ceifadora. Existia um mito universal da Divindade Feminina relacionada à Natureza, aos ciclos lunares, à fertilidade da terra e seu culto remonta ao início da história humana, como pode ser comprovado pelas imagens de Vênus préhistóricas. A Grande Mãe foi reverenciada e personificada por várias manifestações e aspectos nas
Deusas de todas as antigas culturas, Ela englobava tanto a Terra, quanto a Natureza, sendo consorte e contraparte do céu. A Terra, nosso planeta, era fertilizada pelo céu através do seu sêmen, a chuva, gerando continuamente seres de todos os reinos, que emergiam do seu ventre e povoavam o seu corpo. Como matéria, a terra não era personificada e nos mitos descrevia-se como foi retirada no começo dos tempos, por diversos seres ou animais, do fundo das águas primordiais, ou sendo o corpo de um monstro vivo ou morto; depois de modelada como globo terrestre era sustentada por um animal ou por divindades (colocadas nas quatro direções). Os movimentos das divindades ou as contorções do animal (como no caso do mito nórdico sobre a “Serpente do Mundo”) ocasionavam os terremotos e maremotos. O culto da terra e das deusas que representavam a fertilidade foi um dos primeiros que surgiu na terra; representações antigas da Deusa bem como inúmeras ossadas foram encontradas em grutas, onde as mulheres iam para dar à luz ou para morrer, pois a gruta era o próprio ventre da Mãe Terra. Os primeiros indícios de um culto à Deusa Mãe foi observado inicialmente na préhistória (Paleolítico e Neolítico), cultos organizados surgiram no sexto milênio a.C. no Oriente próximo, de onde se espalharam para o restante da Ásia e Europa, coincidindo com o advento da agricultura. Estatuetas e inscrições provenientes de diversascivilizações como suméria, acadiana, babilônica, grega, romana, egípcia e celta, comprovam a consolidação de um amplo panteão de Deusas associadas aos atributos de fertilidade (vegetal, animal, humana e telúrica). A arqueologia pré-histórica, como por exemplo as excavações feitas no sítio de Çatalhüyük (Anatolia), os achados de várias grutas europeias e diversos mitos pagãos registraram a ligação entre o culto à Deusa Mãe e a fertilidade da terra, simbolizada no uso de um pigmento natural vermelho, chamado ocre, associado ao sangue menstrual e ao poder de dar a vida. Na mitologia grega, a chamada Mãe de todos os deuses, a Deusa Réia (ou Cibele, entre os romanos), define este significado na sua própria etimologia: réia significa terra ou fluxo. O acadêmico Joseph Campbell afirma que o nome hebraico Adão era relacionado tanto a adamá (solo vermelho ou barro vermelho), quanto a adom (vermelho) e dam, (sangue)- portanto o primeiro ser humano foi criado a partir do barro vermelho. A Mãe Terra e suas manifestações como Deusas da terra receberam diversos nomes e apresentações ao longo dos milênios. Para os sumérios Ela era Ninhursag, para acadianos, Ishtar ou Inanna, os persas A cultuavam como Spandaramet e os hindus A reverenciavam como Prithivi. Na África, em Nigéria, ela era Ala, para os antigos peruanos era Pachamama e para os povos polinésios Papa, enquanto nos países nórdicos ela era conhecida como Erce, Jörd e Nerthus e nos bálticos Laume, Ma–Emma e Zeme. Na mitologia grega Gaia, a Mãe Ancestral, surgiu do caos, gerou seu consorte Urano, o céu, e juntos criaram montanhas, mares, Titãs, Ciclopes e todos os seres. Mesmo que tenha sido preterida pelo culto de Zeus (seu neto) e das outras divindades olímpicas, Gaia teve papel preponderante na criação, por ter sido ela que a iniciou, completando depois o processo juntamente com Urano.

Gaia era o Príncipio Criador Feminino, a mais antiga das divindades gregas, mesmo que depois seu culto tenha sido substituído por representações de Deusas com traços humanos. Assim como outras Deusas da terra, Gaia não era visualizada com formas humanas, mas como uma personificação da terra como matéria, as águas sendo seus fluidos, as montanhas, seus seios e ancas, as grutas, seu ventre, as rochas e pedras, seus ossos e a vegetação, seus cabelos.

Existia uma antiga relação entre a fertilidade da terra e o poder gerador e criador da Deusa, resultando da sua união com o céu. Por isso a maioria dos povos antigos reverenciavam a Terra como Mãe Criadora e Nutridora, cuja dádiva da fertilidade permanecia apesar dos ataques das intempéries e desastres naturais. No entanto, em outras culturas havia uma inversão das polaridades, como no exemplo do antigo Egito, onde Geb era o deus da terra, abraçado e envolto pelo corpo de deusa celeste Nut. Ela era representada como uma figura feminina de cor azulada, com estrelas cobrindo seu ventre na cor do céu noturno, seus cabelos caindo como chuva, tocando a terra nas quatro direções com seus dedos dos pés e das mãos, enquanto seus braços e pernas sustentavam a abóbada celeste, formando um arco sobre a terra. Nut era a Grande Deusa celeste, mãe do deus solar Ra, sendo pintada na tampa dos sarcófagos para que recebesse no seu corpo as múmias e cuidasse delas até a ressurreição. Geb representava a terra como elemento e também como a superfície terrestre, seu corpo se espalhando sobre a terra, apoiado nos cotovelos, mas com um joelho dobrado. Seu perfil simbolizava vales e montanhas, plantas, árvores e ervas brotavam do seu corpo, suas lágrimas enchendo os rios e mares, enquanto o falo ereto levantado para o céu fertilizava o ventre arqueado de Nut. Nesta imagem diferente de união do deus da terra com a Deusa celeste, o significado da inversão de atributos devia-se ao clima específico do Egito, onde pouco chovia, por isso a água fertilizadora vinha do rio Nilo e não do céu como sêmen. Nut apesar de ser uma Deusa celeste que personificava o firmamento, assumia os atributos da Mãe Terra como criadora e destruidora, ventre e túmulo, assim como outras Deusas dos mitos indoeuropeus. Nut gerava as estrelas e a Lua no entardecer e as engolia ao amanhecer, enquanto também engolia o Sol toda a noite e o paria na manhã seguinte. A união de Geb e Nut era um elemento essencial do mito de criação egípcio, a terra e o céu se abraçavam e, por algum tempo, a luz entre eles desaparecia quando Nut descia sobre Geb e a escuridão ocultava a sua união. De dia, o deus do ar Shu os separava e a luz solar iluminava de novo a terra. Para os povos nórdicos a fertilidade era representada por duas divindades: Nerthus a Deusa da terra, também conhecida como Erce, Erda, Jörd e Njordh, o seu consorte, deus do verão e das águas marinhas, regente das riquezas nelas contidas. Por ser o regente do verão, Njord era invocado pelos pescadores e marinheiros para acalmar o mar e propiciar uma boa pesca. Ele era considerado um deus rico e próspero, simbolizando a fertilidade e abundância dos meses de verão, enquanto Nerthus era a própria Mãe Terra, a regente da fertilidade e prosperidade. Na mitologia báltica Zeme e Zemyna são os nomes da Mãe Terra, mas a fertilidade é regida por Mate (mãe), que recebe nomes específicos de acordo com os reinos que ela rege: mar, rios, chuva, vento, florestas, campos, árvores, cereais, frutas, ervas. Nas lendas dos índios Zuni, a Terra era a Mãe e o céu o Pai, de cuja união nasceu o ser humano. Outras tribos – sem terem mitos definidos - referiam-se nas orações e encantamentos como “A nossa Mãe, a Terra”. Os índios Kato, da Califórnia, descreviam a Terra como um animal enorme com chifres, que perambulava nas águas primordiais até que parou na atual posição. Em diversos mitos dos índios norte-americanos, animais variados (aquáticos, alados ou terrestres) mergulhavam nas águas primordiais e traziam de volta pedacinhos de barro ou grãos de areia para criar a Terra.Todos fracassaram na sua missão, com exceção de um só, que é descrito em lendas diferentes c omo : castor , rato almiscarado, marta ou tartaruga. Na mitologia dos índios Winnebago - da região dos Grandes Lagos- , a divindade suprema era o Grande Espírito, que criou a Terra, os seres humanos, os animais e um número específico de espíritos regentes de alguma determinada área (vida, vitoria na guerra, fertilidade e outras bênçãos). Estes seres eram em número variável - 5 ou 8 - e defendiam o mundo criado contra gigantes e forças maléficas. Entre eles estavam o Sol, a Lebre e a Tartaruga, o Chifre Vermelho, os Gêmeos e o Trapaceiro. Após a sua morte, os seres humanos voltavam ao Criador e podiam escolher se queriam voltar para a terra e sob qual forma. Os alimentos emergiam seguidamente do corpo da Terra acompanhando as estações e em muitos mitos, os primeiros seres humanos foram modelados de barro, as cores das raças sendo oriundas dos diferentes tipos de argila. Mesmo personificando a vida como Deusa Criadora, a Terra também representava a morte e Ela exigia energia vital para gerar a vida, sacrifícios de sangue para se nutrir e sustentar. No mundo asteca Coatlicue representava a Mãe Terra no seu aspecto terrível e para os hindus, ela era a assustadora Kali. Estas deusas tiravam a vida, mas permitiam o desabrochar de novos seres e seus mitos eram metáforas dos poderes regeneradoras da natureza. As serpentes tinham também a habilidade de regeneração por isso Coatlicue usava uma saia de serpentes, que definiam de forma plástica este seu poder. As serpentes trocavam de pele e se renovavam, mostrando assim que, a morte, bem como o nascimento, eram etapas necessárias para a renovação telúrica e cósmica. Como as serpentes se enroscavam formando círculos, elas simbolizavam o eterno retorno dos ciclos da vida, o giro sendo feito pela deusa para que a natureza e os seres humanos se modificassem. As evidências da renovação cósmica e da natureza cíclica do universo eram visíveis de várias formas e em muitos lugares antigos, pois os povos antigos eram sintonizados com os movimentos do universo ao seu redor.Os antigos viam a terra florescer e definhar, eles seguiam as ondulações das marés e comemoravam as mudanças das estações, percebendo a mesma alternância cíclica nos movimentos dos corpos celestes. As fases e deusas lunares representavam atributos de fertilidade, junto com qualidades telúricas. Não importavam quais eram as forças que as Deusas da Terra controlavam ou que processos elas regiam, elas sempre personificavam as forças da criação (dos ciclos da vida) e da destruição (as manifestações desequilibradas dos elementos como incêndios, enchentes, erupções vulcânicas, tempestades e terremotos). Muitos povos antigos consideravam os espíritos das árvores como divindades criadoras associadas à vida e à fertilidade, que doavam suas bênçãos em forma de calor solar e chuva, propiciando assim o crescimento das colheitas. Havia uma extensa reverência às árvores no passado, os povos testemunhavam sua longevidade e imortalidade, pois elas se renovavam anualmente, descartando suas folhas e frutos durante o inverno, brotando na primavera e frutificando no verão. Outros mitos as consideravam manifestações da Grande Mãe, a árvore cósmica tendo nascida no oceano primordial e a árvore sendo a fonte de toda a vida sobre a terra. A antiga percepção da árvore como uma Deusa Mãe deu origem à representação simbólica da Árvore da Vida, que unia as esferas celestes e ctônicas, formando um caminho do mundo subterrâneo ao céu e que servia como um eixo, ao redor do qual girava o mundo inteiro. Esta árvore estruturava e sustentava o universo, como vemos na belíssima representação de Yggdrasil, a Árvore do Mundo da mitologia nórdica, que sustentava nove mundos e marcava o centro do mundo. Ela era nutrida pelas águas das três fontes que brotavam sob suas raízes e as suas folhas, gravadas com runas, se desenvolviam fertilizadas pelo orvalho. Os povos antigos simbolizavam a vitalidade e fertilidade da terra na poderosa imagem da Árvore da Vida, que confirmava e fortalecia o conceito da renovação cósmica, a estabilidade e sobrevivência dos mundos. As árvores eram cultuadas pela sua energia intrínseca, os antigos acreditavam que dentro delas existia um espírito que lhes conferia vida e assim elas agiam como seres humanos, se "movimentando" ( ao espalhar suas raizes ou sementes), segregando leite e sussurrando segredos quando tocadas pelo sopro do vento. Os povos que habitavam em áreas densamente arborizadas como América do Norte e a antiga Europa, reverenciavam as árvores como um todo – florestas, bosques ou pomares -, realizando seus rituais nos seus esconderijos e clareiras, lhes agradecendo as dádivas da chuva e os frutos das colheitas. Grupos diferentes de pessoas cultuavam árvores diferentes, dependendo das espécies mais comuns nas suas terras. Os celtas consideravam como sagrados o carvalho - associado ao deus do trovão -, que trazia a chuva; os nórdicos reverenciavam o teixo e o freixo como sendo a Árvore da Vida, enquanto na Oceania e na África a palmeira era sagrada, pois assim como uma Mãe, Ela dava leite. Os antigos egípcios viam Osíris como a árvore que formava a abóbada do céu, enquanto os hindus equiparavam seu deus criador, Brahma, a uma árvore especial chamada asvattha. Por simbolizarem a vitalidade do universo, o culto das árvores constituía uma forma de reverência à fertilidade da terra. No momento atual precisamos reconhecer que o poder de regeneração e a fertilidade da terra podem se esgotar, assim como a paciência da nossa Mãe Terra, se os seres humanos continuarem a agredi-la com desmatamentos, poluições dos seus veios aquáticos, explorando indiscriminadamente seus recursos e tesouros. A revolta e a doença do planeta poderá se manifestar com erupções vulcânicas, terremotos, incêndios, enchentes, extremos climáticos e outros desastres naturais e ecológicos (como têm acontecido seguidamente na nossa atualidade), prejudicando também a harmonia do campo energético, magnético e espiritual que a cerca.


Precisamos reaprender a ver os sinais, ouvir os lamentos da terra no gemido do vento, a sua voz no murmúrio dos rios e as suas mensagens no silêncio profundo das grutas; somente assim nos será possível seguir as leis naturais e trabalhar junto com a nossa Mãe. Podemos honrar sempre a nossa Mãe Terra - não apenas no Dia Internacional da Terra ou nas datas especificas das antigas Deusas regentes da fertilidade - dedicando-lhe comemorações, rituais de gratidão, pedidos de perdão, assumindo decisões e iniciativas que preservem a pureza da sua essência e permitam o continuo florescimento das suas dádivas, frutos e recursos, que garantam a sobrevivência de todos os Seus Filhos, de todos os planos da Criação.

Mirella Faur
IN: JORNAL DEUSA VIVA