"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


quinta-feira, 1 de julho de 2010

SACERDOTISA DE SHEKHINAH


NOSSA HERANÇA PATRIARCAL

A semelhança dos kurgos, os quais muitos milênios antes invadiram a Europa antiga, as tribos hebraicas que varreram Canaã, oriundas dos desertos do sul, eram formadas por invasores periféricos que trouxeram consigo seu deus da guerra: o feroz e ciumento Javé, ou Jeová. Eles eram mais adiantados tecnológica e culturalmente do que os kurgos, mas, assim como os indoeuropeus, também eram dominados por homens muito violentos e belicosos. Em seguidas passagens do Antigo Testamento, lemos de que maneira Jeová deu ordens para que se destruísse, pilhasse e matasse — e como efetivamente tais ordens foram cumpridas. A sociedade hebraica tribal, assim como as dos kurgos e indo-europeus, também era extremamente hierárquica, dominada pela tribo de Moisés, os levitas. Sobreposta a ela havia uma elite ainda menor, a família de Konath ou Cohen, sacerdotes hereditários descendentes de Aarão, os quais representavam as autoridades supremas. De acordo com o Antigo Testamento, os homens deste clã declaravam que seu poder originava-se diretamente de Jeová. Mais ainda, os estudiosos bíblicos nos falam de uma elite sacerdotal que muito provavelmente realizou grande parte do trabalho de reescrever o mito e a história que solidificariam sua posição dominadora. Por fim — concluindo e reforçando a configuração de uma sociedade de violência, autoritarismo e dominação masculina — encontramos a proclamação explícita do Antigo Testamento de que a vontade de Deus seja a mulher dominada pelo homem, pois, à semelhança dos kurgos e outros invasores indo-europeus que realizaram tamanha devastação na Europa e Ásia Menor, a antiga sociedade tribal hebraica consistia em um sistema rigidamente dominado pelo homem.

Mais uma vez, é imperativo salientar que tal fato não significa, nem com todo o exercício da imaginação, ter sido a religião dos antigos hebreus — e muito menos o judaísmo — culpada pela imposição de uma ideologia de dominação. A mudança da realidade de parceria para a de dominação começou muito antes das invasões hebraicas de Canaã, ocorrendo ao mesmo tempo em diversas regiões do mundo antigo.

Além do mais, o judaísmo vai bem além do Antigo Testamento em suas concepções de deidade e moralidade, e na tradição mística da Shekhina ele realmente retém muitos dos elementos do antigo culto à Deusa.

Como foi visto, na verdade o culto à Deusa disseminou-se entre a religião dos povos hebraicos até tempos monárquicos. Ocasionalmente, houve também mulheres, tais como a profetisa e juíza Débora, que ainda ascendiam a posições de liderança. Mas, em sua maioria, a antiga sociedade hebraica era liderada do alto por uma pequena elite composta de homens. Sob uma ótica mais crítica, segundo o Antigo Testamento, as leis elaboradas por essa casta masculina dominante definia as mulheres não como seres humanos livres e independentes, mas como propriedade privada do homem. Primeiro elas pertenciam aos pais. Depois, tomavam-se posse de maridos ou senhores, assim como qualquer criança que dessem à luz.

Segundo a Bíblia, crianças do sexo feminino e as mulheres de cidades-estados conquistadas, as quais, como diz nossa Bíblia do rei Jaime, "não conheciam um homem por deitar com ele", eram regularmente escravizadas, segundo as ordens de Jeová. No Antigo Testamento, também vemos os escravos por dívida, que são denominados servos e servas pela Bíblia do rei Jaime, e vemos como a lei estabelecia que um homem poderia vender sua filha como serva. E mais ainda, quando um servo era libertado, de acordo com a lei bíblica, sua esposa e filhos continuavam como propriedade do senhor.

IN O CÁLICE E A ESPADA - Riane Eisler

A GRANDE DEUSA JUDAICA

A obra contemporânea sobre a Deusa Shechinah, chegou até nós através de mulheres judias. Algumas delas, estudaram textos sagrados hebraicos por conta própria, a partir de fontes secundárias. São em sua maioria, musicistas, dançarinas, contadoras de histórias, rabinas, terapeutas e curadoras, que primeiro desenvolveram seus "insights" e avançando sempre, adquiriram informações complementares sobre a energia "Shechinah".
Feministas judias contemporâneas tiveram de enfrentar o sexismo na vida e na linguagem religiosas, incluindo a exclusão das mulheres das profissões sagradas. Como resultado deste ativismo, portas importantes se abriram na última década. De forma cada vez mais intensa, a Deusa está emergindo, como Deusa Múltipla ou Deusa de Mil Faces.

Como esta nova geração está servindo de parteira para o renascimento de Shechinah, temos que nos familiarizar com alguns textos antigos e algumas orações que a invocam.
Embora esteja acontecendo claramente um renascimento da consciência da Shechinah, os conceitos sobre uma Deusa Judaica ainda não influenciaram o judaísmo em sua corrente principal nem o movimento da Nova Era, que tende a considerar o feminismo judaico como um paradoxo. Ainda é cedo para saber como esta consciência contemporânea da Shechinah será absorvida pelo judaímo e pelo crescente movimento da Deusa. Embora ela precisa ser relembrada, pelo menos nossa reconstrução da Shechinah se liga à tradição sagrada. Sua filosofia básica, a que a presença dela é necessária para trazer a totalidade de volta ao Planeta, também fornece ainda, uma filosofia viva para nossos tempos.

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