"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
"NEHALENNIA, GUIE-ME NOS CAMINHOS QUE DEVO AGORA PERCORRER..."
Nehelennia (Nehalennia) – “A Protetora dos Viajantes”
Reverenciada como a protetora dos marinheiros e viajntes do mar, Nehelennia pode ser considerada uma versão mais suave de Hel. Era representada acompanhada por cachorros (símbolos do mundo subterrâneo), segurando um cesto de maçãs (simbolizando a vida e imortalidade) e tendo ao lado a imagem de um barco.
Nehelennia era cultuada antigamente em uma ilha perto da Holanda e invocada antes das viagens. Infelizmente, seu culto foi esquecido e muito pouco se sabe a seu respeito, apesar de seu nome ter dado origem a Netherlands, os Países Baixos. Escavações arqueológicas revelaram centanas de menires e altares com inscrições a ela dedicadas, comprovando a permanência de seu culto no litoral do Mar do Norte até os primeiros séculos desta era. Foi encontrado, também na Holanda, um altar intacto, datado do século I A.E.C. e coberto pela areia, com uma estátua de Nehelennia sentada em um trono, segurando uma cesta de maçãs e acompanhada por um cachorro.
Nehelennia era invocada pelos marinheiros e todos aqueles que viajavam no mar. Mas ela era também uma Deusa da abundância e da plenitude, conforme comprova a cesta com frutas em seu colo.
Elementos: água, terra.
Animais totêmicos: cachorro, cavalo-marinho, gaivota.
Cores: verde, azul.
Árvores: frutíferas.
Plantas: cereais.
Datas de celebração: 06/01.
Pedras: malaquita, turquesa, água-marinha.
Símbolos: maçã, barco, vegetação, cesto, mar, ilha, círculos de menires (chamados hunnebeds)
Runas: Raidho, Hagalaz, Laguz, Yr, sendo que as três priemrias podem ser usadas em telismãs de proteção para viagens no mar.
Rituais: proteção em viagens marítimas; para atrair abundância e melhorar a produtividade.
Palavras-chave: plenitude.
-Mirela Faur “Mistérios Nórdicos”
A SACERDOTISA DELA...
Oh, Senhora da luminosa trilha lunar
e das rotas marinhas traçadas pelos claros raios do sol,
as trilhas de dragão de monte a monte
e todos os sagrados caminhos ocultos,
Oh, Senhora Elen dos Caminhos...
Da charneca e colina ao pântano e charco teus cães nos guiarão em todos os nossos dias; pelas trilhas tortuosas traçadas pelos homens Doce Senhora mostra-nos todos os caminhos, Oh, Senhora Elen dos Caminhos...
Quando a visão enfraquece e a coragem falha, que a tua luz nos conduza para fora do labirinto; quando nem a força nem os sentidos valem, que o teu amor ensine ao coração novos caminhos, Oh, Senhora Elen dos Caminhos...
- Vai a uma festa? - perguntei, indicando as frutas.
- Não, embora vá visitar uma dama ilustre... estou indo ao templo de Nehalennia, para agradecer pela viagem segura. Convido-a a me acompanhar.
- Eu gostaria de ir. Philip, você deve encontrar Constantius e dizer-lhe para onde fui. Viducius me levará para casa.
Philip fitou o negociante com certa suspeita, mas afinal nós havíamos acabado de fazer toda uma viagem marítima em sua companhia. Enquanto o rapaz se afastava depressa, Viducius me ofereceu o braço.
O templo situava-se na colina no extremo norte da ilha, um claustro quadrado circundando o santuário central, cuja torre era apenas visível acima dele. Entre os altares votivos que se enfileiravam ao longo do caminho, vendedores haviam armado barracas, oferecendo medalhas de cobre com figuras de cães ou a imagem da deusa, mais maçãs para as oferendas, e vinho, pães e lingüiças fritas para os devotos famintos. As frutas que Viducius estava levando eram muito melhores do que qualquer coisa à venda ali e nós passamos adiante desdenhosamente, a fim de cruzar a entrada que dava para o pátio pavimentado.
Eu havia visto templos mais belos, porém nesse havia uma tranqüila informalidade, com o telhado vermelho e as paredes de cor creme. Havia mais altares ali - Viducius deteve-se para mostrar-me o que seu pai Placidus dedicara há muito tempo. Em seguida, ele entregou um áureo à sacerdotisa e puxou a ponta da toga para cima, a fim de cobrir a cabeça, enquanto entrávamos no santuário, iluminado por janelas em arco, no alto da torre. Sobre um pedestal no centro da câmara, erguia-se a imagem da Deusa, esculpida em uma pedra avermelhada. Ela segurava nas mãos um navio, mas a seus pés estava esculpida uma cesta de maçãs e, ao lado, um cachorro que se parecia tanto com Eldri que lágrimas me vieram aos olhos.
Quando pude enxergar de novo, o negociante estava colocando as maçãs diante do pedestal. A estátua da Deusa olhava serenamente para além dele, o cabelo puxado para trás em um coque simples, a roupagem tombando em pregas graciosas. Ao contemplar aquele olhar fixo esculpido, senti um arrepio de reconhecimento e puxei para trás o véu, a fim de descobrir a lua crescente sobre a minha testa.
Nehalennia... Elen dos Caminhos... Senhora, em uma terra estranha eu a encontro! Proteja-me e guie-me na estrada que devo agora percorrer...
Por um momento, o meu silêncio interior encobriu todo o ruído exterior. Naquela quietude, eu ouvi não uma voz, mas o som de água jorrando de um tanque. Parecia a Fonte do Sangue em Avalon e ocorreu-me então que todas as águas do mundo estavam ligadas e, onde houvesse água, o poder da Deusa brotava.
Alguém tocou-me o braço. Pisquei os olhos e divisei Vi¬ducius, que havia terminado as suas preces. A sacerdotisa do santuário estava à espera, para nos acompanhar na saída. Sem intenção, as palavras me vieram:
- Onde fica a fonte?
Ela fitou-me surpreendida, depois o seu olhar se desviou para o crescente na minha testa e ela inclinou a cabeça, com o respeito devido a uma colega.
Fazendo um sinal a Viducius para que permanecesse no mesmo lugar, ela me conduziu por trás da estátua até uma abertura no chão. Cautelosamente, segui a mulher pelos degraus de madeira até a cripta abaixo do santuário, murada com pedra em estado natural e cheirando a umidade. A luz bruxuleante de lâmpadas a óleo se refletia em placas e imagens pregadas nas paredes e cintilava em espirais vagarosas na superfície escura do tanque.
- A água do Rhenus é salobra onde ele se mistura com o mar - disse ela em voz baixa -, mas esta fonte é sempre pura e fresca. A que Deusa você serve?
- Elen dos Caminhos - eu lhe respondi -, que pode ser a face que a sua Senhora apresenta na Britannia. Ela guiou-me até aqui. Não tenho ouro mas, se me for permitido, oferecei este bracelete de azeviche bretão.
Fiz com que a pulseira redonda deslizasse pela minha mão e a deixei cair nas profundezas ocultas da fonte. Quando ela tocou a água, os reflexos dispersaram-se em uma explosão de lantejoulas, depois se uniram de novo em um redemoinho reluzente.
- Nehalennia aceita a sua oferenda... - disse a sacerdotisa em voz baixa. - Que a sua viagem seja afortunada.
Trecho de A Sacerdotisa de Avalon -Marion Zimmer Bradley
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