SACERDOTISA DE ANANKE
Sou uma religiosa sem igreja, Uma reclusa sem convento, amante de uma deusa sem altar. Vivo na pele o tormento de uma humanidade que ainda não é. Vivo no mundo sem nele já acreditar. Sou sacerdotisa de um templo destruido à procura de um novo amor e uma nova fé. Olho num único sentido, íntimo, profundo, no centro de mim mesma e espero a luz...
A luz de um outro mundo e a única esperança. Com ele há de vir a nova criança e a deusa em que ainda descansa e as duas serão um só. Numa epifania de cores e harmonia, ele virá, sem armas nem ódios, o novo Milénio.
in "Antes do verbo era o Útero"
R.L.P.
DEUSA ANANKE
ELA É A ÚNICA DEUSA
SEM ALTAR NEM IMAGEM
A QUE SE POSSA REZAR. ELA NÃO
DÁ ATENÇÃO AOS SACRIFÍCIOS
A palavra latina para ananke é necessitas. Aqui também encontramos a noção de um “vínculo estreito” ou “laço íntimo” como o vínculo de parentesco, relacionamento consanguíneo. Necessitudines são pessoas com as quais alguém está estreitamente unido. (...) Uma necessaria é uma parente amiga. Estes laço significam igualmente laços naturais e morais entre pessoas. Isso indica que as relações familiares e os laços que temos em nosso mundo pessoal são circunstâncias onde vivenciamos a força da necessidade. Nossos esforços no sentido de nos livrarmos dos vínculos pessoais são esforços voltados a nos livrar do círculo apertado de ananke.
Os pacientes de terapia que se queixam de uma sensação de sufocação no círculo familiar, ou que se sentem estrangulados pelo conjugue, ou que caem vítimas de patologias na garganta e pescoço manifestam todos a necessidade. Sob esta perspectiva, o complexo de família é uma manifestação de necessidade, e a submissão aos laços parentescos é um modo de respeitar-lhe as exigências.
(...)
Ter tempo livre constela uma fantasia de estar livre da necessidade. Como o jugo físico da escravidão é a imagem concreta dentro da ideia de necessidade, assim a liberdade desse jugo expressa-se em fantasias de disponibilidade de tempo e lazer como felicidade paradisíaca, isenta de patologia.
Os autores trágicos, entretanto, valeram-se de ANANKE quando as coisas estavam piores. O Prometeu de Esquilo diz:"
Pobre de mim!
Lastimo-me pela tristeza presente,
Lastimo-me pela tristeza futura, lastimo-me
Interrogando quando virá o tempo
Em que ele há de pôr fim ao meu sofrimento.
Que digo? Já conheci tudo antes,
Tudo o que há de acontecer, soube-o com clareza;
Para mim,
Nada do que fere virá com uma face nova.
Assim, tenho de suportar o melhor que posso
A sina que me deu o meu destino,
Pois bem sei que contra a necessidade,
Contra a sua força, ninguém pode lutar ou vencer
in "ENCARANDO OS DEUSES" (DEUSAS)
http://rosaleonor.blogspot.com/2003_09_01_archive.html
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