"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


quarta-feira, 12 de maio de 2010

A PRIMEIRA FONTE DA EXISTÊNCIA


O culto à Grande Deusa, que, durante milênios impregnou o Oriente Próximo e todo o mundo mediterrâneo europeu, surgiu juntamente com o desenvolvimento da agricultura. Foram, provavelmente as mulheres que, ao colher frutas, raízes e tubérculos comestíveis "inventaram" a agricultura; e esta foi e continuou sendo por muito tempo domínio das mulheres. A natureza e, acima de tudo a terra assemelhava-se a uma mãe doadora de bênçãos e alimentos, e a capacidade de as mulheres produzirem vida, tal como a terra, proporcionou ao aspecto feminino a primazia na ordem religiosa e social da comunidade. No universo religioso das culturas agrícolas primordiais não havia ainda deuses masculinos. Somente a Grande Deusa era considerada a origem de tudo o que existe.Nua, ela saíra do caos, separara o mar do céu e, com sua dança, criara Bóreas, o vento setentrional, na figura de uma serpente. A serpente enroscou-se em volta dos seus membros e a fecundou.Na figura de uma pomba, a Deusa botou o Ovo do Mundo, que depois de ter sido chocado, deu à luz tudo o que existe: o Sol, a Lua, os planetas e a Terra com as plantas e os seres vivos.

O Caldeirão da Transformação, tal como o Ovo do Mundo, é um recipiente que contém toda a vida, onde a vida velha afunda e morre e de onde ressurge a vida rejuvenescida.A imagem original desse milagroso recipiente é o Útero. O outro emblema da Deusa é a serpente, simbolo da Deusa do Universo, representando a totalidade do cosmo. A Serpente simboliza a fecundidade da Terra e da Água e as asas recorrentes nos simbolos da Deusa e em suas carruagens simbolizam o elemento ar e também o aspecti espiritual ou as forças do céu. Do ponto de vista do mito, na atuação conjunta das duas dimensões da Deusa teve origem a vida.

Ambos os luminares do céu, o Sol e a Lua eram agregados como símbolos à Deusa. A Lua, no entanto, que se relacionava com a água, com os estágios de crescimento vegetal e com os ciclos de fecundidade feminina, teve precedência em relação ao Sol. Este, pelo menos nos países mediterrâneos, levava a vegetação não apenas a crescer, mas também a murchar.Quão mágica e misteriosa deve ter parecido a Lua aos homens da cultura arcaica! O cíclico brotar e florir, madurar e carregar frutas, muchar e morrer da vegetação era espelhado pela Lua em nívem cósmico. Como fruta madura, ela fulgura no céu, quando é Lua Cheia; depois desvanece gradativamente até tornar-se uma foice pequena e adelgada parecendo, na Lua Nova, como se tivesse sido engolida pela noite para sempre. Contudo, algumas noites depois ressurge no céu a pequena foice da Lua crescente renascida e rejuvenescida. A goela devoradora da escuridão faz parte do sistema de referências simbolicas da Deusa tanto quanto o ventre fecundo; a morte não se afigurava uma extinção definitiva, um final sem esperança, mas um estágio de transição, uma fase de transformação inseparavelmente associada ao ciclo da vida.

Também, no culto da Grande Mãe, a morte precedia a vida renovada e rejuvenescida. Era preciso derramar sangue para renovar magicamente a fecundidade da Terra porque, para o pensamento mágico, a essência da força vital está no sangue. Sacrifícios de sangue mestrual e sangue vital eram oferecidos à Deusa para restituir-lhe simbolicamente a dádiva da vida.

Com a progressiva diferenciação das sociedades matriarcais, também as idéias sobre a Grande Deusa passaram a ser mais complexa; sua imagem, em analogia com as fases da Lua, assumiu a forma de uma tríade.Ela surgia como uma Jovem Primaveril, uma Mulher Madura e fecunda, como o verão, e uma Velha Sábia outonal, hibernal. Dentro do cosmo — idealizado como algo composto de três partes, a Deusa Jovem reinava sobre o ar e o céu; a Deusa Madura, do amor, sobre a terra e o mar. e a Deusa Anciã, sobre o inferno e o reino dos mortos. Cada aspecto da tríade, por seu turno, aparecer na Sagrada Triplicidade, porém, procurava-se sempre lembrar que, em todos os seus aspectos e formas aparentes, a Deusa era sempre a Una, imutavelmente Grande Deusa da Terra e do Céu.

Ao lado da trifacetada Deusa da Lua, surgiram as primeiras divindades masculinas masculinas que, no entanto devem ser entendidas pela sua relação com Ela: Filho, Amante, Consorte ou seu Herói.


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