"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


quinta-feira, 10 de março de 2011

REFLETIR E SENTIR NOSSO CORPO


"Supreendo-me muitas vezes com a profundidade das reflexões das mulheres quando estão no interior do curso A Tenda Vermelha. No processo de auto-descoberta e libertação a troca entre mulheres é essencial. Somente na intimidade do círculo feminino é possível encontrar-se "normais", perdoar nossas "imperfeições" e enxergar-nos em perspectiva positiva e histórica. Esta comunhão coletiva feminina tem o resultado de impulsionar a individualidade de cada mulher, doar-lhe auto-confiança e ânimo para construir um amanhã melhor.
Agradeço Rosa por essas reflexões sinceras."

(Adriana Tanese Nogueira )

"Queridas,

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que o texto de Paula Sibila é realmente interessante. Pensar na Barbie como uma arma de guerra ou melhor em seu corpo como uma arma de guerra é realmente fantástico, pois nos possibilita enxergar o quanto um ideal de corpo nos é transferido e contemporaneamente muito observado. O que mais me chamou a atenção é pensar que um dos idealizadores da boneca trabalhava para o Pentagono pensando mesmo em arsenal bélico. Que terrível.

Da leitura do texto sobre a Barbie e pensando sobre a importância da boneca, de sua beleza e de seu corpo magro para as meninas, pude entender o que Alexandre Lowen quer dizer quando fala em "couraças". A objetificação do corpo é tamanha que o corpo se torna uma couraça, o estereótipo de beleza a ser perseguido é de fato tão tirânico que nos impede de sermos felizes com o corpo que possuimos, caso ele não seja condizente com o corpo perfeito. O corpo se torna tão ideal, tão modelado, tão um objetivo a ser alcanlçado, que tudo passa a ocorrer na cabeça, o corpo e as emoções que possui não são escutados. Daí me parece surgir a dicotomia corpo e mente, explicitada no Corpo Traído.

Em sociedades de alta tecnologia e conhecimento cientifico, nos deixamos absorver cada vez mais pelo que está em nosso intelecto, em nossa razão e não mais escutamos o próprio corpo. Como eu disse em minha apresentação, fiz curso de formação em Teatro do Oprimido, e ao ler os textos me lembrei de Augusto Boal dizendo que os sentidos foram mecanizados, que ouvimos, mas não escutamos, que olhamos, mas não enxergamos. Tudo é tão rápido hoje em dia que não temos o tempo para a meditação, para o diálogo com o nosso corpo.

Por isso, gostei muito do exercicio de visualização de nosso corpo, de nosso sexo, de nosso interior feminino proporcionado por Isabella. Eu nunca tinha vivido algo parecido. Fiquei muito feliz com as imagens, pois nunca tinha parado para me olhar de modo detido, me descobri com o exercicio e com as fotografias. O outro texto de Lowen, Sentindo a vida no corpo, me fez pensar sobre o quanto o corpo reage ao nosso meio ambiente e como muitas vezes pensamos não ser nada, não dando importância, como o ranger os dentes ou dores nas costas. Logo tomamos um remédio e não investigamos o que significa aquela dor. Sentimos muito medo de sentir dor, mas é preciso, como diz o autor, que alegria e raiva caminham juntos e que não podemos ignorar os sentimentos que nos trazem dor.

Quando morei na Argentina fiz um trabalho com bioenergetica e na época não pude comprehended o por quê do trabalho com raiz, mas lendo o texto sobre o Lowen entendi o por quê da raiz, pois com ela nos reconectamos com a terra e não permanecemos presos ao mental, o que mais acontece em sociedades modernas e globalizadas como as nossas.

Enfim, dos textos pude sim compreender o quanto os nossos corpos são construídos socialmente, como estão emudecidos, como permanecemos a nivel mental em nosso cotidiano e quanto uma tradição patriarcal contribui para que tenhamos "vergonha" de nossos corpos femininos. Vejo o quanto as mulheres lutam para contarem com corpos desejaveis socialmente, como não reconhecemos o nosso intimo e nos subordinamos a esse desconhecimento profundo.

Por isso, me sinto distante de Ártemis, distante da liberdade por ela anunciada. Por isso também talvez eu me sinta tão distante de Afrodite, de minha sensualidade e de meu corpo. Ao que tudo indica estou muito Atenas, muito racional. Quero muito redirecionar minha relação comigo enquanto mulher e acredito que o curso me possibilitará esse cambio.

Um beijo a todas,
Rosinha"

Rosa é doutora em Ciências Sociais e vive em Campinas (SP).

Encontrado em (Ler mais sobre arquétipos femininos em) : EMPODERANDO AS MULHERES

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