Vou partilhar com vocês um texto de um grande amigo...como mulher fico especialmente tocada quando percebo como um homem pode ter uma percepção profunda de si e do mundo a sua volta...
O Resgate do Masculino no Feminino.
- Por Sávio Costa.
Quando se fala em Sagrado Masculino, geralmente, a imagem que vem a cabeça é o resgate do homem perdido. O caçador selvagem, forte, arisco e sagaz, que mata para alimentar sua tribo ou o homem que luta em grandes batalhas para proteger seu povo. Quando se fala em RESGATAR o Sagrado Masculino, se fala não só do resgate do homem protetor, amigo, fiel, espiritual e respeitoso, se fala em ascender e aceitar o que existe de Sagrado em si.
Assim como o Sagrado Masculino, a busca não é só pelo resgate do antigo homem e sim do Sagrado Feminino.
Por longo tempo o homem se desrespeitou e se destacou da natureza e das mulheres, provando que sua masculinidade ou, melhor, o seu Sagrado Masculino se encontrava mais fora do que dentro, se encontrava na barba grossa, nos corpo másculo, na virilidade, na espada, no falo e em seu escudo. Sem contar o fato de que a maior fonte de glória masculina se encontrava nas batalhas vencidas e no poder adquirido. E não digo aqui que a somente o homem se destacou como ser ambicioso e mentalmente egoísta, mas muitas mulheres também. E isso só veio a ocorrer com o crescimento de povos patriarcais e gananciosos, onde demonstravam sua ‘’hierarquia’’ com a força e brutalidade contra os mais fracos.
O fato é que ao meu entender, o homem começou a desprezar o poder do Feminino graças a ideias embutidas pelas sociedades, tanto atuais quanto antigas, a respeito da mulher e suas características sensíveis e, que aos olhos dos homens, demonstraria sempre a fragilidade do ser humano. A fraqueza da humanidade se encontraria, a partir de certo período, na mulher. Será?
Enquanto o homem via e aceitava o seu Sagrado no corpo, na força, na brutalidade e nas batalhas, eram as mulheres responsáveis pela sabedoria, pela escrita, pela plantação e colheita, pela casa e por gerar a vida. Por mais que em antigas tribos indígenas e pós-indígenas as mulheres se mostravam as caçadoras e pescadoras, isso é visto e refletido nas Amazonas. O Sagrado Feminino não só se encontrava nesses ítens, mas sim também na própria capacidade de ser mulher, sensível e desprovida da brutalidade e força masculina. Sendo assim, a mulher sempre respeitou e, por incrível que pareça, encontrou a força em si mesma, a mulher sempre deixou acesa a Ideia da beleza feminina ser uma manifestação do Sagrado e da capacidade de gerar a vida através dos tempos, mesmo que o homem tivesse parte nesse quesito de criação de uma nova vida. Mas foi sempre a mulher responsável pela divisão sagrada entre essas vidas, pois sempre foi e sempre será a mulher capaz de dividir o mesmo corpo, o mesmo alimento e o afeto na hora de esperar, gerar e parir uma nova vida.
Com a mudança de séculos, estabilidade do patriarcado e demonstração de hierarquia masculina nas sociedades, as mulheres foram suprimidas e obrigadas a abandonarem o que sempre foi a maior representação de sagrado e da vida... O Feminino.
Sendo assim, o homem começou a demonstrar que ser sensível e não ter gosto nas manifestações viris másculas era sinal de sensibilidade, que era atribuído as mulheres, fazendo do Feminino presente nos homens uma forma de incapacidade de vida social digna de desprezo.
A maior questão é que o Sagrado Masculino, mesmo com as falhas e erros, continua a ser Sagrado e ainda está presente enquanto o Sagrado Feminino perdido está sendo resgatado por mulheres e homens, homens que observam o Feminino como forma de criação, manifestação interna e pessoal da Deusa e do envolvimento com a natureza. Mas quando se fala do Sagrado Masculino e seu resgate, se fala de resgatar o Feminino perdido em cada homem, resgatar o homem sensível, amável, compreensivo, artista, sábio e respeitoso. E enquanto o homem ver e aceitar o seu Sagrado apenas no Masculino exterior, jamais poderá encontrar o Feminino e o verdadeiro Masculino interior.
Com a demonstração do resgate do Feminino vemos as mulheres mais atentas as mudanças corporais, ao desenvolvimento do sangue menstrual, ao ato de engravidar e parir, a beleza e o cuidado corporal, sua liberdade, a sua estabilidade financeira, profissional e física, sem tirar o fato de que com esse resgate do Feminino as mulheres se tornam mais propícias a esquecerem e cicatrizarem traumas cometidos em suas vidas pelo falso Masculino e o falho patriarcado.
Por fim, poderia dizer que a busca e o resgate do Sagrado Masculino nada mais é, ao meu ver, que uma forma de resgatar e respeitar o Sagrado Feminino perdido dentro dos homens, o homem pai, amigo, companheiro, o homem que respeita as decisões do outros, o homem que sabe que cada manifestação na terra é uma manifestação do Divino, o homem que demonstra sua sensibilidade e seu carinho na arte, o homem que se cura de tristezas, decepções e feridas causadas por si mesmo ou pelo patriarcado como um todo.
Poderia dizer então que o homem que não encontra e nem respeita o Feminino em si mesmo, não pode encontrar e nem respeita o mundo que respira e pulsa vida lá fora! Pois a Deusa se encontra em tudo o que existe, mesmo naquilo que foi perdido.
Um comentário:
"Oh, você, que deseja sondar as profundezas da natureza: se não encontrar dentro de si mesmo o que procura, também não conseguirá encontrá-lo fora.
Se você desconhece as maravilhas da sua casa, como pretende achar outras riquezas?
Em ti se acha oculto o tesouro dos tesouros!
Oh, homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”
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