A certeza de que dou para o mal, pensava Joana.
O que seria então aquela sensação de força contida, pronta para rebentar em violência, aquela sede de empregá-la de olhos fechados, inteira, com a segurança irrefletida de uma fera? Não era no mal apenas que alguém podia respirar sem medo, aceitando o ar e os pulmões? Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, pensava ela surpreendida. Sentia dentro de si um animal perfeito, cheio de inconsequências, de egoísmo e vitalidade.
Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem
Habitis, peço deis de já que te afaste de mim
Cansa me essa força que me arde e assola o corpo
Sinto a força da dor percorrendo ponta a ponta do santuário de minha alma
Habitis, corre o meu corpo como fogo mutante
Ultima labareda viva que percorre minha alma de mulher
Habitis tu que és a chama viva do santuário de minha Deusa
Não deixes que minha alma caia na tentação da acomodação
Deis de já peço que me deixes
Vem vem me incendiando toda por dentro e em pulsações
Vem Habitis, como antiga sereia emergindo das águas mais profundas da mente
Habitis percorre o meu corpo cansado e mutilado
Tão docemente, tão loucamente...
Roa me toda a minha insegurança. Minha Mãe Habitis
Vem e Roa todo o meu demónio interno, meu medo de não agradar
Habitis roa me pois sou diabólica e sei "que dou para mal"
Vem e roa me toda em feixes de luz
Que como seixos brotam da Mãe Terra
Senhora da Vida incendeia meu coração com tua esperança
Pois as vezes me parece que vivo apenas para sofrer
Eu que sempre chamo
Sempre invoco
Peço-te lança uma última vez sua sombra sobre mim
De modo que o meu mal não me destrua mais
Pois por mais que eu crie
Acabo destruindo, destruindo tudo e dando gargalhadas
Como uma louca feiticeira...
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