"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


segunda-feira, 3 de agosto de 2009







KALI, A DEUSA DA REENCARNAÇÃO


A Índia foi o lugar em que a humanidade vivenciou a Mãe Terrível da forma a mais grandiosa, como Kali, "as trevas, o tempo que a tudo devora, a Senhora coroada de ossos do reino dos crânios".

Na mitologia hindu, Kali é uma manifestação da Deusa Durga. Segundo a lenda, no primórdios dos tempos, um demônio chamado Mahishasura ganhou a confiança de Shiva depois de uma longa meditação. Shiva ficou agradecido por sua devoção e então lhe concedeu a dádiva de que cada gota de seu sangue produziria milhares como ele, que não poderiam ser exterminados nem pelos homens, nem pelos deuses. De posse de tamanho poder, Mahishaseura iniciou um reinado de terror vandalizando pelo mundo.

As pessoas foram exterminadas cruelmente e até mesmo os deuses tiveram que fugir de seu reino sagrado. Os Deuses reuniram-se e foram se queixar para Shiva das atrocidades cometidas pelo tal demônio. Shiva ficou muito zangado ao ser informado de tais fatos. Sua cólera, por sentir-se traído em sua confiança, saiu do terceiro olho na forma de energia e transformou-se em uma mulher terrível. Shiva aconselhou que os outros Deuses também deveriam concentrar-se em suas shaktis e liberá-las. Todos os Deuses estavam presentes quando uma nova deusa nasceu e se chamou a princípio de Durga, a Mãe Eterna. Ela tinha oito mãos e os Deuses a investiram com suas próprias armas de poder: o tridente de Shiva, o disco de Vishnu, a flecha flamejante de Agni, o cetro de Kubera, o arco de Vayu, a flecha brilhante de Surya, a lança de ferro de Yama, o machado de Visvakarman, a espada de Brahma, a concha de Varua e o leão, que é o meio de locomoção de Himavat.



Montada no leão, transformou-se em Kali, e cega pelo desejo de destruição atacou Mahishasura e seu exército. A Deusa exterminou demônio após demônio, exército após exército e um rio de sangue corria pelos campos de batalha, até que finalmente, decapitou e bebeu o sangue de Mahishasura estabelecendo novamente a ordem no mundo.

Logo após as batalhas Kali iniciou sua eufórica dança da vitória sobre os corpos dos mortos. Com esta dança todos os mundos tremiam sob o tremendo impacto de seus passos. Em muitas ocasiões, seu consorte Shiva teve de se atirar entre os demônios por ela executados e deixá-la pisoteá-lo. Esse era o único modo de trazê-la de volta à consciência e evitar que o mundo desabasse.

Carl G. Jung nos diz que uma das imagens de descida é aquela do sacrifício de sangue. Ele diz que se o herói sobrevive a esse encontro com o arquétipo da Mãe devoradora, ele ganha energia vital renovada, imortalidade, plenitude psíquica ou alguma outra dádiva.

KALI, A DEUSA TRÍPLICE



Kali Ma é uma deusa hindu de dupla personalidade, exibindo traços tanto de amor e delicadeza quanto de vingança e morte terrível. Era conhecida como a Mãe Negra, a Terrível, Deusa da Morte e a Mãe do Carma. Ela é mostrada agachada sobre o corpo inerte de Shiva, devorando seu pênis com sua vagina enquanto come seus intestinos. Essa imagem não deve ser entendida literalmente, ou visualmente, num plano físico. No sentido espiritual, Kali recolhia a semente em sua vagina para ser recriada em seu ventre eterno. Ela também devorava e destruía toda a vida para que fosse refeita.

Como Klika, ou Anciã, ela governa todas as espécies de morte, mas também todas as formas de vida. Ela representa as três divisões do ano hindu, as três fases da Lua, três segmentos do cosmo, três estágios da vida, três tipos de sacerdotisas (Yoginis, Matri e as Dakinis) e seus templos. O s hindus reverenciavam o trevo como emblema da divindade tríplice de Kali. Eles diziam que se não podemos amar a face negra de Kali, não podemos esperar por nossa evolução.

Kali comanda as gunas, ou linhas da Criação, Preservação e Destruição, e incorpora o passado, o presente e o futuro. As gunas são simbolizadas por linhas vermelhas, brancas e pretas. Ela controla o clima ao trançar ou soltar seus cabelos. Sua roda cármica devora o próprio tempo.

Ela proíbe a violência contra a mulher e rege as atividades sexuais, magia negra, vingança, regeneração e reencarnação.

A Lua minguante está associada a Kali. Aqui, há o domínio dos instintos, do indiscriminado. Tudo pode se transformar no seu oposto. É o momento lunar mais negado no psiquismo da mulher e está severamente vigiado para que não venha à tona. É o feminino sombrio, mas que também pode trazer iluminação à consciência. É mais uma passagem, ligada a processos de transformação.A energia de Kali simboliza o poder destruidor/criador que está reprimido em muitas mulheres que nos séculos passados se adaptaram a um modelo socialmente determinado de comportamento dependente, sedutor e guiado pelo sentimento de culpa. Só nos últimos cem anos é que a força da mulher começou a retomar contato com seu poder pessoal.

No panteão das divindades tântricas, Kali é mencionada como a primeira das 10 Grandes Forças Cósmicas porque, de alguma forma, é ela que começa o movimento da "Roda do Tempo Universal".

Kali é equivalente à deusa grega Atena, que por muitos séculos foi honrada como deusa feroz das batalhas. O mito e adoração de Kali, reflete as forças primitivas da natureza. Estas forças estão associadas com os ciclos da mulher e estão representadas no útero feminino, o caldeirão do renascimento.

Kali é a Deusa Escura, cuja escuridão nada tem a ver com o "mal". Muitos povos vêem o mundo com a dicotomia do claro/escuro, bem/mal. Entretanto, para o hinduismo não existem estas oposições. No pensamento hindu não existe o mal, mas há o carma. O carma é uma lei física e moral de causa e efeito e, todos os resultados cármicos são resolvidos através de múltiplas reencarnações.

Kali é uma polaridade que é evidenciada no "yin" e no "yang", no homem e na mulher, no racional e no intuitivo, na sabedoria e na ignorância. É ainda a interativa passagem entre o real e o imaginário, o Oriente e o Ocidente, o campo e a cidade, a causa e o efeito. Kali é uma deusa mítica de memória ancestral, devidamente integrada à nossa Era Digital.

FESTIVAL DE KALI

Para a grande festa do templo em homenagem a ela, realizada na primavera, chegavam peregrinos da planície e das montanhas. Um cidadão inglês que assistiu ao festiival, em 1871, relata que, diariamente, aproximadamente vinte búfalos, duzentos e cinqüenta cabras e o mesmo número de porcos eram imolados em seu templo. Sob o altar dos sacrifícios, fora escavada uma cova funda e preenchida com areia limpa; a areia absorvia o sangue dos animais decapitados. Essa areia era renovada duas vezes ao dia, sendo aquela já embebida de sangue enterrada oportunamente, como fertilizantes para a terra.

Tudo transcorria com muito asseio e propriedade, sem restos de sangue nem mau-cheiro. Nos preparativos do novo ano agrícola, a seiva vital, o sangue, deveria renovar a força e a fertilidade da velha deusa terra, fornecedora de todo alimento.

Atualmente, o templo de Kali em Kalighat, Calcutá, é conhecido como o principal centro onde se fazem os sacrifícios diários de sangue; seguramente, ele é o santuário mais sangrento da Terra. Durante o período das grandes perigrinações ao festival Durga anual, ou festival de Kali (Durgapuja), no outono, são sacrificadas oitocentas cabras durante os três dias de comemoração. Entretanto, o templo não funciona apenas como matadouro, pois o animal permanece com quem o abateu como oferenda. No templo fica somente a cabeça do animal, como presente simbólico e o sangue flui para a deusa. Deve-se a ela o sangue vital de toda criatura, uma vez que foi ela quem o concedeu, por isso o animal deve ser imolado em seu templo e, em virtude disso, o templo torna-se, ao mesmo tempo, uma abatedouro.

Esse rito é conduzido de forma tenebrosa e sórdica; em meio à lama formada por sangue e a terra, as cabeças dos animais vão formando montes, como troféus diante da imagem da deusa. Entretanto, aquele que fez a oferenda leva o corpo do animal de volta para casa para a realização de um banquete com seus familiares. A deusa quer somente o sangue da vítima, por isso, a decapitação é a forma da oferenda, já que assim o sangue se esvai rápidamente e substancialmente. É por isso que as figuras nos contos de "Hitopadesha" e de "Kathasaritsagara" cortam suas cabeças, embora seja verdade que a cabeça também significa o todo, o sacrifício completo.

Em sua aparência aterradora, a Deusa na forma de Kali, a escura, leva aos lábios o crânio banhado em sangue; sua imagem devocional exibe-a vermelha de sangue, sobre um barco navegando num mar de sangue: em meio à torrente de vida, da seiva daqueles que foram sacrificados, de que ela precisa para dar vida num processo de incessante geração de novas formas de existência, em sua manifestação clemente como Mãe do Mundo; para que, na qualidade de ama de leite do mundo, possa amamentá-las em seus seios e oferecer-lhes o bem que é repleto de nutrição.

Dentre as três imagens de Kali, a mais sinistra não é aquela em que, pavorosamente acocorada em meio a uma auréola de chamas, com uma multiplicidade sobre-humana de braços, devora vísceras da cavidade ventral de um cadáver, formando assim entre este e sua boca um cordão umbilical mortal. Também não é aquela em que, vestida com a negrura da noite da Deusa Terra e adornada pelas mãos e cabeças decepadas de suas vitimas, posta-se sobre o cadáver de Shiva, com um espectro bárbaro de antigüidade primitiva. Ambas são terríveis o suficiente, quase irreais, em virtude do exagerado horror. A terceira figura tem um efeito muito mais sinistro, porque se manifesta de maneira mais sutil e não tão bárbara. Uma de suas mãos, de aparência humana, está estendida e a outra afaga as cabeças de cobras, de uma forma tão delicada como o faz Ísis, quando acaricia a cabeça de seu filho e embora os seios animais fálicos sejam repugnantes, na verdade lembram os seios da divindade materna africana, que são muito semelhantes. Todavia, a cobra de cabeça dilatada que circunda suas ancas como um cinto, sugere o útero feminino, aqui em seu aspecto letal. Essa é a serpente que se enovela no colo da sacerdotisa da serpente cretense, assim como as serpentes que compõe a manto da deusa mexicana Coatlicue e que cingem as ancas das Górgonas gregas. A medonha língua de tigre sangrenta dessa deusa é a mesma que se arremessa por entre as presas dilaceradoras da Gógana, ou que pende entre as presas e os seios listrados como tigre da feiticeira Rangda.

Essas figuras guardam uma horripilante semelhança entre si. Seu aspecto destruidor e medonho nos faz hesitar. Contudo, não podemos nunca esquecer que tudo isso, não é uma imagem somente do Feminino, mas principal e especificamente a imagem do Maternal.

Kali chega às nossas vidas para dizer que é hora de perdermos o medo da morte, seja ela física, de um relacionamento, de um emprego, de um amor. Nossos medos não podem nos impedir de dançarmos a Dança da Vida, portanto o melhor é aprendermos a enfrentá-los e reconhecermos que eles fazem parte de nossa evolução. Só alcançaremos a totalidade quando resgatarmos aspectos que abrimos mão em função do medo. Quando você reconhecer seus medos e lhes der nomes, estará a um passo de superá-los. Não enfrentá-los é parar no tempo e no espaço. É morrer sem ter alcançado a esperança de um novo renascer.

JORNADA À VIDAS PASSADAS



Abra o círculo como de costume. Esse ritual pede para que vidas passadas que influenciem a atual sejam apontadas. Você poderá experimentar aqui o sabor da morte física, a qual já experimentou inúmeras vezes, para que possa compreender que ela não é o fim de tudo e sim um novo recomeço.

Você necessitará de um caldeirão, um pano preto, uma vela preta.

Posicione seu caldeirão no centro do altar. Cubra o caldeirão com o pano preto. A vela preta deve estar próxima ao caldeirão. De pe´e em silêncio contemple o caldeirão coberto. Veja-o como o símbolo da vida física, mas também como o receptáculo de um Mistério Sagrado, o início de uma nova vida.

Remova lentamente o pano de sobre o caldeirão e diga:

Kali Ma é a dançarina da morte.

Seu ventre é o caldeirão do renascimnento.

Sob seus pés dançantes todos os humanos perecem.

Ela drena o sangue vital como vinho.

Nenhum humano escapa de sua Dança da Morte na Vida.

Ponha a vela preta dentro do caldeirão e acenda-a dizendo:

Mas Kali Ma é também a Grande mãe.

De seu caldeirão surge uma nova vida na roda do carma.

Sua Dança da Morte na Vida nos leva de volta ao seu obscuro e confortável abraço.

Para que repousemos e estabeleçamos novos objetivos para outra vida.

Ao fim de nosso descanso,

Kali dança sua Dança da Vida na Morte

E renascemos novamente.

Para realmente amar a Deusa,

Devemos amar tanto seu aspecto Obscuro, quanto o Claro.

Para obter perfeita compreensão espiritual,

Devemos honrar todas as suas faces.

Contemple então toda a beleza da Deusa Escura e a necessidade de sua existência para o seu crescimento espiritual. Una então as mãos e curve-se diante do caldeirão dizendo:

Grande Kali Ma, mostre-me minhas vidas passadas

Para que eu possa com elas aprender.

Busco sua ajuda e orientação para que não torne a repetir

Velhos vícios e erros do passado.

Mostre-me o que for necessário, Kali Ma.

Medite e quando estiver pronta, inspire e expire profundamente. Deixe que o ritmo de sua respiração fique mais lento e coloque a mão em seu coração, para ouvir o som de suas batidas. Você está viva, mas precisará morrer para renascer, então escute o silêncio entre uma batida e outra de seu coração. Concentre-se neste silêncio, ele é a sua morte. Uma nova batida, deste modo, é um novo renascer. Relaxe o corpo e sinta-se cair na roda do tempo, nela você vivenciará tudo que precisa vivenciar e verá tudo o que precisa ver. Não se apresse, nem tente controlar para onde ir ou o que ver, simplesmente deixe fluir. Um caminho surgirá à sua frente e lhe levará até a Planície da Visão, onde o vento sopra frio, claro e limpo, onde você poderá ver tudo que precisa ver. Faça uma inspiração profunda e inale a claridade da Planície da Visão.

Quando as imagens se forem, é hora de voltar. Inspire e expire novamente e conclua dizendo:

Seu caldeirão do renascimento ferve com seu poder.

Sua dança da morte é uma dança regenerativa.

Mãe Negra, eu a honro em todos os seus aspectos.

De você vem o renascimento da mente, do coração e do corpo.

Abra os olhos e seja BEM-VINDA!



kali kali maha mata
namah kalike namoh namah
jaya jagatambe eh ma durga
narayane om narayane om



Obs:*imagens gentilmente roubadas do sitie de origem
Todos os créditos a Rosane Volpatto

2 comentários:

Anônimo disse...

E ela faz a dança...cria na noite.. belo dia para se deparar com Kali..Inanna

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

O dia a noite,tudo é uma só coisa na Sabedoria Dela.

Que a Grande Mãe a abençôe